Capítulo 20

2982 Words
Joaquim Ouvir Raquel falar com tanto encantamento sobre o seu coleguinha da escola mexe comigo. Sei que eles ainda são crianças e que não existe nenhuma maldade nessa amizade, mas é inevitável não pensar neles dois daqui alguns anos se beijando ou mesmo namorando. Afinal, vi isso acontecendo com Matheus e Laura. A relação dos dois começou na escola e hoje eles estão com o casamento marcado. _ Chega de falar desse Lucas. – Digo causando arrancando uma gargalhada de Bia que quase s engasga com suco. – Quer parar de rir. – Peço tentando parecer chateado, mas logo estou rindo junto com ela. _ É impossível não rir com você todo ciumento. – Fala depois de controlar o acesso de tosse. _ Não é ciúme. É cuidado. – Pontuo com o indicador erguido. _ Sei. _ Você não gosta do Lucas, Joca? – Raquel questiona confusa. – Ele é tão legal. Ele me ajuda a fazer a tarefinha que a tia passa e eu divido o meu lanche com ele porque as vezes a mamãe dele esquece de colocar na bolsa dele. Esse comentário acende uma luz de alerta em minha cabeça. Troco um olhar com Bia e percebo que ela pensa o mesmo que eu. _ O seu coleguinha não está levando lanche para a escola? – Bia pergunta para a irmã ao seu lado. _ Não. – Responde junto com um movimento negativo de cabeça. – Ele disse que a mamãe dele nunca lembra de colocar o lanche dele. _ E o papai dele? – Agora sou eu a questionar. _ Ele não tem papai como eu. – Diz deixando os ombrinhos caírem. – Só que o meu virou estrelinha e o dele foi embora para longe porque não queria ser papai dele. – Conta em sua inocência. – Achei bem triste que ele disse que não tem nenhuma irmã e nenhum Joaquim para cuidar dele. _ Mas ele tem uma amiga bem especial. – Bia fala pincelando o nariz da pequena que sorri afirmando com um movimento de cabeça ao mesmo tempo que coça os olhinhos. _ E que já está com sono. – Ela assente outra vez deixando o seu lugar a mesa para vir sentar no meu colo. – Vamos para a cama. Me ergo trazendo-a em meus braços. Estamos prestes a deixar a sala de jantar quando Rosa surge para retirar a mesa. Aviso que já vamos nos recolher e que ela pode fazer o mesmo antes de seguir para as escadas com uma Raquel quase adormecida em meus braços. Bia vai caminhando um pouco mais à frente e se apressa em abrir a porta do quarto quando chegamos ao andar superior. Ainda existe um pouco de resistência da parte de Raquel em dormir em seu quarto, mas nos mantemos firmes. Ficamos junto com ela até que durma e só então seguimos para o nosso quarto. _ Pensando no amiguinho de Raquel? – Pergunto quando Bia caminha em silêncio até a janela. _ O que ela disse sobre ele não sai da minha cabeça. _ Nem da minha. – Me aproximo e a envolvo em meus braços. – Fiquei tentado a conhece-lo. _ Mesmo morrendo de ciúmes do garoto? – Provoca com um sorriso travesso. _ Já disse que não é ciúmes. – Rebato mergulhando o nariz na curva de seu pescoço a fazendo arrepiar. – Acha que corremos o risco de sermos visitados novamente esta noite? – Sussurro ao seu ouvido. _ Tem planos? – Questiona no mesmo tom fazendo todo o meu corpo reagir. _ Sim. – Falo ao mesmo tempo em que a livro da parte de cima da sua roupa. – Acha que teremos problema se continuarmos? _ Só precisamos tomar cuidado para não sermos pegos sem roupa. – Suas mãos já estão a erguer a minha camisa. _ Seremos cuidadosos. – Digo a ajudando a tirar a minha camisa e a atiro para um canto qualquer do quarto enquanto devoro sua boca em um beijo apaixonado. No caminho entre a janela e a cama vamos nos livrando do resto das roupas. O contato de sua pele com a minha me faz queimar de paixão e desejo. Nossos beijos ficam cada vez mais avassaladores e urgentes. Até que sedentos nos entregamos ao momento. Novamente o mundo para e parece existir apenas nós dois e o que sentimos um pelo outro. Deixo o meu corpo cair ao seu lado e fico a encarar o teto branco do quarto por alguns breves segundos esperando a respiração voltar ao seu normal. Quando o ritmo das batidas do meu coração