Mas o garoto tirou uma folha da mochila.
__ É um resumo da aula de geografia, notei que está com dificuldade, se usar para estudar, vai conseguir fazer bem a prova, até mesmo adiantar o conteúdo.
__ Como sabe que estou com dificuldade? não estamos na mesma turma.
– Escutei você falando com Emma, só olhei a grade curricular da disciplina e montei um resumo.
– Por que está me ajudando?
– Porque gosto do seu jeito, Maya Yuni.
Sabia o nome dela, mesmo que não fosse da mesma turma.
– Não sou como as garotas da escola, então pare..
— Eu sei, e por isso gosto de você.. podia me deixar levar você para um sorvete.
– É melhor não, minha mãe não gosta que eu saia..
– Eu falo com ela, se precisar vou até a sua casa e peço permissão, levo até mesmo minha mãe até lá, se a sua mãe ficar mais tranquila.
Parecia um pedido de casamento, não um pedido para tomar sorvete, mas Maya Yuni o achou diferente.
– Não acha que é muito para um sorvete?
– Depende, depois do sorvete, talvez, eu consiga permissão para namorar você.
– Nem me conhece.
– Não preciso, já sei quem você é. Sabe o meu nome?
__ Não sei. Preciso ir.
— É Anésio..
– Tem um nome diferente..
— Minha mãe é brasileira.
Yuni entendeu o nome fora dos padrões americanos.
– E o sorvete?
__ Minha mãe me matta se me pegar tomando sorvete com você.
Yuni correu pelas escadas, correu até o carro e entrou rapidamente.
— Minha filha está tudo bem? — Cícera perguntou.
— Está, eu só queria ver o meu irmão.
O menino dormia no banco do carro e Maya sorriu.
– Eu durmo com ele, hoje para a senhora descansar.
— Precisa dormir bem para ir para escola.
– Mas durmo bem com ele, mãe. Eu cuido dele.
Cicera cedeu, estava cansada. Cícera enfrentava uma rotina extenuante, sendo mãe de dois filhos e sem a ajuda dos pais. Trabalhava arduamente para sustentar a família e garantir que os seus filhos estivessem bem cuidados e alimentados. Todos os dias, acordava cedo, preparava o café da manhã e organizava tudo antes de sair para o trabalho.
Enquanto Cícera trabalhava, a sua filha Maya Yuni ajudava sempre que podia. Maya fazia as tarefas de casa, auxiliava na limpeza e na organização das roupas. Essa colaboração era fundamental para que a casa se mantivesse em ordem.
Ao voltar do trabalho, Cícera continuava a sua maratona diária. Preparava o jantar, por sorte, Maya fazia as atividades escolares sozinha, às vezes Maya tinha dificuldade, mas ainda assim, não pedia ajuda, porque sabia que a mãe estava cansada.
Cícera era rígida, mas apesar do cansaço, encontrava forças para estar presente e atenta a cada detalhe da vida dos seus filhos. Havia cuidado bem da filha quando Maya foi agredida, e na época, o irmão de Maya tinha somente dois meses. O menino era fruto de um romance rápido, Cicera havia feito laqueadura, quando Maya tinha somente 10 anos, e mesmo assim engravidou, o pai não assumiu, porque se sentiu enganado, afinal, ela tinha dito que não engravidava. Pelo menos era isso, que Maya acreditava, era o que a mãe dizia.
Foi assim, que Cícera ficou sozinha, com uma filha adolescente e um bebê, Maya era filha de um namorado da adolescência, a primeira vez que engravidou, foi no vestiário da escola, era adolescente e sem instrução, só percebeu o que fez quando a barriga começou a crescer. O pai de Maya foi transferido da escola, e logo depois foi para faculdade, se tornou um jogador de hóquei famoso e fez fortuna. E Cícera foi obrigada a lutar só, porque a sua mãe não ajudou, nem mesmo durante o parto, o resguardo ou quando Maya chorava até que Cícera achava que enlouquecera.
Quando teve mais uma gravidez, ela pensou que morreria, que enlouqueceria, pensou que não era justo, que a primeira foi sua culpa mesmo, mas na segunda, Deus tinha sido injusto com ela.
Mas a combinação do esforço incansável de Cícera e da dedicação de Maya Yuni mantinha a família funcionando. Juntas, elas eram boas, mas Cícera tinha tido depressão pós-parto, mesmo assim não parou, trocava a fralda do bebé chorando, o alimentava chorando e ia trabalhar chorando, mesmo assim, a vida seguiu,. E por isso o bebê que Cícera nem mesmo dizia o nome, passava muito tempo na creche, o amor não tinha nascido pela depressão pós-parto, mas ela se esforçava para que os filhos ao menos fosse bem cuidados.
E a mãe de Cícera se afastou definitivamente, porque a filha não tinha alcançado os objetivos estabelecidos. Tudo isso, era o que Maya escutava todos os dias, para que não repetisse os mesmos erros.