Capítulo 05: A Forca

2740 Words
Palos de la Frontera, Terra 1492 Jared agarrou o pulso que tinha adaga com toda sua força, parando a poucos centímetros de seu pescoço; com a outra mão, ele agarrou a mulher pelo cabelo da parte de trás de sua cabeça e a jogou para longe de si. Ela bateu com força contra seu armário. A mulher soltou um grito de dor, mas levantou-se rapidamente e veio outra vez contra o homem, que pegou o travesseiro mais próximo para seu defender. A faca perfurou-o e ele jogou-se para o lado enquanto penas eram lançadas para cima. – A não, a almofada que trouxe da Inglaterra! – Ele disse, triste pelo ocorrido. – Tens sorte que Isabel pensa que estou morto, ou ela m***r-nos-ia aos dois. Essa era a almofada favorita dela. Irada, a mulher avançou contra ele. Jared, um veterano de guerra, reconhecia estilos de lutas de espadachins, lanceiros e assassinos com facas – não que ele mesmo soubesse lutar com qualquer uma dessas coisas; de fato, fora esse mesmo motivo, além de outros dois, que o fez desertar. Agarrou outra vez o pulso e a jogou contra a janela. O vidro despedaçou-se; ele se afastou outra vez e conseguiu vestir suas calças enquanto ela se recuperava. Notou que sangue escorria pelas costas dela. Tinha se cortado com o vidro da janela partida. Jared tentou convencê-la a parar, mas ela o ignorou e voltou a atacar, dessa vez mancando, e mantendo certa agilidade. Jared a imobilizou, mas ela continuou lutando e lutando, até que ela soltou um grito tão alto que era impossível que as pessoas lá em baixo não tivessem ouvido. Levou alguns minutos, mas ela apagou. Contudo, a porta escancarou-se e dois homens estavam ali – um deles era aquele que tinha perdido a mulher na partida, que provavelmente trabalhava para Juan Antonio. Ao verem a mulher sangrando e apagada, deduziram que Jared a tinha matado. Ele sabia bem o que aconteceria se fosse pego por eles, e por isso, ele correu e saltou pela janela. Jared bateu com força no telhado mais baixo que havia do outro lado da janela. Ele escorregou, mas conseguiu segurar na beirada dele; estava, então, a menos de um metro do chão. Saltou e, pela segunda vez em um tempo extremamente curto, ele correu como um fugitivo. Ele precisava pegar suas coisas que estavam em seu quarto, na sobre loja do Ouriço Azul, ao mesmo tempo, não podia voltar até lá. Passou por uma casa, onde encontrou algumas roupas penduradas no quintal, entretanto, não eram roupas comuns, mas sim extravagantes, que as pessoas que tem dinheiro ou pertencem à nobreza costumam usar. Roubou-as e as vestiu, tentando evitar parecer realmente um nobre, pois isso renderia um assalto. Com o rosto coberto, ele entrou no Ouriço Azul e foi até o balcão. Felizmente, os clientes estavam bêbados demais para notá-lo. Ouriço estava servindo algumas pessoas, provavelmente ainda não sabia do que tinha acontecido em um de seus quartos no andar superior. – Que roupas são essas, Jared? – Ele zombou. – É uma história complexa. – O outro respondeu, narrando os acontecimentos de minutos antes. – Tu precisas esconder-te. – O Ouriço disse. – Se Juan está envolvido nisto, ele vai conseguir colocar-te em uma forca. – Jared levou uma das mãos ao pescoço e o acariciou, imaginando a corda em volta dele. – Eu tenho um primo que mora a alguns quarteirões daqui. Vai até lá e diz-lhe que eu mandei-te; ele irá acolher-te. – Devo contar o motivo de tal acolhimento? – Não, mas ele vai imaginar que tem algo a ver com a mulher, o que não deixa de ser verdade. – O Ouriço estava muito zombeteiro para uma situação séria como aquela. – A tua reputação te persegue. – Ele explicou como chegar a casa e como ela era. Jared deixou o bar, assim que ele cruzou pela porta, os dois homens que o tinham encontrado no quarto lá em cima surgiram no salão. Ele não correu, evitando chamar atenção. Ao encontrar a casa, quando o sol estava começando a