Dias atuais
Orfanato do Priorado de Sião, El Paso, Texas.
Amora odiava o seu nome, a pronuncia na língua americana era estranha, arranhada.
Tinha o nome de uma fruta de pronuncia brasileira.
Mas não era só o seu nome que era estranho, o nome do orfanato também.
Priorado de Sião.
Amora sempre achou o nome do orfanato como uma brincadeira, pois "O Priorado de Sião" era uma organização fictícia que ganhou fama no livro "O Código Da Vinci", de Dan Brown, A teoria principal do livro era que o Priorado de Sião era uma organização com a missão de proteger a linhagem de Jesus Cristo através dos séculos, incluindo supostos descendentes dele.
Amora entendia aquilo como blasfêmia, mesmo que fosse uma história não real.
Mas um orfanato mantido pela igreja católica, carregava o mesmo nome, como se escondesse um segredo escuro e perigoso, mas era só um orfanato comum, comandado por freiras rígidas, mas bondosas.
E foi ali que Amora cresceu, praticamente longe da sociedade.
Amora tinha dezessete anos, em quatro meses teria que sair do orfanato, não tinha família, amigos ou alguém que pudesse abrigá-la quando atingisse a maioridade. Ficaria sozinha, e isso a assustava terrivelmente.
Seria uma garota jovem, sozinha e desprotegida.
Presa fácil para homens mais velhos a enganar.
Mas não podia continuar no orfanato, não podia.
Era esperta, e procurava trabalho, não era fácil, porque não tinha experiência.
Gostaria de ter tido ao menos uma irmã, ou irmão para para compartilhar o abandono dos pais, mas não teve e precisava se conformar com a solidão.
Os muros do orfanato eram frios, mesmo com as cobertas, sempre sentia frio e não era no corpo, e sim no coração.
Não sabia como alguém abandonava um filho ou filha, mas precisava se conformar.
Era verdade que fez algumas colegas dentro do orfanato, mas nada duradouro, parecia que as outras órfãs eram afastadas dela propositadamente, mas Amora sabia que era impressão sua, não havia motivos para as freiras afastarem as outras órfãs dela, ou haveria?
Todas as meninas dentro do orfanato do Priorado de Sião dividiam um quarto com outras, mas Amora tinha um quarto pequeno só para ela,nem gostava de ficar na cozinha, mas quando questionava uma das freiras, diziam que ela devia ser grata pela cama e comida, só isso.
E dentro dos muros do orfanato o tempo demorava a passar, por sorte ela tinha algo para fazer, era responsável pela biblioteca, lugar pouco frequentado.
Estava justamente na biblioteca quando a madre Tereza se aproximou dela.
__ Tem uma entrevista de emprego, Amora. Fiz algumas ligações e deu certo.
__ Jura madre, onde? – Amora ficou feliz, mas no fundo de sua alma sentia medo, se pudesse escolher ficaria dentro dos portões do orfanato pelo resto da vida.
Desejava segurança.
Não sabia se era medo mesmo, ou trauma pelos constantes “gatilhos” despertados pelas ameaças das freiras. As freiras eram boas, mas tinham medo que as meninas saíssem escondidas de madrugada e engravidassem.
Então faziam um terror psicológico enorme.
Mostravam todas as reportagens de ataques às mulheres que aconteciam no estado do Texas, tudo mesmo.
As internas não tinham acesso à internet como meio recreativo, mas para estudo.
No entanto, a Madre Tereza imprimia todas as reportagens. Essas reportagens policiais eram os textos da aula de língua portuguesa. E algumas vezes Amora tinha crise de pânico por causa das reportagens, outras meninas também, mas isso não fazia a madre mudar a tática, pelo contrário. No entanto, isso fez com que Amora tivesse um medo terrível de sair até para um sorvete depois da missa.
Podia sair e não voltar mais, se encontrasse uma cara maluco, mas agora precisava sair e definitivamente estava tendo crises de medo intenso.
A madre se sentou com ela
__ Eu sei que o terror psicológico que fizemos a deixou assustada, existe gente boa lá fora, existem muitas pessoas ruins, sim, mas você terá sorte , pois é boa e esforçada.
__ Estou com medo madre.
__ Eu sei Amora, se mantenha longe de garotos aproveitadores, encontre um homem decente, e se case, isso, se case e ficará bem.
Ela não queria se casar, não queria, preferia encontrar um emprego, fazer uma faculdade e lecionar para crianças, se se casasse e o marido fosse viol£nto, não tinha nem mesmo pra quem pedir ajuda.
__ Que horas é a entrevista?
__ Daqui quarenta minutos
__ O motorista pode me levar?
__ Não. Pode usar do seu dinheiro para pagar um táxi, precisa aprender a caminhar com as suas próprias pernas agora.
A madre partiu.
Amora se sentiu revoltada, porque ficou presa, amedrontada e agora precisava seguir sozinha, sem ninguém para auxiliar, mas não tinha outra escolha, não tinha.
Amora foi ler, era o seu passatempo.
Podiam ver TV, mas tinha os horários adequados, dentro do orfanato celulares com internet eram proibidos. Algumas meninas conseguiam burlar a segurança e ter um,mas ela não sentia necessidade, sabia tudo de aparelhos eletrônicos, porque era impossível não saber, e em todo caso ela já tinha trabalhado como telefonista dentro do orfanato, recebia ligações, respondia mensagens e email. Cuidava da página de fac£book e tudo que fosse importante, mas a madre a mudou de lugar sem motivo aparente e terminou na biblioteca, pelo menos lá tinha a companhia dos livros.
Quinze minutos depois, pegou a bolsa, se olhou no espelho.
Não gostava do que via , porque já tinha quase dezoito anos, mas parecia ter quinze anos e as pessoas a achavam que era fácil enganá-la por isso, mas ela não era, podia ser medrosa, mas não era inteligente e ia usar o que aprendeu nos anos de estudo para viver no mundo caótico lá fora.
E era justamente por parecer inocente e fácil de enganar que a chamavam para aquela entrevista.