Elisa
— Filha, posso entrar ? — mamãe pergunta colocando apenas a cabeça dentro do quarto, tirando-me dos pensamentos que vem à dias me assombrando.
— Se não se importar mamãe, eu gostaria de ficar sozinha. — estou tão triste, que não consigo nem mesmo olhar em seus olhos.
— Sei que está triste meu amor, e acredite, eu entendo. — diz se aproximando, ignorando o meu pedido. — Mas, infelizmente o acordo foi feito, e não há nada que possamos fazer para mudar isso, se houvesse qualquer possibilidade, por mínima que fosse, o seu pai faria sem exitar.
— Será que faria mesmo?
— Tenta entender o seu pai filha, não está sendo fácil para ele também, e lá no fundinho, você sabe que isso seria inevitável, conhece o mundo em que vivemos, e sabe que iria se casar de qualquer maneira, assim como sabe que seria quase impossível conseguir um casamento por amor.
— Quase não é impossível mamãe, eu pelo menos iria tentar, mas vocês tiraram isso de mim quando assinaram aquele contrato, e eu era apenas uma criança. Por Deus, quem negocia a própria filha?!— a expressão da minha mãe é de tristeza, assim como a minha. — Terei que me casar com um homem c***l, e como se não bastasse, ainda ficarei longe da minha família. Estarei do outro lado do mundo mamãe, acha certo isso ?
— Não, não acho, mas também não posso mudar isso, o que posso fazer é orar pra dar tudo certo para você, você sempre foi muito inteligente minha filha, e tenho certeza que vai se sair bem, assim como eu e seu pai, você também vai ter um casamento feliz. Agora se arruma, o seu noivo está aí. — pulo da cama imediatamente.
— Aqui ?!
— Não aqui em casa, está aqui na cidade e vai levá-la para jantar.
— Eu não quero ir mamãe, diz que estou indisposta, acamada, inventa alguma desculpa por favor.
— Filha…
— Por favor mamãe.
— Vou ver o que posso fazer. — mamãe sai do quarto me deixando aliviada.
Não estou bem emocionalmente, e não me sinto preparada para encará-lo, sequer sei como agir, muito menos o que falar. O que esse homem quer aqui? Pensei que fosse vê-lo apenas no noivado, e agora ele simplesmente está aqui! Sem avisar nem nada, quem ele pensa que é?
— Ruivinha ? — ouço a voz do meu irmão e mudo imediatamente a minha expressão. — Tô entrando. — antes que eu possa autorizar, ele entra. — Muda essa cara, não pode mentir pra mim.
— Culpada. — levanto as mãos me rendendo, a nossa conexão é incrível e ele sabe quando estou mentindo. — Mamãe não teve coragem de vir aqui, ela não quer olhar a tristeza e decepção que estão estampada em seus olhos expressivos. Sei que está triste e magoada irmãzinha, eu também estou, mas tem coisas que não podem ser mudadas, muito menos adiadas.
— Eu sei.
— Se sabe por que está tentando adiar ?
— está falando sobre o jantar? — ele confirma. — Não me sinto preparada, não quero ir.
— Não é questão de querer ruivinha, você tem que ir! Ele veio da Itália para vê-la, acha mesmo que dar uma desculpa vai fazer ele não ir ?
— Vocês poderiam pelo menos tentar.
— E tentamos estrelinha, e sabe o que ele disse ?
— O que ?
— Mesmo que estivesse internada num hospital você iria nesse jantar. — abro a boca chocada. — Você tem trinta minutos para estar dentro do carro que aguarda você lá em baixo, se não estiver lá nesse tempo ele sobe aqui e leva você do jeito que estiver.
— Foi para esse tipo de homem que papai me entregou ? — pergunto enquanto lágrimas de tristeza escorrem pelo meu rosto. Meu irmão se aproxima, e carinhosamente passa os dedos sobre minhas bochechas secando-as.