nascer, ele bateu na porta. Uma mulher gorda, com os cabelos sujos e amarrados em um r**o de cavalo atendeu – felizmente, ele não sentiria atração por essa, caso contrário, iria causar mais problemas do que ajudar. – O Ouriço mandou-me. – Falou, sorrindo vergonhosamente. – Santiago! – A mulher gritou, virando-se para dentro da casa. Um homem de cabelos escuros e uma pança ainda maior do que a da mulher apareceu na porta, ao lado dela. Jared contou rapidamente uma história que envolvia uma esposa aleatória e que o Ouriço o tinha mandado para esconder-se ali. Santiago guiou-o pela casa. Durante o caminho, ele passou na frente de um quarto, onde viu uma garota de dezessete anos terminando de colocar seu vestido para começar o dia. Ela era magra, sem curvas, entretanto seus pequenos s***s e seu rosto perfeito eram exatamente o tipo que esquentaria sua cama durante uma noite de inverno. Seus cabelos eram longos, quase na cintura, e ondulados nas pontas; seu tom era castanho claro, como os olhos. Sua boca era farta, do tipo que ele se perdia ao beijar. Jared teria parado para admirá-la, mas seria desrespeito com Santiago, pois obviamente era sua filha. Ele indicou um sótão parecido com o que Analetta ficara no dia anterior. Havia um colchão de palha no chão e um travesseiro duro como pedra. Jared deitou ali, pensando em como aquilo era desconfortável. Na hora do almoço, a menina que tinha visto subiu até ele com um prato de batatas com carne forradas com um molho que ele desconhecia, mas que era extremamente saboroso. – Qual é o teu nome? – Ele perguntou, assim que ela entregou o prato. Todavia, a menina não respondeu. Ela simplesmente abriu um sorriso lindíssimo e desceu. Jared não conseguia acreditar que ela o tinha deixado sozinho sem uma resposta; normalmente, as mulheres caem de amores por ele apenas de vê-lo. Sentiu-se irritado por isso, mas não se contentou. Assim que ela voltasse, iria convencê-la a dizer seu nome. – Então, não vais falar comigo? – Voltou a perguntar, quando ela retornou para buscar o prato. – Vou, sim. – Uma resposta simples, porém enigmática. – Apenas se fizeres as perguntas corretas. – Outra vez ela sorriu e partiu, e Jared passou a tarde inteira, até o momento da refeição, pensando na garota. Queria saber seu nome, mas obviamente, ela não iria dizer. Ela estava fazendo algum tipo de jogo, será que para seduzi-lo ou irritá-lo? Ou nenhum dos dois? Jared nunca tinha ficado pensativo assim em relação a uma mulher, por mais bonita que fosse; nenhuma, jamais, deixara de dizer seu nome. Tudo bem que muitas delas estavam bêbadas em seus encontros com ele, mas isso não fazia diferença; elas sempre diziam o nome. Na janta, ele fez três perguntas, mas nenhuma ela respondeu. Até que, quando ela veio buscar o prato, ele finalmente fez a pergunta certa. – Tu que cozinhaste? – Sim. – Ela respondeu e, ao contrário do que ele esperava, ela permaneceu no sótão; tinha que fazer uma pergunta rápida. – Estava muito saboroso. O que mais sabes fazer? – Eu já fiz javali com temperos da Índia e cervo assado no sal e ervas adocicadas. – Jared então, soube que ela era muito interessada em cozinha e, pelo jeito, gostava de fazer pratos diferentes do que ele estava acostumado. – Sabes fazer algum fruto do mar? – Infelizmente, não. – Eu sei fazer camarões que são divinos. – No Ouriço Azul, era ele quem costumava fazer os petiscos, principalmente àqueles que envolviam pescas. – Se tu temperá-los com azeite português, sal e cebola roxa e depois fritá-los no próprio azeite aquecido, eles ficam maravilhosos – ela parecia estar fazendo notas mentais, como que para decorar a receita – como seus olhos. O sorriso da garota se desfez à cantada. Ela deu às costas para Jared e saiu, batendo a porta do sótão com força. Jared quis adiantar o serviço de Juan e enforcar-se ali mesmo. A garota não estava a fim de galanteios, era óbvio, e ele