Capítulo XI

1997 Words
Chegaram em casa, e Jandira estava muito nervosa. Quando viu que a filha não estava com eles, começou a chorar, achando que tinha perdido a menina. Marisa se abraçou com ela, procurando lhe acalmar e explicou que ela tinha sido operada e estava sedada ainda. Jandira perguntou: - Em que hospital ela está? - Em um hospital particular e está sendo muito bem tratada, só que tomou anestesia geral e só vai sair depois de acordar e passar pelo pediatra. Talvez não venha pra casa hoje. - Eu quero ir lá. - E quem vai ficar com os outros? - Vou chamar a Renata. - Quem é Renata? - Uma mocinha que mora aqui ao lado. Ela fica com eles sem me cobrar nada. - Não é questão de pagar, se fosse o caso, eu pagaria. Mas não sabemos a que horas vamos voltar. E os meninos já estão assustados. Não é melhor você ficar com eles? Eu vou levar o Seu João de volta e venho embora. Se for dada a alta hoje, eu volto pra pegar eles. - É. Acho que eu tenho que ficar. Eles estão muito assustados mesmo. Mais ainda a menor que acordou com o barulho da irmã caindo. Mas e a despesa do hospital. Uma cirurgia particular é muito cara. Vocês deviam ter ido para o Souza Aguiar. - Íamos correr o risco de chegar lá e não ortopedista. Não se preocupa que está tudo p**o. - A senhora não pode ficar gastando desse jeito com a gente. - Posso sim. Não vai me fazer falta. Agora vamos voltar pra lá que ela pode acordar e é bom ter gente conhecida por perto. - Vocês me trazem notícia? João respondeu: - Eu só volto quando ela tiver alta. E voltou com Marisa para o hospital. Marisa quis saber o custo da internação, mas explicaram que já estava incluído com a cirurgia e não tendo mais nada a pagar deu o número de seu telefone, para quando a criança tivesse alta ser avisada para vir buscar. Voltou para perto de João e avisou: - Eu vou pra casa, porque saí de qualquer jeito quando a Janaína foi me chamar. Deixei o número do telefone lá de casa na recepção. Quando derem alta, eu vou ser avisada e venho buscar vocês. - Tá bom. Eu vou ficar aqui até ela sair. - O senhor trouxe dinheiro para comer alguma coisa? - Não. Também saí do jeito que estava. Só lembrei de pegar os documentos. - Esse hospital tem restaurante para os acompanhantes. Vou deixar um dinheiro com o senhor e o senhor almoça. Não vai querer ficar doente também. João não queria aceitar, mas Marisa insistiu e ele acabou pegando o dinheiro. Passadas algumas horas, outro médico veio falar com ele: - Seu João? - Sim. Sou eu. - Sou o pediatra e acabei de ver a Jurema. Ela está bem e pedindo pra ir pra casa. O senhor tem acomodações que permitam que ela fique em repouso por uns dias? - Tenho, sim. Minha casa acabou de ser reformada e ficou mais confortável. - Então vou dar alta a ela. Tem remédios que ela não pode deixar de tomar. Aqui está a receita. Quer vê-la agora? - Por favor. Quando podemos ir embora? - Agora mesmo. Vou assinar a alta. Aqui ela ficaria melhor, com gente para dar os remédios na hora certa. - Eu e minha mulher faremos isso. Acho que em casa vai ser melhor, porque tem a mãe, os irmãos e eu para tomar conta. Ela vai tomar os remédios na hora certa. - O senhor não acha que ela é muito pequena para dormir em beliche? - Quem dorme em cima é a irmã que é mais velha. Ela teimou e depois que a irmã levantou, passou para cima e aconteceu o tombo. Foi por teimosia que se machucou. - Não foi isso que ela contou. Só disse que caiu do beliche. - O doutor pode perguntar de novo. Quem dorme em cima é a Janaína, a irmã. O beliche chegou ontem e ela