No dia seguinte, o café da manhã foi a base de rabanada. As crianças brincaram com seus brinquedos novos, durante toda manhã. Apesar de terem ido deitar tarde, m*l clareou, todas as crianças já estavam acordadas.A alegria deles era contagiante e foi com boa vontade que os pais se juntaram aos pequenos e participaram das brincadeiras.
Na hora do almoço, Jandira esquentou o perú que tinha sobrado e colocou a comida na mesa.
Ainda tinha refrigerantes, e o almoço foi em clima de festa.
A salada de bacalhau, não havia sido mexida e dos bolinhos, ainda tinha mais da metade.
Depois do almoço, os pais arrumaram as sobras na geladeira e resolveram descansar mais um pouco. As crianças cansadas das brincadeiras da manhã, acabaram indo deitar também, mas em menos de duas horas, a algazarra recomeçava.
Brincaram bastante até a hora do banho e depois foram para cozinha jantar e como no dia seguinte, João iria para a obra e Jonas e Janaína para o mercado, Jandira deu o dia por encerrado, colocando todo mundo para dormir.
Não foi uma tarefa muito fácil. As crianças estavam empolgadas com os presentes e só depois que a mãe explicou que os brinquedos estariam ali no dia seguinte, foi que conseguiu.
No dia seguinte, logo cedo, João, Jonas e Janaína, saíram para trabalhar.
Os maiores não ficaram tristes de deixar as brincadeiras. Apesar de pequenos, tinham responsabilidade e sabiam que o que traziam para casa, ajudava os pais a comprar comida e pagar as contas. Foi com alegria que se colocaram na porta do supermercado.
Na parte da manhã, poucos fregueses foram fazer compras, mas conseguiram levantar algum dinheiro.
Foram em casa, almoçaram e deixaram o dinheiro que haviam ganho com a mãe. Depois voltaram para ver se faziam mais alguns carretos.
A parte da tarde foi mais movimentada. Muita gente fazendo compras para o ano novo. Alguns iam pegar a estrada e levavam quase tudo, porque nesses lugares de turismo, tudo é muito mais caro.
Assim a tarde rendeu uma boa quantia para eles e foi com satisfação que entregaram nas mãos da mãe.
Quando João chegou, também entregou dinheiro para a mulher. Os serviços por fora, não tinham parado. Ainda era solicitado para serviços pela vizinhança da obra.
A sorte ainda estava do lado deles. João estava pensando em procurar uma televisão de segunda mão para comprar para as crianças. O dinheiro que tinha junto, deveria dar. Não para uma tv moderna, mas daquelas mais antigas. O importante é que tivesse uma imagem bonita. Falaria com Jandira e pediria a sua opinião.
Foi atrás dela na cozinha e falou baixinho:
- O que você acha de comprarmos uma tv de segunda mão para as crianças?
- Acha que dá pra isso?
- Serviço não tem faltado, nem pra mim e nem para as crianças. Assim que comprar, voltamos a juntar. Já pensou na felicidade deles tendo uma televisão em casa? Não precisa ser dessas modernas, fininhas. Tem muito lugar que vende tv antiga em bom estado. Muita gente se desfez da televisão para seguir a moda, com a tv boa ainda.
- Aqui perto tem uma loja que vende. Amanhã mesmo eu dou uma olhada. Quanto posso gastar?
- Eu não tenho ideia, mas se der pra comprar com o dinheiro que eu tenho guardado, vai valer a pena. A partir de amanhã começo a juntar de novo.
Enfiou a mão no bolso e contou o dinheiro. Viu que tinha o suficiente e talvez ainda sobrasse algum. Entregou a mulher e pediu:
- Guarda segredo, porque se não der, eles não sabendo não vão ficar tristes.
- Pode deixar, mas acho que dá sim. Essas televisões antigas, são muito mais baratas.
- Faz o vendedor testar a imagem e o som dela.
- Claro. Não vou deixar me enganarem não. Talvez amanhã quando você chegar, ela já esteja aqui.
