Chegaram na obra que era muito grande, de diversos andares e Renato foi com João em cada andar testando a capacidade dele. Cada andar estava em um estágio de construção. Assim João ergueu paredes, embolsou, colocou piso e instalou peças sanitárias. Renato aprovou o trabalho dele e no final do dia, levou ele de volta para a construtora e anunciou:
- Está empregado, me dê seus documentos e duas fotos para o registro. Amanhã esteja aqui às sete horas. Vou lhe dar mais um macacão para o trabalho. Esse já é seu. Pode mudar de roupa e ir para casa. Até amanhã.
João muito sem graça perguntou?
- Quanto vou ganhar?
- Seu serviço é profissional. Para começar três mil reais. Depois melhora.
João nunca tinha ganhado tanto dinheiro. Estava custando a acreditar que estivesse acordado. Nos b***s que fazia, nunca tinha ganhado mais que cinquenta reais de diária. Isso dava uns mil por mês, contando com as folgas de fins de semana. Ter carteira assinada e ganhar bem, parecia um sonho. Ficou imaginando que ia acordar a qualquer momento.
Ficou parado perto de Renato que perguntou:
- Mais alguma pergunta João?
- Não. Estou esperando acordar.
Seu Renato riu e falou:
- Você não está sonhando. Está empregado de carteira assinada. Seu trabalho é perfeito e você merece. Seja bem vindo a construtora.
- Obrigado seu Renato. Amanhã às sete estarei aqui.
Saiu, ainda com medo de estar sonhando.
Depois de buscar informações na rua, pegou o ônibus e voltou para casa.
Jandira estava preocupada com a demora.
- Você demorou muito.
- Estava fazendo teste. Trabalhei em diversos serviços hoje.
- E como foi?
- O homem disse que estou empregado e já ficou com meus documentos. Vou ganhar três mil por mês.
- Isso tudo?
- Ele falou que o meu trabalho é de profissional.
- Que bom João. Agora você podia estudar um pouco, pelo menos para saber ler e escrever.
- Você quer que eu frequente escola de criança?
- Tem pra adulto também.
- Vou procurar saber. O importante é estar empregado e de carteira assinada. O patrão é muito simpático. Me levou pra obra no carro dele.
- Tem que levar almoço?
- Não perguntei. Mas normalmente em obra tem.
- Vou preparar a tua marmita.
- Amanhã não vou levar. Sempre tem um boteco perto. Almoço junto com os outros. Preciso me inturmar com os antigos e fazer amizades.
- Faz do jeito que você quiser. Não vai lá na dona Marisa pra falar com ela?
- Vou tomar um banho primeiro. Estou todo sujo.
Depois do banho, foi na casa de Marisa. Ricardo já estava em casa e veio atender:
- Finalmente estamos nos conhecendo. O resto da família eu já conheço, mas o senhor nunca vinha aqui.
- Vim agradecer o emprego que o senhor me arrumou. Fui fazer o teste e estou empregado.
- Eu já sabia. O Renato me ligou e agradeceu o profissional que mandei para ele. Ficou muito satisfeito com o seu serviço.
- Eu é que agradeço. Começo amanhã.
- Não, o dia de hoje já vai contar. O senhor trabalhou e começou hoje.
- Foi teste. E cheguei depois das sete.
- O Renato já assinou a sua carteira com a data de hoje. Ele me disse. Falou que empregado como o senhor, não pode deixar escapar. Que o senhor entende tudo de obra e trabalha muito bem.
Marisa vinha chegando do interior da casa e falou:
- Parabéns seu João. Já estou sabendo que conseguiu o emprego.
- E vou ganhar muito bem. Três mil por mês.
- O seu trabalho é de profissional e o senhor trabalhava de ajudante. E agora tudo vai melhorar.
- Vim agradecer a vocês. Vocês que me arranjaram esse teste. Domingo vamos fazer um churrasco lá em casa e teríamos muito prazer se vocês fossem. Vou comemorar minha carteira assinada.
Marisa perguntou:
- O que está faltando?
- Nada. A Jandira ainda não usou aquela carne toda que a senhora deu no fim do ano. Só vou comprar uns refrigerantes.
- Pode deixar que eu levo. Nós vamos sim.
Ricardo completou:
- Vai ser um prazer ficar perto das crianças de novo. Nós estaremos lá no Domingo.
João se despediu e quando chegou em casa, Jonas e Janaína já tinham voltado do mercado. Janaína abraçou o pai e falou:
- Parabéns pelo emprego papai!
Jonas também abraçou o pai de deu os parabéns.
João avisou a Jandira:
- Chamei dona Marisa e seu Ricardo para um churrasco no domingo e eles disseram que vêm.
- Você não ia fazer depois que a Jurema tirasse os ferros?
- Agora temos o que comemorar. Os tempos ruins acabaram nessa casa. Tenho carteira assinada e um bom salário.
E para as crianças:
- Vocês não precisam mais ir para o mercado.
Jonas respondeu:
- Mas nós gostamos de ir. Por favor papai, não proíbe a gente.
- Mas agora eu vou ganhar bem!
Janaína respondeu:
- Nós também gostamos de trabalhar. É divertido e a gente ganha um monte de coisas.
- Vocês é que sabem. Por necessidade não precisam mais ir.
Janaína respondeu:
- Então vamos por divertimento.
Sentaram para jantar e logo João estava indo deitar para sair bem cedo no dia seguinte.
Depois que João saiu, Jandira foi a pedido dele na casa de Paulo, contar a novidade. Chamou seu Paulo e falou:
- Ontem o João veio lhe procurar aqui e o senhor já tinha saído.
- A Renata falou. Ela leu o endereço e explicou a ele como chegar lá. Era trabalho, não era?
