Capítulo 7

3111 Words
Beatriz É engraçado saber que Joaquim estava achando que Dani era algum namorado que havia deixado em São Paulo. Mas fico um tanto envergonhada quando conto que a minha vida amorosa é praticamente inexistente e que só ficava com alguns carinhas porque minha amiga maluquete me arranjava para que eu não ficasse sozinha nas festas enquanto ela se agarrava com alguém. Laura parece perceber o meu desconforto e muda de assunto fazendo a conversa girar em torno do seu casamento com Matheus. O garçom traz mais uma rodada de bebidas, mas percebo que Joaquim, Matheus e Laura se mantém no refrigerante enquanto Marina, Henrique e eu tomamos mais um drink da casa. No geral faço parte do time que toma apenas um drink com álcool e depois fica apenas na água e refrigerante. Mas a bebida está tão gostosa e docinha que nem parece ter álcool e não consigo parar de beber. Em determinado momento os casais vão dançar na calçada onde outras pessoas fazem o mesmo e sobramos apenas Joaquim e eu na mesa. Termino de tomar o meu terceiro drink e não considero que estou bêbada. Estou apenas um pouco mais leve que o normal. _ Vamos dançar também. – Convido Joaquim sem me importar a mínima com o fato dele ser o meu chefe e de ter jurado a mim mesma que me manteria longe para não estragar as coisas. _ Por que não? – Questiona empurrando a cadeira para trás me estendendo a mão com aquele sorriso de lado que o deixa ainda mais lindo. Aceito a sua mão e levando. Mas me arrependo profundamente de ter feito isso quando vejo tudo ao meu redor girar e quase caio sobre a mesa. _ Você está bem? – Pergunta num tom preocupado me ajudando a sentar. _ Sim. – Digo de olhos fechados puxando o ar com força torcendo que isso me ajude a melhorar. – Só fiquei um pouco zonza quando levantei. _ Deve ter sido a bebida. – Comenta e sinto a ponta dos seus dedos tocarem meu rosto enquanto arruma uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. _ Mas só bebi três copos. – Argumento abrindo os olhos e descobrindo que ele está agachado ao meu lado me olhando com aquela imensidão azul de seus olhos. _ E foram o suficiente para te deixar bêbada. – Rebate com aquele sorriso de lado que faz meu coração disparar e sentir um calor repentino. – Está melhor? – Pergunta sem desviar os olhos dos meus. Mas a sua proximidade, ou talvez o efeito da bebida, me deixa sem palavras e apenas assinto com um movimento leve de cabeça. – Vou até o balcão pegar uma água para você. Chega de bebidas coloridas para você hoje. – Brinca antes de se afastar da mesa desviando das pessoas que dançam alegres entre as mesas. Levo a mão ao peito tentando controlar as batidas erradicas do meu coração. Não sabia que ele podia bater dessa maneira sem ter feito nenhum exercício. Que apenas um toque, um sorriso e um belo par de olhos azuis causariam esse efeito em meu corpo. _ Sozinha, gatinha? – Um cara desconhecido pergunta sentando na cadeira ao meu lado sem pedir licença. – Posso te fazer companhia de quiser. – Diz apoiando o braço sobre o encosto da cadeira se aproximando ainda mais de mim. _ Ela não quer, amigo. – Joaquim responde por mim ao chegar na mesa. _ Perguntei a ela e não a você. – O cara rebate de forma marrenta sentando de forma correta, mas sem tirar o braço do encosto da minha cadeira. – Quem é você para responder pela garota? _ Sou quem vai te dar um belo soco na sua cara se não sair daqui agora. – Ameaça. _ Duvido. – Continua em tom arrogante. Sem que o homem esteja esperando Joaquim o pega pelo colarinho da camisa e o faz levantar a força. O movimento brusco faz a cadeira cair e chama a atenção de quem está por perto. Em seguida Joaquim soca o rosto do cara que tomba sobre a mesa derrubando alguns copos. Levanto apressada com medo de acabar no meio da troca de socos dos dois. Não demora para Matheus, Laura, Marina e Henrique estejam de volta a nossa mesa. As garotas ficam ao meu lado enquanto os rapazes tentam afastar a briga com a ajuda de mais dois desconhecidos. _ O que está acontecendo aqui? – Matheus pergunta ainda segurando o primo. – Por que está brigando com esse cara? – Dirige um olhar ameaçador para o oponente de seu primo que se debate