Minha mãe, com sua cara de megera e nariz empinado. Meu pai com seu semblante sério. Meu irmão com um sorriso fofo e inocente. Essa é a imagem que estou vendo. Estou a quase um minuto parada na porta olhando para os três.
-Você engordou.-Minha mãe diz entrando no apartamento batendo no meu ombro.
Respiro fundo. Mas bem fundo mesmo, quase desmaiando de tanto açúcar ou solto tudo como um protesto. Meu pai entra em seguida com meu irmão no colo.
-Não estou gorda.-Digo.
Ela me olha novamente.
-Está grávida. Sabe quem é o pai? Se tiver em dúvida, podemos fazer um teste de DNA, ou ele está na cadeia? -Ela pergunta.
Como eu saí dessa mulher? Não é possível! Acho que fui trocada na maternidade! Seria ótimo! Mas tenho uma marca de nascença igual a dela. Uma mancha mais clara que a pele em um formato equivocado. Algo oval com uma curva no meio.
-O pai da minha filha está dormindo no nosso quarto. Mais alguma pergunta? -Digo.
-Um policial nos ligou e disse que reabriram o caso do bebê. Só viemos avisar que não precisa mais se preocupar, vamos assumir daqui em diante.-Meu pai diz.
-Não sei pra que reabriram, todos nós já sabemos quem é o culpado.-Minha mãe comenta.
Essa mulher é uma cobra. Mas eles não vão me deixar para o caso do meu irmão. Tenho tanto direito de sabre quanto eles.
-Não quero ficar desinformada. Era o meu irmão. Quero saber quem fez isso tanto quanto vocês.-Digo.
-Mas você ja sabe. A vê todos os dias quando se olha no espelho.-Minha mãe diz e uma vontade imensa de estrangular ela, invade meu corpo.
-Não sei se você ja soube, mas eu não sou culpada. Tem imagens que provam isso. Mas se prefere ser ignorante e me culpar por algo que não fiz apenas para satisfazer seu ego, avontade. Não me importo, aguentei você por 17 anos. Sou uma adulta e pra sua infelicidade, sou muito feliz.
Observo a veio no pescoço dela pulsar. Aposto que ela se arrepende de não ter me afogado no banho quando eu era um bebê.
-A Luna tá certa, Sandra. O policial nos certificou que ela não tem nada a ver com isso, então pare de duvidar dela e vamos nos concentrar em achar o verdadeiro culpado. -Ja na primeira frase do meu pai, meu queixo caiu. Ele está me defendendo? Da minha mãe?
Ela também parece não acreditar. Se meu irmão não estava nos braços dele, ela voaria em cima dele.
Então meu namorado gostoso entra na sala vestindo uma camisa.
-Quem está aí, amor? -Ele pergunta e quando vê, toma um susto.
Sam se põe ao meu lado como se fosse me proteger se alguma bomba explodisse. Acontece que a bomba explodiu no momento que eles entraram no apartamento.
Ele estende a mão para meu pai.
-Senhor.
Meu pai o cumprimenta.
-É Samuel, não é? O Filho da Diretora. Luna, porque não nos contou que tinha se casado e está grávida? -Meu pai diz.
Minha risada sai debochada pelo nariz.
-Como se você se importasse. Mas ainda não casamos. Apenas moramos juntos.
-Tem razão, não nos importamos. Que bom que você achou alguém pra aturar esse seu gênio insuportável.-Minha mãe diz.
-Digo o mesmo por você.-Falo sorrindo.
Esquece a veia do pescoço, até seus olhos estão pulsando. Sua pálpebra está tremendo.
-Vamos embora, Guilherme.-Minha mãe diz indo embora.
Mas meu pai não a obedece. Assim que ela não está mais a vista, ele coloca meu irmão no chão e pega minhas mãos.
-Filha, desculpa pela sua mãe, mas eu não penso como ela. Desculpe por todos esses anos que você passou conosco e por todas as coisas horríveis que te falei. Estou realmente arrependido. -Ele diz.
Olho pra Sam e ele está tão surpreso quanto eu. O pior é que ele parece estar falando a verdade. Acredite, tivo que aprender a ler o rosto dele e da minha mãe com medo de comer algo envenenado. Parece exagero, mas hoje, minha mãe mostrou apenas o lado "bom" dela e se esse foi o bom, não queira ver o r**m.
-Pai ... acredite, não tenho ódio de você. Já passou. O que eu vivi no passado, me fez ter esse futuro. Se eu soubesse que eu teria o Sam, Estela e meus amigos no passado, não mudaria nada. Mas mesmo assim, te perdoar, esquecer tudo e viver como se minha infância não havido sido traumatizante, não dá.
-Eu sei que é difícil, mas de uns tempos pra cá, comeceu a pensar sobre algumas coisas e o caso do seu irmão sendo aberto está me ajudando. Só quero que saiba, que se você me perdoar, eu vou estar sempre aqui pra você. Eu me sinto um monstro por tudo que deixei Sandra fazer com você, e tudo que falei pra você.
Não sei nem o que dizer. Conheço meus pais. Isso pode ser tão verdade quanto mentira. Ele pode estar sendo sincero ou pode estar me enganando para conseguir algo. Por ora, não vou decidir nada.
-Acho que sua esposa está te esperando.-Digo.
Ele suspira e olha para minha barriga.
-Estela, não é? -Confirmo com a cabeça. -Lindo nome. Parece um nome que a Carla gostaria. Ela que escolheu o seu nome, sabia?
A menção da minha tia na conversa me faz sorrir. Sam segura minha mão. Percebo que meu pai não deixou esse gesto passar.
-Sinto falta dela.-Deixo escapar.
-Sabe ... talvez no futuro, eu te conte uma coisa sobre sua tia. Você vai gostar de ouvir.
-Porque não conta agora? -Pergunto curiosa.
-Não posso. Mas você saberá.
Ele da um aperto de mão no Sam e tenta dar um beijo na minha cabeça, mas me esquivo. Pega meu irmão, a acena para mim e vai embora.
Após ele ir embora, me jogo no sofá com Sam.
-Isso foi estranho. Sua mãe é uma pessoa horrível.-Sam comenta.
-Você não viu nada ainda. Anda, levanta.
-Pra que?
-Eu acordei cinco e meia da manhã e a última coisa que lembro de ter comido, foi um mamão papaia. Quero comer algo gorduroso.
Me levanto mas Sam me puxa de volta e caio no seu colo. Ele molha o lábio inferior e olha para minhas pernas nuas.
-Acho que o mercado não ta aberto e tenho uma ideia de como m***r o tempo até lá. -Ele diz.
-Você tem uma? Eu tenho várias.-Digo.
Sam fica a menos do meu rosto.
-E quantas delas envolve uma cama? -Sam pergunta.
-Todas elas.
Ele dá o meu sorriso favorito e me pega no colo me beijando. Eu engordei uma quatro ou mais quilos por causa da Estela, mas Sam me carrega como se não fosse problema.
Ele me coloca na cama com cuidado e beija meu pescoço. Coloco minhas pernas em volta dele o proibindo de sair de cima de mim. Coloco a mão no seu peito e perceber que ele faz aquela mágica de tirar a roupa sem eu perceber.
Seu "amiguinho" está quase saltando da cueca. Ele sussurra coisas que me fazem sorrir e morder o lábio. Puxo seu "amiguinho" que também é meu "amiguinho" de tantos momentos, para fora da cueca.
☆☆☆☆☆☆
-
A fila ta enorme! -Reclamo.
-Aqui não tem preferencial, vai entrar na fila como gente normal. -Sam diz.
A noite, resolvemos ir no cinema. Sam tem apenas mais alguns dias de férias e necessitamos.
Entramos na fila. Tem umas 20 pessoas na minha frente. De repente alguém me cutuca e uma adolescente com a maior cara de patricinha, nariz empinado e com luzes no cabelo está atrás de mim. Ela me lembra alguém.
-Com licença, esse é o fim da fila?
-Não, é o começo, só que estamos todos de costas.-Digo.
Ela quase ri. Olha para mim, depois para Sam e digita algo no seu celular.
Me viro para a frente e em segundos ela me cutuca de novo e eu me viro para ela.
-Olha, não seja grossa comigo, mas pode me ajudar? -Ela pergunta.
-Depende.-Digo.
-Como isso funciona? -Pisco algumas vezes sem entender.-Como funciona essa coisa de cinema?
Solto uma risada baixa.
-Você nunca veio a um cinema?
-Na verdade, não. Eu to aqui porque minha irmã me obrigou. Na verdade, ela me obrigou a fazer isso também.-Ela aponta pro seu cabelo e suas roupas. -Vim guardar lugar na fila enquanto ela e o marido vão comprar alguma coisa aí, mas ela vai ficar me zoando se eu não sei nem onde sentar. Sem falar que estou h******l e passando vergonha.
Eu sorrio a ela. Por algum motivo, gostei dela.
-Você está h******l mesmo. Ficaria bem melhor com a cor natural dos seus cabelos e uma roupa menos ...
-v***a? É, eu sei.
Nós duas rimos. Ela parece ser legal. Então me lembro do que ela me pediu.
-Você espera sua vez e escolhe o filme, aí escolhe como cadeiras ... na minha opinião, as últimas são as melhores, mas você que escolhe, aí compra a pipoca ali -Aí você entra na sua sala e procura uma cadeira pelas entradas que vão te dar.
