Seus olhos se arregalaram, a boca despencou, um frio dominou seu corpo, sua face empalideceu ainda mais e sua vista escureceu por um instante. Teria caído se alguém não a amparasse, segurando-a pelos ombros trêmulos.
Olhou confusa para trás, encontrando Mikhael fitando-a com pena.
Constrangida, Elisabeth teve vontade de correr, esconder-se da humilhante cena, do escarnio e dó dos demais, mas suas pernas pareciam fracas e temia ter uma crise asmática. Sentindo os olhos ardendo e o corto sendo cortado por rastros quentes de lágrimas, voltou a olhar na direção de Andrew.
Ele encerrou o beijo, avisado por um colega da chegada dela, e, mantendo um braço em torno da alegre “amiga” que beijou, caminhou até Elisabeth.
— Por quê? — questionou em um fio embargado de voz. — Porque faz isso comigo? Pensei que... Resolveríamos nossas diferenças... que me ama...
Andrew riu, fazendo o coração de Elisabeth apertasse.
— Resolver o quê? Céus, Bombi! Se olhe no espelho. Você jamais será o tipo de garota que me atrai — ele disse desdenhoso e enojado. — Não passa de uma menina esquelética, feia e doente. Quem amaria uma garota assim? — Voltou-se para os colegas cercando-os. — Vocês amariam essa garota deprimente?
Risos se ergueram, ninguém disse uma palavra amiga ou a defendeu. Superficialmente, Elisabeth sentiu Mikhael apertar de leve seus ombros. Lembrar-se dele e de seu olhar de pena aumentou sua dor. Nem mesmo ele, o garoto assustador e renegado a ser sombra de Andrew, parecia discordar da declaração do irmão.
Foi o suficiente. Com o rosto mergulhado em lágrimas e dedos buscando sua bombinha, correu para longe dos colegas e de seu noivo c***l.
~*~
Ao chegar à segurança de seu lar, ainda perturbada pela crueldade de Andrew, a princípio, Elisabeth agradeceu que era a última semana de aulas e que tinha feito todas as provas, de forma que nunca mais precisaria rever ninguém do colégio. Mas, com o passar das horas, percebeu que continuaria vendo Andrew e seria vítima de seus comentários maldosos e zombaria.
Foi quando a tristeza deu lugar a raiva. Não suportava mais aquela situação, ser ridicularizada e humilhada em silêncio. Com esse sentimento crescendo no peito, olhou-se no espelho como Andrew mandou.
Viu uma jovem magra, pálida, de olhos vermelhos de tanto chorar e fraca. No entanto, dentro de si sentiu uma força nascendo, uma chama forte e quente que foi bombeada por suas veias, chegando aos seus lábios crispados e saindo em um urro de libertação.
— Chega!
Decidida, aguardou seus pais chegarem do trabalho, ambos trabalhavam na empresa de joias da família, e procurou Lilian, sua mãe.
— Mamãe, preciso da sua ajuda — disse assim que seus pais apareceram no corredor que levava aos quartos.
Renato, pai de Elisabeth, a olhou com surpresa e curiosidade, sensações presentes também no olhar de Lilian. De natureza tímida, introspectiva e passiva, a jovem raramente falava com tamanha firmeza, nem pedia nada a eles.
— Posso ajuda-la, filha? — Renato adiantou-se, mas a jovem o fitou com um estranho olhar severo.
— É um assunto de garotas.
Recuou ainda mais surpreso e, não tendo outra escolha, disse que as encontraria no jantar e seguiu sozinho para o quarto de casal.
Lilian acompanhou a filha ao escritório principal da mansão, cada vez mais interessada no que ela teria a lhe pedir.
— Mamãe, quero que me leve a um cabelereiro e um esteticista. Preciso ficar muito bonita como você.
Lilian sorriu com bondade.
— E você é, minha querida. Já disse várias vezes, e provei em fotos, que me parecia com você na mesma idade.
Tinha feito após Elisabeth lamentar não ter beleza e nem curvas como as colegas, sendo muito magra e com pouco, quase nada, de peito. Lilian disse na ocasião que era do mesmo jeito, tirando da filha um resmungo descrente, o que a motivou a mostrar as fotografias.
— Você não tinha essas espinhas. — Apontou para o rosto — Nem esse cabelo em que dá pra fritar um ovo. — Esticou uma mecha no alto. — E suas roupas não pareciam sacos de batatas no seu corpo — finalizou exasperada com sua falta de atratividade, um bolor crescente na garganta tornando sua fala difícil. — Preciso de ajuda para ficar bonita... por favor...
