LEMBRANÇAS

1142 Words
Ainda muito mexida com a situação de Alicinha, fui para a sala e encontrei Sergio a minha espera, ele me pegou pelo braço, tentei empurrá-lo, mas ele me segurou com força e puxou para o jardim. - Porque está fugindo de mim? - Acho que não devemos ter essa conversa que planejamos. - Porque? - Porque você é casado e nem sua esposa e nem eu merecemos dividir você. - A conversa não é para isso. - Mas vai acabar levando a isso! - Grace, durante minha vida toda, fiquei imaginando o que aconteceu conosco! Ele tinha razão! Eu também sempre quis falar com ele sobre isso, nossos planos foram abortados da pior maneira. - Está bem! Vamos conversar. Fomos para a varanda, sentamos e eu comecei. - Nossas mães nos separaram! - Minha mãe sempre disse que apoiava nosso namoro. - Ela mentiu! Minha mãe e ela planejaram tudo! - Como sabe? - Assim que descobriram nosso relacionamento, minha mãe foi contra nosso namoro desde o começo, a sua mãe falava que era a favor, mas, um dia as vi conversando e combinando de nos separar, fiquei histérica, chorei muito e minha mãe me levou embora, estávamos na casa da vovó Gloria. - Não é possível! Ela me enganou esse tempo todo! - Sim! Se ela disse ser a favor! Mentiu! Cheguei a receber algumas cartas suas, ficava vigiando o carteiro e corria para pegar, mas, minha mãe, sempre muito esperta, estava a minha espera para tomá-las, não me deixava atender o telefone e chegou até a trocar nosso número. - Porque fizeram isso? - Minha mãe dizia ter medo, de que eu tivesse filhos com defeito. - Quanta ignorância! - Sofri muito! Fiquei muito depressiva, não quis namorar ninguém por muito tempo. - Eu também sofri, diferente de você, virei um garanhão, não queria me apaixonar nunca mais, me casei e nunca fui fiel, sempre procurei em todas você. - Não sou mais aquela de antes. - Nem eu o mesmo! - Elas estragaram nossas vidas! - Mas agora estamos aqui, juntos! - Sergio, você está casado e eu não quero ser o motivo de uma separação. Sérgio se aproximou de mim, eu disse. - Não faça isso! Não é justo com sua esposa. Ele me pegou pela cintura e com sua outra mão apoiou a minha cabeça, me dando um beijo espetacular, a verdade, é que não éramos dois adultos ali, aquele momento criamos em nossas mentes, uma espécie de viagem no tempo e voltamos a adolescência, as sensações eram incríveis, ele me olhou e propôs. - Vamos nos dar esse momento, depois veremos o que acontece, a vida já nos distanciou demais, talvez, não teremos outra oportunidade! - Não é o certo, mas ninguém nunca pensou em nós. Fomos para o quarto de despejo, como na juventude, afastamos tudo que podia nos atrapalhar, peguei no quarto, um colchonete, cobertores, ele achou algumas velas e acendeu para dar um clima romântico, a nossa dispensa do amor, era tudo muito engraçado, nos sentamos e ele resolveu perguntar. - Grace, qual o melhor momento que vivemos para você? - Tantas coisas que vivemos, mas quando subimos a serra até a primeira aguinha, quase chegando ao topo, me lembro que aquele dia, foi o primeiro, que você disse que me achava bonita. - Na verdade, aquele dia, eu me esforcei muito para dizer aquilo, eu era muito inseguro, um moleque magricelo, orelhudo, a puberdade, não ajuda muito a beleza dos meninos no começo. - Eu te achava muito bonito e gostava da sua forma de agir com as pessoas, sempre calmo e prático. - Você estava muito cansada e eu achei que se te elogiasse, não teria fôlego para me dar um fora. - Aquele elogio, me deu foi fôlego para chegar até a rampa! - Que vista linda! Me lembro do vento fresco batendo em minha pele, depois você me olhou e disse que também me achava bonito. - Pois é! Quase tive que pedir um beijo. - Mas eu cheguei por trás e dei um beijo. - Não foi bem um beijo! - Você já sabe que foi meu primeiro beijo! - Eu sei! E foi o beijo mais lindo que dei até hoje! E você? Qual nosso melhor momento? - Foi quando você disse, sim! - Como assim? - Na última vez que estivemos juntos, depois de todos os planos que fizemos, eu perguntei a você, se você ficaria para sempre comigo e você disse, sim! - Nossa! Não cumpri! - Eu achava que você não fez tanta questão disso, se quisesse realmente poderia ter entrado em contato, sei lá, fugir talvez! - Eu sempre fui medrosa e dominada pela minha mãe, esqueceu? - Lembro que seu pai era o cão! - Era! Nem me lembre dele, por favor! - Desculpe! Ele já morreu! - Nem é por isso! Quero esquecer que ele existiu em minha vida. - Nossa! Que forte isso! - Digamos que ele me fez sofrer muito. - Com tanto rancor, deu para perceber. - Nem é rancor, é dor mesmo! - Desculpe! Quero trazer pensamentos bons. - Vamos pensar, nos momentos que fomos pular carnaval. - Que delícia! Primeiro nos reuníamos no bloco do Hasta, com nosso chitão amarrado pelo corpo, descíamos até a praça da fonte, ao som de tambores, sempre tinha uma banda tocando no palco, quanta gente! Era tão bom! Depois no final, íamos curtir as marchinhas no cassino até amanhecer dia, que tempo bom! Não tinha perigo, não precisávamos de drogas para nos divertir, era tudo tão gostoso. - Então! Depois disso, nunca mais fui em nenhum carnaval. - Sério? Eu fui, em vários, no Rio, em salvador, em vários! - Sua vida foi animada! A minha foi um engano! - Mas você ainda está viva! - Sim! Depois que meu pai morreu e eu me separei, levei um tempo para me recuperar, hoje me sinto mais feliz, espero ter tempo de curtir a vida. - Terá sim! Eu curti a vida, mas, não tive filhos, nunca quis, agora sinto falta. - Sua esposa é nova, poderão ter filhos! - Grace, eu estou casado com Patrícia, a apenas dois anos, me casei depois que ela disse estar gravida, o pai dela é meu patrão, daí eu acabei casando, não gosto dela, se quer combino com ela, ela que tem fixação por mim, já estou me acertando em outro negócio, quero sair desse casamento, mesmo antes de me reencontrar com você já queria isso. - Por causa do emprego? Deve ser um ótimo emprego. - Sim, é! Mas não vale a pena ficar casado com essa Menina mimada. Não sei se Sergio estava falando a verdade, ou se estava apenas tentado ganhar minha confiança, eu estava ali para ele, não sei o que rolaria ainda, mas estava disposta a viver aquele momento.
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