Chapter 03.

1882 Words
Deméter não falou comigo ao longo dos dias. Acho que nossa visita a Capizzi, devido aos seus negócios, foi algo que a deixou um pouco fora de órbita, durante algum tempo, e ainda que eu quisesse perguntar o que havia acontecido, o meu limite de liberdade no que se meter, era nunca passar da linha de curiosidade de querer saber o que ela fazia indo nos lugares mais remotos da Sicília, mas ainda que eu não soubesse exatamente o que era, eu presumia, já que sempre três dias após nossas viagens, uma nova mulher chegava na casa do Jardim do Éden, a casa de homens mais famosa de Palermo. Petunia, uma das meninas do catálogo de Deméter, estava em pé, diante da penteadeira, com as mãos no rosto, tentando amparar toda a maquiagem que escorria de seu rosto branco junto das lágrimas que, a julgar por seus soluços, eram muito dolorosas. — Porque ela está assim? — perguntei a Camélia que estava de pé próxima do vestiário procurando um vestido para brilhar naquela noite. Seus olhos castanhos vasculharam a área à nossa volta, e em um tom de fofoca ela se aproximou de meus ouvidos. — Eros saia com ela a 2 anos, mas parece que ele resolveu passar a escolher Rosa para passar as noites no Éden com ele. — E ele não é só um cliente? Ela puxou um batom de uma das gavetas do armário vermelho, onde localizava-se todas as maquiagens usadas pelas meninas. — A maioria é, mas Eros é…diferente dos homens que vem aqui. — Havia um tom de deleite em suas palavras quentes e com vontade própria. — Diferente? — O tom de curiosidade alavancou-se mais e mais a cada sílaba. — É, diferente. Eros é não só um homem bonito, ele é filho de Afrodite. — Disse. Afrodite era não só a mulher mais linda que já vira na vida, mas também a dona da maior agência de modelos da Itália. Sua fama de infidelidade só não era maior do que a fama da beleza de seu filho mais velho: Eros, cuja beleza tão arrebatadora, que as meninas do Éden, dizia ser impossível negar a ele qualquer pedido. Afrodite era casada com Hefesto, um homem peculiarmente mais velho e misterioso, com dinheiro suficiente para comprar a metade da Itália, mas estranhamente ninguém sabia qual era a origem de sua riqueza. Ele parecia feliz nas capas de revistas com sua esposa, e eu acreditava fielmente que era impossível que ele não soubesse dos casos amorosos de sua esposa, ou talvez ele realmente soubesse e a amasse incondicionalmente ao ponto de ignorar todo o falatório das pessoas que o olhavam de forma estreita ao saber que ele permitia tudo aquilo. Olhando para Afrodite, talvez eu pudesse simplesmente entender o motivo de seu filho ter um longo histórico de mulheres. — E que eu saiba quem vem aqui não é Afrodite, e sim seu filho. Então porque simplesmente culpar Afrodite por Petúnia se apaixonar por Eros? Camélia tornou a pentear seus cachos longos, deixando-os volumosos, tornando ela tão sedutora quanto naturalmente era. — Eros herdou da mãe o seu estranho dom da conquista. Não tem uma mulher nessa casa que tenha passado uma noite com ele e não tenha saído suspirando de amores. — Até Rosa? — Perguntei. Rosa normalmente, tinha o coração mais blindado para a paixão do que as outras meninas, porque se ela sucumbisse aos seus desejos, era sinal de que ninguém ali estava a salvo das peripécias do próprio coração. — Eu já a avisei, mas seu olhar brilhante e seu sorriso frouxo não me engana quando a vejo levá-lo até a porta de saída pela manhã. — E você acha que ela…? — Ninguém sabe. — A mulher respondeu, fechando cada um dos botões de seu corselet dourado que contrastava muito bem com a pele n***a brilhante. Camélia era uma das mais sensatas meninas de Deméter. — Mas podemos fazer uma aposta, valendo um daqueles seus bolos de damascos. Ela os adorava, era sempre a primeira a recolher um pedaço para ir se deitar todos os finais de semana em suas folgas. — Não acho que Rose vai se render a ele. — Você já o viu? — Camélia me perguntou antes de declarar sua escolha. — Apenas sua mãe. — Afrodite era totalmente ao contrário de seus filhos, ela era exibicionista com suas roupas de pouco pano. Não havia fotos de Eros ou qualquer notícia sua no mundo luxuoso que sua mãe normalmente gostava de frequentar. — Então quando eu digo que ninguém é imune a ele, eu sei o que digo, Persia. — Ela murmurou, vestindo suas botas de couro marrom. — Um dia vai entender o que um homem é capaz de fazer com uma mulher, e talvez possa imaginar o efeito que Eros tem sobre as mulheres dessa casa. — Um dia, daqui a muitos anos. — Eu murmurei. A regra de minha mãe era muito clara para todas as mulheres da casa: nunca contar a mim o que elas faziam dentro do quarto com os clientes. Conviviamos todas juntas, e mesmo que as paredes tivessem ouvidos, elas precisavam se certificar de que nada chegasse aos meus. — Tudo bem, vamos mudar de assunto. — E Camélia sabia muito bem sobre isso. — Antônio me disse que…você desobedeceu sua mãe hoje pela manhã. Abaixei a cabeça envergonhada sentindo a maçã do meu rosto esquentar nocivamente. Ela deu uma risada com minha reação. Antônio era não só responsável por levar minha mãe onde ela julgasse ser necessário, mas também era responsável por levar as meninas do Éden até seus clientes externos, em hotéis e residências, mas