Capítulo XX

1720 Words
O tempo passou e João já estava a há mais de dois anos na construtora. Tinha tido as primeiras férias de sua vida e trabalhava com bastante satisfação. Seu Renato chamou ele no escritório e avisou: - A sua restituição já está na sua conta. O contador avisou. - Ele disse quanto? - Não. Você tem que tirar o saldo. - Sábado eu vejo. O banco não é mão pra casa e o cartão fica lá com a mulher. - Eu tinha que te avisar. - Obrigado. Era só isso? - Só. Pode ir e avisa só motorista que está liberado para sair. João desceu e entrou no ônibus e avisou: - Seu Renato falou que pode ir. - O mestre ainda não chegou. - Aí eu não sei. O recado dele foi esse. - Vou perguntar pra ele o que faço. A obra sem mestre vai ficar uma bagunça. O motorista foi falar com seu Renato que respondeu: - Chama o João aqui e espera por ele. - Sim senhor. Desceu e falou com João: - Ele mandou você ir lá de novo. João voltou ao escritório e seu Renato disse: - Você é o único profissional que entende de tudo na obra, vai ser o mestre hoje. - Tem gente mais antiga que eu. - Mas não entendem de tudo. Você vai ser o mestre. Pega um macacão de mestre no almoxarifado e troca. Assim ninguém vai ter dúvida de quem dá as ordens lá hoje. - O que será que aconteceu com o mestre? - Não sei. Não me avisou que ia faltar e nem ligou para falar de imprevisto nenhum. Pode ir Agora. João foi no almoxarifado e pegou um macacão de mestre porque as cores eram diferentes, e entrou no ônibus. Avisou para o motorista: - Pode seguir. O motorista deu a partida e a obra começou muito atrasada naquele dia. Todos obedeceram João como se ele sempre tivesse comandado a obra. Quando via alguém fazer o serviço fora de seus padrões de perfeição, fazia junto com o pedreiro ou ajudante, de maneira correta, ensinando com educação. Não usava de truculência com os rapazes e o dia de trabalho passou tranquilo. Quando retornou a construtora, a secretária avisou: - O patrão quer falar com você. - De novo? - E a notícia é boa. - O que é? - Ele vai te dizer. João subiu e bateu na porta. Quando entrou, seu Renato foi direto: - O mestre aposentou e não quer trabalhar mais. Você é o novo mestre de obras e a partir de hoje comanda todas as obras da empresa. - Mas sem avisar? - Pois é. Aposentou na surdina. Eu ainda pedi que ficasse uns dias com você te ensinando o serviço, mas ele disse que você está preparado e sabe mais do que ele. Como correu o dia hoje? - Foi tudo bem. O pessoal seguiu as minhas ordens normalmente. - Ninguém te desobedeceu em nada? - Não. - Então trás a carteira amanhã para anotar a promoção e vai receber um crachá novo também e lógico que vai ter aumento de salário. - Vou ganhar quanto? - O dobro. O mestre ganha o dobro do pedreiro. Toda a responsabilidade da obra agora é sua, mas eu sei que você é perfeccionista e não vamos ter problemas. - Espero estar a altura. - Apenas uma pergunta: Já aprendeu a ler? - Já sim senhor. - Ótimo. Era só o que estava faltando. - E faço contas também. - Maravilha. Você vai precisar desses conhecimentos. Pode ir agora e trás a carteira amanhã. Até amanhã. - Até amanhã. Chegou em casa e encontrou Dona Marisa e Ricardo conversando com Jandira: Ricardo falou: - Viemos te dar os parabéns pela promoção. O mais novo mestre de obras do Rio de Janeiro. Abraçou João que perguntou: - Como é que você sabe? - O Renato me ligou e que salto no salário! Marisa se aproximou e disse: - Parabéns Seu João. Nunca me orgulhei tanto de ter indicado uma pessoa para trabalhar. O senhor mereceu. Também abraçou João. Jandira estava paralisada sem dizer nada. Marisa perguntou: - Não vai abraçar o teu marido? - Eu entendi bem? Ele foi promovido e ainda vai ter outro aumento? - Entendeu, é isso mesmo. - Não posso acreditar, nós não precisamos de mais dinheiro. - Que isso? Dá mais conforto as crianças, se vistam melhor, passeiem mais. João que até agora estava calado, finalmente falou: - Dona Marisa está certa. Eu fui promovido por capacidade. Hoje andando pela obra toda, vi muito profissional fazendo o serviço errado e tive que mandar consertar, eles ganham bem, mas não são caprichosos com o trabalho. Eu fui promovido porque sempre caprichei no que faço. O seu Renato falou que eu sou perfeccionista. Eu conquistei essa promoção fazendo um bom trabalho. E tem mais, a restituição do imposto de renda está na conta. Temos muito dinheiro lá e tudo fruto de trabalho. - Você está certo. Quem conquistou tudo isso foi você. - Todos os dias, agradeço a Deus de ter colocado vocês no nosso caminho. Sem a ajuda de vocês, nada disso teria acontecido. E para Jandira: - Agora posso fazer o banheiro? Marisa perguntou: - Que banheiro? Jandira respondeu: - Ele cismou que precisa ter dois banheiros aqui. Acha que um banheiro só pra sete pessoas é pouco. Só porque viemos da praia e teve fila pro banho. Ricardo opinou: - Eu acho que ele tem razão e ainda botava um Chuveirão no quintal. Assim pelo menos o sal poderia tirar do corpo até chegar a vez do banho e seria mais rápido. E João, pega o cartão lá e vamos no banco olhar o saldo. - Eu não quero incomodar. Sábado eu vejo isso. - Vamos lá. Eu estou de carro. Rapidinho a gente vai e volta. João pediu para Jandira: - Pega o cartão lá. - Qual, o da tua conta ou da nossa poupança? - O da conta. Jandira entrou e logo entregava o cartão ao João. esse entrou no carro de Ricardo e foram ao banco. Enquanto eles estavam fora, as mulheres continuaram a conversar. - Vocês agora não terão mais problemas. O seu João vai ganhar o dobro do que ganhava e se vocês quiserem podem até mudar daqui. - Eu gosto muito da minha casa. Está muito confortável. - Eu sei, mas você pode ir pra um lugar melhor. - Eu vou continuar aqui mesmo. A gente gosta da casa. Depois da reforma que a senhora e seus amigos fizeram ficou muito boa. O João é que vive falando nesse banheiro. - Ele está certo. Tem muita gente aqui e um banheiro só é pouco. Ele quer mais conforto e dar mais conforto a vocês e a idéia do Ricardo também é muito boa. Tirar o sal do corpo antes de ir para o banheiro. O banho se torna mais rápido. - Mas vai fazer buraco no quintal de novo, poeira. - Só um banheiro é coisa rápida. Em menos de uma semana está pronto. Ou talvez não por causa da lage que tem que secar, mais é rápido. Os homens estavam voltando. Jandira perguntou: - E então, o dinheiro estava na conta? - Está sim. Com o depósito inicial, alguns que fiz depois e a restituição tem quase dezoito mil. - Tudo isso? - Só de p*******o de imposto foi mais de dez mil. Os depósitos com a restituição corrigida. Ricardo falou: - Era melhor passar pra poupança. - Não. Eu vou usar uma parte para fazer o banheiro. Jandira falou: - Esse banheiro parece idéia fixa. Ricardo opinou: - Eu também acho necessário. É muita gente. Já pensou se vocês comem alguma coisa que não faça bem? - Aqui tudo é feito em casa. - Eu sei, mas quando você compra os ingredientes, não pode ter certeza de por quanto tempo estão ali na prateleira. Eu sei que tem prazo de validade, mas um queijo ou presunto fatiado? Como saber que já não estava vencido? A mesma coisa é a carne e o frango. - Tá João faz o banheiro. Mudaram de assunto e logo o casal estava indo embora. As crianças chegaram e ficaram sabendo das novidades. Se alegraram muito pelo pai e resolveram não ir mais ao mercado fazer carretos. A brincadeira tinha perdido a graça desde que não tinham mais necessidade de ajudar em casa. Já a partir do dia seguinte não iriam. João ficou muito contente. Não proibia como era sua vontade, porque eles gostavam, mas agora a decisão tinha partido deles. Mas Jandira perguntou: - Alguém maltratou vocês? - Não, mas era legal pegar o nosso dinheiro e comprar uma carne, um frango ou qualquer outra coisa com o nosso dinheiro, agora que o papai está ganhando tão bem, nós não estamos nos divertindo mais. Perdeu a graça. - Eu acho isso muito bom. Não gostava mesmo de ver vocês trabalhando. - Mas quando a gente quiser um sorvete ou um doce o senhor vai comprar? - Claro que eu vou. Se eu não estiver em casa, falem com a sua mãe. Eu deixo o dinheiro com ela. A partir do dia seguinte, Janaína e Jonas ficavam brincado em casa até a hora de ir para a escola. Nos fins de semana, João sugeria um passeio ou ficava brincando com eles na piscina de casa. Estavam alegres e saudáveis. Era isso que importava. Agora teriam condições de recuperar a infância ao invés de se preocuparem com as despesas da casa. A brincadeira de trabalhar, tinha ajudado muito aquela família. Não só compraram coisas para dentro de casa, como tinham feito amizade com Marisa que ajudou tanto eles e continuavam com a amizade. Era uma amizade para a vida toda. Além de ajudarem com compras, deram dignidade a casa com a reforma e principalmente ajudaram João a conseguir emprego formal e ter subido tanto na empresa. João tinha confiança no trabalho que realizava e sabia que tinha subido por mérito, mas sabia também que o pedido dos amigos é que tinha dado a chance de ser testado pela empresa e estar tão feliz agora. Fechou os olhos e começou a rezar pela felicidade dos amigos e daquela família que depois de tanto sofrimento, podia voltar a sorrir.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD