Capítulo 6

3162 Words
Joaquim Não acredito que estive tão perto de beijar Beatriz esta tarde e só não consegui porque fomos interrompidos pela ligação do namorado dela. Nunca fui o tipo de cara que fica de olho em mulher comprometida. Mas as coisas com Beatriz são diferentes. Eu já tinha me interessado por outras garotas antes só que nunca senti por elas o que sinto quando estou perto dela. A minha vontade era de toma-la em meus braços e beijar seus lábios quando ficamos sozinhos a alguns minutos atrás e o teria feito se não fossemos interrompidos novamente pela ligação do namorado. Tenho que admitir que o cara escolhe sempre as piores horas para ligar. Nesse exato momento os dois devem estar agora mesmo em meio a uma conversar melosa típica de namorados. E eu estou aqui fazendo hora no escritório. Só de imaginar ela suspirando por um cara que não sou eu me faz sentir como se o meu sangue queimasse em minhas veias e uma irritação me toma mesmo sabendo que não tenho nenhum direito de me sentir assim por ela. _ Acho que meu pai tem razão, vovô. – Converso com o retrato de vovô Theodoro que está sobre a mesa. – Estou começando a sentir pela Beatriz o que ele sentiu pela minha mãe quando ela chegou a vinícola. – Pego o porta-retrato para falar mais de perto. – Só que a diferença é que a garota que eu gosto está com outro cara e não sei como devo agir. – Um suspiro escapa por meus lábios quando me recosto na cadeira de forma relaxada. – Tem algum conselho para me dar? Lógico que a resposta que recebo é o total silêncio. Devolvo o porta-retrato ao seu devido lugar e caminho pelo escritório observando os títulos devidamente alinhados e limpos na estante sem buscar nenhum livro em específico. Pego um exemplar qualquer e sento no sofá lateral enquanto leio tentando não pensar na conversa de Beatriz com o namorado. Desisto da leitura depois de reler a primeira página pela décima vez sem conseguir me concentrar no que está escrito. Decido que já passou um tempo considerável e que a essa hora eles já devem ter desligado a ligação e não terei a tentação de ouvir a conversa dos dois atrás da porta novamente. Deixo o livro sobre o móvel ao lado do sofá para o caso de querer voltar a lê-lo em uma outra ocasião. Apago as luzes do escritório antes de sair. Estou cansado do dia agitado e preciso dormir bem para aguentar o dia cheio de trabalho que me espera amanhã. Antes de subir também vou até o interruptor da sala para apagar as luzes. Mas paro no meio do caminho quando me deparo com uma Beatriz completamente adormecida no sofá. Me aproximo tomando cuidado para não fazer barulho. Sei que dormir toda torta nesse sofá vai fazê-la acordar com dores por todo corpo e que preciso chama-la para ir deitar na cama, mas fico apenas ali parado admirando a sua beleza enquanto dorme com a mão esquerda enfiada debaixo da almofada que apoia a sua cabeça e a mão direita apoiada ao cotovelo esquerdo. Como em uma espécie de hipnose me ajoelho ao lado do sofá para a olhar mais de perto. Com cuidado afasto uma mecha loira do seu rosto e descubro o seu celular ainda apoiado ao ouvido. Salvo o aparelho de uma queda certa e com as pontas dos dedos em um toque suave acaricio o seu rosto. Sei que com essa atitude estou dificultando ainda mais as coisas para nós dois, mas ela parece ter um ímã que me atrai de uma forma que não consigo explicar. Aprecio cada detalhe do seu belo rosto decorando cada um de seus traços em minha memória. Me demoro mais em seus lábios. Os lábios que anseio por sentir a textura e conhecer o sabor. Recolho a minha mão quando percebo que ela começa a despertar, mas ainda me mantenho ajoelhado a sua frente. Assistir o seu acordar é um espetáculo de tirar o fôlego e me deixa sem reação por alguns segundos. _ Joaquim?! – Chama meu nome confusa com a voz rouca de quem acaba de acordar. – O que você está fazendo aqui? – Pergunta sentando de forma abrupta. _ Vim apagar as luzes. Notei que estava dormindo no sofá e estava decidindo qual seria a melhor maneira de acordá-la para dormir no quarto. _ Eu dormi na sala? – Questiona olhando em volta para checar o ambiente e assinto com um leve movimento de cabeça. – Nossa! Que vergonha! – Exclama cobrindo o rosto corado com as duas mãos. _ Relaxa. Está tudo bem. – Digo me colocando de pé. – Quem nunca dormiu no sofá depois de um dia agitado? – Pergunto em tom brincalhão tentando a tranquilizar sobre a situação. _ Mas uma coisa é dormir no sofá da sua casa e outra completamente diferente é dormir no sofá da casa do seu chefe. – Fala ao mesmo tempo em que volta a calçar seus tênis. – Você deve estar me achando uma folgada. _ Enquanto você estiver hospedada aqui essa também é sua casa, Beatriz. E não estou te achando nenhum pouco folgada. – Garanto sentando ao seu lado. – Eu realmente não vejo nenhum problema em você ter dormido aqui. _ Eu garanto que isso não vai se repetir. – Assegura ainda envergonhada. _ Já disse que não tem problema. – Digo apoiando os cotovelos sobre as coxas. – Acho que vai quer isso aqui de volta. – Estendo o seu aparelho celular e ela pega mais que depressa. _ Obrigada. – Diz num fio de voz. – Acho melhor subir para dormir no meu quarto. Antes que eu pudesse falar alguma coisa ela levanta e sobe as escadas com passos apressados. Fico ainda um tempo olhando o caminho que ela traçou antes de me recostar no sofá, que agora carrega o seu cheiro. Pego a almofada que ela estava usando para apoiar a cabeça e aspiro o seu perfume doce de rosas. _ Algum problema com a almofada, senhor? A chegada repentina de Rosa me assusta fazendo o meu coração quase sair pela boca. A mulher está usando um robe branco sobre a camisola na mesma cor a fazendo parecer um fantasma saído de um desses filmes de terror que detesto assistir. Levo a mão ao peito na tentativa de acalmar os seus batimentos. _ Perdão, senhor. – Pede em seu tom polido de sempre. – Não era a minha intenção o assustar. _ Tudo bem, Rosa. – Falo devolvendo a almofada ao sofá ao mesmo tempo que me levanto. – E não há nada de errado com a almofada. É que o cheio lembrou o amaciante que a minha mãe costuma usar. – Dou a primeira desculpa que me vem à cabeça. – Pensei que já tivesse se recolhido. O que faz acordada a essa hora? _ Estava com dificuldades para dormir e resolvi levantar para preparar um chá de camomila quando vi que a luz da sala ainda estava acesa, pensei que o senhor poderia estar precisando de algo e vim me certificar. – Justifica mantendo a sua postura impecável mesmo estando em trajes de dormir. _ Não preciso de nada. – Digo agora recomposto do susto. – Vou me recolher agora e a senhora pode voltar para o seu chá. Tenha uma boa noite, Rosa. _ Igualmente, senhor. A ouço dizer quando estou na metade da escada. Passo direto pela porta de Beatriz e não paro até estar em meu quarto. Tomo um banho rápido, visto algo confortável e me obrigo a dormir ou não irei aguentar nem metade do que preciso fazer amanhã. Como de costume acordo junto com o cantar do g**o, me arrumo e começo a minha rotina de trabalho depois de tomar um café reforçado. A minha manhã é bastante agitada. Preciso ajudar no parto de uma vaca, introduzir os potros mais velhos com o resto do gado e ainda ajudo no concerto de uma cerca que quebrou quando um peão levou o gado para pastar na parte sul da fazenda. O equipamento novo chega depois do almoço e é aquela dor de cabeça para acomodar todo o maquinário e entender como ele funciona para explicar aos peões. Quando volto para casa à noite estou exausto e morrendo de dor de cabeça. Mas sei que todo esse perrengue vai valer a pena no final das contas. Depois do jantar vou direto dormir. Na manhã seguinte começamos com o processo de produção dos queijos. Decidimos começar pelos queijos macios que levam de duas semanas a dois meses no processo de maturação e nos permite uma entrada rápida para o mercado consumidor. A nossa logomarca já foi desenhada por Henrique e já mandei fabricarem as embalagens. Bem como a nossa campanha publicitária que está nas mãos da minha mãe e de tia Nath. O que é sucesso garantido. No decorrer da semana vamos avançando com a produção. Com os peões mais familiarizados com os maquinários posso os deixar apenas sobre a supervisão de João, um homem de confiança de Luiz, e vou cuidar de outros assuntos relacionados a fazenda. Um desses outros assuntos é o apartamento que inicialmente foi preparado para receber Beatriz. A reforma está quase completa. Só falta apenas terminar de repor os azulejos da parede e o lugar estará pronto para recebe-la. Confesso que gostaria que essa obra demorasse mais para acabar. A ideia de ficar sozinho naquela casa enorme não me agrada. Detesto a solidão. Mas o que mais detesto é a ideia de não ter Beatriz por perto. Saber que ela não vai mais ocupar o quarto do início do corredor. Na sexta-feira pela manhã preciso ir até a cidade resolver alguns detalhes práticos para o lançamento dos queijos da fazenda Mantovan. Aproveito para ir visitar a minha mãe no trabalho. As coisas andam tão agitadas que m*l consigo falar com ela ou qualquer outro m****o da família. Quando volto para casa já passa um pouco das 15hrs e me deparo com o carro de Marina parado na entrada principal. Me apresso a entrar para cumprimenta-la. Na certa ela veio até aqui para saber como estou e brigar comigo porque quase não tenho respondidos suas mensagens. Assim que chego na sala de estar a encontro em uma conversa animada com Beatriz, que é a primeira a notar a minha presença parando no meio a frase que estava falando. _ Boa tarde, Mari. – Digo me aproximando da minha prima para a abraçar. – A que devemos a honra da sua visita? – Questiono indo me sentar na poltrona que fica próxima ao sofá onde elas estão sentadas. _ Vim saber se vocês estão bem. – Fala apoiando as mãos sobre as pernas de forma delicada. – Você quase não responde as mensagens e estávamos preocupados. Maia me fez prometer que viria aqui para me certificar de que você não estava morto. _ Quanto exagero. – Falo revirando os olhos. – Eu realmente não estou respondendo as milhares de mensagens que a sua irmã manda comentando sobre cada passo que está dando na Itália porque estou muito ocupado. _ Beatriz contou que a produção está a todo vapor. – Diz com um sorriso destinado a ela. – Quem diria que você seria um homem de negócios. Ainda lembro o dia em que você chegou na casa dos nossos avós. – Comenta com ar saudoso. – Você era tão fofinho. _ Também lembro desse dia. – Asseguro sem querer me aprofundar no assunto. Chegar à casa dos meus avós foi o melhor que me aconteceu. Mas falar sobre isso me faz lembrar de acontecimentos que prefiro manter enterrados. _ Além de visitar também vim fazer um convite. – Muda de assunto notando o meu desconforto. _ Que convite? – Pergunto descansando o pé esquerdo sobre o joelho direito. _ Soube que Beatriz ainda não conheceu a noite da cidade e vim convidar ela para ir hoje na inauguração do bar do amigo do Henrique. _ E eu disse que não é uma boa ideia. – Beatriz fala pela primeira fez desde que cheguei. – Eu vim para cá trabalhar e não ir para festas. _ Mas você já trabalhou a semana toda e precisa relaxar. – Marina argumenta de volta. _ Minha prima tem razão. – Digo atraindo a atenção das duas. – Tivemos uma semana bastante cheia e merecemos um descanso. – Marina concorda com um movimento de cabeça. – Nada melhor do que irmos a um bar conversar com amigos e relaxar um pouco. _ Então posso contar com a presença de vocês hoje? – Minha prima questiona diretamente para mim. _ Com toda certeza. _ Beatriz? – Busca uma confirmação da parte dela que apenas assente com um maneio de cabeça. – Ótimo. – Marina diz se colocando de pé. – Tenho que ir agora. Mas espero por vocês lá na inauguração. Ela se despede dando um abraço apertado em cada um e Rosa a acompanha até a saída nos deixando sozinhos. Ela me encara por alguns minutos dando a entender de que quer falar algo, mas quando finalmente parece ter criado coragem para falar Luiz chega para passar o relatório do dia de produção junto com João e seguimos os quatro para o escritório. A nossa pequena reunião leva quase uma hora para terminar. Mas ao final todas as informações relacionadas a produção estão devidamente computadas. Bem como as sugestões que eles nos dão para ajudar a melhorar ainda mais o nosso trabalho. Quando os dois deixam o escritório confiro a hora em meu relógio de pulso que indica que são quase cinco horas da tarde. _ Acho que estamos oficialmente livres por hoje. – Digo ao me levantar da cadeira com um suspiro. – Vou aproveitar para tomar um banho e assistir um pouco de TV antes da gente sair. _ Eu queria falar com você sobre isso. – Diz mordendo a parte interna da bochecha e já notei que faz isso quando está nervosa. – Nós vamos mesmo para aquele bar que a sua prima falou? _ Vamos. – Falo cruzando os braços na altura do peito. – Lógico que não é um lugar badalado como os que você devia ir quando estava em São Paulo, mas é bem bacana. Estive lá uma ou duas vezes com o Henrique para ver como as coisas estavam ficando. _ Certo. – Fala enfiando as mãos nos bolsos traseiros da calça jeans escura. – Vou deixar você ir tomar o seu banho. Que horas vamos sair? _ Umas sete está bom para você? – Ela assente em resposta. – Então saímos as sete e encontramos com o pessoal lá mesmo. Questão decidida ela deixa o escritório. Antes de subir para o meu quarto aviso a Rosa que nós vamos sair e que não será necessário preparar o nosso jantar. Depois do banho demoro um tempo para escolher a roupa que vou usar. Decido por uma calça jeans preta, camiseta cor de vinho, uma jaqueta marrom escura e tênis também preto. Faço um meio topete jogando o cabelo para trás e depois de colocar perfume me acomodo na cama e espero até dar a hora que combinei com Beatriz. Às sete em ponto deixo o meu quarto e encontro com ela também saindo do seu quarto. Ela está linda usando um vestido preto um pouco acima do joelho, uma jaqueta jeans e calça uma bota cano curto preta. Os cabelos loiros estão soltos e o rosto carrega uma maquiagem um pouco mais trabalhada. _ Podemos ir? – Ela questiona me despertando do transe e assinto com a cabeça em resposta. Deixo que ela desça na frente antes de seguir logo atrás dela me recriminando mentalmente por ter ficado a encarando com um i****a. Se continuar dessa forma ela vai acabar achando que sou maluco. Antes de irmos envio uma mensagem para Marina avisando que estamos saindo da fazenda agora. No carro ligo o som e comentamos sobre coisas do dia a dia durante todo o caminho até a cidade. Tenho um pouco de dificuldade de encontrar uma vaga para estacionar o carro já que a rua onde funciona o bar está cheia de carros. Por questão de segurança guio Beatriz com a mão apoiada na base das suas costas até a mesa na parte externa onde Marina, Henrique, Matheus e Laura nos esperam. Cumprimentamos a todos com um beijo no rosto antes de nos sentarmos um ao lado do outro. Um garçom logo aparece para pegar os nossos pedidos. As garotas escolhem um drink de frutas vermelhas enquanto os rapazes se dividem em cerveja e a batida de maracujá recomendada pelo amigo de Henrique. Engatamos uma conversa sobre histórias engraçadas de infância. Depois do primeiro drink abro mão do álcool e fico apenas na água e no refresco já que vou ter que dirigir de volta para a fazenda e Matheus me acompanha já que ele também vai ser o motorista da vez. Em determinado momento entramos no ponto relacionamento amoroso. Matheus e Laura contam como os dois se conheceram ainda na escola quando ainda eram crianças e que a relação dos dois evoluiu depois quando ficaram mais velhos. Já a história de Marina é diferente. Ela e Henrique se esbarraram em frente a Fonte do Amor Eterno e foi amor à primeira vista. _ E você é comprometida com alguém de São Paulo? – Marina pergunta devolvendo a sua taça à mesa. _ Não. – Responde antes de bebericar o seu drink. _ Você terminou com o seu namorado? – Pergunto tentando disfarça a animação que aparece em minha voz. Mas pelo sorriso de lado de Matheus acho que não consegui disfarçar muito bem. _ Quê! – Exclama quase engasgando com a bebida. – Eu nunca tive nenhum namorado. – Afirma colocando o copo de volta na mesa. _ Mas como nunca namorou se você é uma garota tão linda e inteligente? – Questiona minha prima. _ Nunca fiz o tipo que sai para festas e sou meio tímida para falar com rapazes. – Comenta claramente relaxada. – A maioria das vezes que fiquei com algum cara em uma social foi graças a minha amiga Dani. Ela sempre dava um jeito de me arrumar um acompanhante para não me deixar de vela enquanto se agarrava com algum carinha que conheceu no meio da pista de dança ou algo do tipo. De todas as coisas que ela falou eu só prestei atenção na parte onde ela fala que Dani é a sua melhor amiga e que ela não tem nenhum namorado. O que significa que talvez eu consiga ter alguma chance com ela. Essa conclusão me faz abrir um largo sorriso. Sei que as coisas entre nós são meio complicadas por causa do trabalho, mas se deu certo para os meus pais também pode dar certo com a gente.
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