Emboscada

915 Words
Na escuridão da mata, a comemoração dos homens de Zé Pequeno tinha um tom macabro. Entre os risos abafados e os brindes de cachaça improvisados, eles se deliciavam com o sucesso do roubo do carregamento de Coringa. Caixas de armamento pesado estavam empilhadas ao redor deles, uma visão que trazia um prazer sádico ao líder do bando. Zé Pequeno, um homem com uma presença intimidadora e um olhar selvagem, se destacava no grupo. Ele estava no centro, o rosto iluminado apenas pela luz fraca de uma lanterna que balançava de um galho próximo. O sorriso em seu rosto era de pura satisfação, um sorriso que mostrava cada dente, como se ele estivesse prestes a devorar o mundo. A adrenalina do sucesso ainda corria nas veias de todos ali, mas o som súbito de um celular quebrando o silêncio trouxe todos de volta à realidade. Zé Pequeno sacou o aparelho do bolso e atendeu com um resmungo. Era o informante. "Coringa tá vindo, chefe," a voz do outro lado sussurrou, carregada de medo e urgência. "Ele tá pegando um caminho alternativo, mas tá vindo na sua direção." Zé Pequeno fechou o punho com força ao redor do telefone, seus olhos se estreitaram enquanto sua mente calculava as opções. Ele poderia simplesmente fugir com o carregamento, garantir que essas armas fossem usadas para expandir seu território e aumentar seu poder na Rocinha. Isso seria a escolha mais segura, a escolha racional. Mas a ideia de deixar Coringa escapar, de não confrontá-lo diretamente, fez seu sangue ferver. Esse era o momento que ele estava esperando há tanto tempo. A oportunidade perfeita para acabar de vez com o domínio de Coringa sobre o morro e, finalmente, tomar o trono para si. Ele poderia ser o rei da Rocinha. A cabeça de Coringa seria seu troféu. "Vamos emboscar esse filho da p**a," Zé Pequeno murmurou, a voz baixa e carregada de determinação. Ele olhou ao redor, encontrando os olhos de seus homens, e viu o mesmo desejo de sangue refletido neles. "Escondam o carregamento, rápido. Cubram com folhas, paus, o que tiver. Não quero nada à vista quando ele chegar." Os homens de Zé Pequeno se moveram rapidamente, apagando qualquer vestígio de comemoração e partindo para esconder o valioso carregamento. Eles usaram folhas secas, galhos e troncos caídos para cobrir as caixas de armas, trabalhando com a urgência que a situação exigia. As sombras dançavam ao redor deles, enquanto a lanterna de Zé Pequeno os iluminava de forma intermitente, criando um clima ainda mais sombrio e opressivo. "Rápido, p***a!" Zé Pequeno sibilou, impaciente. Ele próprio começou a ajudar, puxando galhos grandes para cobrir as caixas, os músculos de seus braços tensionados pela raiva e pela antecipação. O local onde os corpos dos homens de Coringa jaziam foi deixado de lado, como se Zé Pequeno quisesse que aqueles cadáveres fossem um recado direto ao inimigo: este era o seu destino, e logo, o próprio Coringa se juntaria a eles. Quando finalmente terminaram de esconder o carregamento, Zé Pequeno deu uma última olhada ao redor, certificando-se de que tudo estava bem coberto. O suor escorria pela sua testa, mas ele não ligava. Sua mente estava focada apenas em uma coisa: o confronto iminente. "Agora, vamos nos esconder," ordenou Zé Pequeno, a voz rouca com uma excitação quase palpável. "Fiquem prontos. Assim que ele chegar, a gente ataca sem piedade. E lembrem-se, eu quero ele vivo... por tempo suficiente pra arrancar umas boas informações antes de mandar ele pro inferno." Com cuidado, Zé Pequeno e seus homens se dispersaram pela mata, escolhendo pontos estratégicos ao longo do caminho pelo qual o informante havia dito que Coringa viria. A noite estava escura, as sombras das árvores se misturavam com as deles, tornando-os praticamente invisíveis. Eles se abaixaram atrás de troncos e arbustos, com armas em punho, os olhos atentos ao menor movimento. O clima era tenso. O som da floresta à noite era um pano de fundo constante – o farfalhar das folhas, o canto distante dos grilos, o ocasional estalo de galhos sob o peso de algum animal noturno. Cada um desses sons parecia amplificado na mente de Zé Pequeno, aumentando sua excitação e sua impaciência. Ele estava sentado em um tronco caído, a arma repousando no colo, os dedos tamborilando no cabo enquanto ele olhava para a trilha à frente. Na sua mente, ele já podia ver a cena: Coringa caindo em sua armadilha, a expressão de surpresa e medo no rosto do rival, seguido pela dor e pelo desespero enquanto Zé Pequeno arrancava dele cada pedaço de informação, cada segredo sujo que ele escondia. Quando Zé Pequeno segurava a arma, sentia o poder nas suas mãos. Seus olhos brilhavam com uma loucura que só aumentava à medida que os minutos passavam. Ele estava decidido a acabar com Coringa, não apenas por vingança, mas por ambição, por poder. Ele queria desfilar com a cabeça do rival pela Rocinha, queria que todos soubessem quem era o verdadeiro dono do morro. O tempo passava lentamente, cada segundo carregado de tensão. Zé Pequeno respirava pesadamente, os pensamentos girando em sua cabeça. Ele sabia que esse seria um dos momentos mais importantes de sua vida, e estava pronto para fazer o que fosse necessário para garantir sua vitória. "Vamos acabar com esse desgraçado," ele murmurou para si mesmo, sentindo a raiva e a excitação se misturarem em seu peito. Ele estava preparado, seus homens estavam preparados. Agora, só restava esperar que Coringa caísse em sua armadilha.
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