Brian
Acordei com fincadas na cabeça e me vi em uma cama de hospital. Quase enlouqueci pensando que tinha perdido a memória de novo, mas eu me lembrava de ter perdido a memória, então estava tudo bem. Olhei em volta e encontrei Carter e Matheus sentados em duas cadeiras, assim que os dois me viram se levantaram igual loucos.
— E aí cara, como você está? — Carter deu uma olhada nos aparelhos e em seguida em mim.
— Confuso, mas estou bem.
— E como isso foi acontecer? Por que você estava com a Mia? — Matheus pressionou os dentes em seu lábio inferior demonstrando nervosismo, dei um sorriso, feliz por sua preocupação.
— Digamos que ela bebeu bastante. E que eu pedi que me contasse meu passado.
— Seu louco! Não se pode forçar as lembranças. — Carter balançou negativamente a cabeça.
O médico entrou, olhou a movimentação e tossiu.
— Bom dia senhor Jackson. Como se sente?
— Estou bem.
Ele começou a falar e minha cabeça latejou, coloquei a mão nela e fechei os olhos. E então, imagens foram surgindo aos poucos. Primeiro uma grande árvore natalina, com muitos presentes em baixo, ela foi se aproximando, como se eu corresse até ela. E então, a imagem mudou, eu gritava, e um homem e uma mulher gritavam em seguida, então dei um soco no homem e a imagem desapareceu!
— Brian, você está bem? Brian? — Matheus gritava.
— Se acalme, essa gritaria só vai piorar a dor. — O médico olhou para ele e em seguida para mim. — Tudo bem sr. Jackson?
— Sim, foi só uma dor de cabeça, e algumas imagens.
— Entendo... vamos fazer uns exames, te receitar alguns remédios para dor de cabeça e você poderá ir.
Quando entrei novamente em casa, se é que posso chamar ali de casa, Ashley correu até mim. Por um momento me senti decepcionado por não ser quem estava comigo durante o café, na verdade não vi Mia pelo resto do dia. E todos me trataram como se eu estivesse acabado de quase morrer, mas era até bom ter atenção.
Sentei-me na sacada do quarto com Ashley e fiquei admirando a paisagem, sem pensar em absolutamente nada.
— Eu gosto do Brasil! — Ela sorriu e colocou sua mão sobre a minha.
— Eu também. — Encostei minha cabeça em seu ombro.
— Eu estava pensando... porque não nos casamos aqui? — Fiquei pensando, na verdade tempo demais. — Brian? — Eu a tinha pedido em casamento, mas estava tão confuso, que não queria mais decidir tudo tão rápido.
— Eu acho ótimo meu amor. — Sorri e dei-lhe um beijo.
— Podemos visitar algumas igrejas, eu cuido da decoração e vou ligar pros meus pais, você precisa conhecê-los. — Ela estava tremendamente animada, eu amava Ashley sim, ela foi a mulher que esteve comigo nesses últimos meses e tenho que deixar essa insegurança de lado.
— Espero sair vivo deste encontro. — Ela sorriu.
— Eles vão amar você tanto quanto eu amo. — Seus lábios vieram de encontro aos meus, e logo em seguida ela se levantou e entrou no quarto.
Senti minha cabeça doer e fechei os olhos, apoiei os cotovelos nos joelhos e segurei a cabeça. Assim como mais cedo imagens surgiram, dessa vez eu segurava o volante e dirigia ao lado de um carro forte enquanto tiros eram disparados da janela de trás em direção ao mesmo. Em seguida vi aquele homem e aquela mulher novamente e uma frase ficou se repetindo em minha cabeça. Não somos seus pais! E então eu apaguei.
Mia
— Chega, já esperamos demais! — Bati a mão com força na mesa, onde todos tomavam café.
— Mia, é de vidro! — Matheus me repreendeu.
— Concordo com ela, faz muito tempo que não atacamos. — Ana se pronunciou.
— Precisamos fazer alguma coisa. — Diega disse, e em seguida mordeu seu croissant.
— Do que vocês estão falando? — Ashley soltou um bocejo e em seguida olhou pro noivo.Mordi meu lábio com força, tentando ficar quieta.
— Ashley, não somos exatamente quem dizemos ser... — Sara começou.
— O que? E quais são seus nomes?
— Não foi isso que eu quis dizer.
— Amor, somos meio que procurados pela polícia! — murmurou Brian e ela arregalou os olhos.
— Somos assassinos Ashley, ladrões, sou dona de um morro... somos bandidos!
— Brian? — Ela franziu o cenho e segurou-se para não chorar. — Como você pode me enganar? — Ela se levantou da mesa.
— Ah por favor... — revirei os olhos — não começa com a cena de pobre coitada. — Fui repreendida por vários olhares, só consegui sorrir.
— Até pouco tempo eu também não sabia Ashley. — Ele também se levantou.
A garota começou a chorar e subiu correndo, e o trouxa é claro que foi atrás.
— Mia! — Matheus gritou. — Como pode fazer isso?
