Maya tinha se acostumado com a rotina da escola, encontrando um certo conforto nas amizades que tinha feito. Emma se tornara uma amiga de verdade, alguém em quem podia confiar e dividir seus pensamentos. Juntas, elas riam, estudavam e apoiavam-se mutuamente.
Além de Emma, Maya conheceu Anastácia, outra presença valiosa em sua vida. Eram somente as três, mas Maya estava satisfeita com isso. Elas formavam um trio unido, enfrentando os desafios da escola juntas, e Maya deixou de temer tantos as líderes torcidas. Os outros meninos não se aproximavam dela, porque perceberam que ela não cederia, mas nem todos os meninos eram iguais. Anésio era diferente.
Ele a cercava nos corredores, sempre encontrando uma maneira de se fazer presente. Mandava resumos dos conteúdos por meio de Emma e, de forma surpreendente, enviava até mesmo os trabalhos dela. Maya não sabia como, mas Anésio conseguia imitar perfeitamente sua caligrafia. Mesmo quando o trabalho era manual, ele o fazia com uma precisão que a deixava perplexa. Cada letra, cada traço, tudo parecia ter saído de sua própria mão.
Essa situação a deixava intrigada e um pouco inquieta. Anésio era um enigma, um furacão que pairava sobre sua rotina escolar. Ele parecia saber demais sobre ela, antecipando suas necessidades de uma maneira que a deixava desconcertada. Apesar de sua ajuda aparentemente bem-intencionada, havia algo que a fazia questionar suas motivações. Temia sofrer como a mãe, se deixar levar, e terminar com uma criança nos braços e abandonada.
Os dias passavam e Maya tentava se concentrar nos estudos e nas amizades que tanto valorizava. Mesmo com a sombra de Anésio pairando sobre ela, ela se esforçava para manter o foco em suas metas e no apoio das amigas.
Mas ele se fazia presente, mesmo quando não o via..se fazia presente nos trabalhos, na blusa de frio que ela usava, Maya tinha até mentido para mãe, dizendo que Emma deu a blusa, e Emma confirmou. Era errado, ela sabia, mas queria usar a blusa que Anésio deu.
*****
Encontro.
Maya Yuni saiu de casa para pegar sol na praça que tinha lá na frente. Era ordem da mãe e recomendação médica, porque teve um episódio de anemia e vertigens depois do ataque, e o sol ajudaria com a doença. Colocou um vestido de alcinha para que os braços ganhassem um pouco de cor, mas ao sair pela porta, a primeira pessoa que viu foi Anésio. Suspeitava que ele andava a vigiando, mas não tinha certeza, só que agora não tinha como disfarçar.
__ É um daqueles rapazes loucos, que perseguem várias meninas.
__ Não, até mesmo, porque não persigo meninas, persigo você, porque não me dá uma chance e tenho medo de esperar demais e outro rapaz chegar primeiro, e eu quero o seu primeiro em tudo.
Ele estava parado ali, como se estivesse esperando por ela.
Maya hesitou por um momento, surpresa por encontrá-lo ali. Tentou disfarçar seu desconforto, ao escutar as palavras dele.
__ Com quantas conseguiu êxito? Quantas conseguiu arrastar para o vestiário?
– Nenhuma, nem mesmo namorei. Eu vou ser o seu primeiro namorado e vai ser a minha primeira namorada, e quando eu terminar o ensino médio, nos casamos.
— Você não acha que isso soa estranho? Nos conhecemos a pouco meses, você me persegue, me compra roupas, e diz que vai se casar comigo.
— Pode parecer estranho, mas só estou sendo honesto, Maya. Não foi ontem à escola e me preocupei.
__ Eu tinha uma consulta médica.
— Está doente?
— Estou bem, obrigada. Só saí para pegar um pouco de sol, como o médico recomendou, por causa de uma anemia. — respondeu ela, tentando manter a conversa breve.
Anésio assentiu, respeitando a distância, mas sem perder o interesse.
— Isso é bom. O sol vai te fazer bem. Se precisar de algo, estou por aqui — disse ele, apontando para um banco na praça onde parecia ter se estabelecido.
Maya deu um leve aceno e caminhou em direção a uma área mais ensolarada da praça. Sentiu os raios quentes do sol em sua pele e fechou os olhos por um momento, tentando relaxar. Mas a presença de Anésio não deixava sua mente.
Ela sabia que ele estava sendo gentil e prestativo, mas a intensidade de sua atenção a deixava confusa. Por que ele se importava tanto? E como sabia tanto sobre sua vida, sobre suas necessidades?
Ele a deixou a pegar sol sozinha, mas quando ela se levantou, ele se aproximou:
– Só um sorvete, Yuni..
– Não sei.
– Leve a sua amiga, Emma com você, se sentir mais segura.
– Sério?
__ Claro. Leve ela, tomamos um sorvete e eu ainda ajudo com os deveres de casa.
__ Temos que estudar as provas, não podemos demorar.
— Levo vocês na sorveteria do shopping, tem uma biblioteca dentro e sentamos para estudar.
– É caro lá.
— Posso pagar, Yuni. Tem uma mesada e faço vários trabalhos e não é tão caro assim. Vai me deixar levá-las para um sorvete?
—Vou, amanhã depois da aula. Já disseram que é insistente?
– Nunca, nunca fui insistente assim, só com você.
— Precisa ir, a minha mãe chega logo, e eu não posso ficar aqui com você.
— Eu já disse que falo com ela, Maya.. Eu falo. Não estou em busca de uma ficada..
– Não acha que é muito novo para querer namorar e falar em casamento?
— Quero segurança, uma rotina e saber que fui único em sua vida, vai ser a única em minha vida também, sem ex namorados, ex namoradas ou ex ficantes, é só isso.
Ele chegou mais perto dela.
– É ainda mais pequena quando se aproxima, nanica.
Ela devia achar rui.im, em ser chamada de nanica, mas teve tanto carinho naquela voz que ela vacilou, a mãe ficaria desapontada com ela, mas daqui a pouco ela faria dezesseis anos, as meninas nessa idade já namoravam, algumas transav@m e até mesmo dormiam na casa dos namorados.
— Vá Anésio.. E até amanhã.
– Até amanhã, quando posso te pedir um namoro?
– É só um sorvete.
Maya entrou para casa, só percebeu o sorriso no rosto, quando se olhou no espelho.