Guilherme
— Sua maluca! Onde você se enfiou? — Diega gritava, mas no fundo isso era apenas preocupação. — E por que você está toda molhada?
— Eu pulei no mar.
— O que? Ficou doida? O mar é perigoso essa hora, e você tem medo de água. Por que cargas d'água você faria isso?
— Deu vontade. — Mia deu de ombros. — Se não se importa, vou tomar banho, antes que eu pegue uma pneumonia.
Ela nem esperou a resposta e subiu as escadas, a Diega deu uma crise de histeria e ficou gritando com o Matheus, que apenas a abraçou.
Fui até a cozinha e encontrei a Ana bebendo um copo de suco, com um ar meio desesperado. A segurei em meus braços e suas lágrimas caíram.
— Foi minha culpa, se eu não o tivesse deixado sozinho. — Dizia ela, entre soluços.
Ana tinha um irmão mais novo, de dezesseis anos, ele também quis nos ajudar. A princípio ela não deixou, mas depois de muita insistência o garoto colocou o dedo no gatilho. Ela o deixou sozinho em um beco e foi subindo mais o morro, para ajudar a Mia, e então seu irmão tomou dois tiros no peito.
— Não fique se culpando, foi escolha dele entrar na troca de tiros. A Mia precisava de você.
— Foi sim, eu tinha que ter ajudado ele.
Encostei meus lábios em sua testa, e aos poucos ela foi se acalmando.
Matheus
O dia seguinte amanheceu nublado e chovia bastante, por volta das nove da manhã o telefone tocou, eu já esperava notícias ruins, já que era o que mais aparecia.
— Alô?
— E aí irmão. — Reconheci a voz de Carter, tinha um misto de animação com angústia no tom da sua voz.
— Fala Carter, e aí o que tá pegando?
— Um avião irmão e você?
— O quê? Mentira! — Gritei. — E o Brian, já largou a tal mulher? — Falei a última frase mais baixo, Mia ainda não tinha acordado mas todo cuidado é pouco.
— Esse é o problema cara.
—Porque? O que aconteceu?
— Ele a pediu em casamento.
Abafei um grito.
— Você está bem? — Ana me perguntou desviando os olhos da tevê.
— Sim, estou. — Sorri e voltei minha atenção para o telefone. — Como assim cara? E vocês vão voltar sem ele?
— Mais ou menos. Conseguimos convencê-los a passar uns dias no Brasil, antes de voltarem para se casar.
— Pera aí, vocês vão trazer o encosto?
— A garota é até legal, cara. Mas eu sei o quanto é barra.
— Ela não vai poder ficar aqui, a Mia vai enforcá-la.
— E você já contou pra ela?
— Não tive coragem.
— Se você não contar antes da gente chegar aí ela vai se sentir traída.
— Eu sei... Quando vocês vem?
— Amanhã estaremos aí.
— É bom saber disso, sentimos falta de vocês.
— Vou desligar, a chamada custa os olhos da cara.
— Falou irmão, com Deus. Boa viagem.
Fiquei remoendo tudo aquilo até a Mia levantar, o que foi por volta das onze da manhã, esperei ela tomar café e me sentei ao seu lado no sofá.
Troquei um olhar com a Diega, que entendeu e se sentou do outro lado.
— E aí, o que tá pegando? — Ela disse meio desinteressada. — Vocês estão tensos pra c*****o.
— Mia, precisamos te contar uma coisa. Ou melhor duas.
— Pode falar.
— Bom, o Carter e a Sara estão pegando um avião pro Brasil essa noite.
— O quê? E o Brian?
— Mia, eu sinto muito.
— Ele morreu??? — Ela se levantou gritando.
— Não! — Mordi o lábio inferior. — Mia, ele está noivo.
— Como assim noivo?
— Quando ele acordou do coma, conheceu outra mulher — ela colocou as mãos na cabeça e fechou os olhos — os dois virão para o Brasil também. — Sua expressão mudou, para raiva.
— O quê? E onde eles vão ficar?
— Eu não sei.
Ela se levantou, chutou um móvel e subiu em direção ao quarto. Eu imaginei que ela choraria horrores, mas foi melhor do que pensei.
— Ela vai superar. — Diega se aproximou e abraçou-me.
— Não tenho tanta certeza disso.
Seus lábios tocaram minhas bochechas, em seguida ela se levantou e saiu do cômodo.
Carter
Quando atravessamos a porta da sala, me senti 50% em casa e 50% aliviado. Mas quando percebi que Mia não se encontrava junto aos outros, senti um nó se formar em minha garganta.
— Onde está Mia? — Sara pergunta, como se lesse meus pensamentos.
— Não sabemos, ela saiu quando o sol ainda não havia nascido. — Matheus encarou as mãos dadas de Brian com Ashley. — Se lembra de mim? — Brian fez que não com a cabeça. — Como você tem coragem de esquecer seu melhor amigo? — Brian soltou as mãos de Ashley e sorriu, Matheus foi até ele e os dois se abraçaram. — Eu te conheço desde moleque, não me esquece vai.
Ashley sorria com a situação, era uma boa pessoa, não tinha culpa de nada. E ela gostava do nosso amigo.
Depois de nos acomodarmos e tomarmos café Mia apareceu, me cumprimentou como costumava cumprimentar a muito tempo, com um toque de mãos, deu um beijo na bochecha da Sara, e então, viu Brian, e Ashley. Quando Brian a viu ficou encarando-a por muito tempo, tempo o suficiente para ficar um clima tenso.
— Oi, eu sou Ashley. — Ela sorriu e estendeu a mão para Mia, que a apertou com educação.
— Mia Divine. É um prazer, te conhecer. — Ela deu um sorriso tão falso que meu estômago embrulhou.
Brian continuava encarando, como se sua memória estivesse voltando, mas creio eu, que jamais voltaria.
— Perdeu alguma coisa? — Ela ergueu uma sobrancelha, se virou e subiu.
— Você acha que ela vai ficar bem? — Sara sussurrou no meu ouvido.
— Não faço ideia.