No domingo, as crianças pediram para ir pro mercado, prometendo que estariam de volta na hora do churrasco.
O pai, preferia que ficassem em casa, mas sabendo que gostavam de trabalhar, deixou eles irem.
Ficou na cozinha, ajudando Jandira a preparar as coisas. Logo depois das oito, Marisa chegou com os refrigerantes que tinha prometido e ajudou Jandira a colocar tudo na geladeira. Perguntou se eram suficientes.
- Tem até demais. Convidamos uns vizinhos que também vão trazer. A filha deles que já é uma mocinha, fica com as crianças quando eu preciso sair e não me cobra nada.
- Amizades assim, a gente tem que conservar. Qual é a idade dela?
- Tem uns quinze ou dezesseis anos. E não tem irmãos. É filha única.
- Eu também sou. É muito chato. Sempre quis ter irmãos.
- Se não se importar, gostaria de lhe perguntar uma coisa?
- Temos i********e pra isso. Pode perguntar.
- Porque a senhora que gosta tanto de crianças não tem filhos?
- Porque tive câncer e tirei o útero. Sou estéril.
- Desculpa, não queria lhe deixar triste.
- Já sofri muito com isso. Agora já me conformei.
João que estava com lágrimas nos olhos, falou:
- Vamos deixar as tristezas para outro dia. Hoje estamos comemorando.
Marisa:
- É isso mesmo. Precisam de mais alguma coisa?
- Não, temos tudo. Vou fazer arroz, maionese e molho a campanha.
João disse:
- Dona Marisa, a Jurema tem revisão na sexta-feira e eu vou estar trabalhando. A senhora tem como ir com a Jandira levar ela? Ela vai tirar os ferros.
- Vou ver a escala amanhã. Se tiver de serviço, coloco alguém no meu lugar. Levo elas sim.
Jandira falou:
- Nós não queremos atrapalhar a senhora, se não puder eu vou de condução.
- Eu faço questão de ir. Agora eu vou em casa. As onze eu volto. E vou trazer a sobremesa. Fiz um musse de maracujá que é uma delícia. Mas como vem mais gente, vou fazer outro. Vou trazer e você coloca na geladeira que tem que pegar consistência.
- Tá bom. Eu espero vocês as onze.
Assim que ela saiu, o casal voltou aos preparativos pro churrasco. A carne já estava limpa e temperada e aos poucos, as outras coisas foram ficando prontas também.
Antes das onze, todos estavam limpos e arrumados esperando os convidados.
João já tinha acendido a churrasqueira para quando chegassem, já encontrassem alguma coisa pronta. Marisa chegou e colocaram os copinhos com o musse na geladeira.
Uns estavam durinhos. Mas tinha outros que ainda não tinham endurecido. Mas daria tempo até a hora de servir.
Jonas e Janaína chegaram do mercado e ganharam uma reprimenda do pai:
- Estão atrasados. Eram pra estar já de banho tomado.
Janaína respondeu:
- Desculpa, papai. Perdemos a noção da hora.
João comentou com Marisa:
- Eu disse que eles não precisavam mais ir, mas eles disseram que se divertem trabalhando.
- Deixa eles. Estão seguros lá. Todo mundo gosta muito deles.
Ricardo entrou e cumprimentou todo mundo, logo depois chegou Paulo com a família.
Jandira apresentou todos e logo estavam se tratando com uma i********e que parecia que se conheciam a muito tempo.
Foi um domingo muito gostoso. Paulo tinha levado muitos refrigerantes, que colocou no tanque com gelo.
Trouxe gelado. O gelo era pra conservar.
Quando escureceu, ainda tinha muita comida e quando Marisa se despediu, Jandira perguntou:
- Não quer levar um pouco para comer mais tarde?
Ricardo que respondeu:
- Queremos sim. Logo mais a fome volta.
Jandira entrou e pegou uns potes. Arrumou tudo e colocou numa sacola.