tentando acertar Joaquim. _ Ele estava assediando a Beatriz. – Rosna furioso e acho que nunca o havia visto assim antes. _ Estava apenas conversando com a loira e ela estava gostando. – Mesmo tendo levado um soco e correndo o risco de levar outro o cara mantem a postura marrenta e arrogante. _ Mentiroso! – Grita Joaquim tentando avançar novamente sobre ele, mas é impedido pelo primo e Henrique. _ Chaga disso. – Matheus fala de modo firme fazendo o primo parar. – Levem ele para longe. – Pede aos outros homens, que provavelmente são amigos do i****a, e eles saem arrastando o cara para longe. Queria falar ou fazer alguma coisa, mas estou simplesmente sem ação. Costumo ficar assim quando coisas inesperadas acontecem. Matheus e Henrique o soltam quando o homem já está a uma distância considerável. Joaquim bufa passando as mãos nos cabelos tentando controlar a raiva. _ Não vamos deixar esse cara estragar a nossa noite. – Marina pede passando o braço sobre meus ombros em um meio abraço. – Estava tudo indo tão bem. _ Tem razão, amor. – Henrique concorda com a namorada, mas não tem aquele ar risonho e animado que possuía de quando chegamos. _ Você está bem, Bia? – Laura pergunta segurando minha mão esquerda entre as suas. – Suas mãos estão geladas. _ Estou bem. – Balbucio forçando um sorriso. – Foi só o susto da confusão. – Conto quando ela e Marina me ajudam a sentar na cadeira mais próxima. _ Desculpe por isso, Beatriz. – Joaquim fala agora parecendo estar mais tranquilo. – Não queria te assustar. _ Tudo bem. – Falo pegando a garrafinha de água que ele me estende. Mais bebidas são pedidas para nossa mesa e uma nova conversa se inicia com o intuito de nos fazer esquecer o que aconteceu a pouco. Sorrio e assinto com a cabeça tentando prestar atenção no que comentam, mas o que realmente queria era ir para casa, me enfiar na minha cama e dormir. Mas não quero ser aquela que acaba com a festa dos outros. Felizmente esse título é destinado a Joaquim quando ele diz que já está tarde e precisamos ir embora. Me despeço de todos com um meio abraço atrapalhado e um beijo no rosto antes de Joaquim me ajudar a caminhar até o carro evitando que eu acabe caindo com a cara no chão e pague meu segundo mico da noite. Já que o primeiro foi ficar bêbada com apenas três drinks. Quando estamos no carro rumo a fazenda começo a achar uma péssima ideia estar dentro de um carro em movimento. O chacoalhar provocado pela estrada faz meu estômago embrulhar. Respiro fundo tentando controlar a ânsia de vômito, mas não adianta muito. Acho que Joaquim percebe meu desconforto porquê abre as janelas. Respiro fundo o ar frio da noite e sinto a ânsia aliviar um pouco. Mantenho os olhos fechados me concentrando na tarefa de não vomitar no carro dele. O que está bem difícil. _ Chegamos. – Anuncia reduzindo a velocidade. Abro a porta sem esperar que pare totalmente o carro e coloco para fora todo conteúdo que estava em meu estômago. Enquanto tento controlar os espasmos provocados pelo vômito sinto meus cabelos serem içados para cima e uma mão pousa nas minhas costas fazendo movimentos circulares. _ Melhorou? – Joaquim pergunta quando consigo parar de vomitar e erguer a cabeça. Assinto usando a manga da jaqueta para limpar os cantos da boca. – Então vamos entrar. Você precisa de um banho e dormir. – Assinto novamente em resposta antes de saltar do carro. Com a ajuda dele consigo entrar em casa. Para a minha surpresa as luzes da sala estão acesas e Rosa aparece assim que chegamos. Ela está usando uma camisola branca longa e cabelos presos em um coque. Se não soubesse que ela está bem viva poderia acreditar que ela fosse algum tipo de fantasma usando esses trajes. _ Está tudo bem, senhor? Está passando m*l, senhorita Nogueira? – Questiona de forma solicita como é de seu costume. _ Ela está bem sim, Rosa. – Joaquim responde por mim. – Ela só precisa descansar um pouco. – Diz omitindo a parte que estou bêbada como se isso não fosse algo visível. _ Precisa que a ajude com algo? _ Não. – Respondo de forma rápida, mas me arrependo de ter aberto a boca porque falar parece trazer a ânsia de vômito de volta. _ Eu cuido disso, Rosa. – Ele fala me apertando um pouco