Capítulo 3

1890 Words
Heloisa — Eu não acredito que você não vai. — Paula resmungou pela milésima vez, enquanto retocava o seu batom impecável e logo depois colocava seus brincos de argolas escandalosamente grandes em suas orelha. Ela, assim como a minha mãe, estava se preparando para sair para o bar do meu primo, o único bar aceitável de todo o bairro Esperança. O pequeno bairro não era lá essas coisas, era pequeno e as melhorias que tinha foram graças aos próprios moradores de lá. Moradores esses que se conheciam desde pequenos. Prova disso foi quando visitei minha mãe pela primeira vez e algumas pessoas me cumprimentavam pela rua como se me conhecessem há anos e eu m*l me lembrava dos rostos deles. Eu podia não me lembrar, porém eles se lembravam de mim da época em que minha mãe ainda era casada com o meu pai e vinha comigo para visitar os meus avós, até que com a separação ela veio de vez e eu acabei ficando com o meu pai, deixando para visita-la somente durante as férias. E o bairro Esperança, embora tivesse outros bares, o bar do meu primo era considerado famoso entre os moradores. Ali era onde a galera se reunia no comecinho da noite para um jogo de sinuca e depois das dez noite o arrocha rolava solto, enchendo ainda mais o bar de gente. O espaço consideradamente grande se tornava minúsculo para aquele monte de corpos suados e totalmente colados, se esfregando em um ritmo lento e na minha opinião, bem sen.sual. Era de se esperar que eu puxasse o sangue quente e baiano da minha mãe, gostando desse tipo de dança e fizesse jus ao lado materno da família, e eu até gostava da dança, sabe? O problema mesmo era fazer isso na frente de um monte de gente. — Todo mundo vai. — insistiu Paula sem se dar conta dos meus devaneios e da minha batalha interna sobre ir ou não ir. O mais triste era que eu queria ir, eu queria me soltar e aproveitar, ser mais atirada como minha mãe e minha irmã, mas eu não conseguia. Ficar cercada de gente desconhecia me deixava um pouco desconfortável, e quando eu percebia já estava me escondendo em qualquer canto ou ficava encolhida em uma cadeira, torcendo para que não me notassem e quando notavam eu os afastava ao dizer que estava perfeitamente bem ali. Em geral as pessoas acabavam desistindo de insistir e por fim, se afastavam. E apesar de agradecer por aquilo na hora, depois eu ficava me remoendo na cama e me censurando por não ter aproveitado a chance de fazer novos amigos. — Eu tenho que estudar. — murmurei baixo, o que não era totalmente uma mentira, afinal, uma transferência no meio do ano não era lá essas maravilhas e apesar de ser uma aluna boa, eu não podia me dar ao luxo de não estudar. Eu não era uma pessoa desleixada com meus estudos, mas também não era nenhuma nerd, então ou eu estudava ou acabaria ficando para trás. Paula bufou audivelmente e pelo reflexo do espelho eu pude vê-la rolar os olhos, mas ela não me disse mais nada, limitando-se a ficar com o corpo ereto na frente do espelho, avaliar o seu reflexo e depois de duas borrifadas do meu perfume Coffee em seu pescoço alvo e adornado por uma correntinha justa, ela enfiou o meu batom no bolso traseiro do short que usava e saiu do meu quarto a passadas rápidas com o seu salto mortal de quase quinze centímetros. — Hey, eu vi isso ai, hein! — gritei espichando o pescoço para o lado, mas eu não podia mais vê-la, porém a sombra da sua risada escandalosa ecoava denunciando que ela já tinha chegado a sala. — Perca o meu batom pra tu ver! — ameacei sabendo que não surtiria nenhum efeito, e não surtiu mesmo, pois a safada nem mesmo se dignou a me responder. — Bandida. — resmunguei sozinha, rolando os olhos, pois a folgada nem mesmo fechou a porta do quarto ao sair, e quando eu finalmente escutei a porta da sala bater, indicando que ela tinha saído, bufei. Alguns bons minutos depois, o som abafado que vinha do bar do meu primo invadia o meu quarto, pois não era tão longe assim a distancia, e o cheiro do perfume que Paula tinha deixado para trás invadia minhas narinas, me desconcentrando das paginas que eu lia sobre um assunto extremamente chato e me lembrando que mais uma vez eu tinha sido bu.rra o suficiente e deixado a chance de estar me divertindo passar. — Mer.da. — resmunguei quando acabei lendo a mesma linha pela terceira vez e quando eu percebi que não conseguiria continuar, pois o barulho animado parecia me chamar e a vontade de me juntar a eles me consumia, fechei o livro e joguei as pernas para fora da cama. — O que eu estou fazendo? Eu nem mesmo tenho o que vestir. — murmurei baixo e contrariada, porém me direcionei ao guarda roupa, abrindo as portas do mesmo e vasculhando somente com o olhar as inúmeras roupas penduradas que eu tinha ali. Eu tinha alguns shorts jeans no meu guarda roupa, mas não me achava atre.vida o suficiente para aparecer lá com um micro short jeans. Nunca gostei de ser o centro das atenções, apesar de que assim como toda mulher, eu apreciava ser elogiada, porém naquele momento eu não estava tão confiante assim. Tinha voltado há pouco tempo e eu sabia que os acontecimentos anteriores ainda estavam frescos nas memorias dos fofoqueiros, então o melhor mesmo era optar por algo menos chamativo. Eu ainda estava com vergonha o suficiente de ter