Hero
Meu nome é Pedro, mas aqui na Penha geral me conhece como Hero. Tenho 26 anos e sou o Dono desse morro. Conquistei cada pedaço com sangue e suor, e hoje ninguém ousa desafiar minha palavra. Aqui, quem manda sou eu. O baile tava daquele jeito: lotado, o som vibrando, e o povo todo curtindo como se não houvesse amanhã. Eu tava no meu canto, observando tudo, meu copo de whisky na mão. Eu gosto de ver quem chega, quem sai, quem tá pedindo problema e quem merece a minha atenção.
Foi aí que eu vi ela. Mina diferente, dessas que a gente bate o olho e sabe que não é da quebrada. Vestido preto, colado no corpo, salto alto, daquele tipo que não se vê por aqui. Ela parecia nervosa, mas ao mesmo tempo, tinha uma confiança no olhar que me intrigou. Ela tava dançando com duas amigas, rindo, como se fosse a primeira vez no baile. E talvez fosse. Fiquei curioso. Chamei um dos vapores que tava por perto.
Hero: Aí, pivete, chega aqui. Quem é aquela mina ali? Nunca vi antes.
Vapor: Chefe, dizem que é a filha do pastor. Primeira vez que aparece aqui.
Hero: Filha do pastor? Cê tá tirando, né? O que a filha do pastor tá fazendo num baile desses?
O moleque deu uma risada nervosa e saiu fora. Eu ri também. A filha do pastor no meio do baile? Isso, sim, ia ser interessante. Fui andando em direção a ela, e o povo foi abrindo caminho. Aqui, ninguém ousa barrar minha passagem.
Ela tava rindo, dançando solta com as amigas. Quando me aproximei, ela me olhou de cima a baixo, sem desviar o olhar. Sustentou meu olhar, e eu gostei disso.
Hero: E aí, gata, primeira vez no baile?
Ela deu uma risadinha debochada, daquele jeito que só mina cheia de atitude faz.
Virgínia: Primeira vez. E você? Parece que conhece bem o lugar.
Hero: Conheço bem demais. Eu sou o dono da festa, princesa. Me chamam de Hero, mas pode me chamar de Pedro.
Estendi a mão pra ela, e ela hesitou antes de pegar. A mão dela era macia, suave, diferente do que tô acostumado. Tinha algo nela que eu queria descobrir.
Hero: Qual é o seu nome?
Virgínia: Virgínia.
Hero: Então é verdade. A filha do pastor. O que te trouxe até aqui, hein?
Ela arqueou uma sobrancelha, surpresa de eu saber quem ela era. Dei uma risadinha. Aqui, nada passa despercebido pra mim.
Virgínia: Tá por dentro da minha vida, hein? E quem disse que eu não posso vir?
Hero: Ninguém disse que não pode, mas a gente sabe que é arriscado pra você. O que seu pai diria se soubesse que a princesa dele tá na quebrada?
Ela deu de ombros, fingindo que não se importava, mas eu vi a faísca de raiva nos olhos dela. Tava ali pra desafiar tudo o que disseram que ela não podia fazer. Gostei disso.
Hero: Vem comigo. Deixa eu te mostrar o morro de verdade.
Ela me olhou como se estivesse decidindo o que fazer. Sorriu, e eu puxei ela pela mão, levando pra um canto mais tranquilo, longe do tumulto. A gente subiu até um ponto alto, onde dava pra ver toda a favela iluminada. O baile lá embaixo, o povo dançando como se o mundo fosse acabar amanhã. A vista era incrível, mas eu tava mais interessado nela.
Hero: E aí, o que achou? Nunca viu o morro assim, né?
Virgínia: Nunca. É lindo.
Hero: Sabia que você ia gostar. Cê não é igual as outras.
Ela se aproximou, o corpo quase encostando no meu. O perfume dela era suave, diferente do cheiro de pólvora e whisky que tô acostumado. Ela tava provocando, e eu não ia recuar.
Virgínia: E você? É igual aos outros?
Hero: Não, gata. Eu sou pior.
Ela riu, aquele riso curto de quem sabe o que tá fazendo. E então, ela me beijou. Foi um beijo intenso, cheio de urgência, como se ela estivesse guardando aquilo há muito tempo. Puxei ela pela cintura, sentindo o corpo dela colado no meu. O mundo ao redor sumiu. Só existia eu e ela, ali, naquele momento.
Quando o beijo terminou, ela me olhou surpresa, como se não acreditasse no que tinha acabado de fazer. Eu sorri.
Hero: Isso é só o começo, princesa.
Virgínia: Então me mostra o resto.
Eu ri. Ela queria se jogar no abismo, e eu tava pronto pra pular junto. Levei ela pra um canto mais afastado, onde a música era só um eco distante. Encostei ela contra a parede, o corpo dela tremendo de ansiedade. Eu sabia que aquilo era novo pra ela, mas também sabia que ela queria.
Hero: Tá pronta pra sair da bolha e conhecer o outro lado de verdade?
Ela me olhou nos olhos e assentiu. E ali, na escuridão, a filha do pastor quebrou todas as regras que sempre a mantiveram presa.
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Depois de tudo, ela tava deitada no meu peito, respirando pesado, o corpo ainda quente. Eu passei a mão pelos cabelos dela, sentindo a suavidade. Não sabia o que aquilo significava pra ela, mas pra mim, foi mais uma conquista, mais um desafio superado.
Virgínia: Isso não devia ter acontecido.
Hero: Mas aconteceu, e você não parece arrependida.
Ela se levantou devagar, ajeitando o vestido, me olhando como se tentasse entender quem eu era. Mas ninguém entende o Hero, gata. Ninguém.
Virgínia: Eu tenho que ir.
Hero: Certeza? A noite ainda é longa.
Virgínia: Talvez pra você. Pra mim, ela já acabou.
Ela me deu um último beijo, rápido, e saiu correndo, sumindo na viela. Fiquei ali, observando até ela desaparecer. Não sei o que deu nela, mas uma coisa eu sei: essa história ainda não acabou.
A filha do pastor pode até ter fugido essa noite, mas eu sei que ela vai voltar. E quando voltar, vai ser ainda mais interessante.