Amor apesar de tudo

1632 Words
Thais estava em um turbilhão de emoções enquanto caminhava de um lado para o outro na pequena sala de sua casa. Sua mente parecia um labirinto, cada pensamento levando-a a um beco sem saída. Ela precisava se acalmar, pensar com clareza sobre o que fazer a seguir. Sem conseguir se concentrar, decidiu que a única coisa que poderia ajudá-la no momento seria um banho quente. Talvez a água pudesse lavar não apenas o suor frio de sua pele, mas também a confusão em sua mente. Ela caminhou até o banheiro, tirando a roupa mecanicamente, como se estivesse em transe. Ao abrir o chuveiro, o vapor começou a subir, preenchendo o ambiente com uma névoa reconfortante. Quando a água quente finalmente tocou sua pele, Thais soltou um suspiro longo e profundo. Fechou os olhos e deixou que a água deslizasse pelo seu corpo, levando consigo, pelo menos momentaneamente, o peso que pressionava seus ombros. Enquanto a água caía sobre sua cabeça, a primeira verdade a atingiu como uma correnteza incontrolável: ela ainda estava loucamente e completamente apaixonada por Coringa. Ou Eduardo. Não importava qual nome ele usava, se era o dono do morro ou o promotor de justiça. No fundo de seu coração, ela sabia que o amava de qualquer forma. Admitir isso para si mesma foi como um alívio doloroso. Era um sentimento avassalador, uma força que a dominava e a deixava sem controle. Mas, depois de admitir esse amor incondicional, Thais começou a identificar os problemas da situação. Primeiro, ele havia omitido sua verdadeira identidade dela. Isso a fazia se sentir enganada, traída. A sensação de ter sido manipulada por ele, de ter saído com as duas versões do mesmo homem sem perceber, era humilhante. Como pôde ser tão cega? Agora fazia sentido para ela por que Coringa havia reagido de maneira tão indiferente quando seu nome apareceu nos jornais como a namorada de Eduardo Coimbra. Se não fossem a mesma pessoa, Coringa teria provavelmente a matado por isso, não a protegido. Outro problema que começou a se formar em sua mente era o fato de que Coringa — ou Eduardo, como ela ainda se debatia entre as identidades — não confiava nela o suficiente para compartilhar sua verdadeira identidade. Isso doía profundamente. Thais sempre acreditou que havia uma conexão especial entre os dois, algo além das mentiras e enganações que permeavam suas vidas. Mas agora, diante da verdade, ela se questionava. Será que esse sentimento era unilateral? Será que ele realmente confiava nela ou apenas a via como mais uma peça em seu jogo perigoso? Enquanto a água continuava a escorrer por seu corpo, outro pensamento sombrio surgiu. Como ele reagiria quando soubesse que ela se aproveitou de um momento de vulnerabilidade dele para levantar a máscara e descobrir seu segredo? Thais sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao imaginar a fúria que Coringa poderia sentir ao perceber que ela havia invadido sua privacidade, quebrado a barreira que ele claramente desejava manter entre suas duas identidades. Ela sabia que, em circunstâncias normais, ele poderia punir alguém severamente por muito menos. Mas, para a surpresa de Thais, ela não sentia medo de que Coringa a machucasse por ter descoberto seu segredo. De alguma forma, em seu coração, ela sabia que ele não faria isso. Havia uma parte dela que acreditava firmemente que, apesar de tudo, Coringa a amava também, à sua maneira distorcida e perigosa. Isso não eliminava a possibilidade de que ele pudesse se afastar dela, afastá-la de sua vida para proteger seu segredo. E essa ideia era o que realmente a aterrorizava. Ela tinha medo, sim, mas não da morte ou da violência. Tinha medo de que ele não a perdoasse, que essa descoberta pudesse marcar o fim de tudo entre eles. Thais sabia que Coringa era um homem complexo, cheio de segredos e cicatrizes que iam muito além das físicas. Ele era um sobrevivente, alguém que construiu sua vida em cima de mentiras e disfarces. E agora que ela havia arrancado um desses disfarces, mesmo que por um breve momento, tinha medo de que ele não pudesse mais confiar nela. Enquanto essas reflexões se desenrolavam, Thais percebeu que, independentemente do que acontecesse, ela não estava preparada para perder Coringa. Ele era como uma força da natureza em sua vida, e a ideia de viver sem ele era insuportável. Mesmo sabendo que deveria sentir-se traída, que deveria ter raiva dele por manter um segredo tão grande, tudo o que ela sentia era medo de perdê-lo. O banho, que começou como uma tentativa de clarear a mente, terminou com Thais ainda mais consciente da gravidade da situação. Ela saiu do chuveiro, enrolando-se em uma toalha, mas não se sentia mais leve ou mais tranquila. Ao contrário, a água havia lavado sua resistência, deixando-a apenas com a crua realidade dos fatos. Ela se olhou no espelho novamente, os olhos refletindo a tempestade interna que enfrentava. A