— Queria poder pegar você e sumir no mundo, deixá-la sobre a minha proteção e ter a certeza que ninguém nunca a machucaria. — me abraça apertado. — Infelizmente, esse é o nosso mundo, é a nossa realidade, não seja imprudente, não fique desafiando-o. — apenas confirmo. — Agora vai se arrumar, ou ele entra aqui pra buscá-la — ele deixa um beijo carinhoso no topo da minha cabeça e logo depois se retira.
Entro no banheiro, e tomo um banho rápido, escolho um vestido preto, justo sem decote, ele vai até o meio da minha coxa, modela bem o meu corpo e tem manguinha princesa, um salto na mesma cor, brincos grandes e o cabelo deixo solto mesmo. Nada muito exagerado não quero agradá-lo e tenho certeza que ele também não irá me agradar já que é 15 anos mais velho que eu, isso é um absurdo!
Um homem de trinta e três anos, é um homem muito bem vivido, aproveitou bastante a vida e teve várias mulheres em sua cama, enquanto eu estou preste a fazer 18, uma adolescente que não aproveitou nada da vida, nada que as outras meninas fazem, uma mulher intocada. Serei apenas dele, nunca vou saber como é quebrar a cara com a primeira paixão i****a e passageira, não beijarei vários carinhas aleatórios, enfim não passarei por nenhuma dessas experiências que as meninas da minha idade passam, porque eu não tenho a droga de uma vida normal.
— Está linda minha ruivinha. — saio do meu pequeno devaneio com a voz de papai, nem tinha percebido que estava no fim da escada. Não respondo, apenas balanço a cabeça, posso estar sendo imatura, mas estou muito magoada com ele.
— Vamos, eu acompanho você até o carro. — meu irmão me abraça tentando amenizar o clima tenso que se instalou. Vamos até o carro, eu fico em silêncio, e de repente começo a respirar com dificuldade, a ideia de estar sozinha com ele em um ambiente fechado, me assombra.
— Senhorita ? Está tudo bem? — o motorista pergunta quando fico parada em frente a porta que ele abriu pra eu entrar. Apenas balanço a cabeça confirmando, reunindo toda minha coragem, entro no carro, e me surpreendo quando não encontro ninguém no banco de trás. — Ele a espera no restaurante. — explica ao ver minha confusão.
O caminho todo foi feito em silêncio, adentro no estabelecimento e sou encaminhada para uma parte mais reservada, o lugar é perfeito, muito elegante e a mesa que ele me leva tem uma vista perfeita. O meu noivo está de costas para mim, fumando um cigarro, ou charuto, não sei dizer ao certo, pois não vejo nitidamente. Ainda não vi seu rosto, e já estou impactada com sua presença e postura, ele tem as costas largas que se ajustam com perfeição em seu terno preto feito sobe medida. O aroma do seu perfume está impregnado por todo o ambiente deixando a minha pele arrepiada, ele é alto, caramba, muito alto! É bem musculoso também.
Vejo-o descartar o objeto que estava em suas mãos, e logo em seguida soltando a fumaça.
— Não tolero atrasos bambina. — Que voz é essa ? Minhas pernas ficam moles, e tenho que segurar na cadeira para não cair.
— Não me atrasei. — respondo depois de alguns segundos com dificuldade.
— Também não suporto mentiras, odeio gente mentirosa, é bom que guarde isso com você.
— Não estou conseguindo entender. — e é verdade, ele não se virou, não falou um oi, boa noite, e já vem falando essas coisas nada haver.
— Disse estar indisposta. — a é isso!
— E estou.
— Mentirosa.
— Não estou mentindo, eu estou indisposta, não estou em um dia bom. — começo a me irritar.
— Mentirosa ao dobro, está insistindo em uma mentira que nem mesmo você acredita.
— você pode não acreditar, afinal de contas é uma escolha sua, eu não vou ficar me explicando, até porque não importa, já que eu estou aqui, porque você é insensível de mais, ao ponto de obrigar uma pessoa que não está bem a sair contra sua vontade. — quando dou por mim já falei. Ele se vira para me encarar, e por muito pouco não caio para trás, o homem é lindo, terrivelmente bonito com incríveis olhos azuis.
Vejo o cantinho do seus lábios se levantarem em um sorriso quase que imperceptível.
— Ah menina… — enfia as mãos no bolso das calças me encarando intensamente. — Sair contra vontade. — repete o que eu disse pausadamente. — Comece a colocar na sua cabeça que você não tem vontades, não mais! Viveu durante esses dezoito anos tudo o que tinha que viver porque eu permiti assim, deixei que levasse sua vida com tranquilidade durante esses anos, mas agora está na hora de entender que o sonho acabou, essa não é mais a sua vida, porque agora você me pertence.
— Não pertenço a ninguém! Não sou um objeto, e não tenho dono. Assim como você, eu sou um ser humano!
— É minha há muito tempo bambina, sou seu dono a treze anos. — estreito os olhos sentindo o impacto da suas palavras, me sentindo um objeto barato. — Deveria se sentir honrada, vai ser minha esposa, a primeira dama da máfia. Sabe quantas mulheres queriam estar no seu lugar ? — arrogante.
— Não sei, e também não me importa. O que eu sei é que eu não sou uma delas, não queria esse compromisso, não queria você, e também não queria estar aqui! Você é tudo que eu abomino em uma pessoa, é arrogante, frio, c***l, sem contar que se acha…
— No seu lugar, eu calaria a boquinha ragazza. — seu tom é frio e sua expressão fechada.
— Você não está no meu…
— Eu mandei você calar a porr.a da boca! — Solto um grito assustada, quando ele bate com força na mesa, derrubando tudo que estava em cima. Fico por alguns segundos em silêncio, diante o pavor que tomou conta do meu corpo. — Agora senta aí.
— Pedindo desse jeito, não tem como recusar não é mesmo? — tentando não demonstrar como estou intimidada, mas sei que falhei vergonhosamente.
— Não tenho costume de dar explicações sobre nada relacionado a mim menina. — o encaro. — Mas, diante do seu atrevimento, vejo-me tendo que fazer isso. — arqueio a sobrancelha tentando entender onde ele quer chegar, quando ele continua. — Concordo com tudo o que falou ao meu respeito, tenho consciência que sou isso e muito mais. Em relação a nossa união, eu compartilho do mesmo pensamento, não estou aqui porque quero, você não faz o tipo de mulher que eu gosto, e eu, com toda certeza não a escolheria como minha esposa, uma menina tão infantil. Mas o que esperar de você? O que esperar dos mexicanos? Você não só tem o sangue deles nas veias, como é filha do capo. Aos meus olhos, um fracasso como líder, ou então não estaria aqui agora nesse jantar tendo que suportar a sua presença. — Meu sangue ferve como pimenta nesse momento, me irrito tanto que chego a ficar vermelha de ódio. Abaixo a cabeça para tentar controlar minhas emoções, porém não obtenho sucesso. Principlamente depois que ele pede para que eu olhe para ele. Levanto meus olhos e direciono a ele um olhar com o maior desprezo que posso, parecem que labaredas de fogo saem dos meus olhos, acho que ele percebe meu olhar pois para de falar para me observar. Sustento seu olhar e ao prestar mais atenção, tenho a impressão de ver muito desejo em seus olhos, mas não sei se estou certa ou se estou tão irritada que não consigo mais definir qual olhar está sendo direcionado a mim.
— Enfim, eu só quero deixar claro o que teremos aqui - Balança o dedo da minha direção para a sua. — Se você for uma boa esposa, não haverá problemas, mas se for uma esposa r**m, coisas ruins podem acontecer. — Meu olhar impassível parece o irritar, e ele se levanta da cadeira e prende meu rosto com apenas uma mão segurando meu queixo com o polegar e o indicador. Obrigando-me a encará-lo de perto. Seu hálito cheira a wisk e isso me deixa de irritada a excitada. Percebo que gostei mais disso do que deveria.
Espera... eu disse que gostei?
— Estamos conversados?
Querida futura esposa? - Ironia escorre por sua voz, e eu respondo a altura.
— Sim, estamos conversados querido futuro esposo. — tento não demonstrar o turbilhão de sensações que estou sentindo nesse momento, desde humilhação a excitação. Me senti tão humilhada com suas palavras.
continua...