tinha que soltar aquela pérola. Naquela noite, ele não pregou os olhos, nem por um minuto se quer. No dia seguinte, a garota veio trazer comida para ele, mas não disse coisa alguma, nem mesmo quando ele perguntou sobre o prato que estava comendo. Felizmente, seu dia não foi completamente entediante, já que o Ouriço veio vê-lo; tinha algumas coisas para lhe contar. – Eu tinha razão. – Ele foi logo falando. – Juan Antonio está envolvido, e não vai parar até que tu estejas em uma forca. Ele também o está acusado de m***r a esposa dele, já que ela desapareceu totalmente. – Também? – Jared estranhou, extremamente preocupado. – O que queres dizer com “também”? – A mulher do bar, ela morreu. Sangrou até a morte, mas é claro que os homens de Juan Antonio estão dizendo que tu a enforcaste. – É claro. – Jared respondeu, levantando-se e andando de um lado para o outro. – Mas pelo menos, tu trouxeste as minhas roupas? Minhas coisas? – Não. – Ele respondeu, um pouco cabisbaixo. – Eles queimaram tudo. Tive sorte de não queimarem o quarto todo. E Juan pegou a tua espada. Jared sentiu ainda mais raiva. Gostava daquela espada, pois tinha sido um presente de seu capitão no exército – a única pessoa que ele admirava naquele lugar. Ela tinha o brasão da família do capitão no protetor da mão; era para espada ser passada para o filho dele, o qual ele nunca teve. – Mas tenho uma boa notícia. Daqui a dois dias, pela manhã, um barco partirá para Veneza, onde mora meu filho. – Filho? – Jared estranhou. – Não disseste que tinhas filho. – Eu não te disse muitas coisas. – O outro respondeu, fazendo mistério. – Mas isso não é importante. Ele irá te acolher e ajudar até te virares sozinho. – Obrigado. – Ele respondeu. – É realmente muita gentileza da tua parte. Vou ficar devendo-te uma ou duas. – Tu és meu amigo, Jared. Não ficarás a dever nada. O Ouriço partiu, deixando-o sozinho outra vez com seus pensamentos. Jared não gostava de m***r pessoas, e este fora outro motivo para fugir da Inglaterra – apesar de que, parando para pensar agora, havia muito mais motivos do que Isabel e a prisioneira. Naquela janta, a garota trouxe um prato com arroz, batata e camarões, que tinham sido preparados exatamente como ele tinha explicado, exceto que havia um gosto um pouco diferente do que estava acostumado. – Eu de molhei os camarões em vinho antes de temperar com azeite. Não sabia se ia dar certo ou não, mas ficaram muito bons, não? – Ela falou, ao ver que ele estava se deleitando nos petiscos. – Ficam muito melhores. Usou vinho tinto ou branco? – Branco. Por isso o gosto um tanto amargo. O tinto deixaria muito doce. – Tem razão. Eles conversaram por longos minutos, até mesmo depois de ele ter terminado a refeição. Trocaram algumas receitas e dicas, até que ela teve de descer. E como ela usou a palavra “devo”, ele sabia que ela não queria, mas era obrigada. Finalmente, seu charme estava funcionando. A noite foi agitada, não por que estava sem sono ou por saber da morte da moça que o atacara, mas sim por que, do lado de fora, havia uma gritaria de homens irados com tochas, lanças e espadas. Jared teve a sensação que estavam procurando por ele, afinal, Juan Antonio era um homem influente e poderoso, seria fácil virar a cidade contra ele. Santiago entrou ofegante no sótão, e Jared imaginou o que viria a seguir. Ele tinha que ir para outro lugar, esconder-se, pois se soubessem que ele o estava ajudando, o matariam e sua esposa e filha seriam estupradas antes de serem mandadas para uma casa de prostituição. Ele teve de concordar; felizmente, Santiago desceu para procurar alguma roupa que serviria nele, pois as que estavam usando chamariam a atenção. A garota apareceu no sótão em seguida, como se estivesse esperando que o pai descesse. Entretanto, ela ficou apenas o bastante para dizer: – Martina. – E despareceu escadaria abaixo. Jared saiu da casa usando as