3º Capítulo - Falho na tentativa de me m***r

1811 Words
Mia  Depois de tomar um remédio para dor de cabeça e dormir a tarde toda me enfiei embaixo da ducha gelada e programei algo para minha noite. Enfiar uma faca na garganta daquela ruiva? Não, acho que não. Beber até cair em algum bar? Talvez. Beijar o maior número de caras com olhos azuis que eu conseguir? Com certeza! Decidi colocar uma jaqueta jeans de botões com uma saia preta e um cinto escuro. Calcei coturnos pretos e deixei os cabelos soltos. Após generosas camadas de rímel nos cílios e um banho de perfume juntei dinheiro, celular e cartão em alguma bolsa qualquer e saí do quarto. Encontrei todos jogando truco e comendo pizza na sala. — Ei Mia, vem jogar com a gente. — Sara sorria esperando a "de fora" junto à sua parceira, Diega.  — Vou sair, talvez outro dia. — Corri os olhos pela sala e encontrei Brian sozinho, olhando uma foto de todos nós, na praia. Mordi meu lábio inferior e me virei rápido procurando a saída.  Peguei um dos carros na garagem e saí em busca de um hipermercado. Comprei uma garrafa de José Cuervo, limão e sal, um copo pequeno para as doses e uma faca. Lembrei-me que hoje seria dia de baile, se eu ainda fosse a dona do Mandela. E então eu pensei, por que não? Suspendi a tequila e botei o carro pra subir o morrão, por trás, já que eu não queria ser vista... por enquanto. Deixei o carro escondido no meio do mato e segui para o baile junto a uma grande concentração de pessoas.  Quando me vi ali no meio do baile não sabia o que fazer, não pensei que chegaria tão longe. Bom, o som estava alto, e eu tinha uma touca na bolsa, coloquei a mesma e torci para não ser reconhecida. Algumas pessoas me viram, e decidiram que o melhor a fazer seria dar as costas pro baile e trancar as portas. Olhei pro camarote e encontrei meu inimigo, fiquei apenas ali, remexendo meu corpo e observando o quanto ele era cara de p*u. Foi quando dois caras se aproximaram dele e seu olhar se cruzou com o meu, tirei o revólver da bolsa, destravei, mirei em todas as luzes possíveis e saí correndo. Em meio a gritos, correria e muita confusão. Passei por alguns bares e entrei em um beco, corri muito, até chegar em um escadão e ver muitos caras armados subindo. Coloquei minha sabedoria em ação, subi num muro e fui escalando, colocando o pé nas brechas e buracos até chegar na laje. E então fui pulando pelos telhados de casa em casa até avistar o matagal. Quando desci senti um tiro passar do meu lado e ouvi estilhaçar alguma coisa. Assim que entrei no carro saí com toda a velocidade possível, e em questão de segundos já estava no asfalto.     Comecei a rir sozinha e parei o carro de frente para a praia, peguei minha garrafa de tequila, parti um limão e o afundei no sal. Ao caminhar sozinha pela areia sorri, pensando o quanto aquele lugar me fazia feliz, eu me sentia protegida, e eu sabia que meus pais olhavam por mim. Sentei-me na areia e apertei o limão em cima da boca, senti o azedo misturado ao sal em minha língua, em seguida abri a garrafa e virei no bico.  Não suportava a ideia de voltar para casa e me deparar com Brian e sua noiva sem sal, ela não gostava dele tanto quanto eu gosto, não foi ela quem esteve todos os dias ao lado dele, quando ele estava entre a vida e a morte. Não foi ela quem explodiu o carro dele depois de um racha. Não foi ela quem o beijou em pleno crepúsculo. Ela não esteve ao lado dele quando ele era realmente ele, que conheceu suas qualidades e defeitos... mas quer saber? Que se dane! Vou me focar na minha favela, na herança deixada por meus pais, é isso que realmente importa agora. Assisti ao nascer do sol, na praia, acompanhada de meia garrafa de tequila.   Quando passei pela porta e entrei na sala senti que ia morrer. Corri pro banheiro e botei tudo pra fora. Duas vezes. Depois escovei os dentes e procurei um comprimido. Então ouvi um barulho na cozinha, pensei em esquecer a água e sair correndo, mas ao invés disso peguei a arma e fui apontando. — Ei, relaxa garota! — Brian ergueu as mãos pro alto. Encarei o fundo de seus olhos, lindos, cor de âmbar. O sol invadia o recinto pela janela semiaberta e banhava sua pele. Respirei fundo e desviei os olhos para o café que ele estava fazendo, no coador, bem à moda antiga. Guardei a arma de volta na bolsa e enchi um copo com água. Coloquei o comprimido na língua e joguei a água por cima, meu estômago reclamou e eu me sentei na bancada. — Você está bem? — O encarei novamente. — Cadê a Ashley? — Dormindo. Mas você não respondeu minha pergunta! — E porque está acordado tão cedo? — Ele me olhou f**o. — Estou bem. — Acordei com dor de cabeça. Você não parece bem e fede a bebida.  — Ui gênio, deve ser porque eu estava bebendo? — Tá, eu não disse isso, mas pensei.  — Me sinto estranho perto de você. — Minha beleza constrange as pessoas. — Ele sorriu. — Parece que te conheço há séculos.  — E esse café? Vai ficar pronto ou não vai? — Pergunto e ele morde o lábio inferior se virando e terminando o que havia começado.  Levantei-me da cadeira e abri a geladeira, colocando algumas coisas sobre a mesa, em seguida abri o armário e peguei torradas, pão... Logo após voltei a me sentar e fiquei arrancando uvas do cacho, enquanto Brian terminava o café. Ele sentou-se de frente para mim, após nos servir e optou por pegar uma torrada e cobri-la com requeijão. Observei ele contrair os lábios, por sentir-se constrangido, provavelmente por saber que tínhamos algo, mas não se lembrar. — Para com isso. — Disse ele, dando um gole em sua xícara em seguida. — Parar com o que? — De me analisar, como se me conhecesse profundamente. — Mas eu conheço. — Mordi o lábio inferior e desviei o olhar. — E que conclusões você tirou? — Eu sabia que ele estava sorrindo só por seu tom de voz, não precisava nem lhe encarar. — Você contrai os lábios porque está constrangido com nossa proximidade, afinal você sabe que tivemos uma relação, mas o fato de não se lembrar e estar apaixonado por outra te incomoda. Sempre que baixa o olhar é porque está pensando no que responder e você adora ter um jeito desafiador, por isso dá um sorriso confiante e ergue as sobrancelhas.  Primeiro, ele ficou calado. E depois sorriu. — Você me observou bem. — Sorri, e dei um gole no café.   — E como eu era... sabe... antes? — Ele olhou no fundo dos meus olhos e eu sorri. — Eu te conheci logo após perder meus pais, eles eram donos do Mandela e morreram durante uma troca de tiros. Suas últimas palavras me fizeram procurar um irmão que eu nunca conheci, em um bairro nobre da cidade. Assim que nos encontramos me trataram com desprezo e preconceito, estavam vocês três. Estou falando do Matheus e do Guilherme. Haviam duas garotas também, patricinhas, eu já ameacei uma de morte inclusive — ele sorriu imaginando — , e depois de conversar com meu irmão, e ser tratada como lixo eu te dei uma surra, mas você mereceu. Tentou me agarrar achando que eu era fácil. — Fiz uma pausa e dei um gole em meu café. — Depois disso acho que te encontrei em um racha, na aposta de grana você venceu, mas como eu não sei perder te desafiei novamente, mas dessa vez você sendo um i****a apostou s**o, se você ganhasse é claro, mas como eu venci você começou a trabalhar pra mim. E aí meus avós foram sequestrados, então reunimos o grupo, a Sara, o Carter... então assaltamos um carro forte. Durante a troca do dinheiro por meus avós eles foram mortos, por Adam Turner, um bandido filho da p**a. E todos nós fomos para Las Vegas, atrás dele. — Brian olhou pra baixo, pra cima, pro lado. Eu podia imaginar como era a sensação. — Em um dos dias ele mandou dois capangas atrás da gente, um cara ia me m***r, não lembro direito o que aconteceu, mas depois de tomar uma facada é complicado. Você tomou um tiro, e fez uma cirurgia para retirar a bala que estava alojada próxima ao coração e em seguida entrou em coma. Eu fui te visitar todos os dias. E nós matamos o Turner. Mas me ligaram, avisando que meu morro havia sido tomado e meu tio morto, então voltamos às pressas e estamos tentando recuperá-lo todo esse tempo. — Quando eu terminei ele não disse nada. Então eu me levantei e pensei em ir embora. Mas ele colocou a mão na cabeça e deu um grito, não muito alto. — O que foi? Você está bem? — Me aproximei e coloquei a mão em sua cabeça. — A minha cabeça... — Brian deu um apagão. d***a, pra que eu fui contar tudo aquilo? Tentei carregá-lo até o sofá, mas ele era pesado, um regime faria bem... e em seguida subi correndo as escadas gritando. Carter e Matheus saíram do quarto às pressas. — O que houve? — Os dois gritaram juntos. — Me ajudem, o Brian desmaiou! — Eles desceram as escadas correndo. E eu fui atrás. — O que você estava fazendo com ele? — Meu irmão perguntou. — Não importa, levem ele pro hospital.   Decidi que ficar em casa seria a melhor opção, mas eu me sentia pior ainda, sem notícias, no vazio. Assim que o carro deu partida, Diega e Sara apareceram na cozinha, onde eu estava sentada tentando enfiar mais torradas no estômago. — O que aconteceu? Por que tanta correria? — Sara perguntou. — O Brian desmaiou. — O que? Como? — Diega arregalou os olhos. — 50% de culpa foi minha. — Ai Mia, o que você fez? — Respondi as perguntas dele. — E o que ele perguntou? — Como ele era antes de perder a memória. — E você respondeu? Mia não se pode forçar alguém a se lembrar. — Ele perguntou. A culpa não foi toda minha. — Tá, tudo bem. E onde você foi a noite? Mordi meu lábio inferior lembrando da m***a que eu fiz. — No Mandela. — Murmurei baixinho. — Aonde? — No Mandela!  — Você deve ter ficado louca de vez, não estou acreditando. — Sara colocou as mãos na cabeça e andou de um lado pro outro.
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