mais contra o seu corpo para me manter de pé. – Pode se recolher. _ Certo. Boa noite, senhor. – Diz de modo formal antes de se retirar. _ Agora vou te levar para o quarto. Sem que espere ele me pega no colo. O movimento rápido faz tudo girar ainda mais e fecho os olhos apoiando a cabeça em seu ombro. Ele me carrega em silêncio até o andar de cima e só me coloca de volta no chão quando estamos na porta do meu quarto. _ Obrigada. – Agradeço tentando não falar com a voz tão arrastada. – Pode ir para o seu quarto que eu consigo me virar sozinha daqui. Uso a maçaneta de apoio para me manter firme e dá veracidade as minhas palavras. Mas tudo o que consigo é abrir a porta de modo inesperado e cair sentada no chão como se já não houvesse passado por vergonha demais até agora. _ Você está bem? – Pergunta entrando no meu quarto. – Machucou alguma coisa? _ Só o meu ego. – Digo tentando me levantar sem muito sucesso. _ Eu te ajudo. – Fala antes de me içar do chão fazendo meu corpo se chocar contra o seu e minhas mãos espalmarem em seu peito. Consigo sentir o seu coração bater num ritmo tão acelerado quanto o meu. Sua respiração está ofegante como a minha. Suas mãos estão em torno da minha cintura me ajudando a me manter de pé. Não deveria ficar tão mexida assim com ele. Não deveria estar desejando que ele me beije. Isso é o que a minha parte racional vive dizendo para mim desde o dia que quase nos beijamos na adega do galpão na casa dos seus avós. Mas no momento não consigo ouvir a voz da razão. Tudo o que consigo ouvir é a voz de Dani gritando para eu pensar menos e agir mais. E decidida a seguir o conselho da minha amiga deixo que minhas mãos deslizem por seu peito até estarem em torno do seu pescoço e me aproximo mais encostando nossos narizes. Essa é a deixa que Joaquim precisa para capturar meus lábios com os seus. A princípio o beijo é lento numa espécie de sondagem de terreno. Mas aos poucos vai se tornando mais urgente. Suas mãos me puxam para mais perto dele como se isso fosse fisicamente possível. Quando nos afastamos em busca de ar sinto como se estivesse flutuando. Sem dúvidas esse foi um dos melhores beijos que já dei na minha vida. Não que tenha beijado muitos caras para ter como comparar. Mas os poucos com quem eu fiquei não chegam nem perto do mix de sensações que o beijo de Joaquim me causou. Mal consigo respirar e já quero o beijar outra vez. Normalmente sou a garota que dá uma desculpa qualquer e foge para não beijar outra vez os ficantes que Dani insistia em me arrumar. Mas isso não acontece agora. Tudo o que quero é que Joaquim volte a me beijar. Como se lesse meus pensamentos ele desce os lábios sobre os meus novamente. E o segundo beijo é ainda mais intenso que o primeiro. Ele me encosta contra a porta deixando apenas uma mão em minha cintura enquanto a outra sobe até o meu pescoço e repousa sobre a minha nuca. O seu toque queima em minha pele e me faz arrepiar. _ Acho melhor pararmos por aqui. – Ele sussurra quando minha mão alcança a barra da sua camisa e parece que acaba de me lançar um balde de água fria. _ Eu pensei que quisesse. – Digo ofegante dividida entre a confusão que a interrupção do beijo me causou e a vergonha por estar me comportando dessa forma atirada com ele. _ Claro que quero. – Garante me olhando nos olhos. – Você não imagina o quanto quero. Mas este não é o momento. Não quando você está bêbada. Sorri afastando o cabelo do meu rosto. Deposita um beijo em minha testa antes de me tirar da porta e a fechar com cuidado. _ Você precisa tomar um banho e dormir. – Ele me conduz até a porta do meu banheiro. – Sei que disse que conseguiria se virar sozinha, mas quero garanti que está bem e não corre nenhum risco de cair e bater com a cabeça. Então vou ficar aqui na porta esperando que tome o seu banho para te colocar na cama antes de me recolher em meu quarto. E não adianta dizer que não precisa. Sem escolha apenas aceito os seus termos e entro no banheiro usando a parede como apoio. Deixo a porta apenas encostada. Ele tem razão. Estou bêbada e se eu cair e acabar me machucando ele precisa conseguir me ajudar. Com cuidado começo a me despir deixando as roupas atiradas num canto