roupas entregues por Santiago. E apesar de toda aquela situação, ele estava feliz de saber o nome da garota. Ele escondeu-se aos arredores de uma igreja católica, pois as pessoas não teriam a audácia de procurar ali àquela hora da noite. O padre tinha o costume de dar comida para os moradores de rua uma vez por dia, e foi apenas isso que ele comeu no dia seguinte. Jared dormia no chão quando um chute em seu estômago o despertou; o sol ainda estava no alto, indicando que eram pouco mais de uma da tarde. Reconheceu o homem que tinha apostado a mulher. Jared tentou correr, mas outros dois o seguraram pelos braços e o arrastaram até a casa de Juan Antonio, resmungando que eles cairiam nas boas graças do capitão e, quem sabe, poderiam tornar-se membros de sua própria expedição. – Ora, ora. – Juan Antonio disse, quando Jared foi colocado diante de si. – Pelo cheiro, faz tempo que não te lavas, não? Bem, não importa muito agora, pois não perderei mais um segundo para matá-lo pelo que fez com minha maravilhosa esposa. Com um gesto de mão, os capangas levaram Jared até uma praça movimentada, onde um palanque com uma forca estava. Ele estava sempre ali, para lembrar as pessoas que não deveriam cometer crimes; até mesmo Jared já tinha visto algumas execuções. Foi levado para cima e a corda foi presa em firmemente em volta de seu pescoço. – Últimas palavras? – O executor, que era o homem do jogo de cartas, disse. Jared não tinha nenhuma. Ele apenas olhou para as pessoas reunidas na praça. Duas lhe chamaram a atenção: Martina, cujos olhos choravam como uma criança e um homem que vestia uma túnica comprida; seu rosto estava de fora, revelando ser cadavérico e, ele poderia estar vendo errado, mas ele não parecia ter olhos, apenas um preto vazio no lugar. O alçapão foi aberto e Jared caiu para morte. No entanto, dois segundos depois, ele foi ao chão, tossindo, assustado e com o pescoço dolorido, mas ainda assim, vivo. Olhou para cima, e viu que a corda havia se partido. Olhou para plateia diante de si, e todos tinham estavam extremamente surpreso. Viu um homem usando um capuz, que escondia sua identidade, e uma aljava de flechas nas costas. Ele sinalizou para que Jared o seguisse; ele correu o mais rápido que suas pernas permitiram. Seguiu o homem por entre ruas, onde pessoas assustadas nem ao menos tentavam segurá-los. Os homens de Juan Antonio já os tinham perdido de vista quando eles chegaram às docas. Ele apontou para um barco, no qual Jared embarcou; desceram até os níveis mais baixos, onde ele podia ouvir a água batendo contra a madeira. Jared não desconfiou o homem, afinal, se o quisesse morto, teria deixado à forca fazer seu trabalho. – Obrigado, sejas lá quem fores. – Ele falou, ofegando. – Esse barco vai levá-lo a Veneza. – Seu salvador falou, com uma voz extremamente familiar. – Ouriço? – Ele tirou o capuz, de fato, era ele. – O nome é Jensen. Eu odeio esse apelido, por sinal. Mas é melhor do que as pessoas saberem meu nome verdadeiro. – Jared simplesmente não sabia o que dizer; aquele homem tinha ido a extremos para conseguir salvá-lo, sendo que eles eram conhecidos a alguns anos apenas. – Por que está a ajudar-me tanto, Ou... Digo, Jensen? – Tu ajudaste uma amiga há alguns anos, salvaste a vida dela. Estou apenas retribuindo o favor. – Imediatamente, Jared lembrou-se de prisioneira que resgatara; Jensen recolocou o capuz e preparou-se para sair. – Faz uma boa viagem. – Ele esticou a mão para Jared, que a apertou. – Tu sabes que Amélie morreu do mesmo jeito, não é? – Sim, mas ela poderia ter morrido de maneira muito pior. Violada e torturada. – O outro respondeu. – Obrigado mesmo assim. – Eu que agradeço. Jared assistiu seu salvador saindo do barco. Ele deitou em um canto, escondido atrás de alguns barris. Pela manhã seguinte, o barco passou a navegar mar adentro.
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