Antes de sair, Ricardo disse pra João:
- O Renato elogiou muito o seu serviço. Disse que o senhor é o melhor pedreiro que já esteve com ele desde que está na construtora.
- Obrigado, seu Ricardo, mas deixa o senhor pra lá. Me chama de você.
- Só se o senhor me chamar também.
- Tá bom. Obrigado Ricardo. Eu estou adorando o serviço.
- Vai se aposentar lá.
- É a primeira vez que tenho carteira assinada.
- Quantos anos tem?
- Trinta.
- Pensei que tinha mais. Então está na idade certa. Quando fizer trinta e cinco anos de trabalho, vai estar com sessenta e cinco que é a idade mínima para o homem. Vai se aposentar lá.
- Que Deus lhe ouça!
O casal se despediu e foi embora.
Paulo comentou:
- São pessoas simples, não são metidos a b***a.
João respondeu:
- São muito bons, nos ajudaram muito.
- Eu sei. Só conhecia de vista. Mas já sabia que na obra daqui, dona Jandira ficou na casa deles com as crianças. Ela contou para a Renata, que me contou. Eu ia chamar as crianças para ficar lá em casa por causa da poeira e a Renata falou que estavam na casa deles.
- É um casal muito bom. Foi ele que me arrumou o emprego.
- É difícil alguém indicar uma pessoa para trabalhar. Você fica responsável pela pessoa, e se ela cometer um erro, a culpa é tua.
- Eu sei, mas conheço bem o trabalho e faço com atenção e cuidado. Obra é muito perigosa. Um tijolo m*l colocado, o prédio vem abaixo.
- É verdade. Mas ouvi os elogios dele e sei que você trabalha direito. Agora tá na minha hora e você também precisa descansar. Amanhã você pega cedo.
- Falando nisso, sexta-feira a Jurema vai tirar os ferros e a Jandira que vai ter que levar, eu não posso ir. A Renata pode ficar com os pequenos?
Renata tinha escutado e respondeu:
- Posso sim. Eu fico com eles.
- Obrigado. Estou trabalhando há poucos dias e não pega bem faltar.
- Não precisa. Eles não dão trabalho nenhum. São muito bonzinhos.
Foram para casa e João ajudou a mulher a guardar as coisas.
Tinha sobrado muita comida e refrigerantes.
Depois de tudo arrumado, tomaram outro banho e se recolheram.
João estava orgulhoso do comportamento dos filhos, brincaram o tempo todo, sem atrapalhar a conversa dos adultos.
Como estava muito calor, havia armado e enchido a piscina.
Se divertiram muito, mas tiveram educação para comer e depois, esperaram consentimento para voltar pra água.
A semana começou e João gostava cada vez mais do trabalho.
Na quinta-feira, Renato perguntou:
- Você vem trabalhar amanhã?
- Claro, porquê?
- A sua menina não vai tirar os ferros do braço?
- Como o senhor sabe?
- Eu sou amigo do Ricardo e da Marisa e o Ricardo comentou comigo.
- Eu venho trabalhar. Dona Marisa vai levar a mulher e a Jurema, para o hospital e ajudar no que for preciso.
- E os outros?
- Uma vizinha vai ficar com eles. Já está tudo combinado.
- Tá bom, então. Se precisar faltar algum dia, é só avisar no dia anterior. Todo mundo pode ter problemas.
- Obrigado, mas a mulher leva.
- Você tem que trazer as certidões deles para o salário família.
- O que é isso?
- É um dinheiro que o governo paga, para filhos menores de quatorze anos. É pouco, mas como você tem cinco, vai fazer diferença.
- Cada um recebe esse dinheiro?
- Sim, mas é pouquinho. Parece que é quarenta e poucos reais. Mas pra você que tem cinco, são mais de duzentos reais. Esse mês, você não vai receber porque não tem o mês completo, mas mês que vem, já recebe.
- É a certidão que tenho que trazer?
