Coringa O rei de Dois Mundos o Final

O Peso da Descoberta

Thais respirou fundo mais uma vez, tentando acalmar o coração que batia acelerado em seu peito. Sua mão, delicada e hesitante, pairava sobre a máscara que cobria metade do rosto de Coringa. Aquele pedaço de tecido sempre fora um enigma, uma barreira entre ela e o homem que amava. Mesmo assim, ela sabia que não era certo o que estava prestes a fazer. Coringa nunca permitia que ninguém visse seu rosto completo, e ela sempre respeitara essa escolha, compreendendo que ele tinha seus motivos. Mas naquela madrugada, algo a empurrava a quebrar essa regra.

No fundo do seu coração, Thais sabia que, independentemente do que encontrasse sob aquela máscara, nada faria com que deixasse de amar Coringa. Ele era uma parte indissociável dela, um homem que, mesmo quando ela acreditava ser responsável pela morte do irmão, não conseguiu manter-se afastada. Coringa era como um imã poderoso, e ela, uma simples peça de ferro, inevitavelmente atraída por ele. Cada parte de sua alma era puxada para ele, mesmo nos momentos em que tudo dentro dela gritava para fugir.

Decidida a finalmente ver o rosto completo do homem que amava, pelo menos uma vez, Thais moveu a máscara para cima com extremo cuidado, tentando não acordá-lo. Seu coração martelava no peito, e ela quase podia ouvir seu próprio sangue pulsando em seus ouvidos. Quando a máscara revelou o que estava oculto, um grito quase escapou de seus lábios, e ela precisou se controlar para não soltar a máscara, o que certamente teria feito com que ela batesse com violência no rosto de Coringa. Mas, por um milagre, ou talvez por estar completamente paralisada pelo choque, seus olhos fixos na marca de nascença que a máscara cobria impediram qualquer movimento brusco.

Era um pequeno coração, localizado na bochecha direita, um pouco abaixo do olho. Thais conhecia aquela marca. Seu coração saltou, e ela sentiu como se o chão estivesse desaparecendo sob seus pés. Aquele rosto era lindo, perfeito até. Mas não era apenas o rosto de Coringa. Era o rosto de Eduardo Coimbra, o promotor de justiça que Thais conhecia bem demais.

Ela apertou os olhos, quase como se estivesse alucinando, como se isso pudesse fazê-la voltar à realidade, e encarou o rosto à sua frente novamente. Não havia dúvidas. Coringa e Eduardo eram a mesma pessoa, e ela era a i****a que dormira com ambos, achando que eram homens diferentes, quando, na verdade, eram o mesmo o tempo todo.

Sua mente girava em círculos, tentando compreender como isso era possível. Como não havia percebido antes? Como Coringa conseguira manter o disfarce por tanto tempo, enganando-a completamente? Eduardo Coimbra, o promotor de justiça com quem ela tivera um relacionamento, era também o c***l e temido Coringa, o dono do morro da Rocinha.

Thais observava o rosto sereno de Coringa, agora totalmente desmascarado diante dela. Ele parecia tão tranquilo, tão vulnerável de uma maneira que ela nunca o vira. Isso só aumentava o sentimento de traição e confusão que se formava dentro dela. Como ela poderia ter sido tão cega? Ter dormido com os dois sem perceber que eram a mesma pessoa?

Enquanto esses pensamentos rodopiavam em sua mente, Coringa franziu a testa ligeiramente, e Thais, sentindo que ele acordaria a qualquer momento, recolocou a máscara com todo cuidado, suas mãos tremendo levemente. O suor frio cobria sua pele, e ela sentiu a garganta fechar em pânico. Descobrir aquela verdade poderia lhe custar a vida. Ela sabia que Coringa não era um homem que deixava pontas soltas, e agora ela era uma.

Virando-se de costas para ele, ou seria Eduardo? Thais já não sabia qual das personalidades era a verdadeira. Ela tentava se acalmar, tentava colocar a cabeça no lugar, mas tudo o que conseguia pensar era em como fora cega, em como se deixara enganar tão facilmente. A imagem dos dois homens — que agora se fundiam em um só — dançava em sua mente. Ela se perguntou como isso era possível. Será que Coringa era simplesmente bom demais no seu disfarce, ou ela havia se recusado a ver a verdade o tempo todo?

As lembranças de cada encontro com Eduardo, cada toque de Coringa, agora pareciam peças de um quebra-cabeça que ela nunca conseguiu montar. Havia algo em comum nos dois que, agora, parecia tão óbvio, mas que ela, de alguma forma, ignorara. Será que ela se deixara levar pelo charme de ambos, acreditando que eram dois homens distintos, quando, na realidade, eram facetas do mesmo ser?

Ela não conseguia parar de pensar em como Coringa, ou Eduardo, havia conseguido manter essa farsa por tanto tempo. E o que significava para ela agora que sabia a verdade? Será que ela era apenas mais uma peça no jogo dele? Como poderia continuar ao lado de um homem que escondia tanto, que era, na verdade, duas pessoas em uma? Mas, ao mesmo tempo, como poderia se afastar dele, sabendo que o amava profundamente, independentemente de quem ele realmente fosse?

O peso da descoberta esmagava Thais, tornando difícil até mesmo respirar. Ela sabia que, a partir daquele momento, nada mais seria como antes. A confiança, já frágil, agora estava em pedaços. E, no entanto, enquanto tentava acalmar sua mente, o desejo de sobreviver a essa nova realidade prevalecia. Thais sabia que precisava manter a calma, precisava pensar em seu próximo passo com cuidado.

De costas para Coringa, ela fechou os olhos, tentando desesperadamente encontrar algum vestígio de paz em meio ao caos em sua mente. O calor do corpo dele, tão próximo ao seu, agora parecia uma armadilha, um lembrete constante do perigo que corria. Mesmo assim, ela sabia que não podia demonstrar nada. Não agora. Não até entender completamente o que significava aquela descoberta, e o que ela deveria fazer a seguir.

Enquanto o silêncio da madrugada envolvia o quarto mais uma vez, Thais se questionava se conseguiria suportar o peso daquela verdade. Coringa, Eduardo, ou seja lá quem ele realmente fosse, estava ao seu lado, adormecido, vulnerável. E ela, a i****a que havia se apaixonado pelo mesmo homem duas vezes, precisava decidir o que fazer com o conhecimento que agora possuía.