Matheus
— O que foi isso? — Corri os olhos por todos que se encontravam ali.
— Ele está tendo lapsos da memória. Aos poucos antigos costumes voltam. — O "nerd" explicou.
— Como sabe disso? — Ana perguntou.
— O jeito com que ele se desliga facilmente da realidade. Sente muita dor de cabeça e nos olha estranho ao retornar dos apagões.
— Tá, mas e aquela garota que tá lá em cima? — Perguntei.
— O que tem ela?
— Os dois, como ficam?
— Ele ainda acredita que ela é o amor da vida dele.
— E quando voltar a se lembrar da Mia?
Primeiro ele se calou e pensou um pouco, e depois:
— Acho que já está se lembrando.
Mordi meu lábio inferior e olhei pra janela lá em cima e vi Ashley nos observando, ela parecia distante, olhando pra gente mas sem nos enxergar.
— O que será que ele vai escolher? — Diega sussurrou.
— Eu não sei. — Disse e em seguida puxei-a mais para perto de mim e a beijei.
Brian
Ela fechou a porta que bloqueava o som e pegou dois protetores de ouvido, me entregou um e colocou o outro, fiz o mesmo e a vi pegar duas armas. Ela destravou as duas ao mesmo tempo, mirou em alvos de direções opostas e acertou os dois bem no centro.
Minha cabeça doeu, fechei os olhos enquanto massageava as têmporas. Vi Mia estraçalhando uma garrafa com um barco dentro, e em seguida fiz o mesmo com outras duas.
Retornei a realidade e Mia estava bem próxima de mim, segurando meu rosto e me olhando fixamente.
— Você está bem? — Suas grandes esmeraldas exalavam preocupação.
— Estou. — Respondi sentindo seu hálito doce conflitando com o meu.
— Tudo bem. — Ela se afastou aos poucos. — Vamos começar então. — Ela me entregou uma arma e me ajudou a me posicionar.
Mirei no centro do alvo à minha frente e atirei. Foi parar uns quinze centímetros acima.
— Faz assim — ela se aproximou por trás do meu corpo me trazendo um formigamento familiar, segurou meus braços e me ajudou a mirar. Apertei o gatilho e desta vez acertei o alvo. Mesmo que ela estivesse atrás de mim eu sabia que seus lábios se contraíram e formavam um sorriso.
Alguns dias depois.
Ashley resolveu ficar e nos casaríamos aqui, em quatro semanas, antes de passarmos nossa lua de mel no Caribe. Voltaríamos para Vegas logo depois. Mas eu não queria voltar para Vegas e ficar longe dos meus amigos, da minha família. Meu coração estava em constante conflito, tudo que eu achava que sabia até aquele momento não passava de uma mentira. Será que eu realmente estava disposto a largar todo o meu passado por aquela estrangeira?
— Que tal reviver os velhos tempos? Antes de embarcarmos em uma loucura amanhã? — Matheus disse abrindo um largo sorriso.
— Espero que não esteja pensando no mesmo que eu. — Mia retribuiu o sorriso.
— Eu vou ficar e comprar mais cerveja. — Carter disse, dando um gole em sua garrafa de skol beats.
— E tequila! — Sara acrescentou.
— Da última vez que me meti nisso só me deu problemas. — Diega murmurou.
— Do que vocês estão falando? — Perguntei.
— Gatinho, a Mercedes Benz é sua. — Mia atirou uma chave pra mim e eu a agarrei no ar.
Saí seguindo ela e o Matheus, então Ashley desceu as escadas.
— Amor, onde você vai?
— Não sei.
— Posso ir?
— Se o seu coração aguentar. — Mia riu.
Ashley engoliu seco e correu até mim, segurando meu braço.
Seus longos cabelos acobreados voavam por todos os lados e de sua boca saíam gritos agudos. Eu não me lembrava de ter tirado carteira ou de ter colocado as mãos em um volante, mas dirigia como se fizesse aquilo a anos, todos os dias de minha vida. Meu coração se sentia totalmente livre e ao mesmo tempo completo.
— Vai mais devagar — Ashley implorava.
— Só se eu quiser perder.
Eu passava dos cento e trinta, estava colado em Mia e Matheus, Ashley não parava de gritar. Mia posicionou o carro a minha direita e fez um sinal para que eu abaixasse o vidro, assim que o fiz ela gritou:
— Eu sabia que ela não aguentaria — riu e em seguida acelerou, saindo como um tiro na minha frente.
Balancei a cabeça negativamente e dei uma risada, Ashley me fuzilou com o olhar e eu afundei o pé no acelerador.
Chegar a duzentos por hora não impediu Mia de me vencer, mas cessou os gritos de Ashley pelo menos, acho que chegou ao ápice de seu choque.
Quando ela desceu do carro em frente a casa, quase beijou o chão.
— Está tudo bem amor? — Perguntei.
Ela me olhou com uma cara de quem comeu e não gostou e correu para dentro da casa. Enquanto isso, Mia se aproximou.
— E aí perdedor — ela carregava um sorriso travesso nos lábios.
— Eu quase te venci — retribuí o sorriso.
— Vai sonhando — ela deu um soco em meu peito e riu.
— É melhor eu dar uma olhada em Ashley — eu disse e ela fez uma careta.
— Vai na fé.
Carter
Liguei pra uns caras que me deviam um favor. E quando eu cobro um favor, você paga, não importa o que seja. Vocês não fazem ideia de quantas pessoas eu tirei da lama. Teríamos um batalhão ao nosso lado na próxima invasão. Essa seria certeira, o filho da p**a que estava com o Mandela iria morrer, custe o que custar.
Os garotos voltaram, Sara pegou uma cerveja e se sentou em meu colo, sorri para ela e os outros se sentaram nos sofás ao nosso redor.
— E aí, como foi o pega? — Perguntei.
— Adivinha? — Mia carregava um sorriso travesso nos lábios. A muito tempo que eu não a via feliz assim, sorri de volta para ela e assenti com a cabeça, tendo a certeza de que ela havia vencido a corrida.
Nos envolvemos em uma conversa sobre coisas distintas, o que nos animou um pouco, os sorrisos voltaram aos rostos presentes naquela casa, até na Ana, que se culpava pela morte do irmão.
Brian desceu as escadas com um ar abatido, todos se calaram e olharam fixamente para ele.
— Vão se ferrar — ele disse — eu estou bem.
Todos caíram na gargalhada.
— Cadê a educação playboy? — Mia ergueu uma sobrancelha e Brian fez uma careta, colocando a mão na cabeça. Matheus se levantou correndo e foi até ele.
— Tá tudo bem cara?
Ele não respondeu. Depois de longos segundos ele tirou a mão na cabeça e piscou várias vezes.
— Estou bem — em seguida ele cruzou o olhar com o da Mia, como se tentasse dissecá-la para ver o que há dentro.