M@l entendido

1118 Words
O sol m*l tinha amanhecido quando Thais se levantou da cama, os primeiros raios de luz filtrando-se pelas cortinas e banhando o quarto em uma suave tonalidade dourada. Ela se moveu com cuidado, tentando não fazer barulho, mas mesmo assim, Coringa — ou melhor, Eduardo — acordou com a movimentação. Ele abriu os olhos, observando-a em silêncio, sem fazer nenhum movimento brusco. Thais estava diferente naquela manhã, e ele conseguia perceber isso. Havia algo em sua postura, em seu olhar que evitava o dele, que lhe dizia que a noite anterior ainda pairava entre eles como uma nuvem densa. Ela evitou olhá-lo diretamente enquanto recolhia suas roupas, vestindo-se rapidamente. Eduardo se remexeu na cama, considerando por um momento tentar puxá-la de volta, mas logo desistiu. Ele sabia que, depois da maneira como agira na noite anterior, o melhor era deixá-la ir, ele fora um monstro na cama, e embora ela tenha gozado várias vezes isso não diminuia a violência que ele usara na noite anterior, pelo menos era isso que ele pensava. “Eu preciso ir embora,” Thais disse, sua voz baixa, quase hesitante. “Tenho uma cliente bem cedo no salão.” Eduardo assentiu, observando-a com olhos atentos. Ele sabia que havia algo mais por trás daquela desculpa, mas não estava em posição de pressioná-la. Thais, ainda sem encará-lo, continuou a arrumar suas coisas com uma rapidez que beirava o desespero. “Quer que eu te leve?” Eduardo ofereceu, levantando-se lentamente. Ele queria ter certeza de que ela estava bem, queria mais tempo com ela, mas também sabia que insistir poderia piorar as coisas. Thais parou por um segundo, como se estivesse considerando a oferta, mas então balançou a cabeça e disse com uma tentativa de sorriso: “Eu estou precisando caminhar... Engordei dois quilos que quero perder.” Eduardo resmungou, sem muita convicção: “Você está ótima.” Ela não respondeu, simplesmente pegou a bolsa e se dirigiu à porta, sem olhar para trás. Eduardo permaneceu onde estava, observando-a sair. Ele queria dizer algo, qualquer coisa que pudesse aliviar a tensão entre eles, mas as palavras simplesmente não vinham. E então, Thais se foi, a porta se fechando suavemente atrás dela, deixando-o sozinho com seus pensamentos. Eduardo suspirou, sentindo o peso de tudo o que havia acontecido nas últimas horas. Ele sabia que Thais estava abalada. Qualquer pessoa estaria depois do que ele havia feito. Mas ele também precisava de tempo, precisava colocar seus próprios pensamentos em ordem. A noite anterior havia sido um turbilhão de emoções, algo que ele raramente permitia que acontecesse. Coringa, o homem que ele era na maior parte do tempo, não podia se dar ao luxo de ceder a sentimentos tão fortes, especialmente quando se tratava da morte de Leonidas. Ele se levantou da cama, o corpo ainda pesado pelo cansaço, mas a mente já em alerta. Naquele momento, ele não era Eduardo Coimbra, o promotor de justiça com um único grande inimigo — seu próprio pai, Leonidas, agora morto. Ele era Coringa, o dono do morro da Rocinha, um homem com inúmeros inimigos, muitos dos quais ele ainda precisava lidar. E essa era a realidade que ele não podia se esquecer. Eduardo se repreendeu mentalmente por ter cedido às emoções no dia anterior. Ele sabia que não podia se dar ao luxo de perder o controle novamente. Havia muito em jogo, e ele precisava estar focado. O turbilhão de sentimentos que a morte de Leonidas desencadeara em seu interior era perigoso. Como promotor, ele podia ter dado vazão a algumas dessas emoções, mas como Coringa, ele não tinha esse luxo. Cada fraqueza, cada deslize, poderia significar a diferença entre a vida e a morte. Ele passou a mão pelos cabelos, tentando afastar a confusão. Havia muito a ser feito. Mesmo com Leonidas morto, Eduardo ainda tinha uma longa lista de inimigos. Como Coringa, ele ainda precisava encontrar o traidor responsável pela morte de Lucas, seu irmão, e melhor amigo. Lucas, que havia sido uma parte tão importante de sua vida, agora estava morto, e a dor que ele não esperava sentir dessa perda ameaçava sufocá-lo. Mas ele não podia se permitir afundar nesse luto. Havia vingança a ser tomada. Eduardo sabia que precisava retomar o controle de suas emoções antes que fosse tarde demais. Ele não podia deixar que o ódio e a tristeza o cegasse, especialmente agora que tinha Zé Pequeno para lidar. Esse era um inimigo que não podia ser subestimado, um homem que estava mais do que disposto a jogar sujo para alcançar seus objetivos. E havia também a irmã de Zé Pequeno, presa na casa de Diego. Aquela situação era um barril de pólvora prestes a explodir, e ele precisava pensar com clareza se quisesse sair vitorioso. Enquanto esses pensamentos rodopiavam em sua mente, Eduardo se vestiu, preparando-se para o dia que viria. Ele precisava voltar a ser Coringa, o líder implacável que todos temiam, e deixar para trás as dúvidas e as emoções que Eduardo Coimbra, o promotor, ainda carregava. Não havia tempo para lamentações, para fraquezas. A guerra nas ruas continuava, e ele precisava estar pronto. Caminhando pela casa, Eduardo sentia o peso de suas responsabilidades crescendo a cada passo. Ele sabia que, independentemente do que acontecesse, não podia se permitir perder. Havia muito em jogo, e ele precisava estar no controle, precisava ser o homem que todos temiam. As emoções que ele havia sentido na noite anterior, por mais intensas que fossem, precisavam ser colocadas de lado. O Coringa que todos conheciam e temiam era um homem frio, calculista, e ele precisava manter essa fachada a qualquer custo. Quando finalmente saiu para a rua, Eduardo sentiu o ar fresco da manhã tocar seu rosto, como um lembrete da realidade que o aguardava. A Rocinha estava silenciosa naquela manhã, mas ele sabia que esse silêncio era apenas a calma antes da tempestade. Havia muito trabalho a ser feito, muitos inimigos a serem enfrentados, e ele precisava estar pronto para qualquer coisa. Enquanto caminhava, seus pensamentos voltavam para Thais. Ele sabia que a havia magoado, que as coisas entre eles estavam longe de serem resolvidas. Mas, por ora, ele precisava deixá-la ir. Precisava se concentrar no que estava à frente, no que realmente importava. Ele voltaria para ela quando o caos diminuísse, quando pudesse oferecer algo além de um coração cheio de ódio e dor. Por enquanto, Eduardo — ou Coringa — precisava seguir em frente. Não havia espaço para sentimentos em sua vida, não enquanto ainda havia tanto a ser feito. E então, com o coração pesado, mas a mente decidida, ele voltou a se focar em seus objetivos, deixando para trás as emoções que, por um breve momento, haviam ameaçado dominá-lo.
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