Álvaro Narrando
De vez em quando, eu paro na varanda da cobertura, com um copo de uísque na mão, e olho pra praia lá embaixo. A vida é boa. Trabalhei muito pra chegar aqui, e quem olha de fora até acha que foi sorte. Mas sorte não existe. O que existe é trabalho duro, visão e coragem. E disso eu sempre tive de sobra.
Sou Álvaro D’Avila, dono de uma das maiores empresas de estaleiros do país. Do Brasil, pra falar a verdade. Meu nome pesa no mercado. Quando Álvaro decide, todo mundo escuta. Mas a coisa mais importante na minha vida não é o dinheiro, as empresas, ou o que o meu nome representa. É a Lívia, minha filha única.
Lívia é meu orgulho. Desde que ela nasceu, o mundo inteiro ficou diferente. Eu sempre quis dar pra ela tudo o que eu nunca tive. E dei. Não tem nada que aquela menina tenha pedido que eu não tenha movido céu e terra pra conseguir. E olha que ela não é do tipo que pede coisa à toa, não. Sempre teve tudo, mas nunca foi mimada.
— Pai, você acha mesmo que eu preciso disso? — Ela perguntou uma vez, apontando pra um carro esportivo novinho que comprei de presente.
— Claro que precisa, Lívia. Você é minha princesa, merece o melhor.
Ela riu, aquele riso que ilumina qualquer dia meu.
Lívia sempre teve uma vida de rainha. Moramos nessa cobertura enorme, com vista pro mar, mas não é só isso. Já fomos pra todos os cantos do mundo. Paris, Londres, Maldivas, Dubai... Não tem lugar que a gente não tenha pisado.
— Lembra da vez que fomos pra Suíça, pai? Você ficou apavorado com as pistas de esqui. — Ela disse outro dia, rindo enquanto tomávamos café da manhã.
— Apavorado não, só estava analisando a segurança, viu? — Respondi, rindo junto.
O que eu mais gosto é estar com ela. Mesmo com a rotina louca de trabalho, sempre arrumei tempo pra Lívia. Não tem negócio no mundo mais importante que minha filha.
Mas o que me surpreende nela é o espírito trabalhador. Desde pequena, ela foi assim, decidida, cabeça feita. Quando completou 20 anos e disse que queria abrir uma loja, eu não entendi.
— Mas pra quê, minha filha? Você não precisa disso. Tudo que você quiser, já tem. — Argumentei, sem esconder minha surpresa.
— Pai, não é sobre precisar. É sobre fazer algo meu, entende? Construir alguma coisa com as minhas próprias mãos.
Não tinha como dizer não pra ela. Lívia não só abriu uma loja, como fez disso uma rede de sucesso. Hoje, são várias filiais espalhadas pelo Rio de Janeiro, e eu não poderia estar mais orgulhoso.
Ela é trabalhadora, isso eu não n**o. Acorda cedo, sai de casa com aquele ar de mulher decidida, sempre impecável. E mesmo assim, não perde o sorriso no rosto.
— Lívia, você tá exagerando. Trabalha tanto que vai acabar me deixando preocupado. — Eu digo isso quase todo dia, mas ela só ri.
— Para de ser exagerado, pai. Trabalho porque gosto, não porque preciso.
E é verdade. Lívia é assim. Tudo o que ela faz é com paixão, com vontade. Nunca vi alguém tão determinada.
Agora, sobre dinheiro, bom... disso, eu entendo. Sempre fui obcecado por números, por crescimento. Comecei pequeno, um jovem com mais ambição que recursos. Mas eu sabia o que queria, e sabia como chegar lá.
Hoje, minhas empresas são gigantes. Construí navios que cruzam oceanos, plataformas que tiram petróleo do fundo do mar. Sou um dos maiores nomes do setor, e não tô dizendo isso pra me gabar. É só a verdade.
— Álvaro, você nunca para, né? — Me disse um amigo outro dia, durante uma reunião.
— O dia que eu parar, é porque já estiquei as canelas.
Minha mentalidade sempre foi essa. Trabalho, foco, e nada de desculpa. É assim que se faz um império.
Mas, por maior que seja meu sucesso, nada disso vale nada se a Lívia não estiver bem. Faço tudo por ela. Absolutamente tudo.
Uma vez, quando ela tinha uns 15 anos, entrou em casa chorando porque uma amiga tinha dito que ela só era "rica e mimada".
— Filha, o que foi? — Perguntei, preocupado.
— Nada, pai. Só umas coisas que me falaram na escola.
Lívia nunca gostou de reclamar ou de se abrir. Mas eu sabia que aquilo tinha mexido com ela.
No dia seguinte, fiz questão de ir à escola, conversar com os responsáveis. Não sou o tipo de pai que se mete em tudo, mas quando se trata da minha filha, eu movo montanhas.
— Ninguém mexe com a minha menina. Isso é inaceitável.
E assim sempre foi. Quando se trata da Lívia, eu não tenho limites.
A vida dela é boa, claro. Mas não se engane: ela tem os pés no chão. Isso é o que mais admiro nela. Enquanto muitos na posição dela estariam esbanjando sem pensar no amanhã, Lívia sempre foi prática.
— Pai, eu quero que você saiba que tudo que eu tenho, eu valorizo muito. Sei o quanto você trabalhou pra isso. — Ela me disse outro dia, do nada.
Aquilo mexeu comigo.
— E eu trabalho por você, Lívia. Tudo que eu fiz, foi pensando em te dar o melhor.
Claro, a vida não é só flores. Eu sei que ela enfrenta desafios. O mundo não é justo, e mesmo com o privilégio que ela tem, eu sei que o mercado de trabalho pode ser c***l, ainda mais pra uma mulher.
— Pai, às vezes parece que ninguém me leva a sério, só porque sou sua filha. — Ela desabafou uma vez.
— Não liga pra isso, minha filha. Mostra pra eles do que você é capaz. Você tem o meu sangue, e isso já diz tudo.
Sei que Lívia vai longe. Ela tem a força e a inteligência pra fazer o que quiser. Mas enquanto eu estiver aqui, vou sempre garantir que ela tenha o suporte que precisa.
Minha relação com a Lívia é de cumplicidade. Sempre foi assim. Ela é a luz da minha vida, a razão de eu continuar acordando cedo, correndo atrás de mais contratos, mais investimentos.
— Você é louco, Álvaro. Já tem tanto dinheiro, pra que mais? — Me disse um amigo de infância.
— Pra garantir que a Lívia nunca tenha que se preocupar com nada.
Pra mim, é simples. Tudo o que faço, faço por ela.
Agora, olhando pra praia lá embaixo, penso no futuro. Um dia, vou ter que passar o bastão. Talvez deixar que ela assuma alguma parte dos negócios, se quiser. Mas, no fundo, eu só quero que ela seja feliz.
Porque, no final das contas, não importa o tamanho do meu império, o que eu construí, ou quanto dinheiro eu acumulei. O que importa é a Lívia. Ela é meu legado. Meu tudo.
E, por ela, eu movo o inferno.
Às vezes, eu me pergunto se a Lívia atrai esse tipo de homem porque é bonita, inteligente ou porque é minha filha. Ou talvez seja uma mistura dos dois. Pior que ela já teve umas escolhas questionáveis, mas nada, absolutamente nada, me irritou mais do que aquele moleque, o André.
O André era filho de um empresário de renome, dono de algumas concessionárias grandes aqui no Rio. Rico, bonitinho, bem arrumado. Era o tipo que chegava na minha casa de camisa social engomada e sorriso plastificado. Um "bom partido", como a sociedade adora dizer. Mas eu sacava o tipo dele desde o primeiro aperto de mão. Fraco.
— Álvaro, prazer em te ver de novo. Queria conversar sobre um negócio... — ele sempre puxava papo assim, como se eu não percebesse a intenção por trás.
Queria o quê? Negócio? Ele queria era que eu facilitasse as portas pra ele. Ficava babando meu ovo o tempo todo, elogiando minha empresa, minha história.
— Seu pai é uma inspiração, Lívia. Um exemplo de homem. — Ele dizia pra ela, na maior cara de p*u.
A Lívia sempre foi educada, mas eu sabia que ela não caía nessa. Aliás, quando ela terminou com ele, a história foi boa.
— Pai, ele é um chato. Tenta me controlar em tudo. — Ela reclamou um dia, sentada na minha sala enquanto tomava um café.
— Tá certa, minha filha. Se você não quer, não quer e ponto. Quem manda na sua vida é você.
O André não aceitou bem, claro. Ficou mandando mensagem, aparecendo nos lugares que ela frequentava. Tentava impressioná-la de todas as formas. Mandava flores caríssimas, fazia questão de estar em eventos onde sabia que ela estaria.
— Esse moleque não cansa não? — Perguntei outro dia, depois que um motorista chegou com um buquê gigante na portaria.
— Pai, ele ainda não entendeu que já deu.
Mas o auge foi quando ele começou a cobrar os presentes que deu. Isso mesmo. Cobrar.
— Lívia, já que a gente não tá mais junto, eu acho justo você devolver os brincos de diamante e a bolsa Hermès que te dei. — Ele teve a cara de p*u de mandar isso por mensagem.
Quando a Lívia me contou, eu não sabia se ria ou ficava puto.
— Pai, ele acha que eu sou o quê? Um depósito de coisas? Ele me deu porque quis, agora vem pedir de volta? — Ela bufava, andando de um lado pro outro na sala.
— Meu amor, devolve e manda ele enfiar onde o sol não bate.
E foi isso que ela fez. Separou tudo que ele tinha dado e devolveu. Mas não sem antes tirar uma última onda.
— Eu podia ter vendido tudo isso e doado o dinheiro, só pra te irritar. Mas tô te devolvendo porque não preciso de nada seu. — Ela disse na cara dele.
Quando ela me contou, eu gargalhei.
— Essa é minha filha!
Mas a verdade é que esse moleque me dava nos nervos. Não pelo fato de ser babaca, mas porque achava que podia comprar tudo, inclusive a dignidade da Lívia. Ele não entendia que, com a Lívia, as coisas não funcionam assim.
— Pai, você sabe que eu nunca aceitei nada dele porque precisava, né? Aceitava porque era namorado, mas não fazia questão.
Eu sabia. Sempre soube. A Lívia nunca foi mulher de ser impressionada por dinheiro. O que ela queria era respeito, companheirismo, e isso o André nunca soube dar.
— Você fez bem, filha. Esse tipo de gente só aprende quando toma um "não" na cara.
E o pior é que ele ainda tenta me agradar, até hoje. Volta e meia aparece em eventos onde eu tô, tentando puxar assunto.
— Álvaro, como vai a Lívia? — Ele sempre começa assim, como se eu fosse cair no papo.
— Vai muito bem, obrigado. E, aliás, segue sem querer nada com você.
A cara dele desmonta na hora, mas ele não desiste. Fica falando de negócios, sugerindo parcerias. Uma vez, num jantar de gala, ele chegou ao cúmulo de querer me pagar uma bebida pra "fortalecer a amizade".
— André, vai cuidar da sua vida, que a minha e da minha filha tão muito bem sem você, valeu? — Soltei na lata, sem paciência.
Lívia até acha graça quando conto essas coisas.
— Pai, ele nunca vai superar. E você ainda alimenta isso.
— Alimenta nada, filha. Só tô deixando claro que aqui ele não tem vez.
Mas, no fundo, a única coisa que importa pra mim é que ela tá bem. Lívia é forte, independente. Não precisa de ninguém, muito menos de um babaca como esse.
Eu sempre deixei claro que, enquanto eu estiver aqui, ninguém vai fazer minha filha sofrer.
— Pai, relaxa. Eu sei me cuidar. — Ela me diz, toda confiante.
E eu sei que sabe. Mas o instinto de pai nunca desliga, sabe? Se algum outro André aparecer no caminho dela, já sabe: por ela, eu movo o inferno.