Anésio encontrou Maya entrando no banheiro. Era um banheiro único no fim do corredor, era a oportunidade que ele precisava para falar com ela, porque no refeitório ou na porta da sala, ela sempre fugia. Corria dele, até mesmo se escondia atrás de Emma. Não tinha como falar com elas a sós, porque Maya usava qualquer desculpa para fugir, havia esperado e não conseguiu falar com ela, mas ele não queria esperar mais, porque tinha medo de outro rapaz chegar primeiro. Olhavam para ela.
Assim a seguiu para o banheiro, ele entrou logo atrás dela, batendo a porta. Maya se assustou.
__ Não, Anésio.
— Não precisa ter medo, Maya. Eu só vou perguntar uma coisa. Não me dá espaço para chegar perto.
— Eu não posso, não posso, Anésio, sei o que quer é a resposta é não.
__ Não sabe o que quero, pode ter certeza que não sabe Maya. Não quero o que os meninos fazem com os líderes de torcidas nos vestiários.
___ Me deixe sair, vão nos ver aqui. E a direção vai chamar a minha mãe.
Não era verdade, a direção não se importava muito com o que acontecia nos banheiros, desde que não causasse problemas para a escola.
__ O bebê da janela é seu? Eu sei que você não tem namorado, mas tem um filho? — ele perguntou.
— Saia ou vou começar a gritar — respondeu Maya, tentando manter a calma.
— Grite, mas antes, responda, Maya. Se o bebê for seu, eu não me importo. Tome um sorvete comigo, e pode levá-lo. Eu ajudo a cuidar dele, aprendo a trocar fraldas e fazer mamadeiras — insistiu Anésio.
Maya o achou um maluco. Respirou fundo e respondeu:
— É meu irmão, Anésio. Agora, me deixe passar.
Ele a deixou passar, mas antes entregou uma blusa de frio.
— Por que está me dando isso? — perguntou Maya, confusa.
— Porque sei que você está com frio. Só tem duas blusas e não está sendo suficiente. Comprei um par de botas e meias também — respondeu Anésio. __ Eu não trouxe, porque achei que não aceitaria.
A mãe compraria blusas novas, mas demoraria, porque o dinheiro da creche do irmão era muito alto e as creches baratas eram rui.ns.
— Não pode fazer isso. Não temos nada um com o outro.
— Só estou cuidando de você. Deixe, Maya.. Comprei com o meu dinheiro para você, não foi o dinheiro da minha mãe.
Anésio fazia atividades para os colegas, trocava até mesmo provas para responder e, com isso, ganhava o dinheiro do lanche dele e das roupas de Maya. Ele tinha uma boa poupança, mas estava reservando para a compra de uma casa e o início de um negócio. Queria se formar, ter uma família e filhos, e queria fazer isso com Maya desde a primeira vez que a viu. E ele sempre estava cuidando dela.
A cada dia, Maya se sentia mais dividida. O cuidado de Anésio era desconcertante, e a sua insistência em ajudá-la, ainda que ela recusasse, começava a tocar seu coração. Por mais que ela tentasse manter distância, era difícil não perceber o quanto ele se importava.
__ Minha mãe não vai me deixar ficar com a blusa.
— Me deixe ir em sua casa. Eu falo com a sua mãe, peço permissão para um sorvete, e se precisar trazer o seu irmão, eu não me importo.
__ Não sei, não sei. Me deixe passar.
Ele abriu a porta, e ela saiu, só depois que correu para sala, Maya notou que não fez o que precisava.