Dois dias depois...

605 Words
Bianca fora apresentada à família e ao rapaz. De repente ficaram sozinho para conversarem. O tempo passou e sua impressão não mudou. Ela continuava o achando sem sal e sem açúcar. Alberto Matarazzo, formado em economia era um doce de pessoa, mas muito doce e pegajoso para seu gosto, a impressão que tinha era que se ficasse mais tempo ao lado dele criaria cáries. Conversaram mais um pouco. Era apenas ela tentando ser boazinha, uma boa anfitriã. Mas não teve jeito, Bianca o dispensou dizendo que ia dançar com sua amiga quando ele insinuou uma troca de telefones. A música, não muito agitada, mas envolvente de Please Don't Go KC And The Sunshine Band a fizeram dançar de olhos fechados, balançando seu lindo corpo sentindo a letra da música e sua melodia. Daqui a mais ou menos quinze dias viajaria e gozaria suas férias numa praia maravilhosa. Um mês inteirinho para ela fazer o que quisesse. Para seu pai não ficar preocupado, combinou com Maya de no primeiro dia visitarem a casa do tio de Heitor, para Bianca tirar algumas fotos em locais estratégicos e ao redor da família dele. Nada mais lindo e comovente que uma família amistosa e unida. Então ela postaria no i********:, dando a entender que estava naquele lugar. Mas voltando seus pensamentos para a casa que ficaria, sorriu, lembrando-se que o lugar ficava numa praia quase deserta. Para se ter uma ideia, tinha apenas um vizinho que segundo sua amiga, trabalhava o dia inteiro. Ele era dono de um bar. Ela poderia até fazer topless sossegada. Ah! Tudo pela liberdade! Minutos depois, estava Bianca abraçada a Maya cantando juntas a melodia, foi juntando então seus primos, outros convidados e todos começaram a cantar, formando um coro maravilhoso e divertido. O please don't go Don't go Don't go away Please don't go Don't go Dois dias depois... Nuvens negras obscureciam a estrada. Barulho de trovões quebrava o silêncio assim que os relâmpagos riscavam o céu. Momentos depois a chuva grossa caia contra seu para-brisa, deixando a visibilidade precária e o final de tarde pareceu noite. Ubachuva! Era como chamavam esse lugar cercado de verde e montanhas que muitas vezes seguravam as nuvens tornando a probabilidade de chuva no final de tarde muito grande. Ainda mais no verão. Dirigia pela estrada com cuidado. As curvas íngremes e o aguaceiro que caia o obrigavam a andar em baixa velocidade. Passou por várias praias, vários quilômetros de belezas naturais que ele nem conseguia enxergar por causa da neblina. Depois de muitos quilômetros rodados, chegou à estradinha que o levaria para a praia do laço da Cavala. Então foram mais alguns quilômetros por ela até a rua de cascalho que levava a casa de seu tio. Dirigindo devagar olhando tudo, se preparou para girar o volante e entrar na propriedade dele. Logo a propriedade surgiu no meio do nada. Um sentimento r**m atravessou-lhe o peito quando viu as árvores balançando muito pelo vento ao redor da pequena casa branca de alvenaria com apenas uma única luz ligada: a da janela da pequena sala. Quando Angelos visitara seu tio, nunca pegou uma tempestade dessa nem esse breu danado e se sentiu um pouco nervoso. No fundo era um bicho de cidade grande. Soltou o ar tentando se acalmar. O sentimento de satisfação o acompanhou desde que deixara seu apartamento e foi isso que buscou dentro de si quando desceu do seu sedã preto debaixo daquela chuva. A porta logo se abriu e seu tio de sessenta anos, viúvo, sem filhos, surgiu na pequena varanda com um sorriso. Isso foi o suficiente para me sentir bem.
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