— Escolha seu prato. — diz calmamente, como se nada estivesse acontecido.
Ele faz sinal, e o garçom se aproxima, fazemos nossos pedidos e jantamos em silêncio absoluto. Ele leva o copo de bebida em seus lábios e me encara.
— Me fale sobre você.
— O que gostaria de saber ? — o encaro arqueando a sobrancelha. — Tenho certeza que sabe tudo ao meu respeito.
— Tem razão! — o maldito sorriso de canto se faz presente outra vez.
— Eu não sei nada sobre você.
— Eu sei!— desce os braços sobre a mesa. — Não fez a lição de casa? Não procurou saber sobre o seu marido? Se soubesse algo sobre mim não falaria as coisas que falou a minutos atrás. — engulo em seco. — Deixarei passar dessa vez. Você é uma menina, aos meus olhos, uma criança. Muito imatura e inconsequente, mas não aceitarei essa desculpa outra vez, não tenho tempo, muito menos paciência para sua infantilidade. Use esses dias que lhe resta, converse com sua mãe, peça conselhos, e aprenda como ser uma boa esposa, eu não sou seu pai, e não ensinarei você com o mesmo amor que eles. Vejo que eles te dão muita liberdade, e por isso você acha que pode fazer o que quer, e se não mudar, vai aprender na marra. Então vamos poupar o meu tempo e também o seu. Porque te garanto que você não vai querer ver a minha outra versão. — abro a boca para dizer alguma coisa, mas ele me cala com um simples levantar de dedo. — Vamos para casa.
Se levanta, e para ao meu lado, esperando eu fazer o mesmo, e assim eu faço, vou andando na frente e ele fica atrás, sem dizer uma palavra. Entramos em um carro diferente do que vim e ele vai para o lado do motorista. Fico a todo momento olhando pela janela, não arrisco dizer uma palavra muito menos encarar seus olhos.
— Vai entrar ? — pergunto quando ele para o carro na porta da minha casa.
— O que eu faria aí ?
— Falar com meus pais ?
— Não tenho nada para falar com eles. — grosso! Intragável! Arrogante! — Eles a negociaram com o meu pai, o acordo foi feito e não tenho que fazer a linha de homem perfeito ou fingir algo que não existe. — fecho os olhos por breves segundos e respiro fundo. Não posso desmoronar agora.
— Ok.
— Até qualquer dia pequena mentirosa. — me viro para encará-lo, já estava do lado de fora do carro.
— Ate o noivado.— deixo claro que não quero vê-lo antes.
— Eu escolho o dia, posso aparecer qualquer hora, e espero que não tente me enganar outra vez criança. — Criança, mentirosa… do que mais esse demônio vai me chamar?
— preciso entrar, está frio, e ainda não somos casados, não é correto ficarmos conversando tanto tempo. As pessoas podem falar, e mesmo que ache que eu não sei me portar e não sei as regras, quero deixar claro que sei sim, e ficarmos aqui fora de conversa não será de bom tom para sua imagem muito menos para a minha, a futura esposa do Dom.— Encerro o assunto com a alma lavada, e uma sensação de prazer ao ver a satisfação em seu olhar,e posso até arriscar, uma certa admiração da parte dele. Por saber que estou certa, ele confirma me dando “permissão”. Entro em casa sem nem mesmo olhar para trás.
— Como foi filha ? — minha família toda está na sala.
— Como tinha que ser!
— Filha ?
— Me deixa! — subo as escadas apressadamente.
Entro no meu quarto seguindo direto para o banheiro, preciso tirar urgentemente o aroma do seu perfume que está impregnado em meu corpo. Deixo que a água quente caia sobre minha cabeça, e só então me permito chorar.
É tudo muito, muito pior que o esperado, muito pior do que havia imaginado. Ele é muito mais frio e c***l do que falavam, sem contar o fato de ele jogar na minha cara a todo momento, que não sou mais que um negócio qualquer que ele terá que lidar! A satisfação estampada em cada gesto, e no tom de sua voz ao falar sobre o fracasso do meu pai, a ter que ceder a exigência do Dom, e dar a eles a minha mão.
Ele é c***l, não mede as palavras, ele simplesmente as cospe como se eu não tivesse sentimentos, como se eu fosse um maldito robô.
Pego o roupão, e enrolo em meu corpo, assim que entro no quarto, encontro meu irmão sentando na cama me esperando, e é impossível não deixar as lágrimas caírem mais uma vez.
— Eu sabia que estava precisando de mim ruivinha. — me abraça apertado, fazendo carinho em meus cabelos.
— Heitor…
— Shh… Não precisa falar nada agora tá? Sei que é complicado, mas você vai dar um jeito, eu sei que vai.
— Você tem contato com ele não tem ? — confirma. — Atualmente, meu irmão tem administrado boa parte dos negócios, e é ele quem presta “serviços” ao dom. — Tenta falar com ele irmão, usa da sua influência, peça para que me deixe respirar e tentar me adaptar com esse casamento.
— O que ele fez com você?
— Ele disse que assim como hoje, pode aparecer a qualquer momento e eu não posso viver sob essa preção nos meus últimos dias aqui. Peça para nos vermos apenas no casamento, peça para que não venha..
— Vou ver o que posso fazer. Mas antes do casamento tem o noivado, ele irá apresentá-la para o conselho, e farão o pacto de sangue.
— E quando é isso ?
— Uma semana antes do seu aniversário.
— E o casamento? — ele me olha com pesar.
— Logo depois. — murcho na mesma hora. — Tentarei conseguir esse espaço para você, não se preocupe. — garante e volta a me adular.
Heitor penteia o meu cabelo, busca um pote de sorvete e deita ao meu lado escolhendo um filme para que pudéssemos assistir juntos, mas acabei adormecendo devido aos cafunés que ficou fazendo na minha cabeça.
Acordo sentindo a cabeça pesada e tem sido assim desde o dia em que descobri sobre esse contrato, porem hoje acordei descidida a aproveitar os meus últimos dias no México, não sei quando voltarei aqui então não vou ficar cabisbaixa choramingando pelos cantos, como o meu irmão mesmo disse, não há nada que eu possa fazer para mudar isso, a não ser é claro, torce para ficar viúva o quanto antes.
Quando foi que se tornou um ser maligno dona Elisa? A Elisa que conheço nunca desejaria a morte de alguém! - a minha consciência alerta.
Tem razão, eu não sou assim! Talvez a convivência com diab0 esteja me transformando num ser humano r**m.
Conviveu com ele por menos de três horas, isso não é desculpa!
— Pra você ve como a escuridão de uma pessoa pode afetar o clarão da outra...
— Falando sozinha ? — dou um pulo assustada.
— Que susto Heitor! Estava cantando. — minto descaradamente.
— Pensei em deixar meu cartão para melhorar o seu humor, mas você parece muito bem... — os meus olhos brilham.
— o seu cartão?! — confirma dizendo pra eu ir ao shopping, distrair um pouco. — você vai comigo ?
— Infelizmente não vou poder ir, tenho negócios a tratar hoje. — faço biquiho. — Chame uma amiga e pode deixar, também será por minha conta, quero que se divirta.
— você é o melhor irmão do mundo. — depois que ele sai vou tomar um banho para poder aproveitar o dia, pensar que não o terei mais por perto me causa tanta tristeza, sou tão acostumada com os seus carinhos e cafunes
continua...