CAPÍTULO 3
PRISCILA
Quando deito na minha cama, e fecho os meus olhos, me lembro daquele riquinho metido a b***a da festa, os seus olhos azuis, eram tão bonitos, aliás ele todo era, quem ele seria? Ele disse que cresceu na cidade, mas eu não me recordo dele, e nem poderia também, vivi muito mais tempo em Atibaia.
Eu estava inquieta, não conseguia dormir, estava ansiosa pela corrida de amanhã, e negava a mim mesma que isso também se desse pelo fato de ter visto ele fazendo a inscrição para a corrida também.
Depois de algum tempo rolando na cama, de um lado para o outro, acabo pegando no sono, e quando acordo o sol já está a pino no céu de Joanópolis, oh droga, levanto da cama correndo e quando chego na cozinha Day está colocando um bolo de milho recém tirado do forno em cima da mesa.
—O que foi menina?—ela inquire olhando para mim.
—Pensei que estivesse atrasada—digo passando a mão pelo o meu rosto.
—Não, ainda temos um tempo, o gigante que resolveu acordar mais cedo hoje, como se estivesse abençoando o nosso dia—ela diz com uma xícara de café na mão, olhando pela janela da cozinha.
—Isso é bom, mas eu vou comer um pedaço desse bolo, e tomar um banho, se não vamos nos atrasar mesmo—digo cortando uma fatia do bolo, que ainda saía fumaça.
Aquele cheiro de bolo de milho e café, me levam direto a minha infância, onde eu ficava sentada na mesa da cozinha enquanto a minha mãe preparava seus deliciosos bolos, ela era uma boleira de mão cheia, eu queria muito ter herdado o dom dela, mas no máximo o que sei fazer são uns pães caseiros.
Assim que termino o meu bolo, sigo para o quarto e escolho uma roupa para a ocasião, opto por uma camisa azul turquesa, e me recuso a aceitar que escolhi o tom lembrando daqueles olhos azuis, daquele peão.
Pego o meu chapéu preto e sigo para o estábulo, onde a minha égua Estrela, já estava sendo colocada no trailer. Vejo Day chegar correndo, atrasada, ainda arrumando a fivela do cinto.
—Uauu—digo olhando para ela que dá uma voltinha.
—Se não ganharmos a corrida, pelo menos eu arrumo um pretendente, estou sentindo meus ovos secarem dentro de mim, eu preciso de um marido—ela diz e nós duas caímos na risada.
—Vamos logo—digo rindo e entrando no carro, ela me segue e logo pegamos a estrada a caminho do lugar onde aconteceria a corrida, o Rancho Pedra Alta havia cedido o local para a corrida e a cidade toda estaria lá com certeza, inclusive ele, me recrimino por pensar naquele riquinho de merda, mas era impossível não lembrar daquela voz, e daqueles olhos, daquele sorriso e aquele porte.
Avisto a entrada do Rancho e sigo pelo o caminho decorado com bandeiras coloridas, se tinha uma coisa que os joanopolitanos gostavam era de uma boa festa.
Estaciono a caminhonete, próximo aos estábulos e logo dois funcionários vieram nos ajudar, vejo o sorriso de Day se alargar, quando os peões, altos e musculosos se aproximam de nós.
—Bom dia, precisam de ajuda?—um deles pergunta.
—Ah precisamos sim, precisamos de ajuda e você com esses braços fortes e musculosos, com certeza podem ajudar—Day diz sorrindo, e eu acabo rindo também, tamanha era a cara de p*u dessa minha amiga.
Depois que os bonitões nos ajudaram a tirar Estrela do trailer, a levamos para o estábulo, e começo a fazer trancinhas na sua crina, logo ouço o trotar de um animal e quando olho para trás lá está ele, trazendo consigo um puro sangue n***o.
—Oi de novo—ele diz sorrindo, e caramba que sorriso lindo ele tinha.
—Oi—digo.
—Parece que vamos ter uma disputa hoje, mas é claro que eu vou ganhar—ele diz.