imagem que viu era de uma mulher em um ponto crucial de sua vida, onde as escolhas que fizesse a partir daquele momento poderiam mudar tudo. Thais sabia que não poderia simplesmente ignorar o que sabia, mas também não queria tomar uma decisão precipitada que pudesse afastá-la de Coringa para sempre. Vestindo-se rapidamente, Thais sentiu um nó se formar em seu estômago. Precisava pensar em suas opções, precisava de um plano. Mas a única coisa que conseguia focar naquele momento era no desejo desesperado de não perder o homem que amava, não importa quem ele fosse. Quando saiu do banheiro, o mundo parecia exatamente o mesmo, mas Thais sabia que nada seria igual a partir daquele momento. Ela tinha uma decisão a tomar, e o tempo para agir estava se esgotando. Enquanto Thais se secava e vestia uma roupa confortável, seus pensamentos continuavam a rodopiar, ainda tumultuados pelas revelações da noite anterior. A decisão que ela precisava tomar parecia pesar sobre seus ombros como uma montanha. Sabia que não podia simplesmente ignorar o que havia descoberto, mas também compreendia que qualquer ação precipitada poderia colocar tudo a perder. Ela se sentou na beira da cama, ainda sentindo o frio da manhã em sua pele, enquanto o eco dos eventos recentes reverberava em sua mente. "O que eu faço agora?" perguntou-se, quase em desespero. Eduardo — ou Coringa — havia escondido sua verdadeira identidade dela por tanto tempo. Ele mantivera as duas vidas separadas de forma tão meticulosa que ela, apesar de toda sua intuição, jamais suspeitou da conexão entre os dois homens. Mas, conforme refletia, outra verdade começou a emergir: por mais que ele tivesse escondido dela, o fato de ela ter descoberto por conta própria era um sinal de que, talvez, não estivesse tão distante assim de conhecer o homem completo por trás da máscara. Talvez, em algum nível, Eduardo quisesse que ela soubesse. Ou talvez, fosse simplesmente a força do destino que a colocara nesse caminho. Thais se levantou se dando conta de que não podia ficar em casa tinha que ir trabalhar ao olhar para as roupas que mais parecia um pijama suspira e começou a se vestir lentamente, como se cada peça de roupa fosse uma armadura que colocava para o que estava por vir. À medida que puxava uma camiseta sobre a cabeça e deslizou as pernas dentro de uma calça confortável, uma ideia começou a tomar forma em sua mente. Ela não confrontaria Eduardo imediatamente. Não enquanto seus sentimentos ainda estavam em frangalhos e sua mente não conseguia se concentrar direito. Ela precisava de tempo para processar tudo isso, para se fortalecer emocionalmente e decidir como queria que essa história se desenrolasse. "Eu vou dar um tempo para ele," pensou, decidida, enquanto calçava os chinelos. Se Eduardo ou Coringa — não importava quem ele fosse naquele momento — realmente a amava, ele encontraria uma maneira de confessar a verdade. Thais decidiu que, por enquanto, daria espaço para que ele tomasse essa iniciativa. Ela queria ver se ele teria coragem de contar a verdade por conta própria, de abrir seu coração e confiar nela com o segredo que, até então, havia mantido tão cuidadosamente guardado. Mas Thais também sabia que não podia esperar indefinidamente. O amor que sentia por ele era profundo, mas não era cego. Se o tempo passasse e Eduardo não revelasse nada, se continuasse jogando esse jogo de sombras e segredos, ela mesma o confrontaria. E quando esse momento chegasse, ela estaria preparada — tanto para enfrentar a verdade completa quanto para lidar com as consequências de qualquer decisão que ele tomasse. Ela terminou de se vestir, respirando fundo para acalmar os nervos. Seu coração ainda batia acelerado, mas agora havia uma clareza em sua mente que antes não existia. Thais estava determinada a dar a ele a chance de ser honesto, mas não hesitaria em agir se essa oportunidade fosse desperdiçada. Enquanto se olhava no espelho, ajeitando os cabelos ainda úmidos, Thais fez uma última promessa a si mesma. "Eu não vou mais ser enganada," pensou, firme. Ela sabia que o relacionamento deles era complexo, repleto de desafios e perigos, mas se fosse para continuar ao lado de Eduardo, seria com toda a verdade exposta. Não havia mais espaço para meias-verdades ou mentiras disfarçadas. Com essa decisão tomada, Thais sentiu um peso sair de seus ombros, substituído por uma determinação tranquila. Ela estava pronta para o que viesse, pronta para lutar por seu amor, mas também pronta para exigir o respeito e a honestidade que merecia. Não importava se era Eduardo ou Coringa — o homem que ela amava precisava ser verdadeiro com ela. E ela estava disposta a esperar para ver se ele escolheria o caminho da verdade por conta própria. Se não o fizesse, Thais sabia que teria forças para confrontá-lo, sem medo, e seguir em frente, com ou sem ele ao seu lado.
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