Mirante

1131 Words
Thais percebeu que Eduardo não estava indo para a casa dela, nem para a dele. À medida que ele manobrava a moto pelas ruas sinuosas e escuras da Rocinha, ela notou que o caminho era diferente. Não era o trajeto familiar para nenhum dos locais onde costumavam se encontrar. Um lampejo de dúvida poderia ter surgido, mas ao invés de apreensão, Thais sentiu algo diferente: confiança. De alguma forma, mesmo com todas as revelações recentes, ela confiava naquele homem, no Coringa que havia escondido dela parte de sua verdadeira identidade. Talvez fosse a intensidade com que ele a protegia, ou a paixão crua que existia entre eles, mas Thais não temia o destino incerto daquela noite. Eduardo, ou Coringa, como ela o conhecia mais intimamente, não disse nada. Ele parecia concentrado, como se estivesse levando-a a um lugar que significava algo para ele. Depois de alguns minutos, a moto finalmente começou a desacelerar, e Thais se deu conta de onde estavam: o mirante da Rocinha. O mirante era um lugar mágico, especialmente à noite. A vista dali era uma das mais deslumbrantes do Rio de Janeiro, um espetáculo de tirar o fôlego. Ao descer da moto, Thais imediatamente foi capturada pela visão à sua frente. O Cristo Redentor, imponente e iluminado, parecia flutuar acima da cidade, como um guardião silencioso. Mais adiante, as luzes do Pão de Açúcar cintilavam, refletindo no mar, e a Lagoa Rodrigo de Freitas brilhava, espelhando as luzes dos bairros ao redor. Toda a zona sul do Rio de Janeiro parecia estar a seus pés, um mar de luzes que se estendia até onde a vista alcançava. A cidade, vibrante e cheia de vida, contrastava com a quietude serena do mirante. Ao lado do mirante, o famoso restaurante Mirante Rocinha adicionava um toque de sofisticação ao cenário. Conhecido por sua gastronomia contemporânea assinada por um chef renomado, o restaurante era um dos favoritos de Eduardo. Mesmo àquela hora da noite, algumas mesas estavam ocupadas, e as luzes suaves que emanavam do restaurante criavam um ambiente acolhedor. Era o tipo de lugar que parecia estar em perfeita harmonia com o entorno, como se cada detalhe tivesse sido cuidadosamente pensado para complementar a vista espetacular. O céu estava claro, sem uma única nuvem, e repleto de estrelas que pareciam estar mais próximas do que nunca. A lua cheia lançava sua luz prateada sobre a cidade e o mar, criando sombras longas e misteriosas. O ar estava fresco, com a brisa leve do mar trazendo consigo o cheiro salgado das ondas. Eduardo desceu da moto em silêncio, sem dizer uma palavra. Ele caminhou até a beira do mirante, onde a vista era mais ampla, e ficou ali, contemplando o panorama. A luz da lua iluminava metade do seu rosto, deixando a outra metade coberta pela máscara que ele usava, um lembrete constante da vida dupla que levava. Thais o observou por um momento, a silhueta dele recortada contra a vastidão do céu estrelado. Ele era lindo, de uma maneira perigosa e intensa. Mesmo com todas as mentiras, todos os segredos, Thais sabia que o amava com todas as suas forças. Mais do que qualquer coisa, ela queria que ele confiasse nela, que abrisse seu coração e explicasse os motivos por trás daquela vida dupla. Sem hesitar, Thais caminhou até ele, decidida. Ela parou ao seu lado, seus olhos acompanhando a mesma vista deslumbrante que ele contemplava. Por um momento, não disse nada, apenas sentiu a presença dele ao seu lado, a energia que fluía entre eles. Então, sem precisar de palavras, ela segurou uma das mãos dele. Eduardo olhou para ela, mas não disse nada. Não precisava. Os dois ficaram assim, em silêncio, completando um ao outro de maneira que palavras jamais poderiam expressar. A cidade diante deles continuava a brilhar, indiferente às lutas internas que ambos enfrentavam. O silêncio entre eles não era desconfortável; pelo contrário, era como se aquele momento estivesse reservado para que ambos pudessem processar tudo o que havia acontecido e pensar no que estava por vir. Thais sabia que estava se envolvendo cada vez mais com aquele homem complexo e misterioso, mas não conseguia imaginar a vida sem ele. Ela desejava profundamente que ele a deixasse entrar por completo em sua vida, que confiasse nela a ponto de compartilhar seus segredos mais obscuros. E Eduardo, por sua vez, sentia o mesmo. Ele segurava a mão de Thais com firmeza, como se temesse que ela pudesse se afastar. Ele sabia que ela merecia saber a verdade, merecia entender os motivos por trás de cada decisão que ele havia tomado. E mais do que tudo, ele queria encontrar a melhor maneira de mantê-la ao seu lado, de protegê-la de tudo, inclusive dele mesmo. Enquanto o vento soprava levemente, trazendo o som distante das ondas, os dois continuaram a contemplar a vista. O futuro ainda era incerto, mas ali, naquele momento, juntos, parecia que tudo era possível. Eduardo, ainda segurando a mão de Thais com firmeza, manteve os olhos fixos no horizonte por mais um momento antes de finalmente romper o silêncio entre eles. Sua voz, quando falou, era grave e carregada de uma emoção intensa, mas contida. "Você é minha e sabe disso, não sabe?" ele disse, sem desviar o olhar da vastidão da cidade iluminada abaixo deles. A resposta de Thais foi imediata, sem hesitação, e com a mesma intensidade que sempre marcava suas palavras quando estava com ele: "E você sabe que é meu?" Ela o encarou diretamente, sua voz firme e cheia de convicção. Eduardo finalmente desviou os olhos da vista e encontrou os dela. Lá estava a sua Thais, sempre valente, sempre desafiadora. Aquele olhar, aquela força, era algo que ele admirava profundamente nela. Thais nunca se curvava, nunca recuava, e era essa característica que o atraía tanto, que fazia com que ele a desejasse cada vez mais. Ele não respondeu com palavras. Não precisava. Em vez disso, puxou-a para si com uma firmeza que revelava o desejo que estava guardado dentro dele. Seus lábios encontraram os dela em um beijo que dispensava qualquer explicação. O beijo era profundo e apaixonado, uma fusão de tudo o que ambos sentiam. Era como se, naquele momento, tudo o que importava fosse estarem juntos, conectados de uma maneira que transcendia palavras e promessas. A brisa noturna parecia aumentar ao redor deles, envolvendo-os em uma bolha de i********e que os isolava do resto do mundo. Ali, sob a luz suave da lua e com a cidade inteira como testemunha silenciosa, Eduardo e Thais se entregavam ao momento. Era um beijo que selava não apenas o desejo, mas também a promessa silenciosa de que, apesar de todos os desafios, eles estariam juntos, de que pertenciam um ao outro de maneiras que talvez nem eles mesmos compreendessem totalmente ainda.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD