Capítulo 30

3085 Words
Beatriz A sala está no mais completo silêncio a olhar para a recém chegada que não se sente nenhum pouco constrangia por ser o centro das atenções. Parece até que está gostando disso. Ela sorri de forma sínica enquanto penteia os curtos cabelos castanhos com os dedos. _ O que faz aqui? – Joaquim questiona entredentes. – Acho que deixei bem claro na última vez que nos encontramos que você não é bem-vinda na minha casa. – Diz de forma dura, mas parece que suas palavras não afetam a mulher. _ Pare com isso, querido. Hoje é dia de festa. – Abre os braços mostrando o ambiente decorado. – Vamos apenas deixar nossas diferenças de lado. Ela caminha com elegância como se a sala fosse uma passarela e para bem a nossa frente. Pelo canto do olho vejo que Giovanni e Gabriela também se aproximam de nós. A postura deles é de alguém que está pronto para fazer o que for preciso para defender o filho. Que no momento está um tanto abalado com o reaparecimento da mulher que o abandonou, mas tenta se manter firme. _ De quem é essa festa tão linda? – Pergunta, mas ninguém a responde. Todos os D’Angelo mais velhos e também os agregados a observam com o semblante fechado. As crianças estão confusas com toda a situação, mas sentem que existe algo sério acontecendo e se mantém quietas. _ O que faz aqui? – Giovanni repete a pergunta feita pelo filho. _ Vim ver o nosso filho, Gigi. – Responde de forma sínica. _ Ele não é seu filho! – Gabriela rebate elevando um pouco o tom de voz. _ Claro que é. – Andreia fala em tom desafiador. – Foi na minha barriga que o carreguei. Fui eu que passei horas em trabalho de parto. Fui eu que tive que enfrentar a dor de amamentar. – Bate no peito. – Não foi você. – Aponta para Gabriela que é segurada por Giovanni quando faz menção de avançar sobre a mulher. _ Deixou de ser considera mãe dele quando o abandonou. – Camila fala surgindo ao meu lado. _ Cometi um deslize. – Ela argumenta dando de ombros. – Eu era jovem. Tinha sonhos. Errei. Mas agora quero recuperar o tempo perdido. _ Quanta hipocrisia! Sem que ninguém espere Gabriela consegue se soltar dos braços do marido e acerta um t**a no meio do rosto de Andreia. A mulher ergue a mão e a leva até o lugar do golpe onde agora estão marados os cinco dedos da minha sogra. _ Sua louca! – Grita ainda com a mão no rosto. – Eu vou acabar com você! Com as mãos em garra Andreia avança sobre Gabriela fazendo as duas irem de encontro ao chão. Isso é o bastante para despertar Joaquim do transe em que se encontrava. Ele me entrega Raquel que se agarra ao meu pescoço assustada com toda essa discursão e junto ao pai tenta separar as duas. Matheus e André também se juntam a eles nessa tarefa. Quando por fim conseguem afastá-las ambas estão com os cabelos bagunçados, mas Andreia tem um fio de sangue escorrendo do canto direito do lábio enquanto Gabriela está com apenas alguns poucos arranhões no braço. Giovanni avalia o estado da esposa com atenção enquanto Andreia se debate tentando se soltar das mãos de Matheus e André. _ Chega, Andreia! – A voz de Joaquim soa como um trovão fazendo a mulher parar de se debater. – Chega. – Repete num tom mais baixo ficando de frente para a mulher atônita. _ Estou só me defendendo dessa selvagem. – Tenta se pintar de vítima e jogar a culpa do ocorrido sobre Gabriela. – Todos viram que ela me bateu primeiro. _ Não quero saber. _ Filho... _ Já disse que não sou seu filho. – A interrompe de modo abrupto. – Você realmente me carregou na barriga, me colocou no mundo e me amamentou. Mas só fez isso porque meu avô te obrigou. _ Não é bem assim. _ Eu ouvi algumas conversas de vocês e lembro de cada palavra dita por você. – Ele fala a deixando surpresa. – Você sempre me viu como um estorvo e não pensou em nada quando me deixou com o meu pai. Disse que foi por ser jovem e correr atrás de seus sonhos. Eu digo que foi puro egoísmo. – Diz olhando em seus olhos antes de voltar a sua atenção para Rosa que está parada próxima a entrada da sala. – Ligue para a polícia. _ O que vai fazer? – Andreia questiona agora com medo. _ O que disse que faria caso voltasse aqui. Vou chamar a polícia, apresentar uma queixa contra você e exigir diante da lei que nunca mais se aproxime de mim ou da minha família. _ Se me denunciar posso fazer o mesmo contra a sua mãezinha. – Usa a chantagem que é uma das armas mais baixas que existem para se livrar. – Ela me agrediu e posso pedir uma reparação bem generosa. _ Chegamos ao ponto chave. O dinheiro. Foi isso que veio procurar com toda essa conversa de querer se reaproximar de mim, não foi? – Ele sorri sem humor. – Pois fique sabendo que não vai ganhar nada de nós. Nenhum D’Angelo ou Mantovan vai abaixar a cabeça para as suas chantagens, Andreia. _ Isso mesmo, filho. – Giovanni fala pousando a mão sobre o ombro do filho como forma de apoio. – Recolha o que ainda lhe restou de dignidade, se é que um teve isso, e vá embora. _ Devo mesmo chamar a polícia, senhor? – Rosa pergunta agora se aproximando do pequeno grupo reunido no centro da sala. _ Não é necessário. – Andreia fala arrumando a bolsa de grife sobre o ombro. – Eu estou indo embora. – Seus olhos se cravam em Joaquim ainda carregados de fúria. – Garanto que um dia vai se arrepender do que fez comigo. _ Duvido muito disso. – Ele rebate sem abaixar a cabeça. Sem mais nada a dizer a mulher sai de forma intempestiva. Assim que se ver livre da presença daquela mulher Joaquim desaba nos braços do seu pai. O que é uma grande surpresa para a maioria dos presentes. Ninguém tenta interromper esse momento que parece ser libertador para ele. Em meus braços Raquel começa a se contorcer e a coloco no chão. Pensei que ela queria ir para junto dos amiguinhos ou mesmo de Carina que a vem paparicando bastante, mas para a minha surpresa ela se espreme entre os dois homens abraçados até conseguir a atenção de ambos. _ Por que você está chorando, Joca? – Questiona puxando a barra da camiseta do meu namorado. – Você está triste? _ Eu estou bem, princesa. – Abaixa para ficar à altura dela. – Não precisa se preocupar. – Acaricia seu rostinho. _ A gente pode bater o parabéns agora? – Pergunta também colocando a mão no rosto dele. _ Deve. – Ele fala se erguendo e trazendo ela consigo em seu colo. – Está tudo certo, gente. – Seca o rosto com as costas da mão. – Vamos cantar os parabéns para a Raquel e depois comer bolo. – Tenta soar animado, mas sei que por dentro festejar é a última coisa que gostaria de estar fazendo agora. Atendendo ao seu pedido todos nos posicionamos em nossos devidos lugares. Hélio introduz a típica cantiga de todos os aniversários enquanto a esposa tira fotos para registrar o momento. Depois nós dois ajudamos Raquel a cortar o bolo. E lógico que o primeiro pedaço dela seria para Joaquim. Ela nem para disfarçar que prefere mais a ele do que a mim. A festa continua por mais algumas horas antes dos primeiros convidados irem embora sendo seguidos pelos outros. Os únicos a ficarem até o final para ajudar com a bagunça foram meus sogros e cunhados. Como a tarde foi regada de muita besteira o nosso jantar é algo bastante leve. Na hora de irem embora as crianças se rebelam sem querer se afastar do irmão e acabam todos ficando para dormir aqui conosco. Meus cunhados vão dormir junto com Raquel enquanto meus sogros iram ocupar o meu antigo quarto. Joaquim e eu nos recolhemos depois de sermos dispensados por Raquel, que estava bastante animada com a festa do pijama organizada por Lulu. Eles tem uma lista enorme do que querem fazer esta noite. Mas pela forma como estão cansados acho que não vão fazer nem metade do que está escrito nessa lista. Em silêncio Joaquim e eu seguimos a nossa rotina da noite. Ele espera que termine de passar os cremes em meu corpo e escove os cabelos antes de seguirmos juntos para a nossa cama. _ Quer falar sobre o que houve hoje? – Questiono quando ele me acolhe em seus braços. _ Não quero estragar o resto da nossa noite falando daquela mulher. _ Acha mesmo que dessa vez ela não volta mais? _ Espero que ela não volte. – Conta com um suspiro cansado. – Toda vez que essa mulher aparece ela não machuca somente a mim, mas também toda a minha família. _ Chamaria mesmo a polícia para ela? – Apoio o queixo em seu peito para conseguir ver o seu rosto. _ Só se ela insistisse em ficar. – Ergue um pouco os ombros. _ Já pensou que essa é a segunda vez que ela entra aqui e ninguém a impede ou nos avisa de sua chegada? _ Ela pode ter dito que era amiga da família ou que tínhamos alguma reunião agendada com ela. – Diz dando de ombros. _ Seja como for acho que seria prudente avisar ao pessoal da segurança de que ela não é bem-vinda e que não devem deixa-la entrar. _ Vou cuidar disso amanhã. – Garante afastando uma mecha de cabelo que cai sobre meus olhos e beija levemente meus lábios. – Mas chega desse assunto. – Determina ficando sobre mim. – O que acha de falarmos sobre coisas mais interessantes? – Questiona com um sorriso malicioso. _ O que tem em mente? _ Isso. Sua boca captura a minha num beijo voraz de tirar o fôlego. Sua boca deixa a minha para trilhar um caminho de beijo do meu pescoço até o meu colo e depois faz todo o percurso de volta. Com mãos apressadas me livro de sua camiseta e a atiro para longe e então tateio o seu peito nu. No inicio vamos sentindo e instigando o outro. Brincando com o limite. Mas então a paixão avassaladora nos toma e a pressa ganha do joguinho de sedução. Nos entregamos um ao outro de corpo e alma como se fosse a nossa primeira vez. Quando deitamos lado a lado encarando o teto branco ofegantes penso na sorte que tenho por ele entrar na minha vida. Não era isso que estava buscando quando aceitei o emprego e me mudei para cá. Queria apenas independência e ganhei muito mais do que isso. Aqui ganhei um lar e uma nova família. Porque é assim que vejo os D’Angelo. Como uma família que me acolheu com amor e carinho. Estava buscando novos caminhos e acabei encontrando o homem que amo. Essa certeza me toma de assalto e me apavora. Parece que enquanto a minha relação com Joaquim era apenas paixão estava tudo bem. Mas agora que reconheço que se trata de algo mais profundo e sólido me deixa assustada. A insegurança surge de forma lenta e rasteira como uma cobra pronta para dar o bote. E se ele não corresponde a esse sentimento? O simples cogitar faz meu coração ficar apertado ao ponto de doer. Não quero duvidar sobre os sentimentos que ele tem por mim e decido que não vou fazer isso. Jogo essas dúvidas na parte esquecida do meu cérebro procuro aproveitar o momento. O café da manhã no dia seguinte é sem dúvidas o mais animado. Theo e Raquel fazem graça e arrancam riso de todos sentados à mesa. Depois de comer Joaquim e Giovanni levam as crianças para ver os cavalos no estábulo enquanto Gabriela e eu nos sentamos na varanda para aproveitarmos o ar puro da manhã. _ Essa é a minha parte favorita da casa. – Suspira observando alguns peões circulando e fazendo seus trabalhos mesmo sendo domingo. _ Gosto daqui também. Venho sempre que posso para respirar um pouco e ouvir o canto dos pássaros. – Comento com um meio sorriso. _ Aqui é bem diferente de onde você veio, não é? – Assinto alargando o sorriso. – Sente alguma falta da sua cidade natal? _ Sinto saudade das pessoas que deixei por lá, mas não consigo me imaginar voltando a morar em São Paulo. Mesmo tendo vivido lá durante toda a minha vida foi aqui que encontrei o meu lar. _ Te entendo perfeitamente bem. – Diz com um sorriso de lado. – Foi aqui que também encontrei o meu lar quando estava perdida. _ Como assim? _ Eu tinha quase dezenove anos quando saí da casa dos meus tios abusivos e vim tentar a sorte aqui em Gramado. – Arruma o cabelo atrás da orelha, mas logo o vento o faz voar novamente. – Acho que o Joca deve ter comentado com você que eu trabalhava como empregada na casa dos meus sogros. – Assinto com um maneio de cabeça. – Foi assim que encontrei os novos pais que a vida me deu e achei o amor da minha vida. – Seu sorriso se alarga mais. – Quando comecei a namorar Giovanni não imaginávamos que o Joaquim existia. Mas quando o conhecemos foi amor à primeira vista. Seus olhos ficam distantes. Ela parece viajar no tempo. Para o dia que marcou a vida de todos. O dia em que Joaquim nasceu para a família D’Angelo. Imagino o choque que tomaram. _ Ele não foi gerado na minha barriga como os irmãos. – Diz ainda sem focar em mim realmente. – Não senti as dores do seu parto ou o amamentei. Mas no momento que o tive em meus braços soube que ele era meu e que faria de tudo o que estivesse ao meu alcance para o proteger. – Vejo algumas lágrimas se formarem em seus olhos quando ela finalmente olha para mim. – E foi isso que fiz ontem. Defendi o meu filho daquela mulher. Mas quase estraguei com a festa de aniversário da Raquel. E por isso preciso te pedir desculpas. _ Não foi você a quase estragar a festa. – Garanto segurando suas mãos entre as minhas. – Foi a chegada daquela mulher. Você estava defendendo o seu filho como qualquer mãe faria e não a culpo por isso. _ Obrigada. – Diz soltando suas mãos das minhas para me abraçar. Nossa conversa é interrompida pela chegada das crianças com nossos pares. Então começamos a nos organizar para nos reunirmos com todos na vinícola para o churrasco de domingo. Quando chegamos Joaquim recebe um abraço apertado da avó que, claramente, ainda está abalada com o ocorrido do dia anterior. Como é de costume em toda reunião D’Angelo a alegria reina. Nos divertimos muito além de comermos mais do que realmente aguentamos. Quando voltamos para casa ao anoitecer estamos todos exaustos e dormir não é nenhum problema. Por causa dos preparativos para a festa de Raquel o trabalho foi ficando acumulado. Tratamos apenas do que era mais urgente e fomos deixando o resto para cuidar depois. O que significa bastante documentação para ler e e-mails para responder em prazos bastante curtos. A produção de queijos segue a todo vapor. Os últimos relatórios estão sendo bastante animadores. Estimo que teremos o retorno de todo o dinheiro investido no projeto em menos tempo do que imaginei. Isso deixa Joaquim tão animado que ele já começou a ter ideia para novos lançamentos para públicos com mais condições. Um desses lançamentos será em conjunto com a vinícola D’Angelo. Ele pretende criar junto com eles um queijo que harmonize perfeitamente com o vinho produzido na vinícola da família. _ Acha que conseguimos produzir a tempo todos os queijos encomendados? – Pergunto distraída em organizar minha planilha do mês. _ O prazo está um pouco apertado e perdemos tempo com aqueles problemas com o maquinário, mas acho que conseguimos entregar tudo. _ Patrão! – Alguém grita do lado de fora. O tom urgente nos faz correr para saber o motivo da gritaria. Assim que alcançamos a saída nos deparamos com um dos peões com as roupas embebidas em sangue. Essa visão faz com que minhas pernas falhem um pouco e preciso me apoiar na cerca da varanda para não cair. _ O que aconteceu? – Joaquim questiona ao se aproximar do homem. _ A desnatadeira dou problema outra vez, patrão. – O homem explica tirando o chapéu. – O seu Luiz tentou resolver como aquele homem que veio aqui ensinou e uma das peças voou e bateu bem na cabeça dele. _ E como ele está? – Pergunto agora um pouco mais recuperada do susto. _ Tá desmaiado, dona. _ Chamaram uma ambulância? – Torno a perguntar. _ Sim. Mas aqui é longe e disseram que ia demorar. _ Mas isso é um absurdo! – Esbravejo indignada. – Ele pode estar correndo algum risco de vida e vai ter que esperar por um atendimento. _ O serviço publico é assim, dona. – O homem diz dando de ombros. _ Nós não vamos esperar pela ambulância. – Decreta Joaquim. – Eu vou pegar o carro, vocês o trazem e vou leva-lo para o hospital eu mesmo. – O peão assente antes de se afastar correndo em direção ao galpão. _ Vou com você. – Sigo Joaquim que volta para casa para pegar as chaves do carro sobre o aparador. _ Acho melhor você ficar. – Diz já se encaminhando para a parte de fora. – Um de nós dois precisa avaliar os danos e controlar toda a situação. Garantir que nada vai sair dos trilhos. _ Não sei se sou a pessoa mais indicada para cuidar disso. – Falo um tanto insegura. _ Você é a única pessoa em quem eu confio para cuidar de tudo. – Fala segurando meu rosto entre suas mãos. – Sei que consegue. _ Vou tentar. _ Vai conseguir. – Diz me dando um beijo rápido antes de se afastar para ajudar os outros homens a colocar um Luiz desacordado e sangrando no banco de trás do carro e arrancar cantando pneu.

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