Capítulo XVI

1913 Words
No domingo, as crianças pediram para ir pro mercado, prometendo que estariam de volta na hora do churrasco. O pai, preferia que ficassem em casa, mas sabendo que gostavam de trabalhar, deixou eles irem. Ficou na cozinha, ajudando Jandira a preparar as coisas. Logo depois das oito, Marisa chegou com os refrigerantes que tinha prometido e ajudou Jandira a colocar tudo na geladeira. Perguntou se eram suficientes. - Tem até demais. Convidamos uns vizinhos que também vão trazer. A filha deles que já é uma mocinha, fica com as crianças quando eu preciso sair e não me cobra nada. - Amizades assim, a gente tem que conservar. Qual é a idade dela? - Tem uns quinze ou dezesseis anos. E não tem irmãos. É filha única. - Eu também sou. É muito chato. Sempre quis ter irmãos. - Se não se importar, gostaria de lhe perguntar uma coisa? - Temos i********e pra isso. Pode perguntar. - Porque a senhora que gosta tanto de crianças não tem filhos? - Porque tive câncer e tirei o útero. Sou estéril. - Desculpa, não queria lhe deixar triste. - Já sofri muito com isso. Agora já me conformei. João que estava com lágrimas nos olhos, falou: - Vamos deixar as tristezas para outro dia. Hoje estamos comemorando. Marisa: - É isso mesmo. Precisam de mais alguma coisa? - Não, temos tudo. Vou fazer arroz, maionese e molho a campanha. João disse: - Dona Marisa, a Jurema tem revisão na sexta-feira e eu vou estar trabalhando. A senhora tem como ir com a Jandira levar ela? Ela vai tirar os ferros. - Vou ver a escala amanhã. Se tiver de serviço, coloco alguém no meu lugar. Levo elas sim. Jandira falou: - Nós não queremos atrapalhar a senhora, se não puder eu vou de condução. - Eu faço questão de ir. Agora eu vou em casa. As onze eu volto. E vou trazer a sobremesa. Fiz um musse de maracujá que é uma delícia. Mas como vem mais gente, vou fazer outro. Vou trazer e você coloca na geladeira que tem que pegar consistência. - Tá bom. Eu espero vocês as onze. Assim que ela saiu, o casal voltou aos preparativos pro churrasco. A carne já estava limpa e temperada e aos poucos, as outras coisas foram ficando prontas também. Antes das onze, todos estavam limpos e arrumados esperando os convidados. João já tinha acendido a churrasqueira para quando chegassem, já encontrassem alguma coisa pronta. Marisa chegou e colocaram os copinhos com o musse na geladeira. Uns estavam durinhos. Mas tinha outros que ainda não tinham endurecido. Mas daria tempo até a hora de servir. Jonas e Janaína chegaram do mercado e ganharam uma reprimenda do pai: - Estão atrasados. Eram pra estar já de banho tomado. Janaína respondeu: - Desculpa, papai. Perdemos a noção da hora. João comentou com Marisa: - Eu disse que eles não precisavam mais ir, mas eles disseram que se divertem trabalhando. - Deixa eles. Estão seguros lá. Todo mundo gosta muito deles. Ricardo entrou e cumprimentou todo mundo, logo depois chegou Paulo com a família. Jandira apresentou todos e logo estavam se tratando com uma i********e que parecia que se conheciam a muito tempo. Foi um domingo muito gostoso. Paulo tinha levado muitos refrigerantes, que colocou no tanque com gelo. Trouxe gelado. O gelo era pra conservar. Quando escureceu, ainda tinha muita comida e quando Marisa se despediu, Jandira perguntou: - Não quer levar um pouco para comer mais tarde? Ricardo que respondeu: - Queremos sim. Logo mais a fome volta. Jandira entrou e pegou uns potes. Arrumou tudo e colocou numa sacola. Antes de sair, Ricardo disse pra João: - O Renato elogiou muito o seu serviço. Disse que o senhor é o melhor pedreiro que já esteve com ele desde que está na construtora. - Obrigado, seu Ricardo, mas deixa o senhor pra lá. Me chama de você. - Só se o senhor me chamar também. - Tá bom. Obrigado Ricardo. Eu estou adorando o serviço. - Vai se aposentar lá. - É a primeira vez que tenho carteira assinada. - Quantos anos tem? - Trinta. - Pensei que tinha mais. Então está na idade certa. Quando fizer trinta e cinco anos de trabalho, vai estar com sessenta e cinco que é a idade mínima para o homem. Vai se aposentar lá. - Que Deus lhe ouça! O casal se despediu e foi embora. Paulo comentou: - São pessoas simples, não são metidos a b***a. João respondeu: - São muito bons, nos ajudaram muito. - Eu sei. Só conhecia de vista. Mas já sabia que na obra daqui, dona Jandira ficou na casa deles com as crianças. Ela contou para a Renata, que me contou. Eu ia chamar as crianças para ficar lá em casa por causa da poeira e a Renata falou que estavam na casa deles. - É um casal muito bom. Foi ele que me arrumou o emprego. - É difícil alguém indicar uma pessoa para trabalhar. Você fica responsável pela pessoa, e se ela cometer um erro, a culpa é tua. - Eu sei, mas conheço bem o trabalho e faço com atenção e cuidado. Obra é muito perigosa. Um tijolo m*l colocado, o prédio vem abaixo. - É verdade. Mas ouvi os elogios dele e sei que você trabalha direito. Agora tá na minha hora e você também precisa descansar. Amanhã você pega cedo. - Falando nisso, sexta-feira a Jurema vai tirar os ferros e a Jandira que vai ter que levar, eu não posso ir. A Renata pode ficar com os pequenos? Renata tinha escutado e respondeu: - Posso sim. Eu fico com eles. - Obrigado. Estou