Capítulo 13

2961 Words
Beatriz Nem acredito que consegui sobreviver as últimas três semanas sem ficar completamente maluca. Tenho que admitir que ter Joaquim ao meu lado facilitou muito as coisas. Ele leva muito jeito com a Raquel e faz de tudo para a ver sorrindo. Como agora que acaba de atender a um pedido dela para virmos a uma lanchonete que tem um cardápio nada saudável para comemorar junto com nossos amigos que finalmente se livrou do gesso. A nossa mesa está repleta de hamburgueres, batatas, nuggets e refrigerantes. Tudo o que uma criança não deveria comer a noite. Mas nenhum dos dois consegue dizer não a ela. Agora só nos resta torcer para que ela não fique com nenhuma indigestão com tanta comida. _ Posso ir no parquinho, Bibi? – Pede com o rosto todo melecado de molho. _ Não acho que seja uma boa ideia, Quel. – Digo usando um guardanapo descartável para limpar o seu rosto. _ Só um pouquinho. – Torna a pedir unindo as mãozinhas em uma prese. _ Eu posso levar ela se quiser. – Sugere Joaquim devolvendo o copo de refrigerante a mesa. – Prometo que fico de olho. – Os dois me olham com uma cara de cachorro que acabou de cair do caminhão da mudança. _ Tudo bem. – Falo e os dois comemoram. _ Vou junto com vocês. – Gustavo declara deixando o seu lugar ao lado da namorada para os seguir até o parquinho. Fico observando os três se afastarem em passos lentos. Quando chegam a área de recreação Raquel está eufórica. Ainda não pode ir brincar no escorrega ou cama elástica, mas se contenta com a casinha e faz os dois marmanjos brincarem com ela. Gustavo fica todo perdido e um tanto constrangido por estar na brincadeira, mas Joaquim não parece ligar. Talvez seja o fato de ser irmão mais velho de uma garota e ter sido obrigado a brincar com ela mesmo já estando crescido. _ Aqui, amiga. Dani diz me fazendo quebrar o contato visual com eles. Olho para a sua mão estendida em minha direção e vejo que está me oferecendo um guardanapo. _ Para que isso? – Pergunto pegando o objeto. – Estou com o rosto sujo? _ Não. – Fala passando para a cadeira que era de Raquel ficando ao meu lado. – É para você limpar a baba que está escorrendo da sua boca enquanto está secando o Joaquim. _ Não estou secando ninguém. – Argumento. Mas por seu olhar sei que não a convenci. _ Vai mentir para você até quando? – Pergunta em tom sério. _ Não sei do que está falando. – Digo enfiando uma porção de batata frita na boca. _ De você estar apaixonada pelo Joaquim. – Abro a boca para reafirmar meu argumento de que não sinto nada por ele, mas ela ergue a mão sinalizando que ainda não acabou de falar. – Não adianta dizer que não rola nada entre vocês ou que não podem ficar juntos porque ele é o seu chefe. As atitudes dele mostram que ele não dá a mínima para isso. Ele gosta de você. Deixou a vida dele parada lá no sul só para ficar aqui com você, garota. _ Você não entende. _ É você que não está entendendo, Bibi. – Diz me olhando no fundo dos olhos. – Se continuar jogando-o para escanteio vai chegar o dia em que ele vai se cansar e desistir de você. É isso que quer? Não respondo a sua pergunta. Mas minha mente viaja até uma realidade em que Joaquim não está mais por perto e não gosto nenhum pouco disso. _ Sei que você é a garota que sempre age pela razão e pensa muito no que as pessoas em volta vão falar. – Continua seu discurso me trazendo de volta de meu devaneio. – Mas para de pensar um pouco e começa a viver. O que aconteceu com o seu pai só mostra o quanto a vida é curta. Então porque perder tempo em ser feliz. Nossa conversa é interrompida pelo retorno dos rapazes e Raquel. Minha amiga volta para o seu lugar ao lado do namorado enquanto ouvimos a narrativa animada de Raquel sobre o chá que tomou com os dois príncipes que a foram visitar em seu castelo depois de enfrentarem dois enormes dragões. Depois disso o tema da conversa vai mudando até que Dani pergunta quando voltamos para Gramado e Joaquim conta que pretende comprar as passagens para irmos embora amanhã mesmo. Imagino que tenha pressa em voltar por conta dos problemas que o adiamento do lançamento causaram. Ele não me conta exatamente como andam as coisas, mas pelo tempo que tem passado resolvendo coisas no celular sei que não está fácil. Quando encerramos a nossa noite Raquel está exausta. Fazia tempo que não se divertia como hoje. Ela até consegue dormir no carro enquanto fazemos o caminho de volta para o hotel. Joaquim a carrega até o nosso quarto quando chegamos e depois vai se recolher nos deixando sozinhas. Depois de trocar de roupa me deito ao lado da minha irmã e fico a observar o seu sono tranquilo. Demoro um tempo até conseguir dormir. Mas o sono é um tanto conturbado. Sonho com Joaquim desistindo de ficar comigo e indo embora com uma outra mulher. Grito por ele e corro tentando o alcançar, mas é um esforço em vão. Ele está muito distante e parece não me escutar. _ Bia. – Ouço uma voz distante me chamando. – Bia, acorda. – A voz vai ficando cada vez mais perto até que abro os olhos e me deparo com Joaquim ajoelhado ao lado da minha cama com a mão em meu ombro. _ O que houve? – Pergunto ainda confusa por conta do sono. _ Eu é que pergunto. – Diz em tom baixo. – Estava indo até o banheiro quando te ouvi me chamar. – Explica sentando na ponta da cama. – Acho que estava tendo algum pesadelo e por isso resolvi te acordar. _ Ah! Obrigada. – Digo um tanto sem graça. – Que horas são? – Pergunto quando tento olhar no relógio, mas não enxergo por estar sem os óculos. _ São quase seis. – Fala apoiando os cotovelos sobre as coxas. – Ainda pode dormir um pouco mais se quiser. _ Acho que prefiro levantar e começar a organizar as minhas coisas e as da Raquel. – Jogo as cobertas para o lado e me levanto. – Já sabe de que horas vai ser o nosso voo? _ Viajamos as dez. – Responde também saindo da cama. _ Certo. _ Vou te deixar arrumar suas coisas em paz. – Diz apontando para a porta aberta do meu quarto. – Qualquer coisa é só me chamar. – Assinto em resposta. O assisto deixar o quarto e depois começo a guardar a minhas coisas e as de Raquel nas malas. Como não são muitas peças não demoro muito para terminar. Aproveito que ela ainda está dormindo e tomo um banho rápido para espantar a lentidão matinal. Quando saio do banheiro Raquel está acordando e preciso começar a sua rotina da manhã. Agora que não temos mais que nos preocupar com o gesso posso dar um banho de chuveiro digno a minha irmã. Depois do banho visto sua roupa mais quente e enfeito seus cabelos dourados como os meus com os dois lacinhos rosa que Joaquim comprou no dia em que ela saiu do hospital. O café da manhã está servido a nossa espera quando deixamos o quarto. Mas Joaquim não está nos esperando como de costume. O que me faz lembrar do sonho que tive com ele noite passada. Como Raquel está com fome coloco algumas fatias de frutas em seu prato e sirvo um pouco de leite em seu copo, mas não coloco nada para mim aguardando Joaquim aparecer. _ Sim, mãe. – Ouço a sua voz no corredor antes dele surgir na pequena sala de jantar que divide espaço com uma sala de televisão e sinto meu coração acelerar. – Chegamos para o almoço. – Me sorri antes de sentar na cadeira ao meu lado. – Não se preocupe. Vamos tomar cuidado para não perder o voo. – Faz uma pausa para escutar o que a mãe fala do outro lado da linha. – Tenho que desligar agora. Mas aviso assim que pegar o avião. Um beijo. _ Era a sua mãe? – Questiono como quem não quer nada enquanto coloco um pouco de geleia de framboesa na minha torrada. _ Sim. – Fala com um largo sorriso. – Ela está super animada com o nosso retorno e a chegada da Raquel. Até preparou um quarto digno de princesa para a pequena lá na fazenda. – Comenta também eufórico. – Sei que ela pode estranhar um pouco a mudança de ambiente, mas o quarto fica ao lado do seu e você pode chegar rápido até ela caso necessário. _ Não precisava disso tudo. – Digo devolvendo a torrada ao prato. – A Raquel poderia dormir comigo. Até porque logo o meu apartamento vai estar pronto e vou poder me mudar para lá com ela. _ Não percebe que não quero que se afastem de mim. – Fala me olhando nos olhos. – Será que tudo o que eu fiz até agora não te mostrou o quanto estou apaixonado por você? – Engulo em seco com sua pergunta. – O que mais preciso fazer para te provar que esse estereótipo que montou em sua cabeça não me importa nenhum pouco? _ É complicado. _ Não é. – Diz virando para ficar de frente para mim. – Eu sou apaixonado por você e já disse isso várias vezes. – Pega minha mão sobre a mesa e a segura entre suas mãos. – Basta só você admitir que sente o mesmo por mim e podemos começar uma linda história juntos. Eu, você, a Raquel e os filhos que teremos. Fico muda. Meus pensamentos se tornam confusos. De um lado a razão grita para o mandar para longe me lembrando de que relacionamentos como estes não existem. Do outro meu coração grita para dizer que, sim, sou apaixonada por ele e quero essa história juntos. E em meio a essa queda de braço quem ganha é o coração. Num impulso me lanço sobre seus braços e o beijo sem pensar em nada. Ele fica um tanto surpreso com a minha reação, mas logo corresponde. Quando nos afastamos minhas mãos espalmam em seu peito enquanto suas mãos me envolvem a cintura. _ Eu admito. – Digo olhando em seus olhos. – Sou completamente apaixonada por você, Joaquim D’Angelo. – Ergo um pouco a mão direita e toco seu rosto com carinho. _ Repete, por favor. – Pede com um lindo sorriso que alcança os olhos e os faz brilhar como nunca havia visto antes. _ Eu sou apaixonada por você. – Repito também sorrindo. – O que acha disso? _ Que agora posso te pedir em namoro sem correr nenhum risco de receber uma resposta negativa. – Brinca, mas logo seu semblante fica sério. – Então, Beatriz Nogueira. Você aceita namorar comigo? _ Sim. – Respondo sem deixar tempo para o meu lado racional e ranzinza entrar em ação. _ Finalmente consegui. – Comemora antes de me roubar um beijo rápido. _ Vocês só ficam beijando toda hora. – Raquel reclama nos fazendo lembrar de sua presença. – Já acabei de comer e ninguém viu. _ Desculpe, princesa. – Joaquim pede deixando o seu lugar para dar a volta na mesa e se agachar ao lado da minha irmã. – É que estamos muito felizes. _ Por que a gente vai conhecer a sua cidade? – Pergunta curiosa. _ Por isso e porque agora sua irmã e eu estamos namorando. _ Namorar é beijar e dormir no mesmo quarto igual o papai e a mamãe faziam? _ Mais ou menos isso. – Ele responde de forma paciente. _ Eu ainda vou ficar morando com você, Bibi? – Pergunta olhando diretamente para mim. _ Claro que vai, meu amor. – Garanto também deixando o meu lugar para ficar ao seu lado. _ E o Joaquim? – Questiona olhando para ele. _ Vou estar juntinho de vocês também. – Diz tocando o seu rosto com carinho. – Tudo bem para você eu namorar a sua irmã? _ Acho que sim. – Fala dando de ombros. – Posso assistir desenho? – Pede e assinto dando espaço para que siga até o sofá. Nós dois voltamos a mesa para terminar de tomar o nosso café da manhã. A ficha vai caindo aos poucos enquanto estou comendo. Estou namorando. Estou namorando com o meu chefe. Tento buscar razões para achar que isso se trata de um erro, mas no momento só consigo ficar feliz por finalmente deixar de conter tudo o que sinto quando estou perto dele. Depois do café da manhã é aquela loucura de encerrar a estadia no hotel e seguir para o aeroporto. Pegamos um pouco de trânsito no caminho, mas nada que nos fizesse perder o voo. Fico com Raquel observando cada detalhe que existe no enorme saguão enquanto Joaquim vai devolver as chaves do carro que alugamos. Quando ele volta fazemos o nosso check-in e despachamos as malas dessa vez. Depois de passar pelo detector de metais ficamos brincando de contar os aviões que decolavam e pousavam enquanto esperávamos o nosso voo ser chamado. Na hora do embarque Joaquim carrega Raquel no colo enquanto fico responsável por levar as suas muletas. Encontrar nossos lugares não é nenhum problema. Como essa é a primeira vez que Raquel viaja de avião decidimos coloca-la na poltrona do meio. Seguro sua mão no momento em que o avião começa a decolar e pelo modo como sua mão aperta a minha sei que ela também não gosta muito desse momento da viagem. Mas depois a sinto relaxar e até arrisca dar uma olhadinha pela janela. Tirando as pequenas turbulências o voo é tranquilo. Quando saímos depois de pegar nossas malas damos de cara com Gabriela e Giovanni nos esperando. Assim que nos aproximamos sou surpreendida por um abraço apertado da linda mulher ruiva de olhos verdes seguido de um abraço de Giovanni. Depois de me cumprimentar os dois abraçam ao filho e só então é que parecem notar Raquel parada ao meu lado quase que escondida atrás da minha perna. _ Você deve ser a princesa Raquel. – Giovanni fala abaixando para ficar a sua altura. – O Joaquim falou muito sobre você. _ Falou? – Pergunta interessada na conversa. _ Falou sim. – Gabriela afirma também se abaixando. – Você é muito linda, sabia. – Diz acariciando o seu rosto. _ Obrigada. – Agradece um tanto encabulada. – Você também é muito bonita. _ O que acham de continuarmos essa conversa em casa? – Sugere Joaquim quando mais passageiros começam a desembarcar. Todos concordam e seguimos para o estacionamento do aeroporto. Durante todo o caminho até a fazenda Raquel vai contando sobre a sua experiência no avião aos seus mais novos amigos. Mas fica muda quando paramos em frente a enorme casa onde agora vamos viver. O pequeno aglomerado de carros denuncia que não somos os únicos a chegar. Assim que saltamos do carro vários D’Angelo começam a surgir. Entre eles também está Maia, que voltou recentemente de sua viagem a Toscana. Eles me recebem com a mesma alegria que recebem a Joaquim. E com Raquel não é diferente. A pequena é logo carregada para dentro nos braços de Giovanni enquanto todos os outros o seguem. _ Desculpe por isso. – Joaquim fala quando sobramos apenas nós dois do lado de fora. _ Tudo bem. – Garanto com um sorriso de lado. – Eu e a Raquel amamos a recepção calorosa. _ Eles estão encantados por ela. – Comenta com um sorriso bobo. _ E ela por eles. – Digo olhando em volta. – Estava com saudades daqui. Observo a paisagem distraída buscando alguma mudança que possa ter ocorrido no tempo em que estivemos fora, mas tudo parece igual. Parece até estar ainda mais lindo. Fecho os olhos para aproveitar a brisa fresca que sopra em meu rosto quando sinto mãos me envolverem a cintura e me puxam de encontro a ele. _ É tão linda. – Diz usando uma das mãos para afastar uma mecha de cabelo do meu rosto enquanto a outra se mantém em minha cintura. Ele abaixa um pouco a cabeça fazendo nossos narizes roçarem um no outro antes de devorar meus lábios com os seus. E nesse momento me sinto flutuar. Não reprimo qualquer sentimento. Quando nos afastamos um pouco me sinto até um pouco zonza. _ Minha namorada. – Sussurra com a testa colada na minha. – m*l posso esperar para contar a todos que estamos namorando. _ Vai contar? – Pergunto me afastando um pouco mais para conseguir o olhar de um ângulo melhor. _ Claro que vou. _ Não acha melhor esperar um pouco? _ Não vejo qualquer razão para esperar. – Diz brincando com as pontas dos meus cabelos. – Somos adultos. Estamos apaixonados. É natural que estejamos juntos como um casal. _ É que tenho um pouco de medo da reação deles. – Confesso. _ Não precisa ter medo. Já disse que eles não são esse tipo de aristocratas preconceituosos. Eles querem que eu seja feliz. E vão ver que sou feliz quando estou com você. Me rouba um outro beijo antes de soltar a minha cinturar e estender a mão em um convite silencioso. Levo alguns segundos observando a sua mãos estendida antes de enlaçar nossos dedos. E enquanto caminhamos repito em minha cabeça que ele tem razão e que nada vai dar errado.
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