Capítulo 1 - A fuga para a liberdade
Virgínia
O meu nome é Virgínia, tenho 19 anos, e sou filha do pastor do morro. Cresci ouvindo que minha vida deveria ser diferente, que eu tinha um propósito maior. Meu pai é o tipo de homem que prega sobre o inferno todos os domingos, enquanto minha mãe, sempre de vestido longo e olhar submisso, finge que concorda com tudo. Para eles, eu sou a menina certinha, a que vai casar de branco, virgem e pura. Mas a verdade é outra.
Virgínia: Eles não fazem ideia, mas eu já perdi minha virgindade faz tempo. Não foi nada como eles imaginariam. Não teve aliança, nem promessa, nem bênção de Deus. Foi no fim de uma tarde qualquer, com meu ex-namorado, Felipe. Eu estava cansada de tanta repressão, e ele era o único que me fazia sentir normal, que me tratava como uma garota comum e não como a "filha do pastor". A gente se encontrava escondido, longe dos olhos vigilantes da comunidade e, principalmente, dos olhos do meu pai.
Virgínia: Meu pai sempre pregou sobre como o casamento deve ser sagrado, sobre como a mulher deve se manter pura até a noite de núpcias. Ele sempre sonhou que eu casasse de branco, como se isso fosse uma prova de que ele fez um bom trabalho como pai. Mas eu sabia que aquilo não era para mim. Eu nunca quis seguir esse roteiro. Naquela tarde com o Felipe, eu senti liberdade pela primeira vez. Não foi perfeito, não foi como nos filmes, mas foi real. E, pela primeira vez, eu fiz algo que eu queria, sem pensar nas consequências, sem pensar no que Deus ou meus pais diriam.
Hoje, eu decidi que seria igual. Vou sair, vou viver e vou me divertir, nem que seja só por uma noite. Cansei de ser controlada, de ser a menininha boa que todos esperam que eu seja. Meus pais estão dormindo, e eu vou sair pela janela, como eu sempre sonhei fazer. É hora de ver o que tem lá fora, além das paredes da igreja e das regras da minha casa.
Virgínia: Me arrumei rápido. Tinha escondido uma roupa embaixo da cama, algo que minhas amigas me emprestaram. Não era nada parecido com o que eu costumava usar. Um vestido preto, curto, que marcava meu corpo, e um par de saltos altos que eu nunca imaginei usar. Me olhei no espelho e quase não me reconheci. Mas eu gostei do que vi. Pela primeira vez, eu me senti bonita, me senti viva. E não era para agradar ninguém, era para mim.
Saí pela janela, segurando o vestido para não rasgar. A adrenalina corria no meu sangue, e meu coração batia forte. Não era medo, era excitação. Era como se eu estivesse quebrando todas as correntes que me seguravam. Desci pelo beco ao lado da minha casa e andei rápido até a esquina. Lá, minhas amigas, Larissa e Miriam, me esperavam. Elas são diferentes de mim, sempre foram. Não vivem sob as mesmas regras, não têm pais que pregam sobre pecado e inferno. Mas, de certa forma, eu sempre as admirei por isso.
Larissa: Aí, Virgínia! Tá gata demais! Quem diria, hein? A filha do pastor toda arrumada pro baile.
Virgínia: Pois é, hoje eu decidi viver.
Miriam: É isso aí! Chega de ficar presa em casa ouvindo sermão. Hoje a noite é nossa, amiga!
Subimos a ladeira juntas, e o som do baile já podia ser ouvido de longe. O morro estava vivo, cheio de gente, todos rindo, dançando, aproveitando a noite. Eu nunca tinha visto nada assim. Era como se o mundo fosse maior do que eu imaginava, mais colorido, mais livre.
Chegamos ao baile e eu fiquei impressionada. As luzes coloridas iluminavam a multidão, e o som era tão alto que eu podia sentir as batidas no peito. Meus pés começaram a se mover sozinhos, seguindo o ritmo da música. Pela primeira vez, eu não estava me preocupando com o que meu pai diria, com o que a igreja pensaria de mim. Eu estava ali para mim, para aproveitar.
Virgínia: Olhei em volta e vi vários olhares em minha direção. Não me importava. Pela primeira vez, eu estava no controle, e ninguém podia me dizer o que fazer. Comecei a dançar com Larissa e Miriam, sentindo a música invadir meu corpo. A sensação era indescritível, como se todas as preocupações e medos tivessem desaparecido.
Larissa: Virgínia, você tá arrasando! Nunca te vi assim.
Virgínia: Hoje é a primeira vez que eu tô sendo eu mesma. E vou aproveitar cada segundo.
Miriam: É isso aí, amiga! Hoje a noite é nossa, e a gente vai dançar até o sol nascer.
Continuamos dançando, e eu me senti livre. Pela primeira vez, eu não era a filha do pastor, a menina que tinha que ser perfeita. Eu era só a Virgínia. E era isso que eu queria ser.
Um cara alto, com tatuagens no pescoço e um sorriso provocador, se aproximou de mim. Ele não parecia ser do tipo que frequenta a igreja, mas eu não estava ali para julgar ninguém. Ele se aproximou mais, puxando meu corpo para perto do dele. Normalmente, eu teria me afastado, mas não hoje.
Cara: Oi, você é nova aqui, né? Nunca te vi por aqui.
Virgínia: É, tô aqui pela primeira vez.
Cara: Você tá diferente. Eu gostei. Quer beber alguma coisa?
Eu ri, sentindo o gosto da liberdade. Aceitei a bebida e continuei dançando, cada vez mais solta, cada vez mais livre. Eu sabia que, amanhã, as consequências viriam. Meu pai ficaria furioso, minha mãe choraria. Mas, por agora, isso não importava. Eu queria viver o agora.
E hoje eu vou viver.