Capítulo 19

3129 Words
Beatriz Dormir sendo envolvida pelos braços de Joaquim é a melhor sensação do mundo. Não sabia que dormir abraçada a alguém seria assim tão bom. Com ele a me envolver me sinto em casa. Como imaginamos que aconteceria Raquel vem nos procurar no meio da noite e a deixamos ficar conosco na cama. Quando acordo pela manhã tenho suas pernas atiradas sobre mim enquanto a pequena traidora está abraçada a Joaquim. Ele também está acordado a assistindo dormir e sorri ao me pegar o observando. _ Bom dia. – Sussurra com a voz rouca de quem acaba de acordar. _ Bom dia. – Respondo no mesmo tom. – Está acordado a muito tempo? _ Faz alguns minutos, mas não quis levantar para a deixar dormir mais um pouco. – Comenta afastando uma mecha de cabelo do rosto sereno de Raquel. – Ela parece um anjinho dormindo. – Diz bobo. _ Um anjinho que precisa acordar para ir à escola. – Aviso sentando na cama e me recostando na cabeceira. – Sei que dá pena de acordá-la. Mas ela precisa manter a rotina. _ Tem razão. _ Vai ser esse tipo de namorado que não rebate? _ Não gosto de discutir quando sei que estou errado e vou sair perdendo. – Fala dando de ombros antes de depositar um beijo na testa da pequena. – É hora de acordar, princesinha. – Sussurra em seu ouvido. _ Só mais cinco minutinhos. – Pede mostrando os cinco dedinhos. _ Nada de cinco minutinhos, mocinha. – Digo fazendo cocegas a fazendo gargalhar e se contorcer tentando se libertar. – Precisa levantar, se arrumar, ver como o Máximos passou a noite, tomar café da manhã e ir para a escola. – Pontuo sua agenda de mini celebridade. _ Verdade. – Diz agora completamente desperta. Ela desce da cama de modo veloz e a sigo até o seu quarto. Tento lhe ajudar com o banho e a roupa, mas ela insiste em fazer tudo sozinha e fico apenas assistindo e indicando o que ela precisa fazer. É só na hora de arrumar os cabelos que ela me pede ajuda. Quando fica pronta a deixo com Joaquim e volto para o nosso quarto para tomar um banho e me vestir. Eles estão entrando em casa quando desço para o café da manhã. A mesa está impecável como sempre. A única diferença é que agora Rosa já não fica em pé num canto da sala nos assistindo comer. Coisa que ela não gostou muito no início e até rebateu que fazia parte das suas competências como governanta. Mas depois que Joaquim deu sua palavra final ela não teve outra escolha a não ser acatar. A refeição segue com Raquel a tagarelar a todo instante sobre como Máximos está ficando fofinho e crescido. Também deixa escapar que daqui a pouco já vai conseguir montar nele. Esse simples comentário faz com que minha mente arme todo tipo de situação. Desde tudo correndo bem e ela correndo de forma livre pelos campos como as vezes vejo pela janela Joaquim fazer até ela caindo do cavalo e acabar machucada. Quedas de cavalo são bastante perigosas. _ Não acho que montar seja uma boa ideia. – Digo com um calafrio que percorrer minha espinha só por imagina-la machucada. _ Ah, Bibi! – Suspira desaminada. Os ombrinhos caem e sinto pena de ser a estraga prazeres. – Por que? _ Porque ainda é muito pequena. _ Mas o Joca acha que eu posso montar já. – Recorre ao meu namorado que até o momento estava calado. – Não acha, Joca? – Seus olhinhos suplicam que ele a apoie e olho para ele fazendo o mesmo. Quero ter o seu apoio. _ Bem. – Pondera calculando as palavras. – Concordo que ainda não é o momento para Raquel montar. Mas isso porque ainda precisamos acostumar Máximos para isso. E isso leva entre uns três a quatro meses. Depois disso é que podemos começar com as suas aulas. _ Mas isso pode ser perigoso para ela. – Argumento ganhando sua atenção. _ Garanto que tudo vai ficar bem. – Diz cobrindo minha mão sobre a mesa com a sua e a aperta levemente. – Jamais vou fazer algo que coloque sua irmã em risco. – Fala olhando em meus olhos. – Consegue entender isso? – Assinto em resposta porque é a mais pura verdade. – Ótimo. _ Isso quer dizer que vou poder montar? – A pequena questiona curiosa. _ Parece que sim. – Digo ainda olhando para Joaquim que leva minha mão até seus lábios e a beija. _ Isso! – Comemora nossa fazendo rir. _ Agora vamos deixar esse assunto de lado porque precisamos sair agora se não vai acabar se atrasando para a escola. – Falo usando o guardanapo para limpar o canto dos lábios antes de o largar sobre a mesa. – Já acabou? – Ela afirma novamente animada. – Então sobe para pegar a sua mochila que já vamos. Sem esperar por outro pedido minha irmã corre em disparada pelas escadas nos fazendo rir. Deixamos a mesa para a esperar no hall de entrada como fazemos todos os dias. _ Ela parece mais feliz a cada dia que passa. – Ele comenta me envolvendo a cintura. – Isso é bom. _ Verdade. – Digo com as mãos espalmadas em seu peito. – Basta apenas superar o medo de andar de carro. – Suspiro. – Estou começando a achar que vamos precisar de um suporte profissional para a ajudar a superar esse evento traumático. _ Você diz uma psicóloga? _ Acha um exagero? _ Não. – Fala acariciando meu rosto. – Acho que tem razão em cogitar essa possiblidade. – Afasta uma mecha de cabelo do meu rosto. – Talvez uma psicóloga a ajude e nos ajude a entender como agir com ela em relação a esse medo de carros. _ Obrigada por me entender. _ Sempre. – Diz se curvando um pouco para me beijar. Mas o nosso momento é interrompido por um raspar de garganta. Nos afastamos um pouco para ver quem era o recém chegado e nos deparamos com um Luiz completamente sem graça. Ele fica assim sempre que nos encontra em algum momento íntimo. Chega até ser engraçado que um homem da idade dele se sinta constrangido dessa maneira. _ Desculpe atrapalhar. – Pede tirando o chapéu da cabeça. _ Tudo bem. – Joaquim garante passando o braço sobre o meu ombro me mantendo perto. – Aconteceu algo? _ Sim. – O homem responde sem rodeios. – Uma das maquinas novas está dando defeito outra vez. _ Ela enguiçou de novo? – Ele pergunta em tom preocupado. _ Sim. Só que dessa vez está o maior fumaceiro. _ Mas isso não é normal de acontecer com um equipamento novo. – Comento e ele assente em concordância. – Será que não estão fazendo nada de errado? _ Não, dona. – Garante balançando a cabeça com veemência em negação. – A gente tá fazendo tudo do jeito que o patrão e os técnicos da empresa ensinaram. _ Então acho que o ideal é chamar os técnicos para uma nova avaliação. – Falo e Joaquim concorda. – Não podemos parar com a produção justo agora que lançamos o produto. _ Vou ligar para eles agora mesmo e ir até o galpão para ver os danos. – Diz a Luiz que assente antes de se retirar. – Sei que me comprometi em sempre levar a Raquel para a escola, mas... _ Tudo bem. – O interrompo. – Precisa resolver os problemas que surgiram e eu posso muito bem levar ela sozinha hoje. – Garanto com um meio sorriso para mostrar que realmente tudo está bem. _ Certo. – Diz apoiando as duas mãos sobre os meus ombros. – Aqui estão as chaves do meu carro. Dirige com cuidado e devagar para não deixar a Raquel nervosa. – Pede me entregando as chaves. – Qualquer coisa me liga. – Pede antes de sair correndo com o telefone ao ouvido. Raquel chega poucos minutos depois e não fica nenhum pouco feliz em saber que Joaquim não irá nos acompanhar hoje. Preciso barganhar um pouco e prometer dirigir devagar para conseguir a fazer entrar no carro. Quando ocupo o lugar atrás do volante estou tão nervosa quanto ela já que faz algum tempo que também não dirijo. Com cuidado coloco o carro em movimento. Pelo espelho retrovisor vejo Raquel apertando com força o cinto de segurança que lhe prende a cadeirinha. Seus olhinhos tem aquele toque de medo eu deixa claro que ela ainda não esqueceu o que houve naquele trágico dia e talvez nunca chegue a esquecer. Me mantenho a vinte por hora durante todo o caminho. Não me importo se vamos chegar atrasadas. O bem-estar de Raquel é a minha prioridade. A cada quilômetro vencido sem um crise de choro é uma vitória. Quando estaciono em frente ao colégio quase todas as crianças já entraram. Ajudo minha irmã a sair da cadeirinha. Me despeço dela com um rápido abraço antes de deixa-la entrar. Estava caminhando de volta para o carro quando vejo Lulu e Théo se aproximarem apressados com Gabriela logo atrás. Os dois me cumprimentam com um aceno rápido antes de entrarem. _ Também perdeu a hora? – Gabriela pergunta depois de me cumprimentar com um abraço. _ É por aí. – Digo com um meio sorriso. _ O meu filho ficou esperando no carro? – Pergunta dirigindo um olhar rápido para o carro parado a alguns metros de nós. _ Joaquim não veio hoje. _ Tudo bem com ele? – Questiona preocupada. _ Ele está bem. – Garanto para tranquilizá-la. – Acontece que surgiu um problema com o novo maquinário e ele precisou ficar para resolver tudo. _ É engraçado saber que agora o meu filho é o cara que resolve tudo. – Comenta com um sorriso saudoso. – Para mim ele é ainda aquele menininho que me arrebatou o coração no instante que o vi. O meu bebê. _ Fala isso porque é mãe dele e todas as mães acham que os filhos não crescem nunca. _ Isso porque queremos sempre os proteger. – Argumenta arrumando uma mecha de seus cabelos ruivos atrás da orelha e checa as horas no delicado relógio de pulso que divide espaço com uma linda pulseira. – Gostaria de ficar conversando mais, mas tenho uma reunião com a Nathalia e estou atrasada. Nos vemos por aí. Nos despedimos com um beijo rápido no rosto. Na volta para casa sozinha no carro me arrisco em dirigir a quarenta quilômetros por hora. Quando chego a fazenda o lugar está fervendo. Vejo o carro com a logo da companhia de onde compramos o nosso equipamento estacionado a alguns metros do galpão. O que significa que o problema com nosso equipamento está sendo resolvido. Deixo o carro de Joaquim estacionado na frente da casa grande. A casa está no mais completo silêncio quando entro e largo as chaves do carro no aparador. Envio uma mensagem para Joaquim avisando que já estou em casa e que tudo correu bem ao mesmo tempo que caminho em direção ao escritório. Estava a ponto de entrar no ambiente que se tornou o meu principal local de trabalho quando ouço a voz de Rosa vindo lá de dentro e estaco no mesmo lugar ao perceber que ela está falando com alguém ao telefone. Penso em dar meia volta e lhe dar privacidade em sua ligação. Mas o tom da sua voz me intriga. Parece estar irritada com alguém. Sua voz não se altera. Porém suas palavras são duras. Seja quem for do outro lado da linha a deixou bastante zangada. _ Já disse para pensar antes de fazer qualquer coisa, i****a. – Rosna com frieza me causando calafrios. – Sabia que era incompetente, mas não esperava que fosse tanto. – Faz uma pausa para ouvir o que a outra pessoa está falando. – Que seja. Só quero que essa burrada não se repita. – Diz e então vem um silêncio. Não me movo um centímetro sequer esperando ouvir mais alguma coisa. Mas tudo o que consigo é me deparar com a velha senhora deixando o escritório com uma expressão dura. _ Tudo bem por aqui, senhorita? – Questiona em seu tom distante de sempre. _ Comigo, sim. Mas parece que você está com problemas. – Comento a fazendo arquear as sobrancelhas. _ Por que está dizendo isso, senhorita? _ Bom. É que estava chegando ao escritório quando sem querer acabei ouvindo o final da sua ligação. – Digo de forma despretensiosa. – Então. Está com algum problema, Rosa? _ Não, senhorita. – n**a com um maneio de cabeça. – Era o meu irmão na ligação. Ele brigou com a esposa e no calor do momento saiu de casa e agora está arrependido, mas não sabe o que fazer para que ela o aceite de volta. _ Espero que ele consiga reconquistar a esposa. – Digo mesmo sentindo que existe algo de errado nessa história toda. _ Eu também. – Fala prendendo as mãos na frente do corpo. – Vou me retirar para cuidar dos preparativos do almoço. Precisa de algo? – n**o com um movimento de cabeça. – Certo. Qualquer coisa é só chamar. A assisto se retirar antes de entrar no escritório. Ainda desconfiada com o que ouvi da ligação decido retornar para o último número discado no telefone, mas a ligação cai e ninguém atende. Resolvo deixar para ver isso uma outra hora quando Joaquim chega acompanhado do chefe da equipe de técnicos. O homem explica que a falha que ocorreu na máquina foi devido a um cabo que estava m*l conectado e que acabou queimando uma peça. Mas por sorte não houveram maiores danos e a equipe conseguiu arrumar a maquina e agora tudo está funcionando como deveria. Quando o homem vai embora Joaquim sai novamente para tratar de assuntos pelo lugar enquanto lido com os números. Ele retorna perto da hora de irmos buscar Raquel. Assim que nos vê parados na porta da escola a pequena se anima. Nós também buscamos os irmãos de Joaquim e os deixamos na vinícola. Onde acabamos ficando para almoçar depois de muita insistência de Camila. Quando voltamos para casa deixo o trabalho de lado e me concentro inteiramente em Raquel. A ajudo com a lição de casa e passo um tempo assistindo e brincando com ela. Perto da hora do jantar subimos para nos aprontar. Assim como pela manhã também a deixo tomar banho sozinha apenas com a minha supervisão. Depois a deixo brincando com suas bonecas em seu quarto e sigo para o meu. Como não tenho ninguém olhando Raquel não arrisco em tomar um banho demorado. Visto algo quente e confortável já que está noite o clima está bastante frio. Prendo o meu cabelo em um r**o de cavalo e estou prestes a colocar as minhas lentes quando o meu celular toca. Atendo assim que vejo a foto da minha mãe piscando na tela. _ Mãe? – Digo num tom assustado. _ Sim. – Ouvir a sua voz me faz soltar o ar que nem sabia que estava segurando. – Tudo bem? _ Sim. – Falo engolindo o nó que havia se formado em minha garganta. – E com a senhora? _ Também estou bem. – Diz e ficamos as duas mudas por um tempo. – Como andam as coisas por aí? A Dani me contou que está namorando com aquele seu chefe. É verdade? _ É verdade. Estou namorando com Joaquim. Por que? Vai implicar com o namoro como implicou comigo quando disse que cuidaria da minha irmã? _ Não vou implicar com nada. – Fala de modo defensivo. – Apenas vou pedir que tenha cuidado. Ele é o seu chefe e pode está querendo apenas se divertir com você. _ Não admito que coloque Joaquim nesse lugar. – Aviso sem alterar o tom de voz. – Ele é uma pessoa especial que não merece sequer essa dúvida. _ Acontece que ele é homem. E você sabe que homens são todos iguais. – Repete o seu discurso que tanto me desencorajou a me envolver com alguém. _ Ele é diferente. – Rebato. _ Acha mesmo isso? – Seu tom é sarcástico. _ Ligou para brigarmos, mãe? _ Não. – Diz deixando um suspiro escapar. – Queria falar com você. Saber se estava realmente bem. Não consigo ter essa certeza apenas por mensagens. _ Estou muito bem. – Digo sentando na cama e apoiando o telefone entre o ombro e o ouvido para amarrar o cadarço dos tênis. – Me recuperando da perda do meu pai e me adaptando à minha nova realidade. _ Como está a garotinha? – Questiona e saber que ela também se preocupa com Raquel me aquece o coração. _ Ela está melhorando. Já não chora tanto. Ainda tem medo de carros, mas estamos trabalhando nisso. Está indo à escola e fazendo novos amigos. É falante e está louca para começar a montar o seu cavalo. _ Você fala como se ela fosse sua filha. – Percebo que é uma afirmação e não uma acusação. _ Acho que é porque ela é um pouco isso para mim agora. _ Está realmente feliz em cuidar da filha do seu pai com a outra? _ Mamãe, minha irmã não tem culpa da traição do meu pai. Assim como eu e a senhora também não temos. Ela precisa de mim. Sou tudo o que ela tem agora. _ Gostaria de pensar como você. _ Vai conseguir fazer isso no momento que realmente deixar a mágoa que sente por ter sido deixada pelo meu pai e seguir em frente. – Digo voltando a segurar melhor o celular. _ Quando foi que ficou tão madura? – Pergunta em tom brincalhão. _ Já fazem alguns anos. – Respondo da mesma maneira. – Preciso desligar, mãe. – Digo quando vejo Joaquim entrar em nosso quarto. – Nos falamos depois. – Encerramos a ligação depois de uma breve despedida. _ Tudo bem por aqui? – Ele pergunta sentando ao meu lado. _ Sim. – Respondo com um sorriso de lado. Ele me analisa por alguns segundos antes de também sorrir. _ Vou tomar um banho para irmos jantar. Trocamos um beijo rápido antes dele seguir para o banheiro. Desisto de colocar as lentes quando o furacão Raquel invade o nosso quarto e decide esperar por Joaquim aqui comigo. Quando por fim estamos todos prontos descemos para o jantar. A mesa está mais uma vez impecável e o aroma da comida abre ainda mais o meu apetite. Durante o jantar o clima é leve e regado de muito riso causado por Raquel e seus comentários sobre o novo amiguinho da escola que causa ciúmes em Joaquim.
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