Médico

909 Words
Micheli entrou no salão com passos firmes, mas a expressão preocupada não passou despercebida por Soraya, que a encarou com um olhar atento. Ela havia notado a tensão no ambiente assim que Thais abriu a porta para ela entrar, mas não tinha certeza do motivo. Soraya levantou-se de onde estava, deixando uma revista de lado, e caminhou até a irmã, a preocupação evidente em sua voz. "Você não tem médico hoje, Micheli? Achei que não viria." Micheli sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno, e se aproximou de Soraya para abraçá-la. O gesto foi cheio de carinho e conforto, algo de que ambas precisavam naquele momento. Soraya retribuiu o abraço, sentindo-se grata por ter Micheli e Thais em sua vida. O apoio das irmãs era inestimável, especialmente com tudo o que estava acontecendo ao seu redor. "Não vim trabalhar," explicou Micheli, se afastando um pouco para olhar nos olhos de Soraya. "Igor está esperando por mim do lado de fora. Só passei para saber como você está." A menção do nome de Igor trouxe uma sombra de desconforto ao rosto de Micheli, mas ela tentou esconder isso de Soraya. O clima entre ela e Igor havia mudado desde o beijo, e essa mudança pairava sobre eles como uma nuvem carregada. Eles evitavam contato visual e a conversa parecia forçada, como se ambos estivessem pisando em ovos, sem saber como lidar com o que havia acontecido. Soraya, ainda com os olhos um pouco marejados pelo desabafo recente com Thais, sorriu para Micheli, sentindo uma onda de gratidão aquecer seu peito. "Estou tentando me manter firme," disse Soraya. "Mas é difícil, sabe? Ainda bem que vocês estão aqui comigo." Micheli assentiu, sentindo um aperto no coração ao ver a irmã em tal estado. "Vamos superar isso, Sorya. Juntas. É o que fazemos, não é? Nos apoiamos." Soraya sorriu novamente, um sorriso mais sincero desta vez, e segurou as mãos de Micheli por um momento, apertando-as levemente. "Sim, juntas." Depois de um tempo conversando, Micheli sabia que era hora de ir. Ela se despediu de Soraya e Thais com um abraço apertado e saiu do salão, sentindo um misto de emoções. Igor a esperava na moto do lado de fora, e o desconforto que ela havia sentido anteriormente voltou com força total. Igor estava encostado na moto, os olhos fixos no chão, e só levantou a cabeça quando ouviu Micheli se aproximando. Havia algo estranho no olhar dele, uma mistura de incerteza e determinação que a fez parar por um segundo antes de se aproximar completamente. "Pronta?" Igor perguntou, sua voz soando quase tensa, mas ele tentou disfarçar com um sorriso. Micheli assentiu, sem muita convicção. "Pronta." Ela havia dito a ele que poderia ir ao obstetra sozinha, mas Igor se recusou, insistindo em acompanhá-la. Micheli teria preferido ir sozinha, especialmente porque o clima entre os dois estava esquisito desde o beijo. Ambos pareciam envergonhados, e qualquer tentativa de conversa resultava em um silêncio constrangedor. Ainda assim, Igor não aceitou o "não" como resposta, e lá estavam eles, prontos para mais um percurso juntos, em meio a um silêncio que dizia mais do que qualquer palavra. Ela colocou o capacete que Igor lhe entregou e montou na garupa da moto, segurando-se com cuidado para não tocar demais em Igor. Ele sentiu a hesitação dela e suspirou, mas não disse nada. Ligou a moto e partiu em direção ao centro do Rio de Janeiro, onde ficava o consultório particular que ele havia escolhido para as consultas. O trajeto foi tenso, o som do motor da moto sendo a única coisa a romper o silêncio entre eles. Micheli olhava para a paisagem que passava rapidamente ao seu redor, tentando acalmar seus pensamentos. Ela preferiria não gastar tanto em um consultório particular, mas, assim como na questão de levá-la, Igor havia sido inflexível. Ele queria o melhor para ela e para o bebê, e, embora Micheli apreciasse a preocupação, não podia negar que tudo isso só aumentava a estranheza entre eles. Enquanto a moto se movia pelas ruas agitadas do Rio, Micheli não pôde deixar de pensar em como as coisas haviam mudado. Igor sempre fora alguém em quem ela podia confiar, mas agora havia uma barreira invisível entre eles. O beijo tinha sido um ponto de virada, algo que os dois não estavam prontos para encarar. Micheli ainda não sabia como se sentia em relação a isso, e o silêncio apenas reforçava a confusão dentro dela. Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, eles chegaram ao consultório. Igor estacionou a moto e ajudou Micheli a descer, o gesto cheio de cuidado, mas ainda marcado pela tensão que pairava no ar. Ele tentou sorrir para ela, mas o sorriso parecia forçado, como se ele estivesse tentando agir normalmente, mas sem saber exatamente como. "Vamos lá," ele disse, segurando a porta do consultório aberta para que ela entrasse. Micheli assentiu e entrou, sentindo um nó no estômago. Ela sabia que aquela consulta era importante, mas não podia ignorar o desconforto crescente entre ela e Igor. Talvez, eventualmente, eles precisassem conversar sobre o que havia acontecido, sobre o que aquele beijo significava. Mas agora, ela só queria passar por mais essa etapa e tentar encontrar um pouco de paz em meio a tanto caos. E assim, com o coração pesado e a mente cheia de pensamentos confusos, Micheli seguiu para mais um momento decisivo em sua vida, enquanto Igor a acompanhava em silêncio, lutando com seus próprios sentimentos.
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