— Você é linda, minha filha — Lilian garantiu aproximando-se dela e a abraçando com força.
— Você é minha mãe, me acha bonita, mas os outros não pensam assim.
— Que outros? — Lilian quis saber.
Elisabeth deu de ombros, não querendo citar nomes, entre eles o de seu noivo.
— Não importa! Só me ajude a mudar minha aparência.
— Querida, sair de casa e passar por tantos processos estressantes podem prejudicar sua saúde — Lilian justificou com medo da filha ter uma crise longe da segurança do lar.
— O colégio me estressa, mas tenho de ir todos os dias. Posso suportar algumas horas, ou dias, de tratamento de beleza — disse confiante. Pela primeira vez em sua vida, mesmo que movida por um sentimento de revanche, estava com coragem de expor seus desejos. — E, aproveitando que estamos falando da minha doença, de vocês me mantendo sempre dentro de casa usando ela como desculpa — acrescentou na esperança que a culpa fizesse sua mãe aceitar o que pediria a seguir: — Quero estudar no exterior, na mesma faculdade que você e o papai se formaram.
— Como cuidaremos de você em outro país?
Lilian encarava filha em choque. Normalmente, Elisabeth acatava tudo o que diziam, pouco opinava. Mas algo, ou alguém, fez sua menininha adquirir uma determinação de ferro.
— Tenho dezoito anos, mamãe, posso me cuidar e tratar da minha asma, como faço no dia-a-dia — respondeu o mais delicada que conseguiu. Abraçando Lilian, ergueu o rosto e a fitou suplique. — Por favor, mamãe, me ajude a ser uma mulher bonita e inteligente como você.
Lilian derreteu-se e sorriu, vencida pelos argumentos e determinação da filha.
— Claro, querida! Faremos o que desejar.
Elisabeth comemorou.
— Obrigada, mamãe! Muito obrigada! — Eufórica, enumerou tudo o que achava necessário. — Quero um novo corte de cabelo; um tratamento de pele e de cabelo; e roupas novas, bem bonitas.
Lilian riu, impressionada com a empolgação de sua, até então, silenciosa e tímida, filha.
— De onde vêm todos esses repentinos desejos, minha filha — questionou curiosa, antecipando uma possível resposta: — É por causa do seu noivado, do seu noivo?
— Em parte — Elisabeth disse, evitando acrescentar que o fazia para mostrar a Andrew que não era inútil, feia e nem fraca como ele declarou na frente de todo colégio. — Quero ser tão bonita e inteligente quanto você — repetiu querendo assim convencer Lilian de vez.
— Você já é, filha — Lilian disse com orgulho, abraçando a filha com carinho. — A mais linda e inteligente do mundo.
Elisabeth não acreditava, mas sabia que com a ajuda da mãe seria em breve, de forma a mostrar para Andrew que ele estava enganado a respeito dela.
~*~
Entediado com a seleção de músicas feitas pelos pais e professores, Andrew queria ir embora da própria formatura. Em sua opinião, de nada servia aquela cerimônia, além de encher algumas bocas e albúns de fotos.
Seu desejo de sair daquele lugar só teve fim quando, acima da música melosa, um mar de "ahhhs", "ohhs" e "uaus" preencheu seus ouvidos. Analisou as pessoas próximas e seguiu a direção que alguns apontavam e olhavam.
Na entrada do salão, a vista de todos, havia uma moça de longo e brilhante vestido vermelho, tiara de diamantes e beleza angelical.
Sentindo a garganta seca, assim como os demais, se viu capturado.
A cada passo da jovem, expressões de deslumbramento, elogios, suspiros e até alguns comentários de inveja se fazia presente.
Quando foi indicada a mesa ao lado da dele para ela, Andrew sentiu-se afortunado. Sorte que necessitaria de um empurrão dele para conseguir pegar aquela garota, notou ao ver outros garotos se adiantarem até a jovem.
Rapidamente se ergueu, foi até ela e, mesmo odiando as canções melosas, a chamou para dançar.
— Agora sou o tipo de garota que te atrai, Andrew? — ela perguntou.
Sem entender o comentário, a observou atentamente em busca de uma explicação, foi quando reparou no aparelho dentário e o conectou a algo que disse dias antes.
Impossível!
— Bombi? É você mesmo?