Capítulo 7

1910 Words
Se eu dei um grito no meio do cinema? Claro que sim. Se foi um palavrão? Com certeza. Se todos me olharam com reprovação? Sem dúvidas. E tudo por causa de uma mensagem. E por causa dela, estou a caminho da casa de Andreia. Eu vou matá-la. E Sam ainda ficou no lado dela. Deus! Não tenho capacidade mental para fazer o que ela pediu! Vou enlouquecer. Argumentei de todas as maneiras, mas Sam me convenceu. Claro que ele teve que usar comida para isso. Meus pés estão latejando. Não caibo nem nos meus sapatos próprios. Até um anel que não tinha meu dedo, tive que tirar. Estou inchada. À noite, meus pés parecem duas bolas. -Você vai ter que comprar uma pizza bem grande para compensar tudo isso.-Digo a Sam. -Ja falei que você pode escolher a maior. E para de drama, nem é tão grave assim.-Sam diz. Não é tão grave assim? Sério mesmo? -EU NÃO SEI CUIDAR DE CACHORRO! -Grito. A única coisa que Sam faz, é rir da minha reação. O negócio é o seguinte. Andreia me pediu para cuidar da Lessi enquanto ela e Rafa viajam. Eles disseram que não podem levar ela pois a vaca em pele de cachorro está grávida. E eu tenho culpa se ela resolveu fazer você sabe o que? E Andreia ainda veio com uma desculpa que a c****a gostou de mim. Gostou nada, ela apenas sinto o cheiro de comida que tava na minha blusa. Nós chegamos e antes de sairmos do carro, Sam se vira pra mim. -Comporte-se.-Ele diz. -Você parece até meu pai.-Digo. -Então finja que sou ele e me obedeça. -Meu amor, nunca minhas histórias? Eu nunca obedecia meu pai quando ele dizia "comporte-se" -Digo saindo do carro. Chegamos a entrada da casa de Andreia e tocamos a campainha. -Você chegou! -Ela diz assim que me ver. -Não amiga, é meu espírito vindo avisar que to chegando tá? Beijo.-Digo dando a volta, mas Sam me segura e me faz entrar na casa. A casa da Andreia é normal. Quero dizer, ela é aquele tipo de casa que olhamos e não vem nenhum comentário na cabeça, pois é normal. Meu apartamento, a primeira palavra que vem a cabeça, é bagunçado. -Onde está o Rafa?-Sam pergunta. -Ele ta terminando de arrumar a mala dele. Pode ir la no quarto.-Andreia diz e Sam vai. -Sinceramente Andreia, a Lessi ficaria melhor com a Suzanna.-Digo. -Não ficaria, ela gostou de você e realmente não da pra levar ela. É uma viagem de última hora, a mãe do Rafa teve um ataque cardíaco e precisa de alguém pra cuidar dela. -Rafa não pode ir sozinho? -Ele não consegue cuidar nem de um peixe, imagina a propria mãe. E eu não vou sozinha, soube que a velha é uma bruxa. Então ouço o barulho das unhas e Lessi batendo no piso. Toda vez que vejo ela, parece estar maior. -Vai, confessa. Rafa não te deixou comprar um cavalo e você pegou esse mamute para se vingar.-Digo. Andreia me da um t**a e se abaixa para ficar do tamanho da c****a (o que não precisou de muito esforço). Ela começa a falar com a Lessi como se ela fosse um bebê. Faço uma cara esquisita a ela e Andreia para. -Tá, tudo que ela vai precisar está aqui.-Ela aponta para várias sacolas. -Eu levo menos coisas para passar um mês em alguns lugar. -Comento. -Ela tem que passear uma vez por dia no mínimo para fazer as necessidades, e não se esqueça de juntar com a sacola, dê banho duas vezes por semana e comida três vezes ao dia. Mas pouca. Quando ela se sente sozinha, ela arranha as coisas, então fica sempre por perto. Ela só tem um ano, ainda é uma criança. -Andreia diz. -Uma criança grávida. Andreia revira os olhos e me entrega as sacolas. -Não temos uma data determinada para voltar, então assista alguns vídeos de parto canino para garantir. Eu ouvi direito? -Ou! Ouou! Ououou! Perai! Minha cota de partos é apenas um por vida. Já fiz o da Laura, não vou fazer o parto de um cachorro. -É só para garantir. Voltaremos logo. Prometo. Lessi me olha com curiosidade. Pego sua coleira e ela me segue a medida que ando. -Amor! Vamos antes que as pizzarias fechem!-Grito. Sam aparece e ri de mim. Posso estar meio ridícula com essa barriga, mil sacolas na mão e um cachorro do lado. Viro as costas à ele fazendo cena e vou em direção ao carro. Após uns 5 minutos tentando colocar Lessi dentro do carro, paramos na minha pizzaria favorita. Eles ja me conhecem, toda vez que vou lá, as pessoas brigam para me atender pois se o garçom souber servir meu rodízio direitinho, com todos os sabores de pizza que gosto, minha gorjeta é generosa. Porém, a pizzaria está fechada. Pelo visto, está em reforma. -E agora?-Pergunto. -Abriu um restaurante novo perto de casa, podemos deixar a Lessi no apartamento e ir lá.-Sam sugere. Minha barriga concorda por mim e vamos deixar a Lessi no apartamento. Essa cachorra parece estar sempre me desafiando. Sempre me olha curiosa, como se quisesse saber de algo. Essa cachorra é assustadora, além de ter um cheiro estranho. O que colocam nesses xampus de cachorro? Chegamos a um restaurante um pouco chique demais para meu gosto. -Está de m*l humor agora?-Sam pergunta enquanto caminhamos até a porta do restaurante. -Eu estou com fome. É quase a mesma coisa. -Só não bata em ninguém.-Ele diz bincando, mas no fundo sei que é verdade. -Não vou aguentar pergunta i****a, só avisando. Ele pega minha mão e entramos no restaurante. Logo um garçom vem nos atender. -Boa noite.-Ele diz. -Boa noite.-Sam responde. Será que eles podem andar logo com isso? Deus! Parece que todos meu órgãos se desintegraram e minha barriga está vazia, o que é impossivel, afinal, tem um bebê dentro. -Mesa para dois? -O garçom pergunta. Ai Deus! -Não, vamos comer no chão. Tapete para dois por favor.-Digo impaciente. Sam esconde um sorriso para parecer que ele é o racional da relação. Até parece, quando ele quer, é mais m*l educado que eu. Sim, isso é possível. O garçom limpa a garganta e nos leva a uma mesa, m*l humorado. Acho melhor eu conferir bem meu suco ou vou provar o cuspe dele. Mas ainda posso me divertir um pouco com o pavio curto do garçom. Ele traz um cardápio e se retira. -Sam, só tem coisa cara aqui, não estamos nadando em dinheiro. Muito pelo ao contrário. Vamos embora. -Ei, calma. Não se preocupa, pede o que quiser. Como ele pode pedir calma? Quero dizer, o prato mais barato é o preço de 4 pizzas grandes. -Olha o preço! Não vou pedir nada.-Digo. Sam pega minha mão. -As coisas vão melhorar, pode pedir sem medo. -Contínuo calada olhando pra ele.-Quer que eu peça pra você? Assinto. E essa história de que as coisas vão melhorar? Todo aquele meu sentimento que tudo está dando certo, tudo está perfeito...está sumindo. Encontrar Ruan, o caso do meu irmão, a volta dos meus pais, encontrar a vaca loira. Algo me diz que não vai ser a última vez que vou encontrar essas pessoas. Sam chama o garçom. -Vamos querer esse bacalhau aqui.-Sam diz apontando pro cardápio. -Para dois?-O garçom pergunta. -Ah não, eu vou comer e ele vai ficar olhando para minha cara. -Falo. Definitivamente, eu vou ter que olhar bem o meu prato também, pois não vai ser só cuspe. O garçom sai pisando duro. ☆☆☆☆☆☆ -Pai? -Falo abrindo a porta as seis e meia da manhã. Dia dos pais eu vou assinar Netflix para o meu pai, quem sabe assim ele dormir até mais tarde. Que lindo, vai ser meu primeiro presente de dia dos pais desde uma gravata roxa quando eu tinha 7 anos. Ele nunca usou a gravata. Hoje é o último dia de férias do Sam e queríamos sair e aproveitar. -Eu vim trazer notícias do caso do seu irmão.-Ele diz. Eu o deixo entrar. -E sua mulher sabe que você está aqui?-Pergunto. -Não. E nem vai saber. Me sento no sofá e ele se senta ao meu lado. -Não vai me oferecer um café?