ido parar na boca do povo por algo que eu não tinha o controle. Há alguns anos atrás, quando eu achava ter um motivo que me fizesse querer ficar aqui de vez, o tal motivo acabou me dando um belo par de chifres e por isso evitei de voltar aqui por um longo tempo, inventando desculpas e mais desculpas sobre estar atarefada com escola e estudos, e agora... Agora eu tinha voltado, de vez, e ainda podia ver os olhares curiosos em cima de mim. Acabei indo em direção ao banheiro, tomando um banho demorado enquanto ainda cogitava a ideia de ficar no quarto, porém assim que adentrei ao quarto novamente o som adentrando pela janela aberta me animou ainda mais. Estava tocando uma musica de Wesley Safadão e era uma das minhas preferidas. Aquilo foi o que bastou para que eu pendurasse a toalha molhada no gancho atrás da porta e partisse em rumo para minhas gavetas de lin.geries. Não que eu fosse fazer qualquer coisa com alguém depois do forró, mas não dispensei a lingerie se.nsual na cor preta e abusei do hidratante na minha pele. Por fim escolhi uma calça jeans escura que abraçou perfeitamente o meu corpo, e depois coloquei uma blusa azul escura que tinha uma a******a nas costas. Se eu não tivesse tanta vergonha assim eu dispensaria o sutiã, afinal, era o ideal com esse tipo de roupa, mas optei por colocar aqueles sutiãs colantes, admirando os meus pei.tos que ficaram empinados e torcendo para que a cola do sutiã fosse boa o suficiente caso eu suasse um pouco. Era tudo o que eu precisava... Pagar um mico na frente da maioria da população desse lugar... Rolei os olhos enquanto deixava esses pensamentos de lado e calçava minhas sandálias. Eu gostava de um bom salto como a maioria das mulheres, e naquele momento aquela ocasião pedia um, embora eu achasse os tênis bem mais confortáveis. Passei um batom rosado na boca, um lápis no olho e um pouquinho de blush no rosto, dispensando qualquer outro tipo de maquiagem. Eu sabia que o bar tinha um ambiente escuro e eu também não queria acabar pesando a mão na make e ficar parecendo uma palhaça. — Menos é mais. — murmurei para mim mesma, enquanto encarava o meu reflexo no espelho. Um pouco de desodorante nas axilas e um pouco do meu perfume Good Girl ­ - esse eu deixei escondido da Paula – e eu estava pronta. E enquanto eu saia de casa e trancava tudo, mentalizava em minha mente que nada iria dar errado na minha noite, porém eu deveria saber que todo azar para pobre é pouco. Assim que adentrei ao local meus olhos se focaram logo na ultima pessoa que eu queria ver ali, embora acreditasse que ele estaria ali. Henrique me focalizou no exato momento em que eu o vi também, e por conta de ainda estar meio embasbacada por esse primeiro contato acabei ficando parada por muito tempo no caminho daquelas pessoas bêbadas e dancantes. O que foi tempo o suficiente para que um idio.ta tropeçasse em mim e derrubasse metade da sua bebida em meus pés. Meeeerda! Meus sapatos novinhos. Olhei em desanimo para meus pés, não dando a mínima para as desculpas que ecoavam perto de mim. — Tudo bem. — murmurei um tempo depois, bem menos animada do que uns minutos atrás e finalmente me dignei a olhar a pessoa, sabendo que provavelmente nós dois tivemos culpa no cartório e que não adiantaria arrumar caso por um sapato um pouco – bastante – molhado. O que eu não imaginaria era que encontraria um Deus Grego parado a minha frente. Po.rra, já não bastava a pele morena que me lembrava um delicioso chocolate derretido, Deus ainda tinha agraciado o homem a minha frente com um belo par de olhos verdes. — N-não... Não foi nada. — me amaldiçoei mentalmente por gaguejar e creio que provavelmente estava com as bochechas coradas, pois assim que ele deu um sorrisinho de lado eu senti o meu corpo todo esquentar. Minha nossa senhora das cal.cinhas molhadas... — Me deixe recompensa-la. — é claro que deixo... Era o que eu queria dizer, mas obviamente não disse. Na verdade eu não estava dizendo muita coisa naquele momento, pois sentia que a minha boca estava colada, assim como os meus olhos ainda o miravam sem desviar. Pigarrei me forçando a sair daquela situação patética e me obrigando a tomar o controle do meu próprio corpo. — Não preci... — Faço questão. — acabei assentindo devido à tamanha gentileza e fui recompensada com mais um sorriso. Dessa vez um sorriso aberto, porém tão lindo quanto o outro. — A proposito, me chamo Gabriel. Gáb. Ou Gabo, como preferir. — Heloisa. Ou Helô. — murmurei me preparando para segui-lo e quando comecei a andar ainda pude captar o olhar de Henrique e de Paula. Era obvio que o filho da pu.ta iria estar em companhia da minha família, afinal, ele e meus primos não se desgrudavam, mas aquilo não significava que eu gostava. Felizmente para mim o olhar que ele tinha em seu rosto denunciava todo o incomodo que ele estava sentindo por eu estar tão bem acompanhada e aquilo era uma pu.ta de uma massagem no meu ego, e o de Paula... Bem... Eu não sabia dizer se a sua boca aberta era de espanto por eu ter aparecido de ultima hora, ou se era pelo Adônis delicioso ao meu lado. De qualquer forma eu não me importei muito em descobrir, pois a única coisa que era certa ali era: Eu estava adorando aquilo.
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