- Tomara. Nossos filhos merecem.
- E nós também.
João voltou para sala e ficou perguntando o que tinham feito durante o dia.
No dia seguinte, Jandira depois de dar almoço as crianças, pediu para uma vizinha que devia ter uns quinze anos, se podia ficar em sua casa, olhando os três menores que dormiam, porque precisava dar uma saída rápida para comprar uma encomenda do marido.
A mocinha disse que ficava sim. Foi em casa e apanhou um livro para ler e sentou.
Jandira falou que ia procurar voltar rápido e a moça respondeu:
- Pode ir sossegada, se eles acordarem, eu brinco com eles até a senhora voltar.
Jandira foi na loja que tinha um aparelho de televisão muito bom e grande a preço que cabia no dinheiro que João tinha deixado.
O homem explicou que tinha que vender barato, porque agora só queriam as fininhas da moda.
Jandira pagou e ficou pensando em como ia levar, porque era muito pesada.
O homem tinha carro e se ofereceu para levar para ela. Ela aceitou e colocaram a tv no carro.
Ele foi muito atencioso, e quando Jandira perguntou quanto era o carreto, ele respondeu que era por conta da casa.
Tinha entrado para botar o aparelho e não pode deixar de olhar a pobreza do local.
Viu as três crianças dormindo e falou:
- Eles vão se distrair bastante.
Jandira respondeu:
- E os outros dois também.
Ele voltou para sua loja, depois de fazer a ligação do aparelho. Tinha aconselhado a Jandira a levar logo uma antena com conversor e a tv funcionava muito bem.
A mocinha elogiou a compra e se dispôs a ir embora e quando Jandira perguntou quanto era, ela respondeu:
- Nada não. Nem acordaram e eu não estava fazendo nada.
Jandira agradeceu e ficou olhando a televisão que estava ligada.
Depois desligou o aparelho e foi cuidar da roupa que tinha deixado de molho.
Quando as crianças acordaram, correram até ela perguntando de quem era. Jandira respondeu cheia de orgulho:
- É nossa. Foi seu pai quem comprou.
Pediram que ligasse e Jandira entrou na sala e ligou o aparelho, depois voltou a cuidar da roupa. Da casa só saía o barulho da tv.
Quando Jonas e Janaína chegaram, se espantaram com a compra.
A mãe explicou:
- O pai de vocês, além da obra, tem feito outros serviços e está ganhando por fora. Estava juntando o dinheiro para dar esse presente a vocês.
Eles ficaram muito alegres e se juntaram aos irmãos para assistir a programação.
Nesse horário, só tinha programação de adultos, mas para eles o que contava era a novidade de ter uma tv em casa.
Na hora do banho, deram trabalho. Ninguém queria sair da frente do aparelho e Jandira teve que deixar desligada até que todos estivessem de banho tomado.
Quando João chegou, já estavam todos prontos, novamente em frente ao aparelho. Se emocionou ao ver a felicidade das crianças.
Jandira deu o troco a ele, que perguntou:
- Ainda sobrou isso tudo?
- O homem explicou que tem que vender barato, senão não sai. Agora só querem essas fininhas. Assim grande, não está vendendo mais.
- Pois eu estou muito satisfeito com ela do jeito que é.
- Eu e as crianças também. O importante é que agora nós temos uma nossa, que dá para ver e ouvir.
Sentaram um pouco com as crianças e depois João foi para o banheiro, tomar banho também. Na hora da janta, todos queriam comer vendo o aparelho, ao que João respondeu:
- Não. Vamos desligar e depois ligamos de novo. A hora da comida é sagrada.
Conformados, foram para a cozinha, aonde Jandira estava botando o prato de cada um.
Sentaram na tosca mesa e comeram com pressa.
O pai ralhou:
- Comam direito, ou não vou ligar mais nada hoje.
Passaram a comer devagar, e quando terminaram foram todos escovar os dentes. Só depois o aparelho foi ligado de novo.
