Carregamento

1521 Words
Eduardo ainda segurava a mão de Thais quando um homem se aproximou, interrompendo o momento entre eles: "Senhor, sua encomenda," disse o homem, estendendo algumas sacolas para Eduardo. Sem dizer nada, Eduardo pegou as sacolas e, com um aceno de cabeça, dispensou o homem. Ele então se virou para Thais, o olhar intenso como sempre: "Vamos," disse ele simplesmente, indicando que era hora de partirem. Thais sentiu um impulso de perguntar sobre o p*******o. Afinal, era um restaurante conhecido, e ela sabia que os preços ali não eram exatamente baixos. No entanto, ela conteve a curiosidade. Estava com o dono do morro, e certamente Eduardo não pagava por nada na Rocinha. Ele era o dono de tudo, afinal. Qualquer coisa que quisesse, ele tomava. Era uma realidade que Thais começava a entender, mas que ainda a surpreendia. Os dois montaram na moto, e Eduardo acelerou em direção à sua casa. Ele não se importaria de passar a noite na casa de Thais, mas a cama dela era pequena demais para eles. Além disso, havia algo em seu próprio espaço que ele achava reconfortante, algo que lhe dava uma sensação de controle. A casa de Eduardo era bem equipada, refletindo o homem que ele era: poderoso, prático e com um gosto refinado, embora discreto. Ele colocou as sacolas na mesa e começou a desempacotá-las. Logo, Thais se deu conta de que ele havia trazido uma refeição completa, incluindo um bobó de camarão que exalava um aroma delicioso. Sem precisar de muitas palavras, os dois se sentaram à mesa e começaram a jantar. O prato estava divino, cada garfada era uma explosão de sabor, e o silêncio entre eles era confortável. Cada um estava perdido em seus próprios pensamentos, ponderando sobre tudo o que havia acontecido e o que ainda estava por vir. Thais refletia sobre o mistério que envolvia Eduardo, ou Coringa ela ja não sabia como chama-lo. Ela sabia agora que Coringa, o dono do morro, era também Eduardo Coimbra, o promotor, e sabia que amava os dois. As duas identidades pareciam tão distintas, e ao mesmo tempo, indissociáveis. Era difícil para ela entender completamente, mas havia uma parte dela que não precisava entender. Ela o amava de qualquer forma. Eduardo, por outro lado, estava travando uma batalha interna. Sentado à mesa com Thais, ele se lembrava de que, por mais que a amasse, precisava manter sua frieza, sua força. Ele sabia que não podia se permitir fraquejar, pois isso colocaria em risco não apenas sua vida, mas também a dela. Enquanto comia, ele repetia para si mesmo que demonstrar carinho, baixar a guarda, não era uma opção. A sua maior prova de amor seria mantê-la viva e segura, e para isso, ele precisava continuar sendo forte, frio e c***l. Quando terminaram de comer, Eduardo limpou a boca com um guardanapo e olhou para Thais: "Passe a noite aqui," disse ele, sua voz firme. "Tenho que ir ao QG receber um carregamento, mas quero que esteja aqui quando eu voltar." Thais assentiu, compreendendo que esse era o jeito dele de mostrar que se importava. Não havia necessidade de discutir ou questionar. Eduardo se levantou da mesa e, sem olhar para trás, saiu da casa. Thais observou enquanto ele ia embora, sentindo uma mistura de emoções. Parte dela desejava que ele fosse mais aberto, mais comunicativo, mas ela também entendia que ele carregava um fardo pesado. Sua vida não era simples, e a maneira como ele escolhia protegê-la fazia sentido, mesmo que fosse doloroso. Eduardo, ao sair de casa, montou na moto e acelerou em direção ao QG. Em sua mente, ele repetia que, por mais que amasse Thais, não poderia permitir que esse amor o enfraquecesse. Ele precisava ser implacável, tanto para se manter vivo quanto para garantir a segurança dela. Em sua mente, ele se convencia de que ser duro e distante era a única maneira de mantê-la segura. Seu maior ato de amor seria protegê-la do mundo perigoso em que viviam, mesmo que isso significasse sacrificar a ternura que sentia por ela. Eduardo chegou ao QG, o ar pesado de tensão preenchendo o ambiente. Ele m*l havia saído da moto quando percebeu a inquietação no lugar. Perigo e Diego se aproximaram rapidamente, os rostos sérios, como se carregassem um fardo de más notícias. "Chefe," começou Perigo, a voz cautelosa, "o carregamento tá atrasado." Eduardo franziu a testa, seu olhar endurecendo instantaneamente. O carregamento em questão não era algo comum. Eram armas pesadas, capazes de derrubar um helicóptero. Esse tipo de atraso não era aceitável: "Qualé, Perigo? Era pra