Capítulo 14

2985 Words
Joaquim A sensação de voltar para casa é maravilhosa. Mas não é tão boa quanto a sensação de ter Beatriz em meus braços. A minha ficha está caindo aos poucos. Ainda parece irreal o fato de tê-la conseguido convencer a namorar comigo. Tenho quase certeza de que tem um dedinho de Dani nessa sua decisão. Preciso lembrar de ligar para a agradecer depois. Agora a minha prioridade é a apresentar a minha família como a minha namorada. Tento a acalmar enquanto atravessamos a varanda de mãos dadas. Assim que atravessamos a porta somos tomados por aquela animada atmosfera familiar. Raquel está no sofá rodeada pelos meus irmãos enquanto os outros estão em seus grupinhos de conversa costumeiro. Mas assim que notam nossa presença param o que estão fazendo e quase que de forma sincronizada seus olhos recaem sobre nossas mãos unidas. O silêncio é tanto que seria possível ouvir um alfinete caindo no chão. _ O que significa essas mãos dadas? – Maia pergunta com um sorriso sapeca quebrando o silêncio. _ É o que estamos pensando? – Marina questiona ansiosa por uma resposta. _ Sim. – Decido acabar com o suspense. – Estamos juntos. – Declaro olhando diretamente para os meus pais. É a reação deles que mais me importa. _ Estão namorando? – Mamãe pergunta ao se aproximar de nós sendo acompanhada por papai. _ Sim. – Digo soltando a mão de Beatriz para lhe envolver a cintura. – Estamos namorando. – Reafirmo enquanto Bia se mantem em silêncio. _ Meus parabéns. – Mamãe fala vindo nos abraçar. – Desejo que esse namoro dê certo e que os dois sejam muito felizes. _ Faço minhas as suas palavras, Ruivinha. – Papai diz se enfiando em nosso abraço. _ Que notícia maravilhosa! – Exclama vovó Camila. _ Quando vi vocês dois juntos sabia que iria acabar em namoro. – Maia comenta deixando Beatriz corada de vergonha. _ Esse início de namoro merece uma comemoração. Significa que a família D’Angelo vai aumentar ainda mais. – Vovô fala entusiasmado. _ E nada melhor para comemorar do que uma boa comida regada do mais saboroso vinho. – Tio André emenda a fala do pai. Seguimos todos para a sala de jantar onde um enorme banquete nos espera. Vovó dispensa Rosa quando todos estamos acomodados em nossos lugares. Como alguns D’Angelo faltaram a essa reunião cabemos todos juntos na mesa. Cada um serve seu próprio prato e as vozes altas em conversas animadas preenchem o ambiente que geralmente é sempre tão silencioso. Aos poucos Beatriz vai relaxando e aproveitando a companhia de todos. Raquel já está bastante enturmada com meus irmãos e acho linda a interação dos três. Mas gosto principalmente de ver Raquel agindo como uma criança. Depois do almoço grande parte da família vai embora e sobramos apenas Bia, Raquel, meus pais e meus irmãos. Mamãe nos leva para conhecer o quarto que preparou para Raquel e a menina ficou simplesmente encantada pelo lugar. Ver os seus olhinhos brilhando de alegria me fazem ganhar o dia. _ Vamos tomar um café na sala e deixar que ela curta o quarto. – Mamãe convida se recostando no peito do marido. _ Não acho que seja uma boa ideia. Raquel acaba de chegar e não conhece a casa. Pode ficar assustada. – Desata a falar Beatriz. _ Relaxa, Bia. – Digo a abraçando. Percebo que seu corpo fica um pouco tenso com o contato, mas depois relaxa. – Ela está enturmada com meus irmãos. _ Podem ir tranquilos. Já sou grande e posso ficar de olho neles. Se acontecer alguma coisa prometo que chamo vocês. – Lulu garante com um sorriso responsável. _ Isso, filha. – Papai concorda com uma piscadela para a minha irmã. – Você está no comando. – Brinca batendo uma meia continência a fazendo rir antes de se encaminhar para junto dos mais novos. – Agora podemos ir tomar o nosso café sem qualquer preocupação. – Diz sem dar qualquer espaço para argumento. Deixo que meus pais saiam na frente antes de segui-los para o andar de baixo. Assim que chegamos à sala vejo Rosa voltar da parte externa trazendo algumas correspondências consigo. Peço que nos traga um café com biscoitos. Enquanto a aguardamos voltar nos acomodamos nos confortáveis sofás. Sento ao lado de Bia, claro. Aproveito a nossa proximidade para roubar um beijo a deixando corada. _ Vocês são lindos juntos. – Mamãe fala com um largo sorriso. – Não acha, Anjo? – Pergunta a papai que assente com um movimento de cabeça. _ Agora que estamos apenas nós será que poderia saber mais detalhes sobre o pedido de namoro ou seria muito invasivo da minha parte? – Ele pergunta em seu tom leve de sempre. _ O primeiro pedido foi aqui no escritório, mas foi um fiasco. – Conto de modo relaxado. – Primeiro porque a Bia disse não. – Os dois riem do meu relato. – Segundo porque a Andreia apareceu aqui. – Assim que ouvem isso seus sorrisos somem. _ Aquela mulher esteve aqui? – Pergunta mamãe claramente com raiva e apenas assinto em resposta. _ O que ela queria, filho? – Papai pergunta preocupado. _ Ela veio com aquela mesma ladainha da última vez. – Falo deixando um suspiro cansado escapar. – Mas a coloquei para fora e ameacei chamar a policia caso ela volte a aparecer por aqui. _ Pensei que tivéssemos deixado bem claro qual era o lugar dela no dia em que ela foi até a nossa casa. – Mamãe bufa irritada. _ Calma, mãe. – Digo deixando o meu lugar para sentar ao seu lado. – Essa mulher não merece nem mesmo que fique irritada com ela. É uma mulher pobre de alma que está tentando manter o estilo de vida da forma mais asquerosa possível. – Seguro suas mãos entre as minhas. – Vamos deixar essa mulher de lado e voltar ao assunto do dia. O meu namoro com a mulher mais linda do mundo. _ Terei que discordar. – Papai fala envolvendo minha mãe em seus braços. – A mulher mais linda do mundo é a minha. – Brinca a fazendo sorrir. – Então quer dizer que a Beatriz te deu um pé na b***a quando fez o primeiro pedido? _ Sim. – Digo voltando para o meu lugar ao lado da minha garota. – Mas claro que não iria desistir. Armei um plano de conquista que pretendia colocar em prática durante a semana para a convencer de que somos perfeitos um para o outro. Só que aconteceu o que aconteceu e tive que abordar a missão. _ Mas ainda assim você me mostrou que é perfeito. – Ela declara fazendo o meu coração derreter. – Foram momentos bastante difíceis esses que passei nessas últimas semanas. E saber que você estava do meu lado me ajudou a superar os obstáculos que surgiam a cada dia. _ Se ele não ficasse, nós iriamos até São Paulo para te dar o nosso apoio. – Mamãe revela. _ Iriam?! – Bia questiona surpresa. _ Claro. – Confirma papai. – Em momento como esses precisamos de alguém por perto garantindo que tudo vai ficar bem no final das coisas. Nossa conversa é interrompida pela chegada de Rosa com nossos cafés. E o assunto muda. Deixamos o tema namoro de lado para falarmos sobre matricular Raquel na mesma escola que meus irmãos frequentam e que eu frequentei quando era mais novo. São 16hrs25min quando meus pais vão embora junto com meus irmãos. Beatriz sobre para ajudar Raquel com o banho e aproveito para ir até o escritório checar as correspondências e responder aos e-mails do dia. Assim que entro no lugar me deparo com uma pequena montanha de envelopes e pastas com documentos sobre a mesa. Com calma e cuidado começo a abrir e ler um por um. Depois passo para os e-mails deixando os relatórios feitos por Luiz por último. Ao que tudo indica o problema com uma das máquinas que compramos foi resolvido e voltamos a produção em grande escala. Com isso posso aprovar a liberação da primeira leva de queijos da fazenda Mantovan&D’Angelo para o mercado. Uma leva voltada para o publico mais popular. Desligo tudo quando Rosa vem me avisar que o jantar está servido. Chego junto com as garotas até a sala de jantar. Enquanto comemos ouvimos atentamente o relato de Raquel sobre os seus mais novos amigos e sobre como o seu quarto é igual ao de uma princesa. Mas quando terminamos ela está quase caindo sobre o prato exausta do dia agitado. A carrego no colo até o andar de cima e fico sentado na cama assistindo enquanto Bia prepara a pequena para dormir. Usando um pijama devidamente quente para a ocasião ela finalmente se acomoda em sua cama. Não é preciso esperar muito para que esteja dormindo. Depois de nos despedirmos dela com um beijo de boa noite deixamos o quarto. _ Que dia. – Bia suspira alongando o pescoço. _ Nem me diga. – Falo com um meio sorriso a envolvendo pela cintura. – Foi bastante agitado. Mas acredito que não mudaria nada dele. _ Nem eu. – Comenta deixando os braços caírem em torno do meu pescoço. – Foi o dia mais feliz da minha vida. _ Porque aceitou ser a minha namorada. – Brinco encostando nossas testas e roçando meu nariz no dela a fazendo sorrir. _ Isso foi um ponto importante. – Diz colando um pouco mais seu corpo no meu. – Mas o que tornou o meu dia mais feliz foi ver a Raquel tão à vontade com a sua família. Pareceu que eles já se conheciam a anos. _ Também percebi essa conexão. – Afasto um pouco para poder a olhar melhor. – Foi mágico. _ Verdade. – Fala brincando com os cabelos da minha nuca. – Conseguiu ver como estão as coisas por aqui? Surgiu mais algum problema? _ Não vamos falar de trabalho agora. – Peço acariciando o seu rosto. – Quero curtir um pouco a minha namorada. – Afasto uma mecha de cabelo que cai sobre seus olhos. _ Mas passamos muito tempo longe e... A interrompo com um beijo. Sei que temos semanas de trabalho acumulado, mas não quero pensar nisso agora. Encosto seu corpo contra a parede intensificando nosso beijo. Quando nos afastamos sinto todo o meu corpo queimar, mas procuro controlar meus ímpetos. _ Não acho que seja de bom tom ficarmos aos beijos pelo corredor. – Comenta com a respiração ofegante. – Alguém pode ver. _ Não dou a mínima para que vejam o quanto estamos apaixonados um pelo outro. – Afirmo antes de beijar rapidamente seus lábios. – Mas se isso te incomoda podemos continuar a namorar no meu quarto. _ Péssima ideia. – Diz e sinto como se tivesse me jogado um balde de água fria. – Não é o que está pensando, Joaquim. – Fala quando percebe a minha mudança de postura. – É que o seu quarto fica um pouco longe do quarto da Raquel e precisaria correr todo o corredor até chegar aqui caso ela precise de algo. _ Tem razão. – Digo me deixando relaxar novamente. – Desculpe. Só queria ficar um pouco mais com você e não pensei na logística da coisa. _ Podemos ficar no meu quarto, se quiser. – Sugere com as bochechas levemente coradas e acho isso muito fofo. _ Eu quero. – Falo com um sorriso de lado. – Mas antes preciso tomar um banho. Tudo bem? _ Sem problemas. Fico esperando por você. A beijo novamente antes de praticamente correr até o meu quarto. Tomo um banho rápido, visto algo mais confortável e então faço o cainho de volta até o seu quarto. Bato levemente para anunciar a minha chegada antes de entrar. Pensei que a encontraria me esperando, mas a encontro dormindo quase que sentada na cama. Com cuidado para não fazer muito barulho caminho em sua direção e a ajudo a deitar direito. Pretendia voltar para o meu quarto depois disso, mas para a minha surpresa ela segura meu braço e me pede para ficar com um sussurro quase inaudível afastando um pouco deixando um espaço para mim. Então me acomodo ao seu lado e a trago para os meus braços. Fico ainda um tempo admirando a sua beleza antes de também adormecer. Acordo com os primeiros raios da aurora como de costume. Demoro alguns minutos para me situar e entender que estou no quarto de Beatriz. A observo dormir por um breve momento antes de me levantar com cuidado para não a acordar. De volta ao meu quarto me preparo para um longo dia de trabalho. Como algo rápido na cozinha mesmo antes de ir me encontrar com os peões que estão fazendo a ronda por todo perímetro da propriedade. Enquanto checamos as cercas e o gado aproveito para me atualizar de tudo. Eles me contam que o potro que nasceu um dia antes de Bia e eu viajarmos para São Paulo agora está no estábulo junto com a nova mãe. A produção de leite aumentou, quatro vacas deram à luz sem qualquer complicações e mais cinco estão prenhas. Depois da ronda vou até o galpão acompanhar a produção dos queijos. Provo alguns para ter certeza de que estão bons antes de mandar embalar. Dou uma olhada na máquina que havia dado defeito no início da semana passada antes de voltar para a casa grande. Assim que chego ao hall de entrada ouço as vozes de Raquel e Bia em um diálogo fofo entre irmãs. Sei que é errado ficar ouvindo a conversa alheia, mas não quero atrapalhar o momento das duas e também não consigo sair do lugar. _ Quando o Joaquim volta, Bibi? – Pergunta por mim e isso mexe comigo. – Ele está demorando muito. – Ela sente a minha falta. _ Ele está trabalhando, Quel. – Explica em tom calmo. – Ficamos muito tempo fora e ele tem muitas coisas para resolver. _ Igual você? _ Sim. Igual a mim. _ E qual é o trabalho dele mesmo? – Pergunta curiosa. _ Ele cria vários animais e produz queijos para vender. – Explica de maneira resumida. _ E qual é o seu trabalho, Bibi? _ Eu ajudo o Joaquim com o trabalho dele. _ E também namora com ele, não é? – Sorrio com a pergunta. _ Sim. _ Também quero namorar. – Suas palavras me atingem como uma faca sendo encravada em meu peito. Minha mente produz imagens suas saindo com garotos e não gosto nenhum pouco disso. _ Você é muito nova para pensar nessas coisas. – Bia argumenta. _ Só pode namorar quando crescer? _ Isso mesmo. Resolvo me revelar e interromper essa conversa antes que mais perguntas sejam feitas. Assim que me vê chegar Raquel se ergue do chão usando a irmã como apoio e caminha apressada em minha direção usando as muletas como suporte. _ Estava com saudade, Joca. – Fala me chamando pelo apelido que todos da minha família usam. – Você demorou muito para chegar. _ É que estava trabalhando, princesa. – Digo a pegando no colo. _ Cuidando dos bichinhos. – Diz com uma carinha engraçada. _ Isso mesmo. – Falo com um sorriso de lado. _ Queria conhecer os bichinhos que você cuida. – Pede com aquele olharzinho de gato que estou acostumado a receber dos meus irmãos quando querem algo e sempre acabo cedendo. – Você me leva? _ Claro que levo. – Digo e ela comemora com um soquinho no ar. – Nós vamos depois do almoço. _ Não vai te atrapalhar? – Bia pergunta ao se aproximar de nós. _ Claro que não vai atrapalhar. – Garanto antes de me esticar para lhe roubar um beijo. – Vocês nunca atrapalham. – Digo lhe olhando nos olhos. Já percebi que as vezes Bia tem dificuldade de acreditar no que eu falo. Mesmo que não verbalize isso. Talvez isso se deva ao fracasso no casamento dos pais ou mesmo uma experiência r**m com algum namoradinho. Mas aos poucos vou mostrar que tudo o que digo é verdade. Mesmo tendo uma tonelada de coisas para resolver me sento no chão com Raquel em meu colo e começamos a desenhar. Paramos a sessão de desenhos quando Rosa nos avisa que o almoço já está servido. Durante a refeição Raquel se mostra eufórica e animada para conhecer os bichinhos que eu cuido aqui na fazenda. Isso faz com que tenhamos que barganhar para que coma toda a comida do seu prato. Depois do almoço seguimos os três até o estábulo. Como o gado está pastando nesse momento mostra-los a ela não é uma boa opção. Mas tenho certeza que conhecer os cavalos à vai deixar satisfeita. Passamos pelas baias ocupadas por uma variedade de lindos cavalos até que paramos perto do potro malhado que a três semanas perdeu sua mãe. _ Esse é pequeno. – Raquel observa. _ É porque ele nasceu faz pouco tempo. – Conto me aproximando mais para tocar a cabeça do potro. – Quer tocar? – Ela assente esticando a mão de forma hesitante. – Não precisa ter medo. – Garanto a encorajando. – Ele não é bonito? _ Sim. – Afirma encantada pelo animal. – Como é o nome dele? _ Ele ainda não tem nome. – Conto afagando a crina dele. _ A mamãe dele não deu um nome para ele? – Pergunta agora o deixando de lado para me olhar. _ A mamãe dele morreu. _ Igual a minha? – Assinto com um movimento de cabeça. – Coitadinho. _ Mas arrumamos alguém para cuidar dele igual a Bibi cuida de você. – Digo olhando para a loira que permanece muda desde que chegamos. _ Quem? – Questiona curiosa. _ Você. – Digo sem pensar muito. Sei que deveria perguntar a Bia se tudo bem dar um cavalo de presente a pequena, mas não resisto.
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