Ela sorri.
-Obrigada ... ah, ali estão eles.-Ela aponta para um casal.-Minha irmã e meu cunhado.
Cutuco Sam nada discretamente e ele vê. A loira oxigenada de farmácia e Miguel se aproximam. Como assim essa garota é irmã da v***a da Celeste! Ela se casou com o Miguel?
-Essa é sua irmã? -Pergunto a garota.
Ela faz careta.
-Pela sua cara você ja a conhece, acredite, não me orgulho disso. Esse outro aí também é um idiota.-Ela diz.
-Nós sabemos. -Sam diz.
-Antes que ela chegue e me mande parar de falar com vocês, meu nome é Margareth, mas todo mundo me chama de Meg. -A garota diz.
-Eu sou Luna e esse é o meu namorado, Sam.
Ela arregala os olhos.
-Espera! Vocês são Luna e Sam?
-Que lugar pequeno, encontrar vocês dois aqui depois de cinco anos. É muita coincidência. -Celeste diz com um sotaque americano.
Ela tá bancando a gringa. Eu não mereço isso.
-Pequeno por causa dessa sua b***a gorda, quando você sair, vai dar pra respirar.-Digo.
Miguel e Sam estão quase avançando em cima do outro.
-Está grávida? -Ela pergunta e eu coloco a mão na barriga. -Meus parabéns.
Sua voz ainda é a mesma. Nojenta igual a uma barata.
-Não precisa ser falsa comigo, nós duas já passamos dessa fase, agora com licença. -Me viro pra frente e agarro o braço de Sam.
Ele beija o topo da minha cabeça e esperamos nossa vez na fila, até que depois de uma eternidade, chega.
-Quer uma entrada? -A moça do cinema pergunta.
-Não, eu vi essa fila imensa e resolvi ver onde vai dar ...- Eu mas começo Sam coloca a mão na minha boca.
-Duas para aquele filme. -Sam aponta com a outra mão para um filme de ação.
Eu lambo sua mão, mas ele não a tira da minha boca.
-Não adianta lamber, você só vai falar alguma coisa quando entrarmos no cinema. -Ele diz.
Então eu mordo e ele tira dizendo "ai".
-Cachorra.-Ele diz.
Bato os dentes e ele ri. Quando está prestes a me dar um beijo, aquela voz irritante ressoa.
-Que nojo, parem com isso, estão atrasando uma fila. -Celeste diz.
Pego como entradas.
-Desculpa, é muito amor, não tem como evitar.-Pisco pra ela e saio arrastando Sam pela camisa.
Compramos duas pipocas jumbo, refrigerante para ele e suco pra mim. Alguns chocolates e entramos na sala do cinema.
Sentamos em uma das últimas fileiras. De longe consigo ver uma cabeleira oxigenada entrando.
Será possível que ela vai me seguir?
Após eu tomar todo meu suco e roubar um pouco do refrigerante do Sam, Estela resolve dançar alguma música da Lady Gaga na minha bexiga.
-Vou no banheiro. -Digo a Sam.
Ele está tão vidrado no filme que não ouve e apenas assente. Vou até o banheiro e faço xixi. Quando saio, Meg está me esperando.
-Ah, oi Meg.-Digo.
-Luna, eu preciso te contar uma coisa. Ontem eu estava tomando banho no banheiro do quarto da minha irmã e ela entrou no quarto falando no telefone achando que eu não estava ouvindo e ...
-O que é isso? -Celeste aparece interrompendo Meg.
-Nada, eu só vim no banheiro e encontrei a Luna.-Ela se defende.
-Eu ouvi muito bem o que você estava falando. Vai pro cinema ou eu conto aquilo para os nossos pais.-Celeste diz.
Meg olha para mim derrotada e sai do banheiro.
-Você não muda, não é Celeste? Sempre uma vaca. Até sua própria irmã? Você devia se envergonhar.-Digo.
-Fica fora disso, Luna, você ja me causou problemas demais, não merece a vida que tem.
-O que você sabe da minha vida? Isso tudo é por Sam? Por ele amar a mim e não a você? -Toquei na ferida dela.
Ela vacila por um instante. Me encara ** algum tempo e a única coisa que quero é afogar essa cara de tonta na privada.
-Deveria ser eu.-Ela diz baixinho.-Esse filho Deveria ser meu.
-Mas não é. -Digo saindo do banheiro.
-Espera! -Ela diz e eu me viro.-Só por curiosidade, é menino ou menina?
Seus olhos estão vermelhos.
-Menina. Estela o nome.-Digo.
-Parabéns. De verdade. -Ela diz e eu volto a sala do cinema.
Isso foi estranho.
Sento ao lado de Sam ainda pasma pela cena com Celeste, quando recebo uma mensagem que me faz xingar alto.