Capítulo 16

2854 Words
Joaquim Sei que o fato de ser o namorado de Beatriz não me dá o direito de tomar decisões por ela, mas gosto de sentir que a estou ajudando e não pensei duas vezes antes de ir até a escola onde estudei e onde meus irmãos estudam para garantir uma vaga para Raquel. Achei que Bia ficaria chateada por ter tomado a frente nesse assunto, mas fico aliviado quando ela aceita a minha ajuda. A empolgação de Raquel sobre a escola nova é contagiante. Ela fala tanto que nem parece que esteve chorando a alguns minutos. Ainda não sei qual dos muitos vasos despostos no escritório foi quebrado por ela e, sinceramente, não dou a mínima para isso. O que realmente me importa no momento é saber que esse pequeno acidente não a feriu. _ Está ficando frio. – Comento quando a pequena se encolhe em meus braços. – Acho que deveríamos entrar. _ Não. – Raquel n**a balançando a cabeça em conjunto. – A tia vai brigar porquê quebrei o vaso. – Diz com os olhos assustados. _ Ninguém vai brigar com você. – Garanto segurando o seu rostinho entre minhas mãos. _ Você não deixa? – Pergunta um tanto chocada e acho graça em sua reação. _ Eu não deixo. – Afirmo pincelando seu nariz com o indicador a fazendo sorrir. _ A Bibi também não deixa. – Diz olhando para a irmã mais velha. _ Não deixo mesmo. – Bia fala de modo carinhoso. _ Vamos entrar agora? – Questiono e recebo um assentir firme de cabeça. A coloco no chão e seguimos caminhando em seu ritmo ainda lento até o interior da casa. Assim que colocamos os pés no hall de entrada Rosa aparece como em um passe de mágica. A vejo dirigir um breve olhar para as garotas antes de prender seus olhos em mim. _ O arquiteto acaba de ligar para confirmar que a reforma do apartamento da senhorita Nogueira terminou, senhor. – Informa em seu tom gélido de sempre. _ Certo. – Digo desviando um pouco minha atenção da velha senhora ao notar que Raquel se afasta em direção a sala de estar a pedido da irmã. _ Devo ajudar as senhoritas com as malas para a mudança? – Pergunta ainda olhando diretamente para mim como se Beatriz não estivesse aqui. _ Não. – Respondo de modo firme para não dar espaço para discursões. – Agradeço por sua preocupação, mas a Beatriz e a Raquel continuam morando aqui. Percebo que essa notícia não a agrada muito, mas ela não revida. Apenas maneia a cabeça de forma positiva mantendo a pose de governanta antes de se retirar para ir cuidar dos preparativos para o almoço. Essa sua atitude faz acender uma pequena e fraca luz de alerta em minha cabeça. _ Porque disse que não vamos embora? – Bia pergunta quando estamos sozinhos. _ Poderia inventar mil e uma desculpas para não querer que vá embora. – Digo ficando de frente para ela. – Mas vou dizer a mais óbvia. – Seguro sua mãos entrelaçando os nossos dedos. – É a minha namorada e não quero que fique longe. _ O apartamento ainda fica na fazenda. – Comenta com um meio sorriso. _ Estou apaixonado por você e qualquer distância é muito longe para mim. – Digo de modo dramático a fazendo rir mais abertamente. – Já disse alguma vez que você fica linda quando sorri dessa maneira? – Pergunto lhe envolvendo a cintura. _ Não. – Ela diz enlaçando meu pescoço com seus braços. – Quer dizer que me acha linda? – Questiona em tom presunçoso. Devoro seus lábios em resposta e não demoro a ser correspondido. O que era para ser um beijo rápido se torna algo intenso. Mas somos obrigados a nos afastar quando Raquel grita pela a irmã. Deixo que as duas fiquem em seu momento de garotas e sigo para o escritório para fazer algumas ligações. Alguns minutos depois Bia aparece para começarmos a trabalhar. Falta pouco para o lançamento dos nossos queijos. Fazemos uma pausa para o almoço. Assim que ocupo o meu lugar de costume sou bombardeado por perguntas feitas por Raquel em relação à escola nova. Depois do almoço a levamos para tirar o seu cochilo da tarde e então voltamos para o nosso trabalho no escritório. Luiz e João se reúnem conosco para darem um parecer a respeito da nossa produção. Os números apresentados são animadores e me deixam bastante esperançoso. Quando a reunião acaba Bia me deixa para dar uma olhada na irmã e retorna com a pequena nos braços completamente ativa após o sono revigorante da tarde. Com Raquel cheia de energia decido que esse é um bom momento para darmos uma pausa e darmos uma volta a cavalo pela fazenda. Mando prepararem o meu cavalo e uma égua tranquila para Beatriz já que ela não tem nenhuma experiencia com montaria. Como Raquel é ainda muito pequena para montar sozinha eu a trago junto comigo. Seguimos lado a lado numa marcha lenta e não vamos para muito longe. No início percebo Bia tensa, mas aos poucos ela vai relaxando conforme vai se familiarizando com o cavalo. Já Raquel simplesmente adora a experiência desde que subiu no cavalo até o final da pequena volta que demos quando entramos novamente no estábulo para guardar os animais em suas baias. Quando voltamos para a casa grande deixamos Raquel no escritório conosco entretida com alguns papeis de giz de cera enquanto trabalhamos mais um pouco. Encerramos tudo o que tínhamos para fazer hoje quando termino de enviar um último e-mail do dia. Então seguimos a rotina que já estamos acostumados. Elas vão tomar um banho para se aprontar para o jantar e faço o mesmo. Nos reencontramos na sala de jantar para comermos. Na hora de dormir repetimos o mesmo esquema que fizemos na noite passada. Vamos todos para o meu quarto. Posicionamos Raquel no centro da cama e deitamos com ela entre nós dois. A situação me faz lembrar quando cheguei a casa dos meus avós para morar com o meu pai e dormia entre papai e mamãe durante as primeiras noites. Fico em choque quando percebo que estou colocando a Bia e a mim no lugar dos meus pais como se fossemos pais de Raquel. Sei que de certa forma nós meio que somos essas figuras para ela agora. Mas preciso lembrar que esse não é o meu lugar. Que ela já teve os pais e que eles infelizmente morreram. _ Ficou tão sério de repente. – Bia sussurra enquanto acaricia os cabelos de uma Raquel adormecida. – Algo de errado? _ Não. – n**o forçando um meio sorriso. – Estava apenas pensando no dia agitado que teremos amanhã. _ Pensei que já tivéssemos cuidado de todo o trabalho que havia ficado acumulado durante o tempo que ficamos fora. _ Não estou falando do trabalho. – Falo apoiando meu corpo sobre o cotovelo esquerdo para poder vê-la melhor. _ E o que vamos fazer de tão importante amanhã? – Questiona retirando a mão dos cabelos loiros da irmã. _ Nós vamos concluir a matrícula da Raquel na escola, comprar os materiais escolares que ela irá precisar e depois vamos almoçar na casa dos meus pais. _ Posso dizer que isso tudo não é necessário? _ Pode. Mas eu não vou dar a menor atenção. – Ela fica séria e depois sorri. _ Você não existe, Joaquim. _ Existo e sou todo seu. – Digo me esticando sobre Raquel para a beijar. – Boa noite, linda. – Sussurro olhando em seus olhos azuis que parecem refletir os meus. _ Boa noite. – Devolve no mesmo tom. Depois de mais um beijo rápido me arrumo direito na cama e durmo. Acordo sentindo um corpinho encolhido e colado em minhas costas. Com cuidado me viro até ficar de frente para a pequena e a envolvo em um meio abraço. Fico observando as duas irmãs dormindo como fiz no dia anterior. E é nesse momento em que assisto o mais belo espetáculo da minha vida. O momento em que a minha linda garota acorda. Ela abre os olhos de forma lenta e pisca algumas vezes para se adaptar a claridade. Percebo que leva olha em torno antes de se dar conta de que a estou observando. _ Bom dia. – Sussurro com um meio sorriso. – Dormiu bem? _ Bom dia. – Respondo com a voz ainda rouca de quem acaba de acordar. – Dormi bem até demais. – Diz se espreguiçando. – Mas acho que o mesmo não se aplica a você já que esse mini polvo se colou a você. – Comenta apontando para Raquel no exato momento que a pequena sobe a mão até o meu pescoço. _ Está completamente enganada. – Digo acariciando as costas de Raquel. – Eu também dormi muito bem. Inclusive poderia passar a manhã inteira desse jeito, mas precisamos levantar para começar o nosso dia. _ Tem razão. – Suspira antes de sentar na cama fazendo os cabelos caírem sobre os ombros de um jeito que me deixa sem ar. – Hora de acordar, Bela Adormecida. – Sussurra no ouvido da irmã que resmunga algo que não entendo antes de abrir os olhinhos. Então aquele espetáculo se repete e sinto meu coração aquecer quando ela sorri para mim e me beija o rosto antes de ser levada por minha namorada para se aprontarem para sairmos. Sozinho também me apresso em me aprontar. Depois de um banho quente visto uma calça jeans, uma camiseta vermelha e um casaco preto por cima. Arrumo o cabelo usando os dedos para os jogar para trás e depois de aprovar o resultado desço para tomar o meu café da manhã. Quando Raquel desce com a irmã para se juntar a mim na sala de jantar está radiante e imagino que já deva saber para onde estamos indo. Ela está tão animada que m*l consegue comer. Como ela ainda tem medo de carro seguimos o acordo que fizemos em São Paulo. Bia vai junto com ela no banco de trás enquanto eu dirijo. Durante o caminho até o centro da cidade Raquel vai apontando os lugares que chamam sua atenção. Mas fica sem palavras e completamente encantada quando passamos pelos vinhedos D’Angelo. _ Isso tudo é do seu pai e da sua mãe? – Pergunta com os olhinhos brilhando. _ Sim. – Respondo usando o retrovisor para olhar para ela. _ Legal. – Comenta com os olhos vidrados ainda na janela. – E para que serve todas essas uvas? Eles comem só isso? _ Não. – Sorrio com sua pergunta. – Com essas uvas eles fazem vinhos, sucos, geleias e vedem por todo o país. _ Isso é bem legal. – Diz balançando os pezinhos. _ É mesmo. Volto a minha atenção para a estrada. Não demora para a paisagem mudar. O campo e estrada de terra batida dão espaço para o asfalto e construções. Assim eu chegamos à escola somos encaminhados para a diretoria. A diretora é ainda a mesma de quando eu estudava aqui e sorri ao me ver entrando com Raquel no colo. Como já havia explicado toda a situação de Raquel para ela ontem só precisamos resolver as partes burocráticas como a entrega dos documentos, assinatura do responsável e pagamento da matrícula e uniforme. Depois que tudo está resolvido fazemos um rápido tour pelo lugar. _ Então. O que achou? – Pergunto quando estamos observando Raquel brincar no parquinho depois que a diretora nos deixou para atender a um telefonema. _ Me parece uma boa escola. – Diz dando de ombros. – Só espero que ela consiga se adaptar aqui. _ Vai ver que tudo vai correr bem. – Garanto passando o braço por sobre os seus ombros. Ficamos a assistindo brincar por mais alguns minutos antes de chama-la para irmos embora. Ela fica um pouco triste, mas se anima assim que dizemos que vamos comprar os seus materiais escolares. Vamos para o Shopping e compramos tudo o que estava na lista fornecida pela escola. Mas também compro alguns brinquedos para a pequena mesmo sob protestos de Beatriz. Depois que terminamos as compras voltamos até a escola para buscar os meus irmãos. Eles vão no banco de trás junto com Raquel e Bia vai no banco do carona ao meu lado. O caminho até a casa dos meus pais é feito de modo animado. Meus irmãos brincam e implicam um com o outro até o momento em que estaciono o carro em frente à casa onde cresci. Somos recebidos por meus pais ainda na pequena varanda. Como as crianças estão com fome passamos direto para a mesa depois dos cumprimentos. Como a mesa dos meus pais não é tão grande quanto a dos meus avós ou a minha preciso comer com Raquel sentada no meu colo. _ Soube que vai para a escola, princesa. – Mamãe fala diretamente para Raquel que abre um largo sorriso. – Está animada? _ Muito, muito, muito. – Diz fazendo todos sentados em torno da mesa sorrirem. – Eu vou estudar na mesma escola que o Theo e a Lulu, sabia? _ Sabia. – Mamãe fala em tom terno. _ Sabia que lá tem muitos brinquedos e tem crianças e vou fazer muitos amiguinhos novos para brincar comigo? _ Sabia que você é muito fofa? – Papai pergunta e a mesma assente em resposta nenhum pouco modesta arrancando gargalhada de todos. O almoço segue nesse clima leve. Quando terminamos de comer as crianças sobem para brincar, mamãe e Bia vão para a sala conversar e a louça sua sobra para o meu pai e eu como nos velhos tempos. Recolhemos tudo em silêncio e levamos para a cozinha. Então papai assume o comando da pia enquanto eu fico responsável por secar e guardar tudo. Em poucos minutos toda a louça está limpa, seca e guardada. _ Somos uma bela equipe, filho. – Comenta se recostando na pia. _ Somos mesmo. – Digo com um meio sorriso. – Deixamos tudo brilhando em tempo recorde. O que significa que você pode ficar namorando com a sua ruiva e eu posso ficar namorando com a minha loira antes das crianças aparecerem. _ Espera, filho. – Pede segurando o meu braço quando faço menção de sair. – Antes de irmos nos encontrar com as garotas será que podemos conversar? – Questiona de modo sério. _ Algo de errado? _ Não. Quero apenas conversar com você sobre os últimos acontecimentos da sua vida. – Puxa uma cadeira para sentar e faço o mesmo. _ Quer falar sobre o meu namoro com a Beatriz? – Questiono confuso. – É contra a nossa relação? _ Claro que não sou contra o namoro de vocês. Não quero falar do namoro propriamente dito, mas sim do que vem com ele. _ Não estou entendendo. _ Preciso saber se está ciente de todos os pontos envolvidos nesse relacionamento e que se quiser só buscar aventura é melhor não ir adiante. _ Está se referindo a Raquel? _ Sim. Percebi que a pequena já está bastante apegada a você. Como acha que ela se sentiria se perdesse você assim como perdeu ao pai. _ Antes de mais nada quero deixar claro que estou apaixonado pela Beatriz. O que sinto por ela não senti por nenhuma outra. E obviamente levo estou sempre pensando na Raquel. Também estou apegado nela. Amo essa pequena pai e prefiro morrer antes de machucá-la. _ Tem noção do papel que está assumindo na vida dela? – Pergunta me olhando nos olhos. _ Tenho. – Respondo sem desviar os olhos ou vacilar. – Não sou mais um garotinho, pai. _ Eu posso ver que não. – Sorri pondo uma mão sobre o meu ombro. – Tenho muito orgulho do homem que se tornou, Joaquim. _ Tive um grande exemplo a seguir. Trocamos um abraço apertado antes de seguirmos para a sala. Quando chegamos mamãe estava mostrando a Bia as fotos do meu primeiro aniversário reunido a família. É muito louco que eu ainda consiga me lembrar de cada detalhe daquele dia. Acho que foi um dos dias mais felizes da minha vida. Era a minha primeira festa de aniversário de verdade. Antes dela eu comemorava apenas com o meu vô Joaquim na nossa antiga casa. Nós ficamos na casa dos meus pais até um pouco mais das 15hrs. Quando chegamos a fazenda estou exausto pelo dia corrido, mas ainda assim vou até o escritório responder a alguns e-mails. Na hora do jantar Raquel está tão cansada que quase dorme sobre o prato. Quando terminamos de comer ela está cochilando escorada na irmã. A cena é tão fofa que não resisto em sacar meu celular e tirar uma foto para guardar e poder ver sempre que estiver longe. E então, pela terceira noite seguida, nós subimos para dormimos todos juntos em meu quarto. Preciso confessar que essa é uma das melhores partes do meu dia. Só perde para o momento em que as duas despertam em seu esplendor. Depois de um rápido beijo de boa noite adormeço abraçado as duas.
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