Amora
Quatro meses couberam dentro de uma semana, foi essa a impressão que Amora teve.
No fundo, ela queria que os dias passassem lentamente, mas não teve sorte.
Era mulher adulta e sem família.
No dia de abandonar a vida que conhecia no orfanato, Amora ficou em frente à porta da única casa que conheceu, com sua pequena mochila nas costas, que continha todas as suas posses.
Não voltaria mais para aquele lugar, nem para visita, não podiam voltar para não aguçar a curiosidade das órfãs que ficavam.
Ninguém sabia o que acontecia com quem saía dali, Amora se deu conta disso nesse momento, provavelmente sofriam muito, e era isso que as freiras não queriam que as outras soubessem.
Achava isso desumano por parte das freiras, ela gostaria de passar um final de semana, de poder rezar na capela, almoçar no refeitório e até mesmo dormir por uma ou duas noites, porque apesar de ser um lugar frio, era o único lar que conhecia, mas o adeus era para sempre.
As freiras do orfanato vieram se despedir. Ganhou abraços, ouvi a típica frase “Deus te proteja e abençoe,” ouviu também “que você seja feliz”, Amora agradeceu, mas para as freiras, ela era só mais uma que iam embora, acontecia várias vezes ao ano e estavam acostumadas, mas Amora, Amora queria ficar, mas não podia.
Chorou e não foi pouco. Estava assustada, mas se agarrou a sua mochila, era a única coisa que tinha.
Com uma última olhada para trás, Amora deu um passo hesitante em direção à estrada que se estendia à sua frente.
Ficou embaixo da árvore, alguns minutos depois, o táxi chegou.
Ela entrou no carro resignada.
O taxista ainda perguntou se ela aceitava uma água, mas uma garrafa de água não resolveria, talvez uma oceano para ela se afogar sim, mas não faria isso, lutaria para ficar bem.
Foi deixada na porta de uma pensão simples, não poderia pagar mais do que pagava ali, mas ao menos . Ela tinha dinheiro para pagar a pensão, poderia ser pi0r e ela ter que morar na rua.
E Amora só tinha dinheiro para pagar a pensão, porque as freiras pagavam pelo trabalho na biblioteca, e para completar a verba dos próximos dias, Amora havia vendido alguns presentes que recebeu ao longo da vida, eram presente de doações.
A pensão era justamente em El Paso,um lugar quente, pequeno e que fazia fronteira com o México. De repente, Amora se lembrou dos cartéis Mexicanos e sentiu um arrepio na espinha, ela nem devia saber sobre esse grupo terrorista, era assim que os chamavam, mas as freiras apresentaram algumas reportagens sobre as barbaridades dos cartéis, estupr@vam meninas como diversão e punição também.
O que seria dela?
O taxista estacionou na porta da pensão.
Amora observou a construção, a pensão era uma construção de estilo tradicional, com uma fachada de tijolos desgastados pelo tempo. Não aparentava cuidado ou alegria, odiaria morar ali com toda a sua força.
Amora só entrou, porque a dona da pensão apareceu, era uma mulher de cerca de 40 anos, mas se vestia como uma criança de dez anos, que não tinha dinheiro para comprar roupas do tamanho adequado, assim se vestia com roupas ainda menores.
Amora nunca tinha visto uma mulher se vestir daquela forma, mulheres com roupas curtas ela via, mas não como a mulher a sua frente que usava um short jeans de cintura baixíssima e um top que cobria só os s£ios. E nos cabelos, a dona da pensão usava um penteado que chamavam de maria chiquinha, e o penteado dela havia sido feito com elásticos rosa.
Amora sorriu para ela, ao menos, a dona da pensão não era um senhora m@l humorada e grossa, mas usava aparelhos nos dentes de cor rosa também, Amora não soube nem o que pensar daquela figura sorridente.
Mas acompanhou a mulher para dentro da pensão decadente.
A entrada da pensão era simples, com uma porta de madeira gasta que rangia quando se abria, Amora pensou que talvez um lubrificante resolvesse aquele barulho irritante.
Sentiu um calafrio percorrer todo o seu corpo, mas re recusou a ficar assustada.
Precisava daquele lugar.