qualquer para pegar amanhã. Mesmo sabendo que vai doer ligo o chuveiro no jato frio assim que entro no boxe. Mas a água fria me ajuda a melhorar a sensação de tontura que ainda sentia. Quando desligo o chuveiro me apresso em me secar. Visto apenas as minhas peças intimas e me enrolo com o roupão felpudo. Os dentes ainda batem um no outro quando saio do banheiro e ainda preciso secar e pentear o cabelo, mas tudo o que quero é correr para me esconder nas cobertas. Só que antes de fazer isso preciso dispensar Joaquim que está arrumando minha cama. _ Já estou de banho tomado e vou para cama. – Digo tentando não bater muito os dentes enquanto falo. – Você já pode ir descansar. _ Tomou banho, mas não secou o cabelo. – Fala em tom de desaprovação. _ Eles secam enquanto durmo. _ E você pega um resfriado. – Diz passando por mim. Entra no banheiro e retorna trazendo uma toalha limpa. – Vamos secar eles logo e evitamos que fique doente. Pensei que ele me entregaria a toalha, mas ele simplesmente dá a volta parando atrás de mim e começa a secar meus cabelos com cuidado. Enquanto ele faz isso tento procurar na memória a última vez que alguém cuidou de mim dessa maneira. Geralmente eu precisava me virar sozinha para não atrapalhar a rotina da minha mãe. Acho que esse era um dos motivos pelos quais não costumava beber muito quando saia com os amigos. _ Prontinho. – Fala atirando a toalha molhada sobre a poltrona que fica ao lado da janela. _ Obrigada. – Digo virando para ficar de frente para ele. _ Não por isso. – Sorri acariciando meu rosto com as pontas dos dedos. – Agora você vai deitar e dormir um pouco. Vem. Deixo que ele me conduza até a cama e me cubra como se eu tivesse cinco anos como a minha irmã. Pensei que depois que fizesse isso ele sairia, mas ele não faz isso. Muito pelo contrário. Ele senta na ponta da cama e começa a fazer cafuné até que acabo dormindo. Quando acordo sinto a cabeça latejar de uma forma que parece que vai explodir a qualquer momento e a boca está seca. Mesmo não querendo me obrigo a levantar. Encontro no móvel ao lado da cama um copo com água, uma aspirina e um bilhete. Mais que depressa engulo o comprimido junto com a água desesperada para me livrar da dor de cabeça. Só quando devolvo o copo vazio ao móvel é que pego o bilhete para ler. Bom dia, Beatriz. Tomei a liberdade de deixar uma aspirina e um pouco de água para ajudar com a ressaca. Joaquim. Demoro um pouco para lembrar dos acontecimentos da noite passada. Da confusão com ele achando que Dani era algum namorado meu, da briga com um cara que tentou me assediar, de ter vomitado no jardim da frente assim que chegamos à fazenda. Lembro de ser carregada por Joaquim até o andar de cima, de cair no chão, dele me ajudando a levantar e do beijo. Nos beijamos. Por algum tempo pensei que o beijo tivesse sido algum tipo de sonho ou alucinação causada pela bebida. Mas não foi. Nos beijamos de verdade e não foi apenas uma vez. E depois dos beijos ele cuidou de mim e me colocou na cama para dormir. _ Isso não devia ter acontecido. – Digo cobrindo o rosto com as mãos. Desesperada e sem saber o que fazer diante dos fatos me mantenho trancada no quarto usando a desculpa de estar com dor de cabeça para não descer para o café da manhã e o almoço. Mas não consigo fugir quando Rosa avisa que Joaquim está me esperando para uma reunião no escritório. _ Mandou me chamar? – Pergunto sem olhar diretamente para ele. _ Sim. – Responde e o ouço afastar a cadeia e caminhar até parar diante de mim. – Está melhor? _ Sim. – Não tenho porque mentir. _ Então acho que podemos conversar sobre o que aconteceu ontem. – Direto como uma flecha. _ Está se referindo... _ Aos beijos que trocamos. – Completa usando o polegar e o indicador para me fazer olhar em seus olhos. É agora que ele me demite e me manda embora por ser uma atirada. Fico calada esperando a minha sentença, mas ela não vem porque o escritório é invadido por uma mulher usando um casaco de pele sintética, cabelos soltos e maquiagem carregada. Nunca a havia visto antes. Mas pelo modo raivoso e postura tensa de Joaquim acredito que ela não é bem-vinda aqui.
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