Capítulo XIII

1846 Words
No dia seguinte, João saiu cedo e foi procurar saber o que precisava para tirar a carteira de trabalho. Tinha levado os documentos e só faltava a foto. Indicaram a ele, um lugar que tirava fotos e entregava no mesmo dia e ele se dirigiu para lá. Tirou a foto e ficou aguardando ser revelada. Já com elas na mão, voltou ao local aonde se tirava o documento e logo estava com a carteira. Retornou para casa. - Agora, é só esperar ela voltar de viagem. A carteira de trabalho já está comigo. Jandira respondeu: - Ela vai ficar poucos dias. Tem o trabalho do marido, porque o dela ainda está em recesso. - Se não fosse o acidente da Jurema, ela ia levar a gente pra conhecer a fazenda. Disse que tem muito gado e cavalos. - Que Deus conserve. Ela merece. - Eu sei. Foi uma sorte muito grande as crianças conhecer e fazer amizade com ela. - No começo eu fiquei cabreiro, mas agora eu já tenho confiança nela. Ela gosta muito da gente. - Mas era pra desconfiar mesmo. Tantos presentes e dinheiro. Mas quando ela veio aqui me conhecer, eu passei a confiar. Quem quer fazer coisa errada, não mostra a cara. - Porque ela não tem filhos? - Não sei. Ela não disse e eu não perguntei. Vai ver, ela ou o marido têm algum problema de saúde. - Você conhece ele. Parece uma pessoa doente? - Não, parece saudável. Mas esse tipo de doença não dá pra ver. - Coitada. Gosta tanto de crianças e não tem as dela. - Deus sabe o que faz. Nós não temos o direito de julgar ele. Vai ver, a missão dela é ajudar muita gente e não só proteger um ou dois filhos que colocasse no mundo. - Ela poderia ter muitos. - Gente rica, não gosta de fazer muitos filhos. - Ela fala de outros parentes? - Não. Fora o marido, nunca falou de ninguém. - Apesar de rica, é uma pessoa solitária. O marido trabalha e ela não trabalha todos os dias. Fica muito sozinha. - Não tem empregados porque não quer. Naqueles dias que fiquei lá, ela não me deixou ajudar em quase nada. Disse que gosta dos servidores da casa. - Pode ser uma maneira de matar o tempo. - Pode ser. Está na hora do remédio da Jurema. Jandira foi na cozinha e apanhou um copo de leite. Foi ao quarto medicar a filha. Jurema continuava muito pálida, apesar de dizer que não sentia dor, e estava se alimentando bem. Voltou para perto do marido e comentou: - Tô achando a Jurema muito pálida. Ela está comendo bem, não estou entendendo. - Há quanto tempo você não dá remédio de vermes pra eles? Vai ver é isso. - Pode ser. Anda muito descalça. Mas agora, ela já está tomando muito remédio. Será que pode misturar? - Eu não sei. É melhor esperar. Quando ela voltar no hospital pra fazer a revisão, eu pergunto. - Mas falta muito. - Eu lembro que dona Marisa comentou que lá na farmácia o cara que atendeu, queria empurrar umas vitaminas pra ela. Vai ver era preciso mesmo. Mas é melhor perguntar ao médico. - Estranho. Ela não quis comprar? - Falou que se tivesse necessidade o médico teria receitado. - Você podia ir lá e perguntar. - Não sei quem atendeu ela. Ela mandou eu ficar esperando dentro do carro. Estou muito preocupada. Cada dia está mais pálida. - Então vamos levar ela num hospital. - Estou achando melhor mesmo. Vou ver se a Renata pode ficar com o Júnior e a Joelma e a gente vai. - Eu posso levar sozinho. - Não. Eu quero ir junto. Jandira foi falar com Renata que atendeu o pedido na mesma hora. Já na casa das crianças, perguntou: - Se der a hora da comida, o quê que eu dou a eles? - A comida está pronta, em cima do fogão. Você almoça também que eu posso demorar. - Não precisa se preocupar. Eu como quando for pra casa. - Tem comida pra todo mundo. Come aqui. Vamos no hospital público e pode demorar a atender. Jandira pegou a receita dos remédios que a filha estava tomando e levou para mostrar ao médico. Até que o atendimento não demorou. Em pouco mais de uma hora estavam dentro do consultório com uma pediatra. A médica, só de olhar para a criança, declarou: - Essa menina está anêmica. Vai fazer um exame de sangue para constatar o grau da anemia, mas vou receitar um sulfato ferroso pra ela já ir tomando. Jandira avisou: - Ela está tomando muitos remédios por causa da cirurgia do braço. - Que remédios ela está tomando? Jandira apanhou a receita na bolsa e mostrou: - Todos esses aqui. - Esse médico devia ter receitado umas vitaminas junto. Tem remédio aqui que abaixa a imunidade e causam a anemia. Mas com o sulfato ferroso e uma alimentação adequada, ela vai ficar boa logo. O exame de sangue tem que ser feito com ela em jejum. Vamos esperar pra fazer, quando ela não estiver tomando tanta medicação. Esses remédios são muito fortes e ela não pode tomar de estômago vazio. Prescreveu o sulfato e mandou passarem na farmácia do hospital para ver se tinha. - Se não tiver, a senhora procura na clínica da família, perto da sua casa. O SUS fornece. Agradeceram a foram na farmácia do hospital que tinha o remédio. Logo, estavam voltando pra casa. João comentou: - Até que foi rápido. E ainda deram o remédio. - Mas você viu? O homem da farmácia tinha razão. - É. As vezes o hospital público é melhor do que o particular. - Médicos também erram. - Mas não pode. Eles cuidam de vidas e com a vida não se pode errar. - Todo mundo pode errar. É um direito do humano. - Mas um erro médico, pode matar uma pessoa. Eles têm que ter mais atenção. Esquecer que tinha que receitar vitaminas? Nem mandou comer coisas mais fortes. Imagina se você não estivesse dando comidas fortes por tua conta. Ela podia estar bem pior. - Vamos deixar isso pra lá. Dona Marisa iria ficar muito triste se soubesse que o médico que ela levou fez uma cagada dessas. - É melhor nem comentar. Chegaram em casa ainda antes da hora do almoço. Agradeceram a Renata e ela foi para casa. João queria dar uns trocados para a moça, que disse: - Amigos são pra essas coisas. Precisando de mim é só falar. Depois que ela saiu, João comentou: - Precisamos fazer alguma coisa para agradar essa menina. Depois de pensar um pouco, resolveu: - Vou no mercado comprar uma caixa de bombom pra ela. Jandira respondeu: - Chocolate todo mundo gosta. João saiu e comprou duas caixas. Estava levando uma para comer com Jandira e as crianças. Comprou algumas frutas e voltou para casa. Deu a caixa de Renata já na passagem e ela disse: - Não precisava seu João, mas obrigada. Adoro chocolate. Vou comer um por dia depois do almoço. Assim vai durar muito tempo. - Nem tanto. As caixas de bombom estão cada vez menores. - Só não diminuiu o preço. Renata entrou e João seguiu para casa. Entregou as compras para Jandira que ficou muito contente com a caixa de bombom. - Vou dar um pra cada depois do almoço. - Mas dá fruta também. - Posso fazer uma salada de frutas. - Eu não trouxe uvas. Vou buscar. - Compra no sacolão. É mais barato. João comprou as uvas e algumas verduras e voltou. Jandira estava acabando de preparar a salada, quando Jonas e Janaína chegaram para almoçar. A comida já estava quente e ela preparou o prato das meninas e levou para o quarto. Quando terminaram de comer, deu a salada de frutas e o remédio de Jurema. Voltou para a cozinha e foi almoçar com o resto da família. Depois do almoço, arrumou a cozinha e falou: - Acho que vou fazer outra sopa pra logo mais. A Jurema precisa comer coisas fortes. - Vou comprar mais fígado e um bom pedaço de músculo. - Trás umas caixas de gelatina também. Dizem que é muito bom. - Quantas caixas você quer? - Trás o que você quiser, mas tem que ser duas de cada sabor. É muita gente pra comer e uma não dá pra todo mundo. João tornou a sair e fez as compras. Jandira limpou logo o músculo e fez a sopa com ele, colocando bastante espinafre também. A noite, deu a sopa para Jurema, que pegou no sono logo depois. Comentou com João: - Toda vez que eu faço sopa, a Jurema fica sonolenta. Deve ser fraqueza. - Com o remédio que a doutora passou, logo vai ficar boa. - Eu espero que sim. Nem na sala ver televisão ela está vindo. Não brinca. Essa anemia deve ser muito grande. - Se acalma, que agora ela está medicada. Amanhã você dá fígado de novo. - Vou botar verdura no feijão. Mesmo que eles não comam, o caldo fica forte. Jandira continuava preocupada com a palidez e o cansaço da filha. Poderia ser algo pior do que uma simples anemia. Mas os dias passaram e Jurema foi ficando mais corada e já estava andando pela casa. Via televisão com os irmãos e brincava como antes. O susto tinha passado. Uma tarde, ouviram uma buzina na frente de casa e foram ver quem era. Marisa estava de volta. Se alegrou em encontrar todos bem e falou: - Vi os meninos lá no mercado e falaram que vocês levaram a Jurema ao médico de novo porque ela estava branca que nem fantasma. O que houve? - Ela estava com anemia. Os remédios que estava tomando, eram muito fortes e causaram uma anemia. - Vocês voltaram lá no hospital? - Não. Levamos no Souza Aguiar. - Passaram o dia todo lá. - Não, até que foi rápido. Antes do almoço estávamos de volta. E ainda deram o remédio. - Eu posso ver? - Entra. Jandira levou Marisa ao quarto e mostrou o remédio que Jurema estava tomando. Marisa falou: - É o mesmo remédio que o rapaz da farmácia insistiu que eu comprasse. Devia ter acreditado nele. Se tivesse comprado a menina não tinha ficado doente. Vou falar com o pediatra que atendeu ela. Ele não podia ter esquecido de um remédio tão importante. João falou: - Deixa pra lá dona Marisa. Já passou. - Mas eu vou falar assim mesmo. Tem que atender com mais atenção. Vocês podiam ter perdido a menina. Jandira exclamou: - Deus me livre! João preocupado: - Ela vai ter que voltar nesse pediatra para a revisão. É melhor não falar nada. - Desculpa seu João. Mas isso é coisa séria e eu não vou deixar passar. Foi falta de atenção da parte dele. Eu vou lá agora mesmo. Marisa saiu e entrou no carro. Deu partida seguindo para o hospital que tinha levado Jurema no dia do acidente.
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