—Quem te garante isso?—inquiro empinando o meu nariz.
—Eu sei que vou, a propósito me chamo João Miguel—ele diz.
—Eu sou a Day, e ela é a Priscila—Day diz sorrindo para ele.
—Muito prazer Day, nota-se que você é mais amigável que a sua amiga—ele diz.
—Eu sou amigável, com quem eu conheço—digo e me viro para terminar o que eu estava fazendo, então vejo pelo o canto do olho ele se afastar.
—Mas por que precisava ser tão m*l educada Pri? Um gato daquele—Day diz ainda olhando na direção do homem que agora escovava o lindo animal n***o, deixando em evidencia os músculos do braço e as tatuagens sob a pele.
—Não estou procurando um pretendente, e hoje ele é meu adversário, além disso olhe esse animal, esse cara deve ter dinheiro, e quem tem dinheiro acha que pode comprar as pessoas também—digo e vejo a minha amiga respirar fundo, balançando a cabeça.
Olho pelo o canto do olho e vejo que ele faz o mesmo, termino o que estava fazendo bem em tempo de ouvir a chamada para a corrida.
—Vamos lá menina, precisamos desse dinheiro—digo afagando o rosto da minha égua.
O hipódromo estava lotado, várias pessoas haviam feito as suas apostas, me posiciono com Estrela na largada, e logo ao meu lado, está ele o tal João Miguel que em cima daquele puro sangue ficava maior ainda.
—Parece que a sua égua está com sono—ele diz rindo.
Olho para o cavalo dele que bate a pata no chão e se mexe sem parar, dando sinais claros que está nervoso.
—Ela não está nervosa, está concentrada—digo e fixo os meus olhos na pista, quando é dada a largada, Estrela, faz o que faz de melhor, corre. Vejo que ele está quase me alcançando, afrouxo mais a rédea e a minha menina corre ainda mais, nos dando a vitória.
Ouço os gritos de Day da arquibancada, e a cara de c.u de João Miguel é impagável.
—Perdeu Playboy—digo rindo e ele me olha irritado.
—Quero uma revanche—ele diz ainda montado andando em círculos assim como eu.
—Tem certeza?—inquiro rindo.
—Sim, se eu perder te p**o o mesmo valor do prêmio que ganhou hoje, mas se eu ganhar quero um beijo seu—ele diz e aquilo me irrita.
—Como ousa me fazer uma proposta dessa?—pergunto.
—Se confia tanto em você e no seu animal, não tem por que temer—ele diz rindo.
Penso por alguns segundos, esse dinheiro definitivamente salvaria o rancho, nos ajudaria a cuidar dos animais, e nos daria uma folga financeira por algum tempo.
Mas penso e se eu perder, eu teria que beijá-lo e o que mais me incomodava era a sensação de que aquilo não seria tão r**m.
Ele me olha esperando por uma resposta, passo os meus olhos pelos os seus braços, ele segura as rédeas daquele animal com força, e eu só imagino se ele tem essa pegada toda, oh céus o que eu estou pensando?
—E então baixinha marrenta, o que me diz? Vai arregar?—ele inquire olhando para mim.
Baixinha ? Ele me chamou de baixinha e marrenta além de tudo.
—Não vou não, vamos lá senhor peão da cidade, e baixinha marrenta é a senhora sua mãe—digo e ele sorri satisfeito.
—Ela é também, curta a festa, no fim da tarde nós corremos—ele diz e sai galopando pelo pasto.
Desmonto e caminho para o estábulo, Day se aproxima de mim.
—Sabe que não precisava ter aceitado né?—ela inquire.
—E deixar ele pensar que eu estou com medo dele? Jamais—digo.
—E se ele ganhar?—ela pergunta me olhando.
—Se ele ganhar então darei o seu prêmio—digo e ela sorri.
Olho para o homem cavalgando já longe de mim, e me pergunto o que o senhor destino queria com isso, eu não voltei a cidade em busca de amor, eu voltei em busca de vingança.