-Ele pergunta. -Não, eu tô bem. Ele levanta as sobrancelhas e assente devagar. -Certo. Então... -O caso do meu irmão. -Certo. Ontem me chamaram na delegacia e descobriram uma pista. Eu posso ter assustado ele com minha reação, pois quase pulo do sofá. -E então? Descobriram quem é o assassino? -Na verdade é mais complicado do que parece. Se acharem o vídeo que foi cortado, acham o assassino. Já faz muito tempo, eles acham que vai ser impossível encontrar esse vídeo, mas conseguiram uma testemunha. Um...mendigo. Então veio a minha mente. Havia um mendigo na esquina da nossa antiga casa. Ele nunca saiu de lá. Quando eu era pequena, Ele estava la, quando eu fugia, ele estava la. Será que ainda está lá? Depois de tantos anos? -Eu lembro dele.-Comento. -Então. Ele diz ter visto um homem estranho naquele dia, mas a polícia não acredita muito nele. Como se lembra daquele dia assim? Faz tanto tempo. E ainda, ele pode estar inventando. A polícia não considerou o testemunho... -Mas você sim.-Digo. -Acho que sim. -Então?-Pergunto. -É isso. -Você veio aqui apenas me dizer que os policiais encontraram um mendigo. Ele passa a mão na cabeça nervoso e então ri. -Na verdade foi uma desculpa para te ver. Falso. Ele quer alguma coisa de mim. Não agiria assim por outro motivo. -Não se incomode.-Digo. Ele bufa como se estivesse cansado de passar por isso toda vez que nos vemos. Vai ver estar mesmo. Mas não é motivo para mim esquecer todos os 13 anos de sofrimento. Tratada como um cachorro. Pior. Cachorro ainda é bem tratado. Quem dera eu ser um cachorro. Veja Lessi. Deitada na cozinha como se sempre estivesse ali. Sem preocupações, sem problemas. -Filha. Eu quero seu perdão. -Você tem meu perdão pai. Só não tem minha confiança. Eu já te perdoei à algum tempo, mas isso não significa que tenho amnésia. Ele suspira pesadamente. Quem vê, acha que ele realmente está se esforçando, mas não se deixe enganar pela cara de coitado. Conheço a peça. -Tudo bem. É um começo.-Ele olha em volta e percebe a presença inútil da Lessi. -Você tem um cachorro? Não é muito sua cara. -Estou cuidando para uma amiga. -E o Samuel? Onde ele está? -Dormindo pai. Não são nem oito da manhã Esse assente. -E o bebê? -Está bem. Já fez o que queria? Pode ir embora? Ele tenta pegar minha mão, mas eu recuo. -Eu pensava que você ainda tinha esperança que eu iria abrir meus olhos e perceber que tenho uma filha.-Ele diz. Me levanto e abro a porta. -Eu tinha. Muitas. A cinco anos, quando eu era uma adolescente. Parei de ter esperanças quando você me acusou de ter matado meu irmão naquele dia no Colégio. Seu rosto é ilegível. Ele apenas assente e sai. Mais estranho que isso, impossível. Agora que acordei, vou encher a barriga. Olho nos armários e pelo visto, ou eu como cereal com leite ou tomo leite com cereal. Enquanto como, penso sobre a conversa com Sam ontem. Foi estranho ele dizer que as coisas vão melhorar assim de uma hora para outra. Quando estou na minha segunda colherada, Sam vem para a cozinha gritando. -Se arruma rápido! O Kaio e a Emília saíram e deixaram a Katricia sozinha em casa, ela me ligou e disse que quebrou a perna. Temos que ir rápido. Fico uns dois segundos digerindo até Sam bater palmas e eu correr para o quarto. Nem sei que roupa estou vestindo, e olha que grávida não tem muita opção para a roupa. Apenas visto a primeira coisa e corro com Sam para o carro. Percebo que ele está levando a Lessi. -Porque está levando ela?-Grito. -Não sabemos quanto tempo vamos ficar fora. Entramos os três no carro e vamos até a casa de Kaio. Meu coração está quase saindo pela boca. Deus! É a minha afilhada! A poucos metros da casa de Kaio, eu salto do carro e corro até a porta, a abro e quase choro com a cena que vejo.
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