- Era. Ele está de carteira assinada pela primeira vez na vida e vai começar com um bom salário. Vamos fazer um churrasco no domingo para comemorar e queríamos que vocês fossem.
- Obrigado. Podem contar com a gente. Que horas?
- Lá pelas onze.
- Nós vamos sim. Precisa levar alguma coisa?
- Não. Vocês também não bebem. A dona Marisa vai trazer os refrigerantes.
- Também levaremos alguns.
- Tá bom. Esperamos vocês no domingo.
- Até lá.
Jandira voltou para casa e ficou esperando que as crianças acordassem. Depois do café da manhã, colocou as roupas na máquina, inclusive o macacão que João tinha usado no dia anterior e enquanto a máquina trabalhava deu um jeito na casa e foi para a cozinha preparar o almoço.
João tinha chegado na construtora e foi junto com o resto da equipe para a obra. Eles tinham um ônibus para isso.
Já trabalhando, perguntou:
- Aonde vocês almoçam?
- Aqui na obra mesmo. Tem uma sala que já está pronta lá no térreo e almoçamos lá.
- Mas eu não vi ninguém trazer comida.
- A construtora paga a quentinha da gente. Lá pelas nove, vai vir uma moça para anotar o que cada um vai querer e as onze a comida chega. Daqui há pouco ela passa por aqui.
- Essa comida é descontada do salário?
- Não. A despesa é do patrão. Em toda obra que a gente vai, ele arranja uma pensão por perto e fecha contrato. Adianta uma parte, e paga a diferença no fim de cada mês. Pode entrar empregado novo ou sair alguém. Sempre tem diferença. Agora mesmo o senhor entrou.
- Me chama de você. Senhor tá no céu.
- Agora mesmo você entrou. E a comida é boa.
As nove horas, uma moça perguntou:
- O senhor é novo aqui?
- Comecei ontem, mas não almocei. Estava fazendo teste e fui comer com o patrão.
- Vai querer o quê. Têm bife de panela com purê e frango com batatas.
- Prefiro o bife com purê.
- Seu nome?
- É João.
- As onze o almoço chega. Boa sorte no novo serviço.
- Obrigado.
Continuou com o trabalho e as onze desceram para o térreo onde tinha uma sala já pronta, com uma mesa grande e diversas cadeiras.
João se apresentou ao resto do pessoal e sentou para comer.
A comida estava bem gostosa. Acabou de comer, amassou a quentinha e jogou na lata de lixo. Embrulhou o garfo e a faca no guardanapo para devolver. Eram da pensão e não tinha como lavar. No dia seguinte, a moça na hora que passava para saber a escolha de cada um, recolhia os talheres e levava para lavar.
Sentou novamente e ficou esperando dar a hora de recomeçar com o trabalho.
Ao meio dia recomeçaram a trabalhar. Quando deu três horas, desceram de novo.
João perguntou:
- O que é agora?
- Hora do lanche!
Desceu com todo mundo e na mesa havia pão com margarina e garrafas térmicas com café e leite.
- João comeu um pão e tomou café puro.
Meia hora depois, recomeçaram os trabalhos que seguiram até às cinco, quando encerrou o dia. O ônibus já estava a espera para levar a turma de volta para a construtora.
Quando chegou lá, o patrão chamou:
- João, vem pegar teus documentos e assinar o livro.
João respondeu:
- Eu não assino.
- Bota o dedo então. Você podia aprender a pelo menos assinar teu nome. A sua mulher escreve?
- Ela escreve sim senhor.
- Pede a ela pra te ensinar.
- Vou falar com ela.
- É mais bonito.
Entregou os documentos e mostrou para João a carteira assinada, ele molhou o dedo na almofada e colocou no livro.
Seu Renato perguntou:
- O que achou do trabalho?
- Gostei muito. O pessoal é companheiro, se ajuda.
- Serviço de equipe tem que ser assim. Cada um tem uma tarefa, mas ajuda o colega se terminar primeiro. Se quiser tomar café da manhã, tem que chegar quinze minutos antes. Às sete o ônibus sai.
- Só tomo um cafezinho antes de sair de casa.
- O serviço é pesado e não quero ninguém desmaiando na obra.
- Eu estou acostumado e nunca desmaiei.
- Tá bom. Até amanhã.
- Até amanhã.
João chegou em casa e mostrou a carteira assinada para Jandira. Ela perguntou:
- Você almoçou?
- Almocei e lanchei. Tem hora do lanche também. Passa uma moça e pergunta o que a gente vai comer. As onze a comida chega. As três tem o lanche.
- Vai ser descontado?
- Não. A construtora que paga a pensão. Comi feijão, arroz, bife de panela e purê de batatas e no lanche pão com manteiga e café.
- Esse trabalho é muito bom. E os colegas?
- Todos são muito legais. O patrão ainda avisou que tem café da manhã pra quem chega quinze minutos antes.
- Desse jeito você vai engordar.
- Até que estou precisando.
- Teu macacão já está lavado e passado.
- É com esse calor, tem que trocar todo dia.
Amanhã cedo eu lavo o de hoje. Seca rápido.
Passou o resto da semana e João não trabalhava aos sábados e domingos.
Perguntou para Jandira:
- Como vai ser na semana que vem? A Jurema tem que ir tirar os ferros na sexta-feira e eu não posso pedir pra faltar.
- Eu levo ela. Se a dona Marisa não puder ir, eu pego uma condução com ela.
- Amanhã eu vou perguntar a dona Marisa se ela vai estar trabalhando na sexta-feira. Garanto que se puder ela leva vocês.
- Eu sei disso. Amanhã a gente pergunta a ela.