Na hora de dormir, outro problema. Ninguém queria ir pra cama e novamente, João teve que usar sua autoridade.
Eram crianças pequenas e tinham que respeitar os horários, pelo bem da saúde deles.
Depois que todos foram deitar, os pais abaixaram o volume do aparelho e continuaram assistindo até sentirem sono. Só então foram se deitar.
No dia seguinte, chegaram na porta do mercado, e Marisa esperava por eles.
Perguntou como tinha sido o Natal e eles contaram a respeito da mesa farta e os presentes que todos haviam adorado e Janaína completou:
- E ontem, meu pai que estava economizando o dinheiro das limpezas de caixas que faz, comprou uma televisão lá pra casa. É enorme e muito bonita.
Marisa perguntou:
- Foi mesmo? Dessas fininhas que estão vendendo agora?
- Não. Essas são muito caras. Daquelas granfinas e largas.
- Mas se der defeito, não vai ter mais conserto. Não tem mais peças pra essas.
- Nós vamos ter todo o cuidado para não dar defeito. Vamos ter televisão por muito tempo.
- Tomara, que bom para vocês. Mudando de assunto, vou fazer umas comprinhas e vocês vão me ajudar a levar. Depois, você Janaína, vai ficar um pouco lá bem casa me ajudando a guardar tudo.
- Sim senhora. A senhora quer que a gente entre para ajudar a pegar as coisas.
- Não. Quando eu terminar, chamo vocês.
Marisa queria entender melhor esse negócio de mutirão em obras. Ricardo tinha conversado com um engenheiro amigo dele e ele fez um cálculo do material que deveria ser comprado.
Muitos amigos do casal, tinham ajudado na arrecadação do dinheiro e até a parte de eletricidade estava resolvida.
Um eletricista, iria dar sua contribuição dessa forma. Faria o serviço de graça. Como não dispunha de dinheiro, resolveu fazer o serviço, contribuindo da mesma forma.
O resto, ficaria por conta de João e seus amigos da comunidade.
Fez as compras e chamou as crianças. Quando chegaram na sua casa, Marisa entregou a Jonas, duas bolsas para levar para a mãe e o dinheiro do carreto e ficou com Janaína.
Arrumaram tudo no lugar e Marisa pediu:
- Quero que você me conte o que sabe a respeito do mutirão que seus vizinhos fazem, quando algum de vocês precisa.
- É assim: Todo mundo trabalha junto na construção da mesma casa até terminar. Quando acaba vão passando pra outra até tá tudo pronto.
- E as refeições de quem está trabalhando?
- Cada um vai comer na sua casa e depois volta pra trabalhar. Quando começou, era diferente. A comida era feita no terreno mesmo, pra todo mundo. Cada um dava o que podia.
- Entendi. Mas agora que está tudo pronto, se alguém quiser aumentar alguma coisa? Os outros vão ajudar?
- Vão. Muita gente aumentou a casa depois de já estar morando e todo mundo ajudou. Mas só fica todo mundo nos finais de semana. Muitos trabalham. Mas porque a senhora quer saber?
- Curiosidade apenas.
Marisa não queria estragar a surpresa, porque o material, só seria comprado no início do próximo ano. Faltava ainda alguns dias para o ano novo.
Depois dessa conversa, deu dinheiro a Janaína e deixou que ela fosse encontrar com o irmão.
Quando Ricardo chegou em casa, contou ao marido tudo que Janaína havia dito.
Ricardo ficou muito satisfeito em saber da compra da televisão. Quando Marisa falou que se desse defeito não teria peça de reposição e eles iam ficar sem o aparelho de novo, Ricardo falou:
- Essas tvs são mais duradouras do que as de agora. Se Deus quiser, vai durar muitos anos.
Janaína voltou para perto do irmão e ainda fizeram vários carretos aquele dia.
O mercado estava entregando compras em casa, mas só os produtos secos. Os perecíveis tinham que ser levados pelos fregueses, por isso não faltava trabalho para eles.