CATALINA
Despertei meio tonta, sentindo uma baita enxaqueca. Reclamando sem verbalizar a minha lastima por ter bebido tanto. Passei os dedos sobre os olhos ainda cerrados, suspirando ao lembrar do encontro de ontem, da pouca conversa que tivemos, da sua possível revelação misteriosa, relacionada a identidade do homem que eu inocentemente intitulava de protetor.
Toquei a parte superior do corpo notando algo errado, assim que abri os olhos olhei para baixo vendo toda a minha nudez. Assustada esqueci da dor latejante e peguei rapidamente um lençol para me cobrir.
- Bom dia.
A voz morna me fez dá um pulo do colchão, indo certeiramente parar com os pés em um tapete bastante peludo, amortecendo minha quase queda. Fitei diretamente o anfitrião da casa, olhando-me com altivez.
- Que palhaçada é essa? O que aconteceu ontem?
Apertei o tecido contra os s***s miúdos vendo sua expressão intacta no rosto pálido, parecia mais um vampiro. O olhar sombrio, meio nefasto. Não saberia o que faria futuramente, muito menos o que havia de fato feito comigo.
Depois de uns segundos analisando proferiu ele:
- Tem vergonha da sua nudez por algo natural ou não se acha bonita suficiente para a apreciação masculina? - Quis saber.
Sem saber o que dizer fiquei ali de boca aberta, pasma. Querendo atacá-lo, mas sem ter condições de agir.
- Bom... - Adentrou, passando do batente da porta e parando rente ao corpo tão pequeno perante sua soberania. - ... Se está difícil entender talvez novos ângulos ajude-a a escolher.
Em decorrer colocou a mão no bolso, acompanhei cada movimento sem me mover, prendendo a respiração, me sentindo acuada e super vulnerável diante daquele que antes significava um herói na minha cabeça. Pobre garota infantil. Tudo na vida tem um preço, e um determinado momento chega a hora de pagar a fatura.
Estendeu um bolo considerável de fotos na minha direção, meus olhos ficaram arregalados, a face esquentando, as mãos trêmulas. Porém, quando avancei para pegar dele, soltei o lençol, e acabei me abaixando no processo, buscando-me cobrir a pele nua. Em seguida as fotos caíram aos meus pés, fiquei literalmente de joelhos, correndo desesperadamente, catando cada um sem tirar a outra mão do peito da onde prendia o tecido branco.
- Por que razão fez essa maldade?! Isso se chama invasão de privacidade!
Gritei com a voz embargada sem olha-lo, meu olhar estava preso em cada imagem minha pelada nessa cama. Ninguém nunca havia me visto assim, sempre fui muito tímida, nem gostava de usar biquini perante uma multidão; praias não eram a minha diversão.
- Deveria sentir-se orgulhosa de si mesma.
Funguei sem conseguir compreender seu raciocínio.
- Seu louco! - Acusei-o largando-as no tapete, mirando-o, os lábios balançando. Sentindo o quanto fui invadida.
- Pode ser, sua ofensa não tem efeito sobre essa carcaça viva. - Deu dois passos para trás. - Acha que isso é sofrimento? Tem noção como seria se tivesse sido vendida para casamento?
Apertei a boca, as lágrimas presas agora desciam em gotas grossas e por algum motivo essa emoção o fez recuar ainda mais. Perto da saída deu-me uma última olhada de piedade.
- Me salvou daquilo para judiar de mim no futuro?
Questionei limpando o rosto, usando a parte detrás do braço. Busquei forças no meu interior para ficar ereta, cambaleando, sozinha, me pus de pé. Em segundos nos encarando aprendi a controlar esse sentimento de pena que durante anos nutria a respeito do meu trágico destino.
- Catalina...
- Não vai poder me ferir! - Interrompi vislumbrando um brilho, um resquício de admiração naquele olhar calculista. - Sou mais forte do que aparento. E toda a profunda estima que adquiri por ter me socorrido virou um borrão.
- Nunca almejei sua gratidão.
- Então o que deseja de mim? - Falei rispidamente enquanto ele se mantinha na sua suprema temperança.
- Quero... - Ponderou antes de dar continuidade, sem demonstrar nada. - ... Apenas a sua atenção... Lina.
- Somente os mais íntimos me chamam assim. - Rebati nervosa, o coração disparado sem saber o real sentido disso.
- Então sou um dos felizardos. - Suspirou calmamente. - Pode tirar o dia para se recompor, amanhã quero você inteira para continuarmos a nossa interação.
Dito isso saiu sem mais delongas, deixando-me perplexa com sua atitude má, estranha... Perversa.
O que eu fiz a esse ser para me tratar tão injustamente?