CAPÍTULO 5
PRISCILA
Olho nos seus olhos azuis antes de sair com o carro, sustento o seu olhar, algo nele mexia comigo, e mesmo que eu não quisesse aceitar ele me atraia de uma forma inexplicável.
O sol já se punha, contornando o nosso gigante adormecido, aquele que servia de fundo para belas fotos dos turistas que visitavam o nosso pedacinho do céu, a joia da Mantiqueira.
—Vamos embora logo Pri—Day diz colocando o cinto.
—Não me diga que está com medo do…—começo a dizer, mas ela me corta.
—Não fala esse nome, que chama, hoje é noite de lua cheia, eu não quero estar na estrada à noite, você bem sabe como é a estrada para o rancho—ela diz e eu começo a rir.
—Day, você sabe que é uma lenda, na verdade, isso é para atrair os turistas—digo.
—Não é não, se tem história é por que aconteceu, a minha vózinha que Deus a tenha, viu aquele bicho horrível, quando ela era mais jovem—ela diz fazendo o sinal da cruz, e eu saio com o carro.
—O único lobisomem que tem aqui é o Elias, e você sabe bem que é uma fantasia—digo olhando para ela que já está apreensiva com a noite chegando.
—Ele eu sei que se veste, mas tem os de verdade e você sabe que tem, toda noite de lua cheia, os cachorros não param de latir, e o clima fica estranho na cidade, você que não acredita, mas eu sim, então respeita o meu medo, e vamos embora logo—ela diz e eu dou risada, dirigindo de volta para o rancho.
Assim que chegamos ao rancho ela me ajuda a guardar a Estrela e corre para dentro de casa, a lua cheia já iluminava o céu de Joanópolis deixando a noite clara.
Me sento no banco que fica na varanda e começo a pensar em tudo o que eu passei, aquela noite ainda estava tão viva na minha memória, que eu podia sentir o cheiro do sangue de Eduardo, eu conseguia sentir cada parte do meu corpo que foi tocada por aquele monstro, eu não ia ter paz enquanto eu não me vingasse, enquanto eu não visse aquele homem morto, e eu só me perguntava por que o destino colocou João Miguel no meu caminho, quando tudo o que eu buscava era fazer aqueles homens pagarem pelo o que me fizeram.
Respiro fundo sentindo o cheiro das árvores, que contornavam o rancho, aquilo me trazia paz. Levo as mãos aos meus lábios, me recordando daquele beijo, os lábios dele sobre os meus, eu não podia negar a sensação que percorreu o meu corpo todo quando as suas mãos me tocaram, eu não podia, eu não devia me apaixonar, isso tiraria de mim o foco que eu tinha, mas como evitar se tudo me atraía para ele.
—É sério mesmo que vai ficar do lado de fora?—ouço a voz de Day na janela.
—Deixa de ser boba menina, não tem nada aqui não—digo rindo.
—Mas entre por favor—ela diz visivelmente com medo.
—Tudo bem, vou entrar—digo levantando e seguindo para dentro da casa.
Sigo para o meu quarto e decido tomar um banho, lavo os meus longos cabelos e deixo a água escorrer pelo o meu corpo, fecho os meus olhos e me lembro dele, do sorriso largo, dos olhos azuis brilhantes, que merda, esse homem havia invadido a minha mente.
Saio do banho, secando o meu cabelo, e olho a lua pela janela, a total escuridão, talvez Day tivesse alguma razão afinal, a cidade ficava com um ar místico nas noites de lua cheia.
Deito na minha cama, e pego a minha foto com o Edu, era de alguns dias antes do dia do nosso casamento, a única que eu havia conseguido buscar no rancho dele.
—Ah Edu, eu sei o que deve estar pensando, que eu me esqueci de você e do nosso amor, mas não, eu me lembro de nós todos os dias, e eu não vou descansar enquanto não vingar a sua morte, mas não posso negar, nem para você, que o meu coração bate acelerado quando penso em João Miguel Santarosa.
Acabo pegando no sono, com a nossa foto na mão, e quando abro os meus olhos, o sol já iluminava a cidade, faço a minha higiene matinal, e troco de roupa, quando chego a cozinha tomo um susto, ele estava ali, João Miguel Santarosa, estava sentado em uma cadeira na cozinha, tomando uma xícara de café e conversando animadamente com Day.
—Aí está ela, eu já ia te chamar—Day diz.
—O que faz aqui?—pergunto ao homem sentado, que usava uma camisa azul, ignorando a minha amiga.
—Eu soube que não pegou o cheque com a administração da corrida, então eu vim trazer e me desculpar—ele diz.
—Eu vou verificar os animais—Day diz saindo pela porta tão rapidamente que quase não percebemos.
—Se eu não peguei é porque eu não quero o seu dinheiro—digo olhando nos seus olhos e ele se levanta, caminhando na minha direção.
—Por que você é tão teimosa, você ganhou a corrida—ele diz.
—E você roubou o prêmio—digo com as mãos na cintura, sustentando o seu olhar.
—Vim me desculpar por isso, eu não devia ter…—ele diz tentando encontrar as palavras certas.
—Me beijou à força? Não definitivamente você não deveria ter feito isso, e não me venha com esse papo escroto de eu não resisti—digo.
—Não vou tentar justificar o que fiz, não tem justificativa, eu só vim pedir que tente me desculpar—ele diz me olhando, e eu vejo sinceridade em seus olhos—E além disso você me deu uma bela chicotada—ele diz e eu acabo rindo.
—Você mereceu—digo.
—Sim, eu mereci—ele diz rindo e o seu sorriso era simplesmente lindo, reparo nos seus braços coberto por várias tatuagens, e algo em mim questionava até onde elas iam.
—Bom se era só isso, já pode ir, está desculpado, desde que não se atreva a fazer isso de novo—digo.
Ele dá mais um passo na minha direção, e me olha nos olhos, ele estava tão perto que eu podia sentir o seu hálito no meu rosto.
—Eu prometo que só vou te beijar de novo, quando você me pedir—ele diz.
—Eu nunca vou pedir—digo com a voz entrecortada.
—Vai sim, você sabe que vai, até mais marrenta—ele diz pegando o chapéu preto sobre a mesa e saindo.
Eu fiquei ali parada, com a respiração ofegante, sem conseguir mexer um músculo, eu queria me convencer que isso nunca aconteceria, mas o meu corpo todo gritava que sim, eu iria pedir para ser beijada novamente por João Miguel Santarosa.
E assim que consigo raciocinar novamente, vejo o cheque em cima da mesa, que teimoso!!!