CAPÍTULO 6
JOÃO MIGUEL
Quando saio daquele rancho meu coração está acelerado, o que aquela mulher tinha que me tirava do sério, que me atraia diretamente para ela, ela era teimosa, e marrenta demais, tudo que eu odiava em uma mulher, mas nela me fazia querer estar cada vez mais perto.
Assim que entro em casa ouço a voz do meu pai atrás de mim.
—O que foi fazer naquele rancho?—ele pergunta assim que cruzo a sala.
—Eu tinha uma coisa para resolver—digo.
—João Miguel, eu não sei se você se lembra, mas você trouxe uma mulher com você, e ela é sua noiva— o meu pai diz.
—Pai, eu só fui pagar uma dívida—digo.
—Uma dívida que você adquiriu em uma corrida clandestina, com uma mulher que ninguém nem sabe quem é—ele diz.
—Me desculpe pai, mas isso não lhe diz respeito.
—Você sempre meteu os pés pelas mãos, você sempre foi impulsivo, sempre querendo o que não pode ter, você não pode simplesmente trazer uma garota pra cá, deixar ela trancada no quarto e sair atrás de outra mulher—ele dispara na minha direção, e no fundo eu sabia que ele estava certo, eu não conseguia tirar aquela diaba da minha cabeça, ela estava mexendo comigo de uma forma que nenhuma outra mulher havia mexido antes.
—Pai, eu sei que o senhor tem razão, mas acredite não estou fazendo nada de errado—digo.
—Resolva essa situação, e não estou brincando—ele diz apontando o dedo para mim e saindo.
O que eu ia fazer? De fato eu tinha que dar um jeito nessa situação, mas só de pensar no escândalo que Lais ia fazer, eu perdia a vontade de falar com ela, mas quando estava pensando em fugir, ouvi a voz da loira atrás de mim.
—Finalmente apareceu, o dia amanheceu e você já não estava mais na cama—ela diz.
—Eu tive um problema para resolver na rua—digo.
—João Miguel, o que está acontecendo? Você está diferente desde que chegamos nesse lugar, você nem fica comigo—ela diz me olhando, e no fundo ela tinha razão, nós precisamos conversar.
—Laís, eu sei que estou em dívida com você, eu sei que eu preciso te dar explicações, mas nem eu sei o que está acontecendo comigo—digo.
—Eu sei, é esse lugar, é isso que está acontecendo, desde que você colocou o pé nessa maldita cidade, nesse lugar infernal—ela diz irritada.
—Não ouse falar m*l da minha cidade, eu nasci aqui, cresci aqui, esse é o meu lugar, e quando você fala isso, você me atinge—digo.
—Dane-se eu cansei, quero ir para a minha casa—ela diz.
—Receio que terá que ir sozinha então—digo.
—Você está me dizendo que prefere ficar aqui, a voltar para São Paulo comigo?—ela inquire.
—Eu não vou voltar, Laís—digo.
—Mas isso será o nosso fim—ela diz.
—Então esse é o nosso fim, se quer voltar a São Paulo, eu mandarei alguém te levar, mas eu não vou sair da cidade—digo passando por ela, que continua gritando como louca atrás de mim pelo o corredor, entro no quarto e a maluca começa a desferir vários tapas no meu peito, seguro as suas mãos e olho nos seus olhos—Não toque em mim, eu nunca levantei a mão para uma mulher, e não será agora que vou fazer, o nosso noivado acabou, junte tudo que é seu—digo soltando as suas mãos e saindo do quarto, quando chego a varanda encontro Henrique que me olha.
—A fazenda toda ouviu os gritos da sua noiva—ele diz.
—Ela não é mais a minha noiva—digo.
—Como assim?—ele pergunta.
—Acabou, eu preciso de alguém para levá-la a São Paulo—digo.
—Bom, eu ia a São Paulo, se quiser despacho ela por lá—ele diz.
—Então por favor—digo e ele assentiu, eu só queria me livrar do problema que eu arrumei, nem sei como isso começou, somos opostos, eu amo a vida do campo, os cavalos, a terra, o cheiro da minha cidade, e ela odiava tudo isso, e o mais importante não existe amor, se eu me casasse com ela condenaria a nós dois a uma vida de mentiras.
Caminho até o estábulo e passo algum tempo ali com os animais, como poderia alguém não gostar disso, dessa verdade que os bichos transmitem, do jeito acolhedor dos habitantes desse lugar.
Quando me dou conta Henrique está colocando as malas dela no carro, que me olha furiosa caminhando com dificuldade pela grama sobre os seus saltos.
—Vai pagar por isso João Miguel Santarosa, pode apostar que vai—ela diz.
—Apenas siga a sua vida Laís, seja feliz, somos diferentes demais—digo e ela se vira entrando no carro, o meu irmão me olha e sai pela estrada que levava a porteira, ouço passos e vejo a minha mãe atrás de mim.
—Essa mulher vai te trazer problemas—ela diz, e aquilo de certa forma me deixa preocupado, dizem que mãe sente as coisas, e a minha sempre teve um sexto sentido muito apurado.
—Eu realmente espero que não mãe—digo.
—Eu também espero, mas algo me diz que ainda veremos essa mulher frente a frente, eu sei que não foi só o fato dela não gostar da cidade que fez esse noivado acabar, me diga quem ela é— a minha mãe diz.
—Ela quem mãe?—pergunto fingindo não entender o que ela está dizendo.
—A mulher que não sai da sua cabeça, e que fez os seus olhos brilharem, só porque eu a mencionei sem mencionar, João Miguel, você é meu filho eu o conheço como a palma da minha mão, desde o momento que cruzou aquela porta com essa tal Laís, eu sabia que não existia amor entre vocês, no entanto agora, estou vendo os seus olhos brilharem, por alguém que nem sabemos quem é—ela diz.
—Vamos dar tempo ao tempo mãe, se for amor logo o mundo saberá—digo beijando a sua testa, e caminhando para casa, de fato pensar em Priscila fazia o meu coração disparar, ela tinha um poder sobre mim, que eu mesmo não sabia explicar, eu queria aquela mulher pra mim, mas eu sabia que a força ela não viria, tinha que ser no laço, no laço da paixão.