trabalhando há poucos dias e não pega bem faltar. - Não precisa. Eles não dão trabalho nenhum. São muito bonzinhos. Foram para casa e João ajudou a mulher a guardar as coisas. Tinha sobrado muita comida e refrigerantes. Depois de tudo arrumado, tomaram outro banho e se recolheram. João estava orgulhoso do comportamento dos filhos, brincaram o tempo todo, sem atrapalhar a conversa dos adultos. Como estava muito calor, havia armado e enchido a piscina. Se divertiram muito, mas tiveram educação para comer e depois, esperaram consentimento para voltar pra água. A semana começou e João gostava cada vez mais do trabalho. Na quinta-feira, Renato perguntou: - Você vem trabalhar amanhã? - Claro, porquê? - A sua menina não vai tirar os ferros do braço? - Como o senhor sabe? - Eu sou amigo do Ricardo e da Marisa e o Ricardo comentou comigo. - Eu venho trabalhar. Dona Marisa vai levar a mulher e a Jurema, para o hospital e ajudar no que for preciso. - E os outros? - Uma vizinha vai ficar com eles. Já está tudo combinado. - Tá bom, então. Se precisar faltar algum dia, é só avisar no dia anterior. Todo mundo pode ter problemas. - Obrigado, mas a mulher leva. - Você tem que trazer as certidões deles para o salário família. - O que é isso? - É um dinheiro que o governo paga, para filhos menores de quatorze anos. É pouco, mas como você tem cinco, vai fazer diferença. - Cada um recebe esse dinheiro? - Sim, mas é pouquinho. Parece que é quarenta e poucos reais. Mas pra você que tem cinco, são mais de duzentos reais. Esse mês, você não vai receber porque não tem o mês completo, mas mês que vem, já recebe. - É a certidão que tenho que trazer? - É. Vamos tirar uma cópia e devolver pra você na mesma hora. - Amanhã eu trago. - Pode ser na segunda. Sua esposa pode precisar levar o documento para o hospital. - Da outra vez, eu não levei. - Você vê se ela vai precisar, se não for usar, trás amanha. João foi embora e quando chegou em casa, perguntou para Jandira: - Você vai precisar da certidão da Jurema para ir no hospital amanhã? - Acho melhor levar, porque? - Segunda-feira tenho que levar as certidões no trabalho, tem um tal de salario-familia. Cada um tem direito a quarenta e poucos reais, como são cinco, dá mais de duzentos reais. - Por mês? - É. - Vou separar e você leva na segunda. É a original? - Eles tem máquina de copiar. Vão tirar uma cópia e me devolver. O seu Renato pediu pra eu te pedir pra você me ensinar a assinar meu nome. - Vou escrever num papel pra você copiar. - Vamos fazer isso no sábado que eu não trabalho. - Tá muito cansado? - Não, mas é melhor fazer cedo. Com a luz do dia. Já está escurecendo. - Tá! Deixa pra sábado. No dia seguinte, Marisa pegou Jurema e Jandira e levou no hospital, o pediatra logo de princípio, pediu para ver a receita e constatou que realmente, havia cometido um erro muito grave. Falou para Jandira: - Até agora eu não estava acreditando que esqueci de passar o sulfato ferroso nesta receita. - Ela está bem, agora. - Mas poderia ter morrido por negligência minha. - Todo mundo erra. - Na minha profissão não se pode cometer erros. É que do jeito que a menina chegou aqui, fiquei preocupado pensando que ela podia estar sendo vítima de maus tratos em casa. Procurei conversar com ela e com seu marido, mas quando vi que dona Marisa estava com eles, a preocupação acabou, mas já tinha entregue a receita ao seu marido. Quando uma criança chega com diversas fraturas, temos que saber se é vítima de espancamento e denunciar. - Eu entendo doutor. Passamos um sufoco, mas ela está muito bem agora. Já passou. - Mas eu queria compensar vocês de alguma forma. O que posso fazer pela senhora? - Não precisamos de nada. E tenho certeza que o senhor não vai cometer erro outra vez. Tira esses ferros do braço dela que está tudo certo. - Tem certeza? - Tenho. A dona Marisa está esperando lá fora. - Vou encaminhar a menina para o ortopedista. É ele que vai tirar. Fez o papel e entregou a Jandira. Antes delas saírem ainda pediu: - Perdão. Não estava acreditando até ver a receita. - Esquece isso. A menina está bem. E o senhor estava nervoso no dia. Saiu e falou para Marisa: - Se desculpou tanto, que eu fiquei com pena dele. - Ele ficou m*l mesmo. Eu falei com ele em particular, mas ele foi na direção do hospital e confessou o erro. Quis até largar a medicina. - Como a senhora sabe? - Enquanto vocês estavam lá dentro, o diretor me chamou e contou. Queria saber se vocês não iam processar o hospital. - Processar porquê? Ela está bem agora. Tenho que ir lá na ortopedia para tirarem esses ferros dela. - Vou esperar aqui. Se precisar de mim, me chama. Jandira entrou na outra ala do hospital e logo Jurema estava livre dos ferros. Foram ao encontro de Marisa e retornaram para casa. O atendimento tinha sido rápido e ainda era cedo para o almoço. Jurema foi brincar com os irmãos. Jonas e Janaína tinham visto o carro de Marisa entrando na garagem e correram em casa para saber se Jurema estava sem os ferros. Janaína ainda falou: - Nada de subir na minha cama de novo. - Eu não vou subir. Fiquei com medo de dormir até na parte de baixo. - Porque? Não tem perigo em baixo. - Sei lá. - Pode dormir tranquila.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD