Kauiza
O meu nome é Kauiza, 23 anos, e sou a mulher do Hero. A gente veio do chão juntos, construímos tudo isso aqui lado a lado. Hoje, eu sou a patroa do morro, mas não se engane: eu sei que ele não presta. O Pedro é o tipo que vive dando perdido, acha que é esperto, mas eu tô sempre ligada. Tô fazendo meu pé de meia, porque, no dia que ele fizer uma cagada grande, dou o pé na b***a dele sem pensar duas vezes.
E hoje? Hoje ele tá aprontando. Tô sentindo no ar. Cheguei no baile e ele sumiu. Deu perdido em mim, e isso me deixa furiosa. Conheço bem as manhas dele, sei quando tá fazendo coisa errada. Resolvi dar uma volta pelo morro pra ver onde ele se enfiou, porque se eu achar, o barraco vai ser grande.
Tava subindo a ladeira, o salto batendo firme no chão, quando vi uma figura conhecida saindo da casa dele. Parei na hora. Era a filha do pastor. A mina tava descabelada, ajeitando o vestido, e olhando pros lados, como se tivesse feito algo errado. Eu sorri. Ah, eu sabia que tinha coisa errada no ar. Ela saiu correndo, mas eu nem fui atrás. Meu alvo era outro.
Entrei na casa sem bater, já empurrando a porta com força.
Kauiza: Pedro! Onde é que você tá, seu vagabundo?
Fui direto pro quarto, e lá estava ele: pelado, deitado na cama, como se não tivesse uma preocupação no mundo. Levantou a cabeça quando me viu, os olhos arregalados. Ele sabia que a merda tava feita.
Hero: Aí, Kauiza, calma...
Kauiza: Calma o caramba, Pedro! Você tá achando que eu sou i****a? Eu vi a filha do pastor saindo daqui, e você aqui, pelado? Ah, você vai ver só!
Sem pensar duas vezes, peguei a primeira coisa que vi na cozinha: uma panela de ferro. Voltei pro quarto com ela na mão.
Hero: Aí, amor, deixa eu explicar...
Kauiza: Explicar nada! Eu vou te arrebentar aqui mesmo!
Levantei a panela e desci com força. Ele pulou da cama, tentando se cobrir com o lençol, mas não foi rápido o bastante. A panela acertou ele nas costas.
Hero: Ai, Kauiza! Calma, pelo amor de Deus!
Kauiza: Calma? Eu vou te mostrar calma, Pedro! Cê tá pelado na cama, a filha do pastor saindo daqui... Quem você pensa que eu sou?
Ele tentou pegar a cueca no chão, mas eu acertei outra panelada, dessa vez no braço dele. Ele gritou e conseguiu puxar a cueca, vestindo enquanto corria pro corredor.
Hero: Kauiza, para com isso! Eu tô falando sério!
Kauiza: Sério? Ah, agora você tá falando sério? Vou te quebrar, Pedro! Hoje você vai ver quem é que manda!
Ele saiu correndo pela porta, ainda de cueca, e eu fui atrás, segurando o sapato na mão. O morro todo já tava olhando, porque barraco meu é sempre um show. Hero desceu a ladeira com uma mão segurando a cueca e outra tentando proteger a cabeça.
Hero: Kauiza, para com isso! Tá fazendo cena!
Kauiza: Cena? Eu vou te mostrar cena! Segura isso aqui, seu vagabundo!
E taquei o sapato nele. Acertei em cheio nas costas. Ele tropeçou, quase caiu, mas continuou correndo. O povo na rua tava rindo, gritando, porque sabem que comigo é assim: mexeu comigo, o morro inteiro vê.
Hero: Kauiza, a gente resolve isso em casa!
Kauiza: Resolve nada! Hoje o morro vai ver quem você é de verdade! Não vai dar perdido em mim e sair de boa, não!
Continuei correndo atrás dele, o segundo sapato já na mão, pronta pra tacar de novo. Ele tentou virar uma esquina, mas escorregou e caiu de joelhos no chão. Fui pra cima, mas ele levantou rápido, se afastando, os olhos arregalados.
Hero: Tá maluca, mulher! Eu não fiz nada!
Kauiza: Ah, não fez nada? Então por que você tava pelado na cama e a filha do pastor saiu correndo daqui? Explica isso!
Ele tentou falar, mas eu levantei o segundo sapato e ele recuou, levantando as mãos.
Hero: Tá bom, tá bom, eu admito! Mas para com isso, Kauiza! A gente conversa em casa, longe do povo!
Eu parei por um segundo, o coração ainda batendo forte, a respiração acelerada. O povo tava olhando, esperando meu próximo movimento. Respirei fundo e joguei o sapato no chão.
Kauiza: Você tá achando que isso acabou, Pedro? Eu vou pra casa, mas só porque eu decidi que sim. E quando você chegar lá, a gente vai ter uma conversa. Se prepara.
Ele assentiu, parecendo aliviado, mas eu vi o medo nos olhos dele. E isso me deu uma satisfação enorme. Virei as costas e comecei a descer a ladeira, o povo ainda rindo, comentando. E eu? Eu tava sorrindo. Porque, no fim das contas, eu sou a patroa, e ele sabe disso.