estava teimando que queria dormir em cima e eu disse que era perigoso e que a Janaína que e três anos mais velha é que ia ficar em cima. Quando a irmã acordou e saiu do quarto, ela tentou subir e caiu. - Acredito no senhor. Ela contou apenas a parte que não iria lhe garantir um sermão. Mas estou vendo que não houve negligência de sua parte. É que acidentes assim em que há negligência dos pais, nós temos que comunicar as autoridades. Sabe como é: O estatuto da criança. - Não foi o caso. Foi teima mesmo. - Vamos lá. Vou assinar a alta e o senhor pode levar ela. - Um minutinho só. João foi na recepção e solicitou: - Por favor, pode ligar para dona Marisa e avisar que estamos saindo? - Com certeza. Vou ligar enquanto o senhor arruma a menina. João foi para a enfermaria aonde estava a criança e trocou a roupa do hospital por sua roupinha de dormir. Depois de feito isso, perguntou para a menina: - Viu no que deu sua teimosia? Era pra você subir na cama da Janaína? - Não vou teimar mais não. É perigoso mesmo. É que eu queria ficar mais grande. - Maior. O médico entregou a alta nas mãos do pai e disse para Jurema. - Agora, por causa da sua teimosia, vai perder uns dias de brincadeiras e tomar um monte de remédios. E para João: - Eu sabia que o senhor estava falando a verdade. Não precisava provar isso. - Fiz questão que o senhor não tivesse dúvida. Afinal, o senhor não vai denunciar e precisava ter certeza de estar agindo certo. - Podem ir agora. - Vou só aguardar uma senhora amiga da família que vem buscar a gente. Na hora, só peguei os documentos e saí. - Se quiser o dinheiro do táxi, eu lhe empresto. - Não. Já estava combinado assim. Já devem ter ligado pra ela e ela já deve estar a caminho. O médico acompanhou João com a filha até a recepção, aonde Marisa já aguardava. Vendo que era ela que estava ajudando aquele pai, naquela hora, não teve mais dúvidas. Não tinha o que denunciar. Conhecia Marisa e sabia em que ela trabalhava. Ficou com a consciência tranquila. Apenas avisou novamente: - Os remédios tem que ser dados na hora certa. É importante. Marisa perguntou: - Cadê a receita. - Está aqui comigo. - No caminho, já passamos na farmácia e compramos tudo. - Eu prefiro passar em casa primeiro para pegar o meu dinheiro. A senhora já gastou muito com a gente. - Acho que já discutimos isso. Vamos logo que a Jandira deve estar aflita. Entraram no carro. João foi atrás com a filha, paparicando a menina. Apesar de ter ameaçado bater na criança, amava muito todos os filhos. Queria poder proteger todos o tempo todo. Marisa parou o carro perto de uma farmácia e avisou: - Vocês nem precisam descer. Vou comprar os remédios e já volto. Quando voltou, comentou: - Já queriam me empurrar um monte de vitaminas. Disseram que é muito importante. João perguntou: - E não é? - Se fosse, o pediatra teria prescrito. É que a farmácia ganha comissão para vender certos remédios. Uma alimentação balanceada é tudo que ela precisa. Carnes, feijão, arroz, legumes, verduras e frutas. Esse é o segredo da boa saúde. - Isso tem lá em casa. - Tem certeza? - Se faltar alguma coisa, eu compro. Tenho dinheiro guardado. Até hoje, não mexi naquele dinheiro que a senhora deixou com a Janaína. - Ótimo. Fico descansada assim. O Ricardo vai tirar uns dias do trabalho e quer dar um pulo no nosso sítio. Quer ver os animais. - É muito animal? - Tem bastante. Na verdade não é um sítio. É uma fazenda. Se a Jurema não estivesse doente, eu ia chamar vocês para conhecer. Temos gado e cavalos lá. - Uma outra hora, quem sabe. - É, vamos