Já se passavam das três da manhã e a festa estava longe de acabar, Marcos se juntou com mais uns amigos e amigas, ficamos todos conversando e curtindo as músicas.
- Grace, você mora onde?
- Em São Paulo.
Perguntou uma amiga de Marcos, Aline.
- Vem sempre aqui?
- Vinha antigamente, faziam anos que não aparecia por aqui.
- Tem família aqui, então!
- Sim!
- Conheceu Marcos agora?
- Na praça da fonte, essa semana.
- Legal! Ele é muito gente boa, o conheço desde sempre, teve uma época que foi agitado, mas agora, quase nem saia mais.
Foi quando Guilherme propôs uma brincadeira, todos toparam, eu não estava prestando atenção, demorei a saber que se tratava do jogo da verdade, fomos para longe da multidão, sentamos em círculo, usamos uma garrafa para apontar quem seria a pessoa a responde, as regras eram, quem estivesse no fundo da garrafa perguntava e quem estava na ponta da garrafa respondia, podia escolher verdade ou desafio, mas, haveria apenas um desafio, uma dose de tequila, começamos e logo saiu para Marcos perguntar para uma menina.
- Verdade ou consequência?
-Verdade!
- Você pegaria o Vítor?
- De novo? Não!
O Vitor que estava nitidamente acabado respondeu.
- Quer me matar amigo? Hoje nem Viagra dá mais gás!
Todos rimos, afinal, ele pegou uma boa parte da festa. Eu a cada rodada, torcia para que não caísse em mim, mas, o fundo da garrafa parou em mim e a frente em uma menina, eu não a conhecia, pensei bem e resolvi perguntar.
- Verdade ou consequência?
- Verdade!
- Você já ficou com uma mulher?
- Não! Mas pegaria você fácil!
Acho que todos sacaram que eu era careta, resolveram me tirar, mas, tudo bem! Rodei a garrafa e a bendita parou com o bico virado para mim e o fundo para o Vítor.
- Verdade ou consequência?
Eu fiquei com muito medo e disse.
- Desafio!
- A mina quer beber! Tragam a tequila! Arriba!
Foram algumas rodadas de desafio que paguei, foram duas garrafas de tequila, voltamos para festa, não sei que horas eram ao certo, não quis falar nada, mas, o mundo girava, meu estômago enjoava, olhei para Marcos que estava sério, me puxou para um canto e perguntou.
- Você está bem?
- Acho que bebi demais!
Antes que ele fizesse qualquer pergunta, eu já estava vomitando, ele segurou minha testa e meu ombro, depois que parei, ele me levou até o carro, me deu umas balas e foi chamar Alicinha, quando chegaram, eu estava dormindo, senti quando Marcos deu um beijo no rosto e perguntou.
- Está se sentindo melhor?
Respondi com um sorriso de felicidade, ele estava sendo tão fofo!
- Sim! Obrigada por cuidar de mim!
- Foi culpa minha, te apresentar a aqueles doidos!
- Adorei eles!
- São doidos encantadores eu sei!
Alicinha também estava com uma cara de cansada, perguntei se podíamos ir embora e ela respondeu.
- Podemos! Não quero mais ficar aqui.
Percebi que alguma coisa aconteceu que desagradou a Alicinha e Marcos perguntou.
- Léo vem com a gente?
- Não! E acho que nem Vitor vem!
- Ele vai ficar até o dia clarear, conheço a peça, vamos então?
Ele nos levou até a chácara, Alicinha m*l se despediu entrou para a casa, nós ficamos ali conversando mais um pouco.
- Aconteceu alguma coisa com Alicinha?
- Acredito que sim! Léo sumiu, quando fui chamá-la, ela estava sozinha deitada no gramado.
- Depois vejo isso com ela.
- E você? Só vou embora quando tiver certeza que você esteja bem!
- Obrigada! Cuidou direitinho de mim!
- Minha obrigação e está sendo uma satisfação!
- Estou te passando uma impressão horrível! Uma bêbada!
- Não! Pelo contrário, percebi que não tem costume de beber muito.
- Não mesmo! Mas estou bem! Pode ir descansar!
- Vou mesmo! Você também quer dormir, né?
- Vou tomar um banho e dormir!
Ele me abraçou e falou no meu ouvido.
- Você está sendo uma garota má! Estou me apaixonando por você.
Depois me deu um daqueles beijos que só ele sabe dar, nossa! Que beijo! Fiquei observando-o entrar no carro e ir embora, ele se apaixonando por mim? E eu por ele, tenho que parar com isso! Moramos longe, somos de idades diferentes e ainda tenho uma cabeça complicada para relacionamentos, entrei na casa e vi que meu celular vibrava, olhei e vi que era Sergio, tinha um áudio dele, dizia, “Vi que chegou, daqui meia hora te encontro no jardim”, eu não vou nesse encontro, fui para o quarto e chegando lá, vi Alicinha chorando, me assustei, logo ela, forte do jeito que é, algo grave devia ter acontecido.
- O que está acontecendo Alicinha?
- Esse mundo machista! Odeio esses homens!
- Ele fez alguma coisa com você?
- Fez, mas com meu consentimento, o problema foi depois.
- Ele te desprezou!
- Como sabe?
- Homens são todos iguais.
- Odeio isso!
- Eles podem tudo! Depois que fazemos sexo com eles, nos tratam como lixo! Droga!
- Ele te falou o que?
- Nós tranz@mos e assim que terminamos, ele falou: “tchau!” Eu perguntei: tá brincando? Ele disse: “não!”, fiquei ali, sem acreditar, no quanto ele era babaca, voltei para a festa e ele estava se pegando com outra, eu então, me sentei no gramado e Vítor sentou ao meu lado, por incrível que pareça, para trocar ideia na boa, ele foi atrás de nós e disse: “se for comer ela também, mete com força que ela geme!”, fiquei com tanto ódio, que olhei para ele e disse, seu babaca, peço só pra socar forte, quem tem o P@u pequeno! Ele ficou tão nervoso, que Vítor segurou a mão dele para ele não bater em mim.
- Babaca! Desgraçado!
- Não estou chorando, porque estou apaixonada ou porque ele estava com outra, mas, porque ele teve a audácia de tentar me agredir.
- Meu Deus! E eu bêbada, te deixei correr risco!
- Você não tem culpa de nada!
- Achei que era um homem moderno, mas era um pirralho machista.
- Quer fazer algo contra isso que você sofreu?
- Não! A vida continua e eu vou continuar curtindo, não vou me colocar no lugar que querem me colocar, os homens tem que aprender a respeitar as mulheres.
Abracei aquela pequena, senti uma dor tão grande em meu coração, durante anos, sofri tentando entrar nos moldes machistas, quase acabei com a minha vida, agora vendo Alicinha sofrendo, aquela revolta de ser julgada e agredida, voltou a doer em meu peito.