já ter chegado," ele rosnou, a raiva começando a borbulhar em suas veias. Perigo trocou um olhar rápido com Diego, ambos visivelmente desconfortáveis: "A entrega era na mata, mas o pessoal que foi não deu mais notícias," explicou Diego, a tensão evidente em sua voz. A fúria tomou conta de Eduardo. A entrega desse armamento não era apenas uma questão de poder, mas de segurança. Ele sabia que as armas seriam cruciais para manter o controle sobre o morro, para garantir que ele e os seus estivessem protegidos de qualquer ameaça externa, seja da polícia ou de gangues rivais. Qualquer atraso colocava tudo isso em risco. "Vamos ver o que rolou," Eduardo disse, já decidindo o próximo passo. Sua voz era baixa, perigosa, o tipo de tom que deixava claro que ele estava no limite. Perigo deu um passo à frente, a mão levantada como se tentasse segurar Eduardo de alguma forma: "Chefe, eu vou. Melhor você ficar aqui. A gente não sabe o que aconteceu lá, e se foi uma emboscada? O pessoal tá fora do ar, pode ser uma cilada. Não dá pra arriscar sua vida desse jeito." Eduardo lançou a Perigo um olhar frio, quase cortante. Ele ignorou o conselho, o rosto inexpressivo enquanto se dirigia a uma mesa próxima, onde estavam guardados os armamentos. Começou a se armar sem dizer uma palavra, movendo-se com uma precisão quase mecânica. Ele pegou uma pistola Glock, verificando o carregador antes de prendê-la ao cinto. Depois, alcançou um rifle automático, pesado e potente, e ajustou a bandoleira em torno do corpo. Perigo soltou um suspiro frustrado, claramente ciente de que não havia como convencer Coringa a ficar: "Merda, cara," ele murmurou, quase para si mesmo. Então, sem outra opção, começou a se armar também, sabendo que teria que acompanhar o chefe na incursão. "Diego, reúne os melhores. A gente vai precisar de toda a força possível." Diego acenou com a cabeça, correndo para cumprir a ordem. Ele sabia que a situação era grave. Armas como aquelas, se caíssem nas mãos erradas, poderiam virar o jogo contra eles. Além disso, Eduardo estava indo para a linha de frente, o que significava que a prioridade agora era garantir a segurança do chefe a qualquer custo. Enquanto Coringa prendia o coldre na coxa, Perigo se aproximou, carregando uma expressão que misturava determinação e preocupação: "Meu irmão, a gente vai lá, mas cê precisa ficar esperto. Se foi uma emboscada, os caras podem tá esperando pela gente." Eduardo assentiu, mas o olhar duro em seu rosto deixava claro que ele estava mais focado em garantir que o carregamento chegasse a suas mãos do que em sua própria segurança. Ele sempre foi assim – disposto a arriscar tudo para manter o controle, para mostrar que ele era o dono daquele morro e de tudo o que acontecia ali. Perigo, por sua vez, continuava apreensivo. Sabia que Eduardo não era um líder comum. Ele liderava com o punho de ferro, e qualquer demonstração de fraqueza, por menor que fosse, poderia significar o fim. Mas, ao mesmo tempo, Perigo sabia que a coragem de Eduardo era também a sua maior fraqueza. E nesse momento, essa coragem estava prestes a ser testada. "Vamos fazer o seguinte, chefe," disse Perigo, tentando estabelecer uma estratégia. "A gente pega um caminho alternativo pra chegar na mata. Se tiver alguém esperando, a gente vai pegá-los de surpresa." Eduardo olhou para ele por um momento, ponderando. Ele sabia que o plano de Perigo fazia sentido, mas a raiva ainda fervilhava dentro dele. O atraso, o silêncio, tudo apontava para algo maior, algo que poderia colocar sua operação em risco. E ele não podia, não queria, permitir que isso acontecesse. "Tá, a gente vai por esse caminho," respondeu Eduardo, finalmente cedendo um pouco, mas sem perder o tom de comando. "Mas se der merda, a prioridade é o carregamento. Entendido?" Perigo assentiu, ciente da gravidade da situação. Diego retornou com um pequeno grupo de homens, todos armados e prontos para a missão. Eles eram a elite, os mais confiáveis e leais ao Coringa. Se alguém pudesse garantir o sucesso dessa operação, era aquele grupo. Eduardo deu uma última olhada em seus homens, sentindo a tensão no ar. Ele sabia que aquela noite poderia definir o futuro da Rocinha, e estava disposto a tudo para garantir que ele continuasse no comando. "Vamos," disse ele, a voz firme. E sem mais palavras, ele liderou o grupo para fora do QG, em direção à mata, onde o destino do carregamento – e possivelmente o seu próprio – aguardava.
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