Amizade incondicional

1558 Words
Thais saiu de casa com a mente ainda um turbilhão, tentando processar tudo o que havia descoberto. O sol da manhã m*l havia subido, e as ruas da Rocinha começavam a ganhar vida com o movimento de pessoas indo e vindo, mas Thais m*l notava. Sua mente estava fixada em um único ponto: a verdade sobre Coringa e Eduardo Coimbra. À medida que caminhava em direção ao salão, onde tinha clientes esperando, outra verdade a atingiu com força. Soraya. A irmã de Eduardo. Agora que Thais sabia da conexão entre Coringa e Eduardo, a desconfiança começou a crescer dentro dela como uma chama lenta, mas incansável. Será que Soraya sabia? Será que sua amiga, que sempre esteve ao seu lado, estava escondendo esse segredo tão monumental? Thais sentiu o peito apertar com a ideia. A dor da possível traição de Soraya era difícil de suportar. Elas sempre foram tão próximas, compartilhando confidências, rindo juntas, enfrentando dificuldades lado a lado. A ideia de que Soraya pudesse estar escondendo algo tão importante fazia Thais questionar tudo o que acreditava sobre a amizade delas. Mas, por outro lado, se Coringa — ou melhor, Eduardo — tivesse pedido à irmã que não revelasse sua identidade, Soraya não teria muita escolha, teria? Thais sabia como o mundo de Coringa funcionava, cheio de segredos e perigos. Talvez Soraya estivesse apenas tentando proteger seu irmão e, de certa forma, proteger Thais também. Enquanto caminhava, as peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar na mente de Thais. A noite anterior, o comportamento errático de Coringa, sua fúria e desespero. Tudo estava ligado à morte de Leonidas Coimbra, o pai de Eduardo, um homem poderoso e temido. Com Leonidas morto, não era de se surpreender que Eduardo estivesse tão perdido, tão fora de si. E então veio outra revelação como um raio em sua mente. Foi uma mensagem de Soraya que a levou até Coringa na noite anterior. Soraya, que parecia tão preocupada, tão ansiosa para que Thais estivesse ao lado de Coringa naquele momento crucial. Thais começou a se perguntar se Soraya sabia mais do que estava dizendo. Será que sua amiga estava consciente do que estava acontecendo entre Thais e Coringa? Será que Soraya sabia o tempo todo que os dois homens na vida de Thais eram, na verdade, o mesmo? O pensamento fez Thais parar de andar por um momento, o coração acelerado. Era como se ela estivesse diante de um enorme quebra-cabeça, e as peças finalmente começassem a se encaixar. Mas a imagem que se formava era confusa e dolorosa. Se Soraya sabia, por que não contou a ela? Por que deixaria Thais se envolver tanto, a ponto de amar um homem sem saber toda a verdade sobre ele? Thais retomou a caminhada, mas agora cada passo parecia mais pesado. Ela estava cheia de perguntas, dúvidas que a corroíam por dentro. A possibilidade de que Soraya soubesse tudo desde o início a deixava atordoada, mas Thais sabia que precisava pensar com clareza. Se confrontasse Soraya, precisaria estar preparada para ouvir o que quer que fosse. E mais do que isso, precisaria estar pronta para lidar com as consequências de descobrir que talvez sua melhor amiga estivesse envolvida em um segredo tão perigoso. Quando chegou ao salão, Thais tentou se concentrar no trabalho, mas era impossível afastar esses pensamentos. Ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que confrontar tanto Soraya quanto Coringa sobre toda a verdade. Mas como fazer isso? Como lidar com todas essas revelações sem se perder no meio do caos? O dia m*l havia começado, mas Thais já se sentia exausta. Ela estava no meio de uma tempestade de segredos e mentiras, e a única coisa que sabia com certeza era que precisava descobrir a verdade, por mais dolorosa que fosse. A única maneira de seguir em frente era encarar tudo de frente, mesmo que isso significasse perder pessoas que amava no processo. Thais m*l teve tempo de se recompor antes de ver Soraya entrando no salão. A amiga chegou um pouco mais cedo do que de costume, e assim que Thais a viu, toda a determinação de confrontá-la se dissipou. Soraya parecia exausta, com olheiras profundas e uma expressão carregada de preocupação. Thais podia ver que a situação estava pesando muito sobre ela, e qualquer raiva ou desconfiança que Thais pudesse ter sentido foi substituída por uma onda de empatia. Ela sabia que Soraya estava enfrentando uma tempestade emocional. Afinal, Leonidas Coimbra não era apenas um nome poderoso em sua vida; ele era o pai que Soraya havia acabado de descobrir, e agora ele estava morto, tendo tirado a própria vida. A complexidade