— Eu só disse a verdade. — Ergui as mãos me defendendo.
Os outros apenas observavam minha linda pessoa degustando um croissant.
Brian
Quando acordei estava de volta à cama, ao lado de minha noiva. Minha cabeça havia parado de doer, descemos para tomar café juntos e infelizmente eles entraram no assunto: morro. Ashley não entendeu nada e acabou descobrindo meu passado. Subi atrás dela e a encontrei sentada chorando.
— Por que não me contou? Como pode me enganar assim? Eu amo você Brian!
— Não é minha culpa Ashley. — Fiquei olhando para baixo e brincando com os polegares. — Descobri isso a pouco tempo.
— E o que pretende fazer?
— Não sei. Aquelas pessoas se importam comigo, me conhecem, estiveram comigo por tanto tempo.
— Você vai me deixar? — Seus olhos molhados e o nariz avermelhado lhe deixavam mais linda ainda.
— Nunca! Escuta Ashley, eu amo você.
— Você vai sair dessa vida não vai? Ser uma pessoa honesta daqui pra frente...
— Olha aqui Ashley, eu amo você. Mas não me envergonho do meu passado. Foi ele quem me fez assim hoje, agora.
— Mas roubar, m***r e traficar é errado!
— Eu sei.
— Vamos embora para Las Vegas. Podemos nos casar lá mesmo e ficaremos juntos pra sempre.
— Não posso. — Mordi meu lábio. — Preciso ajudá-los, assim como eles me ajudaram até hoje.
— Eu entendo.
— Você vai me deixar?
— Não sei. — Ela fez uma longa pausa, que apertou meu coração. — Preciso ficar sozinha um pouco.
— Tem certeza?
— Tenho!
— Ok. — Sai do quarto e puxei a porta.
Fui para a parte de trás da casa, onde a piscina se encontrava, e trombei com Carter, Mia e Sara. Todos sentados na beira da piscina. Assim que Sara me viu sorriu e fez um sinal para que eu me aproximasse.
— E aí, está tudo bem? — Carter perguntou.
— Acho que ela vai embora. — Soltei um suspiro.
— O que? Como assim?
— Não sei. Ela quis ficar sozinha, e pensar.
— Relaxa, o que for melhor pra vocês há de acontecer.
— Alguém aí quer uma cerveja? — O Matheus gritou, pegando algumas garrafas de skol beats no freezer. Em seguida o Guilherme apareceu e pegou uma pra ele e pra Ana, que estava de mãos dadas com o mesmo.
Senti minha cabeça doer, soltei um gemido e fechei os olhos, e então parei de ouvir tudo à minha volta e cenas se passavam por minha cabeça. Tinham duas garotas, ali mesmo, deitadas nas espreguiçadeiras, o Matheus pegava cerveja, e Guilherme e eu estávamos na piscina. Quando Mia entrou, meu olhar se fixou nela, contornei todo seu corpo com os olhos e mordi meu lábio. Aos poucos a cena mudou, vi ela me jogando no chão e apontando uma arma pra mim, e por incrível que pareça eu não conseguia parar de sorrir.
Aos poucos a imagem foi desaparecendo e eu voltei a ouvir gritos em volta de mim.
— Brian? Você tá bem?
Abri os olhos e respirei fundo. Procurei a Mia e a encontrei sentada no mesmo lugar de antes. Nossos olhares se cruzaram e senti um incômodo.
— Estou bem. E aceito cerveja!
— A pergunta que não quer calar galera. Quando vamos atacar? — Ana tinha a cabeça encostada nos ombros de Guilherme, dava para ver o quanto eles se gostavam, e eu fiquei feliz com isso. Acontecia o mesmo com Sara e Carter. E apesar da Diega e do Matheus serem menos grudados, também era perceptível o que ambos sentiam um pelo outro. Pensar nisso me deixou confuso, me imaginei com Ashley, mas não ao lado de minha família e sim só eu e ela, longe dali. E então pensei na Mia, nos meus amigos e em como combinamos. Esses pensamentos foram afastados da minha mente com alguém se pronunciando.
— O que acham de invadirmos durante o próximo baile? — Matheus sorriu.
— Ficou maluco? Muitas pessoas inocentes vão se machucar. — Mia o olhou f**o.
— Mas será nossa melhor chance, quando eles estiverem bêbados, com a defesa fragilizada.
— Não podemos machucar tantas pessoas. Elas são da família.
— Mia ele está certo. — Carter disse, e ela soltou um suspiro.
— Tá legal...
— Eu vou junto!
— Você não deve nem se lembrar como se segura uma arma. — Ela debochou.
— Nada que você não possa resolver. — Sorri desafiando-a.
Todos me olharam, e em seguida se entreolharam. Não, eu não estava flertando com ela. Quer dizer, eu acho que não. As palavras saíram naturalmente da minha boca, como se eu já soubesse o que dizer.
— Tudo bem, vamos começar então. — Ela se levantou e bateu as mãos na parte de trás do short, o limpando. Me levantei e a segui.