se acertam junto ao ritmo da minha respiração eu me viro de lado para ficar de frente para a minha linda garota. _ O que acha de um banho? – Sugiro acariciando seu rosto levemente corado devido ao que acaba de acontecer. _ Acho uma ótima ideia. Deixamos a cama e seguimos aos beijos em direção ao banheiro. No boxe a água quente escorre sobre o nosso corpo. Como já está um pouco tarde não molhamos a cabeça. Tomamos um banho sem qualquer pressa. Aproveitando cada pequeno segundo. Quando retornamos ao quarto estamos usando nossas roupas para dormir. Antes de deitar junto com Bia confiro se a porta não está trancada para ter certeza de que Raquel não encontrará problemas caso queria vir até nós. Assim que me deito Bia se aconchega em meus braços fazendo seus cabelos dourados se espalharem sobre mim e adormece. Fico ainda um tempo a velar o seu sono pensando na sorte que tenho em tê-la aqui comigo antes de também adormecer. _ Joca. – Ouço aquela vozinha doce me chamar ao mesmo tempo que sinto o calor de uma mão minúscula a encostar em meu rosto. – Joca. – Repete o chama e obrigo os meus olhos a se abrirem. Me deparo com Raquel parada ao lado da minha cama com os cabelos despenteados ainda usando seu pijama com estampa de flores. Pela escuridão que nos cerca ainda deve ser madrugada. Sento na cama com cuidado para não acordar Bia, mas meus esforços não adiantam muito já que ela desperta um tanto assustada. _ O que houve? – Questiona ainda desorientada pela forma com acordou. _ Raquel veio nos visitar. – Comento ajudando a pequena a subir na cama e se acomodar entre nós dois. _ Tudo bem? – Questiona a envolvendo em seus braços. _ Tive sonho r**m. – Fala dengosa. – Sonhei que vocês iam embora igual o papai e a mamãe. Essa informação me acerta em cheio e afeta ainda mais Bia que aperta a pequena ainda mais. Estamos correndo tanto e a vemos tão falante e alegre com sua nova rotina que acabamos esquecendo da grande perda que ela sofreu. _ Mas estamos aqui bem juntinho de você. – Me uno ao abraço delas transformando Raquel num sanduiche. – Pode voltar a dormir tranquila que quando acordar ainda estaremos aqui. – Garanto afrouxando um pouco o abraço para a olhar. É tudo o que ela precisa ouvir para relaxar. Ela se acomoda melhor e se deixa ser acalantada por Bia até que adormece novamente. Bia e eu demoramos um pouco mais para voltar a encontrar o sono. Pela manhã seguimos a nossa rotina e dessa vez consigo levar Raquel a escola junto com Bia. Fiquei um tanto chateado por não ter conseguido as acompanhar ontem. Quando chegamos a escola nos despedimos de Raquel na porta, mas antes de voltarmos para casa peço para falar com a diretora a respeito do colega de Raquel que tanto mexeu comigo e com minha namorada. _ O menino em questão é filho da nossa nova faxineira. A contratamos por meio período. – Fala cruzando os dedos sobre a mesa. – Ela é uma pessoa simples. Trabalha na limpeza enquanto o filho estuda com uma bolsa. Mas porque essa curiosidade sobre esse aluno? _ Ficamos tocados quando Raquel falou dele com tanta afeição. – Bia responde por nós dois. – Gostaríamos de conhece-lo e a sua mãe. É verdade que é mãe solteira? _ Sim. – Diz com um olhar triste. – Ao que parece o marido a abandonou quando soube da gravidez. Ela perdeu o emprego quando o lugar onde trabalhava teve que fechar. A moça chegou aqui desesperada e a contratei mesmo não havendo necessidade de mais uma faxineira no quadro de funcionários. _ Raquel deixou escapar que eles provavelmente passam por dificuldades. – Comento tentando obter mais informações. _ Imagino que sim já que é apenas Carina a arcar com todas as despesas. – Suspira ao se recostar na cadeira. – E como ela trabalha apenas um horário o seu salário não é o mesmo que o das outras. Até porque não seria justo. Imagino que só trabalhe meio período porque não tem com quem deixar o filho. A moça me parece ser uma boa mãe. Está dando o seu melhor para cuidar do seu filho. Algo que minha mãe biológica não pensou. Essa garra que Carina demonstra me traz admiração e sinto vontade de a ajudar. Troco um olhar com Bia e percebo que o mesmo acontece com ela. _ Será que poderia chama-la aqui? A diretora assente um tanto confusa e se retira pedindo licença para ir chamar a mulher. Enquanto estamos sozinhos conto a Bia o que pretendo fazer e fico aliviado quando ela concorda comigo. Carina é realmente uma mulher simples. Aparenta ser mais velha do que realmente é. Ela não nos olha diretamente. Permanece de cabeça baixa um tanto afastada. Talvez envergonhada ou com medo de que a vida lhe dê mais uma rasteira. _ Pediu para me chamar, senhor? – Pergunta sem erguer a cabeça. _ Sim. – Digo me erguendo e parando de frente para ela. – Acho que a diretora já deve ter adiantado quem somos. – Ela afirma com um maneio contido de cabeça. – Sabe porque a chamamos aqui? _ Para pedir que o meu filho não chegue perto da filha de vocês. _ Jamais faríamos isso. – Bia dispara conseguindo pela primeira vez ganhar um olhar da mulher. _ Pedimos para que viesse aqui porque Raquel nos contou um pouco da história do seus amigo Lucas e ficamos tocados. – Digo agora recebendo sua atenção. – A diretora contou um pouco mais sobre a atual situação de vocês e que no momento as coisas não estão tão boas já que o que ganha não é muito para as despesas. – Faço um sinal para que Bia prossiga. _ Por isso queremos fazer uma proposta a você. _ Que proposta? _ Acredito que já tenha ouvido falar da fazenda Mantovan&D’Angelo. – A mulher assente com um maneio de cabeça ainda confusa. – Pois bem. O que acha de trabalhar lá? _ Mas não sei nada de cuidar de bicho. _ O seu trabalho seria ajudando nos cuidados da casa grande e nos ajudando a tomar conta da Raquel. – Explica. – Você e o seu filho poderão morar em uma das casas que temos para os empregados e ele ainda continuaria a estudar aqui. O que nos diz? _ Isso é um sonho? – Questiona atônita. Seus olhos estão cheios de lágrimas que começam a escorrer por seu rosto. _ Não é um sonho. – Afirmo colocando a mão sobre o seu ombro. – Então. Aceita a nossa proposta? _ Sim. – Diz com a voz embargada pelo choro. Olho para a minha namorada e vejo que ela também está chorando. A diretora providencia um copo com água para Carina que aos poucos vai se acalmando. Pego o seu endereço e aviso que ao meio dia um dos empregados da fazenda irá até a casa dela para buscar ela, o filho e suas coisas. A reunião com a diretora tomou grande parte da nossa manhã, mas valeu a pena. Assim que chegamos à fazenda delego a João a tarefa de ir buscar Carina e Lucas. Depois comunico a Rosa sobre a nova contratada para a ajudar nos afazeres da casa. Notícia que não a agradou nenhum pouco. Quando vou fazer a ronda pela fazenda acabo perdendo a hora e não consigo ir junto com Bia buscar Raquel. O que deixa a garota chateada, mas consigo me redimir a levando para visitar Máximos no estábulo. O cavalo já a reconhece e não hesita em se aproximar para conseguir um afago da pequena. Essa conexão entre eles é muito boa. Significa que assim que for treinado Máximos não verá nenhum problema em ser montar por Raquel. A felicidade dela aumenta quando encontra com o seu amiguinho parado em frente a entrada da casa grande. Junto com ele estão Carina e Beatriz. Caminho de forma lenta enquanto a pequena corre em disparada em direção ao amigo. Os dois se abraçam de forma desengonçada e quase caem no chão. Quando por fim consigo alcança-los Bia está contando que agora Lucas e a mãe irão morar aqui na fazenda conosco. Cumprimento a mulher com um aperto de mão e bagunço os cabelos cacheados do garotinho antes de ocupar o lugar ao lado de Bia. Logo as duas crianças começam a correr pelo jardim da frente aproveitando cada pequeno espaço. Carina tenta repreender o filho e pedir que fique quieto, mas a criança não dá ouvidos. _ Deixe-o brincar. – Digo passando um braço sobre os ombros de Bia a trazendo para perto. – Faz muito tempo que chegaram? _ Um pouco. – Carina comenta ainda acanhada. _ Eles já se instalaram? – Questiono a Bia que assente. _ Estava mostrando a casa para eles e dizendo que podem ficar à vontade. _ Isso mesmo. – Reafirmo. – Hoje você não precisa trabalhar. Pode usar o resto do dia para organizar a mudança na casa nova. Vai começar amanhã pela manhã. Basta se apresentar a Rosa que ela vai explicar o que deve fazer. _ Sim, senhor. _ E nada de me chamar de senhor. Prefiro que me chame pelo meu nome. _ E eu também. _ Vou tentar. _ Bem. Eu preciso ir até o galpão dar uma olhada nas coisas. Nos vemos a noite. – Digo dando um beijo rápido em Bia. – Até mais, Carina. – Aceno para a mulher antes de me afastar. O resto do dia segue de forma tranquila e sem transtornos. E assim também segue a semana. Rosa ainda se mostra um tanto relutante com a presença de Carina, mas a moça é esforçada e faz o seu melhor. Agora que Raquel tem com quem brincar Bia e eu conseguimos focar no trabalho. Segundo os relatórios dessa primeira semana de vendas o nosso produto está indo muito bem. Isso me deixa bastante animado. O volume de pedidos para as próximas semanas também aumentou. O que é um ótimo sinal. Lógico que ainda não conseguimos obter todo o dinheiro que foi investido, mas estamos no caminho certo. Bia disse que os números são promissores. Comemoramos os bons números junto com toda família no churrasco que aconteceu aqui na fazenda já que todos estavam curiosos para conhecer o famoso Lucas. Preciso admitir que o garoto vem me encantando a cada dia que passa e já não o vejo como uma ameaça. Ele tem ajudado muito Raquel a superar seus traumas. Embora o carro ainda seja o seu maior desafio. Enquanto espero as crianças se aprontarem para deixa-los na escola descubro através de Bia que o aniversário de Raquel é daqui duas semanas. O que significa pouco tempo para organizar uma festa. Mas ainda assim não abro mão de uma comemoração. A pequena merece. Afinal, passou por poucas e boas nos últimos dois meses. Quero que seu aniversário seja um dia feliz. Em especial porque será o seu primeiro aniversário sem seus pais. Chamo meus pais para ajudar com a organização de tudo já que Bia e eu não fazemos a menor ideia de como preparar uma festa infantil. Nas semanas que se seguem Bia e eu nos dividimos entre trabalhar, cuidar de Raquel e decidir coisas para a sua festa. As visitas de Raquel ao nosso quarto também estão cada vez menos frequentes. Ela já não mostra tanta resistência quando a colocamos para dormir em seu quarto. Quando o dia do seu aniversário finalmente chega Raquel está dividida entre ansiosa e eufórica. Passa toda a manhã correndo e brincando com Lucas e o resto das crianças D’Angelo. Carina já não repreende tanto o filho e está um pouco mais à vontade conosco. _ Acha que já podemos bater o parabéns e cortar o bolo ou esperamos mais um pouco? – Bia pergunta a minha mãe enquanto observamos as crianças correndo pela casa e tirando as coisas do lugar. _ Acho que já podemos bater os parabéns e cortar o bolo. – Mamãe diz se recostando nos braços do meu pai. _ Vamos esperar mais um pouco. Eles ainda estão brincando. _ Eles estão é destruindo a sua casa, filho. – Papai fala apontando a mancha de refresco no tapete que Rosa tenta limpar. _ Podemos cantar os parabéns agora e depois eles podem voltar a brincar. -Minha mãe fala revirando levemente os olhos. – Garanto que as energias dessas crianças estão longe de acabar. _ Hora dos parabéns, pessoal! – Papai grita atraindo a atenção de todos. Eles começam a se dirigir para a mesa principal onde está o bolo com estampa do filme Enrolados e velinhas. Pego Raquel no colo e me posiciono ao lado de Bia na parte de trás da mesa. Estamos prestes a começar a cantar os parabéns quando a campainha toca. _ Estão esperando por alguém? – Papai pergunta com um olhar confuso. _ Não. – Digo quando Rosa se encaminha para atender a porta. _ Quem será? – Bia questiona ao mesmo tempo que a figura entra na sala e de repente o momento alegre se torna um momento de tensão.
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