desse relacionamento, ou a falta dele, devia estar destruindo Soraya por dentro. Como Thais poderia confrontá-la agora, sabendo que a amiga já estava sofrendo tanto? Sem pensar duas vezes, Thais caminhou até Soraya e abriu os braços. Soraya, que parecia estar segurando as lágrimas desde que entrou no salão, não precisou de mais incentivo. Ela correu para Thais, se agarrando à amiga como se fosse a última coisa que a mantivesse de pé. "Thais...", Soraya começou, a voz embargada. "Eu... eu não sei o que fazer. Não sinto amor de filha por Leonidas, mas é tão estranho... tão estranho saber que ele se matou no mesmo dia em que eu expus ao mundo que sou sua filha. Tudo isso é culpa minha, não é?" As palavras saíram como uma torrente, e Thais sentiu o coração apertar ao ouvir a dor na voz de Soraya. Ela sabia que a amiga estava carregando um fardo enorme, e era como se o peso do mundo tivesse caído sobre os ombros dela. Thais segurou Soraya com firmeza, acariciando suas costas em um gesto de conforto: "Soraya, não fala assim. Nada disso é culpa sua. Você não poderia ter previsto o que aconteceria. Leonidas era um homem complexo, cheio de segredos e demônios. O que ele fez foi uma escolha dele, não sua. Você fez o que precisava fazer, por você mesma." Soraya soluçou contra o ombro de Thais, as lágrimas finalmente fluindo livremente: "Eu só queria que ele me aceitasse, Thais. Não como filha, mas como alguém importante na vida dele. E agora ele se foi, e eu nunca vou saber se ele poderia ter mudado." "Ele era um homem complicado, Soraya," Thais respondeu suavemente. "E mesmo que ele não tenha te dado o que você merecia, isso não muda o fato de que você é uma mulher incrível, forte e corajosa. Você fez o que precisava fazer, e ninguém pode te culpar por isso." Soraya balançou a cabeça, ainda abraçada a Thais. "Mas é difícil, sabe? Saber que nunca vou ter essa chance... Eu me sinto tão perdida, tão sozinha." Thais se afastou um pouco para olhar nos olhos de Soraya, enxugando uma lágrima que escorria pelo rosto dela. "Você não está sozinha. Eu estou aqui, e sempre estarei. Vamos passar por isso juntas, ok?" Soraya assentiu, respirando fundo para tentar se acalmar. Ela sabia que Thais estava falando a verdade, mas a dor ainda era intensa, uma ferida aberta que levaria tempo para cicatrizar. "Obrigada, Thais," ela sussurrou, sua voz mais suave agora, mas ainda carregada de emoção. "Eu realmente não sei o que faria sem você." Thais sorriu, embora seu coração estivesse apertado de preocupação. Ver Soraya tão fragilizada trouxe à tona todos os sentimentos conflitantes que ela estava lutando para suprimir. Ela queria confrontar Soraya, queria respostas, mas não podia. Não agora. A amiga estava em pedaços, e a última coisa que Thais queria era aumentar sua dor. Enquanto Soraya se acalmava aos poucos, Thais não pôde deixar de pensar em como as coisas haviam se complicado tanto. Havia tantas peças soltas, tantos segredos e mentiras, que ela nem sabia por onde começar a desenrolar tudo. Mas uma coisa era certa: ela não podia abandonar Soraya agora, nem deixar que a amiga enfrentasse tudo isso sozinha. "Vamos passar por isso juntas," Thais repetiu, mais para si mesma do que para Soraya. Ela sabia que, eventualmente, teria que confrontar todos esses segredos — a verdade sobre Eduardo, a ligação de Soraya com tudo isso — mas não naquele momento. Agora, tudo o que importava era estar ali para sua amiga. Soraya finalmente se afastou, respirando fundo, como se tentasse reunir as forças. "Desculpa por desabar assim, Thais. Não era minha intenção." "Não precisa se desculpar," Thais respondeu com firmeza. "Eu estou aqui para isso. E se você precisar desabar mais vezes, eu estarei aqui todas as vezes." Soraya sorriu, um sorriso pequeno e triste, mas sincero. "Eu realmente não sei o que faria sem você." "Você nunca vai precisar descobrir," Thais garantiu, dando um leve aperto nas mãos de Soraya antes de soltar. "Agora, vamos cuidar do que precisa ser cuidado, ok? Um dia de cada vez." Soraya assentiu, e as duas amigas se prepararam para encarar o dia que vinha pela frente. Mas, no fundo, Thais sabia que havia muito mais a ser enfrentado, muito mais do que Soraya ou mesmo ela própria podia imaginar. E isso a assustava, mas também a fortalecia. Porque, se havia algo que Thais havia aprendido, era que o amor e a amizade podiam superar até os segredos mais sombrios. Ela só esperava que, quando a verdade finalmente viesse à tona, a amizade delas fosse forte o suficiente para sobreviver.
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