- É. Vamos tirar uma cópia e devolver pra você na mesma hora.
- Amanhã eu trago.
- Pode ser na segunda. Sua esposa pode precisar levar o documento para o hospital.
- Da outra vez, eu não levei.
- Você vê se ela vai precisar, se não for usar, trás amanha.
João foi embora e quando chegou em casa, perguntou para Jandira:
- Você vai precisar da certidão da Jurema para ir no hospital amanhã?
- Acho melhor levar, porque?
- Segunda-feira tenho que levar as certidões no trabalho, tem um tal de salario-familia. Cada um tem direito a quarenta e poucos reais, como são cinco, dá mais de duzentos reais.
- Por mês?
- É.
- Vou separar e você leva na segunda. É a original?
- Eles tem máquina de copiar. Vão tirar uma cópia e me devolver. O seu Renato pediu pra eu te pedir pra você me ensinar a assinar meu nome.
- Vou escrever num papel pra você copiar.
- Vamos fazer isso no sábado que eu não trabalho.
- Tá muito cansado?
- Não, mas é melhor fazer cedo. Com a luz do dia. Já está escurecendo.
- Tá! Deixa pra sábado.
No dia seguinte, Marisa pegou Jurema e Jandira e levou no hospital, o pediatra logo de princípio, pediu para ver a receita e constatou que realmente, havia cometido um erro muito grave. Falou para Jandira:
- Até agora eu não estava acreditando que esqueci de passar o sulfato ferroso nesta receita.
- Ela está bem, agora.
- Mas poderia ter morrido por negligência minha.
- Todo mundo erra.
- Na minha profissão não se pode cometer erros. É que do jeito que a menina chegou aqui, fiquei preocupado pensando que ela podia estar sendo vítima de maus tratos em casa. Procurei conversar com ela e com seu marido, mas quando vi que dona Marisa estava com eles, a preocupação acabou, mas já tinha entregue a receita ao seu marido. Quando uma criança chega com diversas fraturas, temos que saber se é vítima de espancamento e denunciar.
- Eu entendo doutor. Passamos um sufoco, mas ela está muito bem agora. Já passou.
- Mas eu queria compensar vocês de alguma forma. O que posso fazer pela senhora?
- Não precisamos de nada. E tenho certeza que o senhor não vai cometer erro outra vez. Tira esses ferros do braço dela que está tudo certo.
- Tem certeza?
- Tenho. A dona Marisa está esperando lá fora.
- Vou encaminhar a menina para o ortopedista. É ele que vai tirar.
Fez o papel e entregou a Jandira. Antes delas saírem ainda pediu:
- Perdão. Não estava acreditando até ver a receita.
- Esquece isso. A menina está bem. E o senhor estava nervoso no dia.
Saiu e falou para Marisa:
- Se desculpou tanto, que eu fiquei com pena dele.
- Ele ficou m*l mesmo. Eu falei com ele em particular, mas ele foi na direção do hospital e confessou o erro. Quis até largar a medicina.
- Como a senhora sabe?
- Enquanto vocês estavam lá dentro, o diretor me chamou e contou. Queria saber se vocês não iam processar o hospital.
- Processar porquê? Ela está bem agora. Tenho que ir lá na ortopedia para tirarem esses ferros dela.
- Vou esperar aqui. Se precisar de mim, me chama.
Jandira entrou na outra ala do hospital e logo Jurema estava livre dos ferros.
Foram ao encontro de Marisa e retornaram para casa.
O atendimento tinha sido rápido e ainda era cedo para o almoço.
Jurema foi brincar com os irmãos.
Jonas e Janaína tinham visto o carro de Marisa entrando na garagem e correram em casa para saber se Jurema estava sem os ferros.
Janaína ainda falou:
- Nada de subir na minha cama de novo.
- Eu não vou subir. Fiquei com medo de dormir até na parte de baixo.
- Porque? Não tem perigo em baixo.
- Sei lá.
- Pode dormir tranquila.