deixar para outra hora. Depois que ela tirar esses ferros. - Quanto tempo ela vai ficar com isso? - Tem consulta marcada para daqui há um mês. Devem tirar nessa consulta. Mas ela passou por cirurgia e perdeu sangue. Tem que fortalecer de novo. Não vai faltar oportunidade de passearmos. Já estavam chegando em casa e ao ouvir o barulho do carro, Jandira correu ao encontro deles. Se espantou com os ferros que saíam do bracinho da filha. Achou que a menina estava um pouco pálida e tratou de cuidar da criança. Colocou a menina na cama e foi cuidar de preparar alguma coisa pra ela comer. Resolveu fazer uma boa sopa de legumes. Tirou um pedaço de carne de segunda que os meninos haviam comprado e estavam congelados até agora, mas vendo que ia demorar muito a descongelar, resolveu: - João, vai no mercado e compra carne pra fazer uma sopa que a carne de casa está congelada. - É só a carne? - Não. Preciso de mais alguns legumes também e macarrão de sopa. - Faz uma lista. Jandira fez a lista e João saiu para providenciar. Só então Jandira se deu conta que não tinha dado atenção a Marisa. Pediu desculpas pela grosseria: - Dona Marisa, a senhora me desculpa. Nem falei com a senhora. É que me preocupei com a Jurema. - Não tenho o que desculpar. Quem precisa de atenção é ela. Foi até bom ver que vocês se preocupam muito com os meninos. Entregou o pacote de remédios e avisou: - O horário dos remédios é muito importante. Não deixe passar do horário. Se despediu e foi para casa. João comprou as coisas da lista e chamou os filhos que não estavam ali quando entrou: - A irmã de vocês já está em casa. Veio com ferro no braço. - Vocês estão precisando da gente lá? - Precisando, não. Mas achei que vocês iam querer ver ela. - Hoje está dando mais movimento e quando der a hora a gente vai. Se o senhor estivesse precisando, a gente ia agora, mas como não está vamos ficar até a nossa hora. - Tá bom. Afinal, de manhã ela estava em casa. E foi levar as compras que Jandira encomendou. Depois de entregar, começou a descascar os legumes para ajudar a mulher. Tinha esquecido de devolver o dinheiro que Marisa tinha deixado com ele para almoçar. Mas se fosse devolver, ainda ia ouvir sermão por não ter feito a refeição. Assim, deixou pra lá. Resolveu voltar ao mercado e comprar frutas para as crianças. Já tinha deixado todos os legumes descascados e avisou: - Vou no mercado de novo, comprar umas frutas pras crianças. Quer mais alguma coisa? - Se não for abuso, trás pão. Com sopa, um pão cai bem. - Que abuso nada. Pode deixar que eu trago. Pegou mais dinheiro e saiu. Comprou muitas frutas e passou na padaria, que tinha um pão mais gostoso que o do mercado. Encontrou com Paulo lá e falou o que tinha acontecido pela manhã. - Como ela está agora? - Está com ferros. - Isso é natural quando tem muitas fraturas, mas ela é pequena ainda e vai se recuperar. Vou falar com a Renata e ela vai lá dá uma ajuda pra dona Jandira. Deixa eu lhe ajudar a levar as bolsas que parecem pesadas. - Estão mesmo. Acho que exagerei. - Muita criança em casa. Fruta é muito bom pra crianças. - Ela está muito pálida. Tem que comer direito. - Fez uma cirurgia e perdeu sangue. Logo se recupera. - Assim espero. Deixei a Jandira fazendo uma sopa de legumes. - Também e ótimo. Vocês colocam verduras na sopa? - Só repolho. - Experimenta colocar espinafre. Dá um sabor maravilhoso e é forte. - Agora fica pra próxima. Já deve estar quase pronta. Estavam chegando em casa. João agradeceu a ajuda e entrou.
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