diferente de outras meninas, ele confiava sua vida a Camélia e Rosa, na qual contava tudo que acreditava ser importante e muita das vezes usando-as como psicólogas, pois eu sabia que meu sumiço repentino o deve ter deixado em estado de nervos. — Eu só ia…eu só achei que…— Eu suspirei. Sabia que não devia tentar mentir para Camélia, não só porque não precisava, mas ela sabia quando minhas boca emitiam palavras e pesares falsos. — Não, Persia. Você saiu porque quis. — Ela murmurou dando uma batida com seu indicador na ponta de meu nariz gelado. — Além do mais, você sabe exatamente onde estava? Balancei a cabeça negativamente. — Em uma pequena estrada a caminho de Palermo. Ela fez um sinal negativo com o dedo. — Vocês estavam nos pés da montanha de Piano Battaglia, onde morava um dos três maiores irmãos da Itália, e eu nem sei se deveria te dizer isso mas…— Ela suspirou, receosa, duvidosa. —...Piano Battaglia é onde morava o pior deles, o mais violento dos filhos de Christian. — Cristian? Os três irmãos da Itália? Do que você fala, Camélia? Ela olhou para Petúnia que estava saindo pela porta vagarosamente ainda inerte em seu coração quebrado, e quando a madeira se encaixou com o batente, isolando nós duas no camarim, ela puxou uma cadeira e se sentou para recomeçar uma maquiagem diferente da que não estava agradando seu paladar requintado, já que ela tinha habilidades profissionais. — Sabe o embaixador da Itália, Christian? Fiz uma forcinha mental para lembrar das revistas que Deméter trazia pra mim todas as manhãs. — Casado com aquela mulher…Gaia? — Perguntei piscando os olhos. — Esses mesmos. Eu não compreendia. — O que tem? — Christian tem 3 filhos, e ele deu uma parte da Itália para cada um deles administrar. A Sicília foi dada a um deles, e dizem por aí que é o pior dos três irmãos, o mais violento deles. — Ela passou a base escura em sua pele macia e aveludada e eu me encontrava petrificada, tão atenta para ouvir quando eu ficava para ouvir as histórias de terror que Deméter me contava antigamente para não sair da cama após se deitar. — O dono da Sicília é o mais novo dos três, e é um homem tão r**m e c***l que vive em sua mansão nas montanhas de Piano Battaglia. Um aperto congelou meu peito. Meus olhos piscavam em nervosismo sem parar. — Meu deus, então eu estava…lá? — Dizem por aí que ele é o senhor dos acordos da Sicília e que também desposa todas as mulheres que tentam subir em sua montanha. Eu também ouvi que nos fundos de sua casa há um enorme lago em que seu fundo, centenas de corpos torturados, sofrem sem poder descansar em paz com um enterro decente, apodrecendo naquelas águas pútridas e fedorentas. — Meus olhos se arregalaram tão grandemente que senti minhas vistas queimarem de secura. Camélia, notando o medo aparente em minha face, desengatou uma risada desesperada na qual ele teve que parar as batidas de pó mineral em seu rosto com a pequena almofada. — O que foi? — Eu perguntei tão inocentemente. — Você realmente acreditou nisso? Deus, eu realmente acreditei que poderia ter me prejudicado. Ela botou a mão na cintura, pegando mechas do meu cabelo, alisando e depositando atrás de minha orelha. — Camélia! — Repreendi envergonhada. — Eu achei que… — Era verdade. Todo mundo acredita. — Ela murmurou. — São só histórias, Persia. — Ela suspirou — Apenas histórias. Eu lhe dei um pequeno empurrão em seus ombros que não fizeram nenhuma diferença, já que ela estava amparada pelo suporte da cadeira em suas costas. — Eu…fiquei com medo. — Mas agora falando sério, aquilo é uma floresta aberta. Poderia ter encontrado cobras, ursos ou qualquer outro animal que pudesse matar você lá. — Camélia beijou minha testa. — Sei que quer ter sua liberdade, mas precisa entender que sua mãe só quer a sua segurança. — Eu me sinto…pressionada. — Você está remando contra a maré, Persia. Se conforme com a proteção de Deméter, se ela sentir que você acata suas ordens porque quer, ela vai dar a você, o que você quiser…— Ela exitou — Quem sabe até mesmo um pouco de liberdade quando ela achar justo. Eu continuei calada enquanto assistia Camélia se arrumar e se tornar umas das mulheres mais lindas da casa. Não que ela não fosse quando acabava de acordar, mas quando se arrumava e se cuidava, deixava os homens nos seus pés. Eu nunca vi, eu sempre fui proibida de entrar nos salões do Éden, mas acho que ultimamente as meninas não estavam tão boas em fazer que as paredes não tivessem ouvidos. — Acho que você tem razão. — Eu murmurei baixo o suficiente para que ela ouvisse. Um sorriso de compreensão botou em seu rosto e ela se aproximou da porta para me deixar sozinha. Quando estava prestes a me deixar, eu a gritei. — Ei, quem te contou essas histórias? Ela cerrou os olhos castanhos com um delineado fatal. — Ficou com isso na cabeça não foi?! — Eu fiz que sim com a cabeça. — Não fique, as pessoas aumentam as coisas. Eu só estava brincando. Havia um homem na montanha, eu sabia. Também sabia que minha cabeça jamais me pregaria peças. Eu tinha plena consciência do que eu realmente havia visto. Embora para Camélia fosse só histórias, eu sabia que haviam parte delas que eram verdadeiras. Mas aí está a pergunta: Qual delas eram reais?
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